Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Camarada Vila Pery,
Como estão as vírgulas? E dos pontos, que tem feito deles? Depois que fincou pé que não os tirava, nem sonhar, o Camarada Vila Pery caiu num silêncio e agora reaparece depois de atravessar o deserto.
Camarada Vila Pery,
Alegra-me sobremaneira que, na corrida em que camaradas estão empenhados, o “imperativo nacional” agora é o falso esclarecimento da dívida pública. Só não compreendo que requisitos presidiram à escolha de um simples Técnico Superior de Administração “A”, como o Camarada Vila Pery, para falar de um tema delicado como é o da economia. Mas, estando no país em que estamos, até os peixes, até os ratos, têm servido de porta-vozes dos que desgraçaram o povo. São utilizados como escudo para protegerem o dinheiro roubado ao povo e escondido na Suíça.
Já alguns começam a ventilar que o Camarada Vila Pery tempreparado uma cábula para falar de um assunto de que agora é admiravelmente um perito.
Impressiona-me cada vez mais a sua versatilidade e plurifacetismo.
Só o Camarada Vila Pery não sabe, mas até o cidadão mais pacato é disto consciente, que pode prescindir desta oportunidade de o escutar, porque a sua qualidade de palestrante peca por conflito de interesses, sendo o Camarada Vila Pery afilhado do Camarada Clarividente e do primogénito deste, Massumbuluko.
Desde logo, é pessoa interessada em que este assunto morra como começou e não haja auditoria forense.
Neste falso “imperativo nacional” em que concorrem os sobrinhos, afilhados e pretendentes a parentes, compreende-se que se está numa cruzada única: desvirtuar a verdade e subverter as consciências, Camarada Vila Pery.
Sabemos que os que defraudaram o Estado contam com o patrocínio e o aparato da máquina de propaganda da informação pública, conivente por afinar pelos silêncios.
Perante os indícios do desfalque das contas do Estado, o Camarada Vila Pery está no coro da “mídia” pública deste país, que, pese o Metical subvalorado e a inflação galopante, dá respaldo à campanha desinformadora.
O Camarada Vila Pery aparece assim como um dos que, tendo sido escolhido a dedo, goza do privilégio de ter os microfones e o “écran” da televisão pública à mão, para uso familiar, prestando com isso serviço à “sagrada família real”. O Camarada Vila Pery joga na manipulação e na cumplicidade relativamente à ocultação da cortina deste crime económico de dimensão colossal e sem precedente.
Camarada Vila Pery, é chegada a hora de apelar aos seus padrinhos a mudarem de tema e de táctica. Que se passe a usar nestas palestras o título pomposo: “Como esconder a dívida pública ao povo”. E aí lhe sugeria que se requeresse o Camarada Clarividente para palestrar. O recurso a terceiros, como o Governo, o governador do Banco Central, o ministro da Economia, parece-me gasto.
Nunca se tapou o Sol com a peneira, até conhecermos a genialidade do patriarca da “sagrada família real”.
Posso compreender que o senhor, desde que cessou as funções no partido, caiu na penumbra. Não o invejaria nunca. Aproveite mais este desfalque dos cofres do Estado, em viagens inter-provinciais e hospedagens em hotéis de luxo, porque, vindo agora o Camarada Vila Pery de Maputo a Nampula, e vice-versa, o não fará com os seus próprios meios.
Camarada Vila Pery, conhecendo-o pessoalmente e o seu feitio afável, muito cortês, e o que muito admiro em si – e desde já o advirto que se não tome como escova –, não creio que alguma vez vá ter a coragem, nestas palestras que profere, de afirmar que está na hora de a ministra do Ministério Público, também sobrinha do Camarada Clarividente, terminar com as investigações em relação às dívidas ocultas. A não ser que apostemos Vinho do Porto, que sei ser a sua bebida preferida.
Numa palavra: se bem que tem noção para situar com exactidão os pontos e as vírgulas, o Camarada Vila Pery deveria ter reparado que está errado nisto de acreditar que pode domar o povo como se tratasse do gado lá de Manica.
O que o faz cair no ridículo. Ponho um ponto final à minha opinião. Espero que o Camarada Vila Pery não mo vá tirar. Porque, falando entre amigos, em concordando ou não, as minhas pontuações, abono, são certeiras no alvo, Camarada Vila Pery.
PS: Acabo de acompanhar que também o FMI pôs ponto final à sua posição de não dar dinheiro ao país sem que haja uma auditoria forense sobre o assunto. É mesmo para dizer que você os inspirou nessa de pôr ponto final. Agora, fale com os seus amigos para aceitarem a auditoria. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 08.09.2016
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