MOÇAMBIQUE
Em entrevista à DW África, professora da Universidade Leiden, na Holanda, diz que retorno à guerra civil é improvável, mas conflitos entre RENAMO e FRELIMO fragilizam o longo processo de paz.
Os efeitos do Acordo Geral de Paz de 1992, que selou o fim dos 16 anos de guerra civil em Moçambique, perde cada vez mais força. A intensificação dos conflitos entre RENAMO e FRELIMO nos últimos meses têm acentuado a polarização e a desigualdade social no país.
Para Corinna Jentzsch, professora assistente de Relações Internacionais da Universidade Leiden, na Holanda, a falta de reconciliação nacional e falhas na reintegração de ex-combatentes são os principais responsáveis pela instabilidade política atual.
"A polarização social persiste ao longo dos anos desde o acordo de paz. O país permanece dividido entre simpatizantes da RENAMO e da FRELIMO, entre o Norte e o Sul", explica a especialista que fez pesquisas de campo sobre a guerra civil e o processo de paz em Moçambique.
"Apoiadores da RENAMO reclamam de falta de acesso a postos de trabalho e de discriminação. E agora o país enfrenta um crescimento acentuado da desigualdade social, o que significa que nem todos têm acesso aos lucros gerados pelos recursos naturais."
Num comunicado divulgado na semana passada, a RENAMO informou que só vai dialogar com o Governo de Filipe Nyusi se o partido governar as seis províncias onde reivindica a vitória nas eleições gerais de 2014.
Corinna analisa que o posicionamento da RENAMO, que mantém fileiras armadas, deve-se à incapacidade do líder do partido, Afonso Dhlakama, de inserir-se num ambiente político democrático. Segundo a especialista, Dhlakama mantém uma mentalidade de guerrilha. Por sua vez, a FRELIMO acentua as rivalidades.
“A repressão está aumentando. A FRELIMO propõe a ideia de união nacional ao ponto de silenciar a oposição. Nunca houve um processo de reconciliação a nível nacional. A guerra continuou não puramente com violência, mas com palavras. Todos os problemas sociais de Moçambique são entendidos hoje sob o espectro do conflito entre a RENAMO e a FRELIMO. Essas diferenças nunca foram superadas, então a rivalidade da guerra civil continua", analisa.
Solução ainda é o diálogo
Os últimos meses têm sido marcados por ataques, raptos e assassinatos, com trocas de acusações entre a RENAMO e a FRELIMO. Apesar disso, Corinna diz que um retorno à guerra civil é pouco provável.
"A violência atual está concentrada em regiões específicas e ainda não se espalhou por todo o país. Apesar de a RENAMO provocar o Governo com ataques, continua a ser um partido fraco. A questão é se o partido vai conseguir apoio adicional da população para se tornar uma ameaça real ao Governo", diz Corinna.
Diversos setores têm se oferecido para mediar o conflito. O envolvimento da Igreja Católica e do presidente da África do Sul, Jacob Zuma, podem ter um efeito positivo, mas segundo a professora da Universidade Leiden, o diálogo entre a RENAMO e FRELIMO ainda é a solução mais eficaz para um acordo permanente.
"No longo prazo, é preciso superar o discurso de 'nós contra eles', usados pelos dois lados. E isso requer um processo mais amplo que envolva mais do que tentativas de reuniões."
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