Magazine CRV adicionou 35 fotos novas.
Moçambique | Sofala -Beira:
- "As crianças não podem pagar a factura da arrogância...", Daviz Simango, edil da Beira.
----->> “Eu já habituei sofrer”, diz professor que denuncia "ordens superiores" para o boicote à formalidade de inauguração de 9 salas de aulas construídas pelo Conselho Municipal, quando instado sobre se não receava retaliação.
Beira (Magazine CRV) -- Mesmo perante vergonhosas ausências das estruturas governamentais, particularmente da área da Educação a nível do Distrito e Cidade da Beira, incluso Directores e Professores, obedecendo “ordens superiores”, o Conselho Municipal da Beira procedeu ontem (5), nesta cidade, a “entrega” e inauguração de 6 Salas anexas da Escola Primária Completa do Vaz (11º Bairro), Munhava, e outras 3 Salas anexas da Escola Primária de Macúti (1º Bairro), zona de Miquejo, por si construídas.
Se haviam dúvidas quanto ao modo de estar intolerante que o Governo exibe na convivência entre actores políticos, estas dissiparam-se pela ausência na cerimónia, através das respectivas Direcções e Professores das Escolas que obedecendo “ordens superiores” deixaram a nu nesta atitude.
A estes, Daviz Simango deixou a mensagem para que saibam, que comecem a compreender, que os ordenados, salários, que recebem, incluindo outros professores, provêem “dos nossos impostos, de todos nós aqui presentes e outros ausentes. Estes impostos são públicos, são de direito público e eles naturalmente têm que respeitar este direito público”.
Mas, dada a ausência de quem de direito, ficava no ar a pergunta: a quem então o Conselho Municipal procede a entrega das chaves?
“É natural, nós vamos entregar a Escola ao Chefe do Posto, à Comunidade do Bairro”, esclareceu o governante municipal visivelmente agastado com a situação e para quem “as crianças não podem pagar a factura da arrogância, da intolerância, da falta de inclusão, por pessoas que simplesmente não estão preparadas para uma convivência democrática. Portanto nós estamos aqui para servir as crianças, para servir os encarregados de educação, esta é a razão”, vincou e deixou claro que “onde estiverem crianças necessitadas, carentes de escola, de carteiras, estará o Conselho Municipal pronto para dizer sim senhora vamos construir e vamos entregar.”
Por outro lado, Daviz Simango deixou um recado face a esta atitude dos gestores da educação:
“O único recado que eu deixo é que enquanto governante eleito pelo MDM, vou seguir as políticas do MDM, que não são para expulsar nenhum Director e muito menos mover perseguição ou represálias”.
Explicando a razão para execução destas obras que consumiram cerca de seis milhões de meticais provenientes dos cofres municipais e seus parceiros, o edil Daviz Simango afirmou que “o Conselho Municipal da Beira está ciente de que o ambiente escolar é um espaço rico em intersecções sociais, portanto a importância da motivação em sala de aula é um grande meio pelo qual se realiza o processo ensino-aprendizagem, daí os esforços para proporcionarmos às nossas crianças este bem público”.
Na ocasião, o presidente do Conselho Municipal da Beira ainda ofereceu um total de quatro motociclos - duas para cada escola - “porque o nosso interesse é que a parte administrativa encontre meios, que o conselho de encarregados de educação que participam no dia a dia dos interesses da escola também tenham transporte, isto tudo no sentido de servir as crianças”, justificou Daviz Simango.
Das quatro motorizadas, uma foi ofertada ao professor com mais anos de serviço, a leccionar na Escola Primária de Macúti - Miquejo, Azarias Moisés, 52 anos de idade.
Por outro lado, o Conselho Municipal ainda assumiu uma divida de uma das escolas, no valor 30.000 meticais, para com a fornecedora da água canalizada, a Fipag.
“ORDENS SUPERIORES”
Azarias Moisés, por sinal o único professor que “furou o bloqueio”, fazendo-se presente na primária de Miquejo, fez transbordar a gota de água quando, intervindo do pódio, bombasticamente denunciou a “ordem superior”, ressalvando que ao tomar da palavra não o fazia em nome da escola e sim “vou falar em nome pessoal como professor desta escola porque houve uma orientação para que nós, professores desta escola, não poderíamos estar aqui presentes. Mas eu vim porque eu trabalho aqui, sou daqui”, afirmou de pulmões cheios.
Com a plateia gelada, olhares estupefactos, o questionamos:
Mas de onde partiu a ordem?
-“Ordens superiores”
Certo, mas de onde mesmo? Da Educação da Cidade?...
-“Sim, da Direcção da Educação da Cidade e depois provincial”.
E não teme receber represálias por ter desobedecido as “ordens superiores”?
-“Eu já habituei sofrer”.
O “COMANDO”
Reagindo ao cenário vivido, mormente a “gazeta” dos responsáveis ao acto, o presidente do Conselho Municipal da Beira não poupou esforços e foi dizendo:
“Eles actuam sobre um determinado comando. E é importante que nós nos dirijamos a este comando porque de certa forma eles se encontram presos e amarrados a um determinado comando”.
“Uma das conclusões que nós podemos chegar é que ainda não estão preparados para estarem num estado de direito, não reconhecem a legitimidade das instituições democráticas”.
“Os autarcas que exercem este mandato o fazem delegados pelos munícipes da Beira. Portanto, foram eleitos e tem a responsabilidade de servir os munícipes”.
"Portanto, ao criar condições para que o Director da escola, a Direcção da Cidade, a Provincial e outra estrutura que gere a educação - apesar de existir o decreto 33/2006 que empurra essas responsabilidades ao município - mostra que não estão preparados para uma convivência democrática, não respeitam as instituições moçambicanas porque essas instituições que funcionam e dirigem esta autarquia foram eleitas”.
“E, quando as pessoas têm convites e sobretudo o Director da Escola que tem a responsabilidade de receber as chaves, a Direcção Distrital e Provincial têm responsabilidade de receber as chaves, simplesmente pautam pela ausência, é um sinal de que não estão preparados para conviver, muito menos estão preparados para a tolerância e ainda menos também preparados para a inclusão”.
INCLUSÃO
Senhor presidente, falando da inclusão, as “ordens superiores” entram em contradição com o discurso oficial do Presidente da República, que fala de inclusão, não? –questionamos, ao que Daviz Simango respondeu:
“É aquilo que nós sempre continuaremos a dizer, esses mandantes não estão preparados, esses mandantes falam para a fotografia e a vida não é feita de fotografia. A vida é feita de actos concretos. O que nós estamos a fazer aqui são actos concretos”.
“O Município já teve a oportunidade de construir escolas, já teve a oportunidade de construir hospitais, já assistiu directores a serem expulsos por que receberam carteiras..."
"Hoje estamos a proceder a esta inauguração sem água canalizada pois, há uma factura de cerca de de 30 mil meticais para ser paga a Fipag… esse corte no fornecimento da água aconteceu quase no final das obras e não sei se foi para prejudicar as obras ou não, mas a verdade é que teve consequência no ritmo das obraa..."
"...solicitamos o pagamento da factura porque é o nosso contributo e não protagonismo algum. Infelizmente o Director não fez entregar esta factura e o resultado é que os alunos amanhã vão começar a ter as aulas e não têm como usar os sanitários por que não têm água...”
“ …se nós queremos educar, se queremos que haja higiene, saúde pública, evitar a cólera e outras doenças, temos que criar as mínimas condições de termos água".
No comments:
Post a Comment