Sobre o calar das armas, vale a pena registar o desgaste reputacional a que chegou nossa sociedade civil (incluindo, e sobretudo, as confissões religiosas). O diálogo que se projecta envolverá alguma mediação. E seria de bom-tom que essa mediação fosse eminentemente moçambicana. Tempos houve em que as confissões religiosas desbravavam os caminhos da pacificação em Moçambique. Foi notável o papel da Igreja Católica na negociação para a paz, assinada em 1992. Nos últimos anos, no entanto, o capital de mediação dessas confissões foi se desmoronando progressivamente, com suas lideranças tomando partido de um ou de outro lado.
Todo o mundo conhece as simpatias do Dom Dinis Sengulane, da Igreja Anglicana, pelo Governo do dia. E já ninguém duvida das paixões do Arcebispo da Beira, o argentino Cláudio Zuanna, pela Renamo. A Renamo chamou Sengulane de traidor, um tal Judas, na sequência do assalto à residência de Dhlakama na Beira em Setembro do ano passado. E o Governo tem respondido a correspondência a si remetida pela Igreja Católica com um “nim” ensurdecedor.
Num contexto de tamanha desconfiança, parece-nos claramente impensável uma mediação eminentemente moçambicana. Seria o desejável mas as paixões clubistas dos potenciais mediadores locais são demasiado conhecidas. Cremos que, no roteiro do calar das armas, será preciso muita engenharia para ultrapassar duas das pré-condições necessárias para o PR se sentar novamente com o líder da Renamo na mesa do diálogo: o entendimento sobre as condições de segurança para o líder da Renamo e o entendimento sobre o perfil dos mediadores. Nada que não se ultrapasse com boa vontade.
(Excertos do Editorial do Jornal Publico,na sua edição de hoje)
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