João Hungulo
Luanda - Aos 27 de Fevereiro de 2016, um grande angolano, sob cuja sombra de liberdade vivemos hoje, a natureza levou – lhe a vida, despedindo – se de nós no âmbito físico, foi para uma terra que todo humano terá de ir enquanto por cá passar. A sua tarefa como nacionalista foi cumprida, sob a qual veio para Angola a emancipação que antes jamais se via expressa entre nós. Sua luta pela liberdade de Angola foi como o irradiar do sol sobre a terra para milhares de multidões viventes. Foi por ele que a multidão de escravos que tinha sido marcada a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça, veio o renascer de um país feliz que dava por acabada a longa marcha do cativeiro.
Fonte: Club-k.net
Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara, é o nome legítimo do grande nacionalista Angolano.
O guerreiro e nacionalista Lara nasceu no Huambo em 09 de Abril de 1929.
O desejo de estar formado era na verdade forte e numeroso, levando – o a terminar os seus estudos de base na sua cidade natal e a posterior em Lubango, como não poderia deixar de estudar, quis o acaso que fosse à Portugal onde viria a dar por continuado a sua formação em ciências Físicas e Químicas, na Universidade de Coimbra e posteriormente em Lisboa,
Em 1949, teve início a sua luta incansável a favor da liberdade de um país cuja liberdade morava no segredo dos deuses, nesta índole, Lara aliou – se à Casa dos Estudantes do Império, iniciou as suas actividades políticas e fez parte da direcção da “casa” em Coimbra. Ele fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem e outros nacionalistas das colónias portuguesas, clube que na década de 1950 desempenhou um papel significativo na mobilização dos naturais das colónias e na circulação de informações e documentos.
Como um dos fundadores do MAC (Movimento Anti-Colonialista / Movimento Anti-Colonial), que também incluiu Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Noémia de Sousa, Humberto Machado e Eduardo dos Santos, entre outros, Lara dedicou-se ainda mais à actividade política.
Em Março de 1959 foi forçado a sair de Portugal para escapar à prisão, encontrando refúgio na Alemanha. Depois disso, participou na Conferência de Tunis em Janeiro de 1960 como representante do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola / Movimento Popular para a Libertação de Angola) e a recém-criada FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional).
Depois de uma estada em Casablanca em 1960, Lara estabeleceu-se em Conakry para constituir o primeiro Comité Central do MPLA no exterior de Angola. São desse período de turbulência os documentos publicados no primeiro volume das suas memórias políticas, “Um amplo movimento: Itinerário do MPLA através de documentos e anotações de Lúcio Lara”, que nos permitem acompanhar Lara, como ele sobreviveu economicamente como trabalhador não-qualificado e professor, apoiado por sua esposa, que também trabalhava como professora. Ao mesmo tempo, ganhou
acesso à literatura que tinha sido proibida em Portugal. Os contactos então estabelecidos foram muito influentes para o seu contínuo desenvolvimento político. Além dos acima mencionados, este agrupamento incluía pessoas como Viriato da Cruz, Cheik
Anta Diop, Ousmane Sembène e Franz Fanon, bem como os intelectuais mais renomados, políticos ou sindicalistas das colónias africanas ou países recentemente independentes.
Lúcio Lara, foi um homem, cujas palavras revelam um coração acelerado de acção, em prol da liberdade do angolano longe das correntes do esclavagismo colonial, transformando palavras em batalhas, contra a opressão colonial, exaltando a crítica contra o imperialismo colonial, reformando Angola colonizada para uma Angola enaltecida pelo exercício da liberdade que procura encontrar sob todas as circunstâncias de luta uma nação livre, e inspirando um povo para um esforço excepcional. Fruto de uma luta exaustiva, desenvolveu uma análise rigorosa de vários anos, examinada ao favor da busca da quão desejada liberdade, que encontrava – se sedenta na alma de uma Angola triste e martirizada, que jamais parava de pranto e clamor por ser liberta. Um carácter único e uma memória sólida que conta um século da história sociocultural de Angola.
Lara, doutrinava a angolanidade no trilho da luta para se libertar das enxergas de farrapos ofertadas por uma escravatura única e quase sem fim, como bolor sobre cascos perdidos num ermo insólito, contrariando tudo quanto o império colonial implantara sobre a nação e contra os angolanos. Nele não se via coisa alguma que lisonjeie seu espirito ou lhe alimente as ambiciosas esperanças por uma recompensa fabulosa, nele somente se via o desejo de fazer renascer uma Angola liberta da fatídica escravatura, que desmoronava a felicidade e a esperança do angolano, há vários séculos.
Lara irradiou, porém, como mestre heróico do nacionalismo histórico angolano, um poder que conservava seu patriotismo na esperança de uma Angola amanhã liberta e transformada, onde o sorriso da liberdade possa tomar posse e ocupe o cimo do desejo global do angolano.
Dir-se-ia que, a doçura do amor por Angola transcendesse de sua presença, como da flor o perfume. Suas palavras caem como chuva que desce sobre o prado. Como chuveiros que regam a terra, transformou os seus ideais numa alma agitada em busca de um conflito que, viria a pôr o país longe das algemas da escravatura incomensurável.
Os seus anseios, liam os segredos da alma angolana, que na pressa clamava e chorava arrastando suas lágrima nos passos que dava, num circuito cerrado e corajoso, que sacrifica a qualquer instante a própria vida de forma inevitável e imparável, por uma liberdade e paz sobre sucessões de gerações; seu entusiamo, descrito pela altivez de libertar o país, lhe desdobra alguma coisa do significado daquela lição de que a humanidade de todas as épocas carece.
Sua ansiedade, encontram – se nas manobras heróicas que abriram portões para a liberdade, manobras essas que chamavam em socorro o ressurgir de uma Angola livre e em paz, e soltar os seus descendentes que somente lhes sobejava a lágrima e o sofrimento para exprimir como lição última da angústia do viver que se via na expressão mais elevada que a morte.
Os dias difíceis e tristes porque passavam e morriam os nossos nacionalistas, são símbolos de fé e optimismo por uma Angola que hoje vive liberta do jugo colonial, em prol de uma realização continuamente acabada.
Vo – lo – teríamos nós angolanos, expressado em gesto de exaltação da sua magnitude enquanto personalidade inédita, na busca da liberdade para a terra em que hoje vivemos; tornando oportuno uma profunda reflexão por este nacionalista, e um minuto de silêncio que espalha o seu fulgor pelo país fora, em virtude do relevo do seu percurso histórico, ter dignificado o país e os seus habitantes, ter feito proezas impossíveis de as fazer em tempos antanhos.
Os sacrifícios de Lara, desafiaram a sua época, passaram a amplitude de luta que se via na sua era, os seus esforços desafiaram as impossibilidades, não obstante, mediante os quais foram possíveis o suscitar de grandes proezas que fizeram renascer uma nova Angola liberta e inundada pela alegria no olhar do seu povo.
A magnitude de Lara, não serve para mensurá – la, nem à metro, nem a balança, porque o que ele fez para nós e para Angola, transcende sobre todas as gerações; um acto ímpar e singular, que serve para guardá – lo em todas estrofes e páginas escritas do nacionalismo angolano.
Foi inevitável a sua luta, foi pelo desejo de exaltação própria da liberdade que a escravatura fugiu de Angola, e os nossos primeiros Pais perderam as algemas que andavam presas às suas mãos pelo domínio colonial.
É por esses nacionalistas que Angola hoje é o que é, no entanto, eles deram para Angola uma opção paga por suor e sangue, por lágrimas e por sofrimento, não há como deixar que o dia de sua morte passe debalde, inválida seria a história do país, se nada tivesse por exprimir nas suas estrofes personalidades de homens de coragem e fé como estes, que em momentos impossíveis e inacreditáveis souberam retirar o país de um futuro obscuro e incerto, sem acento e sem qualquer dignidade para aquela época. Não há dignidade nenhuma que se expressa na escravidão, a vida de escravo é uma autêntica lição de sofrimento.
E aqueles que o tudo deram para apagar a escravatura que outrora assumia o comando do país, devem ser recordados para todo sempre, porque sua luta não foi feita só, foi necessário o impossível e o sacrifício da própria vida para a fazer.
Excelentíssimo nacionalista angolano, lutaste por Angola, e no coração dos angolanos ficaste eternizado, como palavras escritas no mármor atento e eterno, as memórias de sua luta, de sua incansável persistência, nos servirão de recordatório sobre sucessões de gerações, Nacionalista Lúcio Lara: «QUE SUA ALMA JAZA EM PAZ».
UNITA reconhece contribuição de Lúcio Lara à luta pela liberdade de Angola
MENSAGEM DE CONDOLÊNCIAS
Luanda - O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA tomou conhecimento da morte do Nacionalista, Antigo Combatente e Membro fundador do MPLA, que em vida se chamou Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara.
Fonte: UNITA
Nesta hora de dor e recolhimento para os membros da família Lara, para o MPLA e para o País, o Secretariado Executivo do Comité Permanente exprime o seu sentimento de pesar pelo infausto acontecimento e curva-se perante a memória de Lúcio Lara que, tendo encarnado os ideais do MPLA com os quais se identificou até à sua morte, foi um destacado combatente pela independência do nosso País e deixa-nos exemplo de nacionalismo.
Reconhecendo a sua contribuição à luta pela liberdade de Angola e dos angolanos do jugo colonial português, o Secretariado Executivo do Comité Permanente da UNITA rende a sua homenagem ao malogrado Lúcio Lara, e apresenta à família enlutada e ao Bureau Político do MPLA, as suas mais sentidas condolências.
Luanda, aos 28 de Fevereiro de 2016.
O Secretariado Executivo do Comité Permanente
O Secretariado Executivo do Comité Permanente
Mário António: ‘Lúcio Lara é exemplo de humildade’
Luanda - O secretário do Bureau Político para a Informação do MPLA, Mário António, considerou ontem, em Luanda, o malogrado nacionalista Lúcio Lara, falecido no Sábado, aos 87 anos, vítima de prolongada doença, como uma figura incontornável da luta pela emancipação e pela independência nacional.
Fonte: Opais
O político garantiu ainda que Lara deu o seu ‘contributo inestimável para a nossa história recente e dando um exemplo de humildade e de entrega total à causa patriótica do povo angolano’. Em declarações exclusivas a OPAÍS, Mário António realçou que ao seu partido e aos angolanos “resta-nos honrar a sua memória e transmitir às novas gerações o seu exemplo”.
“Nós estamos seguros que o MPLA realizará plenamente a sua tarefa”, acrescentou. Até ao momento ainda não se conhece a data em que o antigo secretário-geral do MPLA será sepultado. Uma fonte familiar explicou que, tendo em conta a dimensão política do malogrado, ‘as exéquias não dependem exclusivamente dos seus familiares’. Algumas informações apontam que os restos mortais de Lúcio Lara poderão ser sepultados apenas depois da conclusão do 6º Congresso da Organização da Mulher Angolana (OMA), que começa a 2 e termina a 5 de Março. O MPLA espera prestar uma grande homenagem ao seu antigo homem-forte nesta altura, razão pela qual não pretende que as energias estejam dispersas.
Questionado sobre o assunto, Mário António recorreu ao comunicado do Bureau Político do MPLA: “oportunamente serão divulgadas datas e actividades que decorrerão no âmbito das exéquias fúnebres do camarada Lúcio Lara. Neste momento, não posso adiantar nada”.
“Reserva moral do MPLA”
O general na reserva Mbeto Traça considerou que “o país perdeu um grande homem” ao referirse à morte do nacionalista Lúcio Lara. Contactado por OPAÍS a tecer alguns comentários sobre o infausto acontecimento, o antigo combatente disse que Lúcio Lara foi um dos principais artífices da luta de libertação nacional e que a sua morte constitui um grande vazio. “
O camarada Lúcio Lara foi um dos principais artífices desta nossa luta de libertação, desde a fundação do MPLA até ao longo de toda a sua vida”, disse, indicando que “ foi um camarada que exerceu múltiplas funções no MPLA com grande competência, com grande dedicação e era de facto a reserva moral do MPLA”. Influente membro do MPLA, Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara desempenhou inúmeras funções, de entre as quais de secretário da Organização e dos Quadros e mais tarde as de secretário-geral.
Artífice da luta pela independência
Em nota divulgada pelo Bureau Político do Comité Central MPLA, o partido dos “camaradas” considera Lúcio Lara, “um artífice da luta pela independência de Angola”. O BP do MPLA refere a “profunda comoção” causada pela morte deste nacionalista e realça a “inestimável participação” de Lúcio Lara em prol da autodeterminação dos angolanos.
“Nascido aos 9 de Abril de 1929, o camarada Lúcio Lara foi um artífice da luta pela Independência de Angola, ao lado do primeiro Presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto, e outros eminentes nacionalistas, tendo inscrito o seu nome com letras de ouro na nossa história recente, pela sua inestimável participação na árdua caminhada em prol da Liberdade, da Autodeterminação e da Independência Nacional”- lê-se no comunicado.
Pelo infausto acontecimento, o Bureau Político do Comité Central do MPLA “inclina-se perante a memória deste ilustre combatente da pátria angolana” e endereça condolências à família enlutada, em nome dos seus militantes, simpatizantes e amigos. O comunicado refere também que o Programa das Exéquias Fúnebres será divulgado oportunamente.
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