Presidente norte-americano diz ao Presidente norte-coreano que o seu botão nuclear é "muito maior e mais poderoso", mas o procedimento para se lançar um ataque é mais complicado do que isso.
ALEXANDRE MARTINS 3 de Janeiro de 2018, 16:19
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FotoO Presidente dos EUA tem poder para decidir sozinho o lançamento de um ataque nuclear REUTERS/JONATHAN ERNST
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A Internet já fez todas as piadas possíveis e imaginárias sobre o tamanho do botão de Donald Trump – ninguém sabe ao certo quais são as dimensões dele, mas o Presidente norte-americano garantiu, no Twitter, que o botão nuclear que tem na secretária é "muito maior e mais poderoso" do que o do Presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Mas a realidade é um pouco menos excitante: seja qual for o tamanho do botão de Trump, a verdade é que a secretária da Sala Oval só tem um botão vermelho – e, ao que se sabe, só serve para pedir comes e bebes.
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A história foi contada pelo jornalista Demetri Sevastopulo num artigo publicado no jornal Financial Times, em Abril do ano passado, por altura dos 100 dias da Presidência de Donald Trump.
"Isto é o botão nuclear?", perguntou o jornalista ao Presidente norte-americano ao ver um botão vermelho na secretária da Sala Oval. "Não, não, mas toda a gente acha que é", respondeu Donald Trump, antes de carregar no botão e pedir Coca-Cola para os presentes.
Esta semana, na noite de terça para quarta-feira, o Presidente norte-americano decidiu voltar ao tema do botão nuclear e provocou centenas de milhares de reacções no Twitter. O motivo foi uma declaração de guerra ao Presidente norte-coreano, num tom semelhante ao daquelas que se fazem no recreio de uma escola primária: "O líder norte-coreano, Kim Jong-un, acabou de dizer que 'o botão nuclear está na sempre na secretária dele'. Alguém pode informá-lo de que eu também tenho um botão nuclear, mas que o meu é muito maior e mais poderoso do que o dele, e que o meu funciona!"
Poder unilateral, mas nem sempre
A imagem de um botão vermelho em cima da secretária da Sala Oval, pronto para ser carregado a qualquer momento, tem servido para transmitir a sensação de ameaça real, poderosa e instantânea, mas a verdade é que um Presidente norte-americano – mesmo os mais instáveis – não terá a vida tão facilitada quanto isso se quiser lançar um ataque nuclear.
Trump garante que o seu "botão nuclear" é "maior" que o de Kim
Em teoria, há duas situações em que um Presidente norte-americano pode ordenar um ataque nuclear: ou é acordado a meio da noite pela cadeia de comando militar, com informações sólidas de que existe uma ameaça contra o país; ou decide acordar o comando militar para ordenar um ataque nuclear.
Também em teoria, a segunda situação (que é a que assusta mais os críticos de Donald Trump) é muito mais difícil de concretizar, como explicou ao site Vox, em Novembro do ano passado, o professor de Ciência Política na Universidade Duke e antigo membro do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Peter Feaver.
"[Os militares] estão treinados para desobedecer a ordens ilegais, por isso o contexto é importante. Se forem eles a acordar o Presidente porque acreditam que estão a ser atacados, há uma presunção de legalidade se o Presidente ordenar um ataque. Mas se for o Presidente a acordá-los a meio da noite para ordenar um ataque nuclear sem dar nenhum contexto, sem existir nenhuma crise nem nenhum alerta, então não existe a presunção de que essa ordem é legal. Os militares levantariam questões muito sérias."
E a questão da urgência também só se aplica quando o Presidente é informado de que o país está a ser atacado – se for ao contrário, e porque nesse caso não existe uma ameaça real, a ordem do Presidente terá de esperar o tempo que for preciso para que a cadeia de comando e os conselheiros discutam, por exemplo, a saúde mental do ocupante da Casa Branca.
Ataque em minutos
Mas se o Presidente decidir lançar um ataque nuclear depois de estar confirmado que o país está a ser atacado, a ordem não será dada através de um botão vermelho – a ordem dá início a um procedimento que demora entre cinco e 15 minutos até que os mísseis saiam das bases em terra e dos submarinos.
Primeiro, o Presidente reúne-se com os conselheiros militares e civis na Situation Room, na Casa Branca; se o alerta de ataque for recebido a bordo do avião Air Force One, é disponibilizada uma linha especial para que o Presidente possa conversar com os conselheiros. Se já houver mísseis a caminho dos Estados Unidos, a conversa pode demorar apenas 30 segundos, e o Presidente tem poder para ordenar um ataque mesmo contra a opinião de alguns conselheiros.
Depois, o Presidente tem de se identificar perante um oficial que está na Sala de Guerra do Pentágono, para provar que é mesmo ele quem está a ordenar o ataque: o oficial lê um código e o Presidente tem de responder com o código equivalente que está escrito num cartão que ele (ou um militar) tem de transportar consigo 24 horas por dia.
Em seguida, o plano de lançamento é transformado numa mensagem codificada, que é enviada para as bases e submarinos – e que chega aos destinos cerca de três minutos depois da primeira reunião na Casa Branca.
No caso dos submarinos, a autenticidade da mensagem é verificada pelos responsáveis a bordo – essa mensagem inclui uma combinação que tem de ser introduzida no sistema para permitir o lançamento dos mísseis, o que deverá ser feito até 15 minutos após a reunião na Casa Branca.
No caso das bases em terra, cada centro de lançamento tem cinco equipas formadas por dois elementos – cada uma dessas equipas recebe os códigos enviados pelo Pentágono e compara-os aos códigos que estão guardados em cofres; se tudo bater certo, os mísseis são apontados aos alvos designados na mensagem e disparados cerca de cinco minutos depois da reunião na Casa Branca.
No caso de uma ou mais equipas de dois elementos se recusarem a cumprir as ordens, o sistema permite que os lançamentos sejam feitos com a aprovação de apenas duas das cinco equipas – e sem que nenhum botão vermelho esteja envolvido no processo.
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