Luanda - No dia 22 de Fevereiro deste ano, de 2018, Jonas Malheiro Savimbi fazia 16 anos desde que foi cruelmente assassinado na Provincia do Moxico, no Municipio do Lucusse, à Leste da Vila de Muangai, onde ele fundou a UNITA no dia 13 de Março de 1966, fazendo mais de «Meio Século» da existência deste Movimento de Libertação Nacional. O Muangai, além de ser Berço da UNITA, foi um verdadeiro Santuário da Negritude, a ser temperada na prática, adaptada à realidade de Angola, em defesa das camadas mais desfavorecidas, exploradas e oprimidas pelo Poder Colonial Português.
Fonte: Club-k.net
A Negritude não surge como uma «doutrina abstracta», um mero reflexo de pensamento intelectual, mas sim, uma realidade concreta da vida quotidiana das comunidades negras, espalhadas pelo mundo inteiro, vivendo em condições indigentes de pobreza, de atraso, de iliterácia, de desigualdade, de exclusão social, de segregação racial, de inferioridade, de exploração e de opressão. Este fenómeno universal, que choca a consciência do homem, é uma realidade inequivoca, que permanece, e prevalece; presente em todo mundo, onde estiver uma comunidade negra, seja qual fôr a origem ou o grau de coloração da péle.

Portanto, a Negritude nasceu como um instrumento poderoso de consciencialização, de luta e de emancipação da raça-negra. Para que, despertando-se da sua condição social e psicológica, seja capaz de valorizar-se a si própria, ganhar autoestima, erguer a cabeça, manter-se firme, combater a injustiça, e libertar-se do jugo da pobreza, da opressão e do atraso. A Negritude não se funda no Racismo, como as correntes neo-colonialistas, de matrizes burguesas e corruptas, procuravam destorcer e mistificar a sua essência. Visando, deste modo, manter as comunidades negras no obscurantismo, na desigualdade, na exclusão, na inferioridade e na subjugação.

O Pensamento Filosofico do Jonas Savimbi tinha uma expressao mais profunda na Negritude e na Auto-determinação, como forma de concretizar as aspirações profundas para a independência, para o progresso e para o bem-estar social. A «auto-determinação», no sentido genérico, é o processo pelo qual o povo escolhe, por sufrágio direito e universal, o seu estatuto politico. Logo, a liberdade sem a definição explicita do estatuto politico, é uma liberdade condicionada. Dizia um filosofo: “A liberdade existe se fôr plena.”

Repare que, a escolha do povo, por via do sufrágio direito e universal, é um acto democrático, de «auto-determinação», que estáva bem plasmado no «Manifesto do Muangai». Em função disso, Dr. Jonas Savimbi defendia a tese de que, «um povo que não é consciente do seu estatuto politico e da sua condição social, não é capaz de encetar o combate libertador, nem estar em condições de definir bem os objectivos estratégicos, a fim de conquistá-los, preservá- los e velorizá-los». Por este motivo, embora a UNITA estava com as armas na mão, contra a colonização portuguesa, mas ela acreditava no Principio de auto-determinaçao, para que o povo tivesse autoridade soberana de escolher livremente o seu estatuto politico e o modo de governação. Infelizmente, os angolanos foram negados este principio democrático, de auto- determinação, impondo-se uma autoridade totalitária, de partido único, pela força das armas, que provocou uma guerra civil atroz e prolonganda, em 1975.

Voltando ao assunto, se notar bem, Dr. Jonas Savimbi, além de ser um Lider politico e militar, era um educador politico consequente. Dedicava uma boa parte do seu tempo a ensinar, a estudar, a persquisar, a analisar e a conceber bem os fenómenos internos e externos da sociedade angolana. As suas previsões, que tornaram-se uma realidade profética nos dias de hoje, eram frutos do trabalho aturado de contacto permanente com os quadros, com a tropa, com as populações locais e com as elites. Mantia-se bem informado de tudo que acontecia na comunidade internacional e fazia reflexões e análises profundas. Acima de tudo, recolhia todos os dados necessários sobre os adversários e os seus aliados para elucidar o seu pensamento, e formular estratégias objectivas, assente em factos concretos. Por esta razaão, Jonas Savimbi prestava uma atenção especial aos Serviços de Inteligência Militar, às Telecomunicações , ao Comando Operacional e à Missão Externa, que conduzia a Diplomacia do Partido na Comunidade Internacional.

Em busca de conhecimentos, e de respostas concretas às questões complexas, muitas vezes, ele fazia retiros de contemplação, em locais isolados. Era frequente haver várias reuniões sucessivas de «brainstorming», a vários niveis, com sectores diversos, enriquecendo o seu pensamento estratégico. São metódos cientificos que ampliam o espaço de recolha de dados e permite conceber bem os fenómenos especificos, através de vários ângulos do prisma – reduzindo substancialmente a margem de erros. Ou seja, é uma forma mais abrangente e eficaz de participação de muita gente na tomada de decisões e no processo da formulação de politicas importantes.

Na verdade, entrei em contacto fisico com Dr. Savimbi em 1965, em Lusaka, abraçando a causa de libertação, numa caminhada prolongada, até sua morte trágica, em Fevereiro de 2002. Este homem, de grande valores, tinha enorme préstigio na comunidade internacional e no país, como tal. Era uma personalidade bastante forte, douto, enigmático, sábio, ousado, astuto, prudente, modesto, perseverante, integro, convicto, e entregue totalmente à Causa de Angola.

Importa realçar que, Jonas Savimbi, acima de tudo, era um «africano bantu», de origem rural, de matriz socialista, defensor acérimo da Negritude e do Pan-africanismo. Sem medo de erar, Jonas Savimbi foi o único Dirigente dos três Movimentos de Libertação de Angola que se baseou e permaneceu no interior do país, junto das populações locais e dos combatentes, contra o Colonialismo Português, com arma na mão.

Enquanto, naquela altura, os outros Dirigentes Angolanos andavam lá fora do país, no luxo, nas metropoles, a fazer propaganda politica. Interessa-me realçar, com firmeza, de que, Jonas Savimbi era um homem bastante alérgico à corrupção. Reprimia, com toda veemência, todas as manifestações de corrupção e da mentalidade pequeno-burguesa no seio da UNITA. Os principios de honestidade e de probidade eram sagrados, aplicados rigorosamente à todos, incluindo a ele próprio. Por isso, ao fim da vida, Jonas Savimbi não deixou nenhuma riqueza, nem se quer uma conta bancária no estrangeiro. A fámilia dele, que ficou atrás, que está no nosso meio, náo tem nada, vive em condições dificeis. Pelo contrário, os que lhe perseguiram até a morte, enganando o povo e a comunidade internacional, hoje tornaram-se grandes multibilionários do mundo, a custa do sangue e da pobreza da maioria esmagadora dos angolanos. Agora se interroga, quem afinal de contas tinha Razão?

Alias, fiquei bastante feliz e satisfeito, quando o Presidente da FNLA, Lucas Ngonda, atacou violentamente o MPLA, no dia 22 de Fevereiro de 2018, na Reuniáo Plenária da Assembleia Nacional, sobre a Lei do Repatriamento de Recursos Financeiros, domiciliados no estrangeiro. Interrogava-se, em tom agúdo, onde estará a ética e a moral do Socialismo do MPLA, que tanto propalava, e hoje se encontrar mergulhado na corrupção profunda e na pilhagem dos Cofres do Estado Angolano? A Bancada Parlamentar do MPLA baixou as cabeças, mantendo-se em silêncio absoluto – bem embaraçados.

Em sintese, o meu depoimento enquadra-se no espirito de solidariedade e de camaradagem de luta prolongada, de respeito e de homenagem, a um protagonista da Indepenência de Angola, com o qual partilhamos mutualmente as vicissitudes e as epopeias, nos momentos mais dificeis de luta de libertaçáo nacional e do combate titânico pela democracia. E, cuja Obra, em termos de valores, se ergue horizontal e verticalmente sobre a sociedade angolana. Sem dúvida, o Pensamento Estratégico do Jonas Savimbi tornou-se um «Farol da Liberdade» e do combate incessante pela democracia. Os Ideais do Jonas Savimbi deixaram de ser uma propriedade exclusiva da UNITA. É, pois, um Património Universal da Humanidade, e do Povo Angolano, em especial. Note-se que, na qualidade de politico, Jonas Malheiro Savimbi foi um Profeta, que deixou uma «Obra Sagrada», cujos «Ideais do Manifesto do Muangai», estão sempre na actualidade.

Agora, aos continuadores desta Obra Sagrada, exigirá deles uma adaptação realista e pragmática, sem deixar-se cair nas malhas do capitalismo selvagem e da corrupção pequeno- burguesa; afastando-se de Angola profunda, dos estratos sociais desfavorecidos e dos pés- descalços; cuja condição de pobreza e de subalternização politica, sempre constituiram-se na luta permanente e sem tréguas, do Heroi Jonas Malheiro Savimbi. Paz a Sua Alma!
Luanda, 25 de Fevereiro de 2018