Vendedores de crédito arriscam suas vidas ao se posicionarem de forma atabalhoada nas vias públicas da cidade de Maputo e Matola. Conseguir clientes a todo o custo, leva a que estes comerciantes se posicionem, inclusive, em separadores centrais de grandes avenidas, de onde esperam por uma buzinadela de condutores de veículos automóveis ou por um assobio de quem esteja interessado no seu produto.
As zonas da Malanga, concretamente no Mercado Nwa KaKana, na cidade de Maputo, e de Mahlampsene na Matola são exemplos de lugares onde se verificam movimentações de deixar os cabelos em pé. O risco é grande: as travessias de uma faixa para outra são feitas intuitivamente, sem olhar para os lados, importando neste caso seguir o faro em direcção aos clientes.
domingo conversou com algumas pessoas que têm assistido à prática deste negócio desgovernado. Helena Mussane, vendedora de lenha no Mercado Nwa Kakana, ao ser questionada sobre o caso, confirmou sem titubear: “Vejo, sim! Eles atravessam a estrada sem controlar a circulação dos automóveis”. Tamanho descuidado tem dado lugar ao perigo. “Vi, em circunstâncias diferentes, dois vendedores de crédito sendo atropelados. Não perderam a vida, mas foram todos parar ao hospital”, afirmou.
Trata-se, por sinal, de uma competição, certificou outra vendedora, Clara Vasco, proprietária de uma banca de roupa usada, no Mercado Malanga. “Tenho os visto a correrem desesperadamente de um lugar para o outro, perseguindo sobretudo viaturas. Não esperam sequer pelo chamamento, fazem-no na esperança de que os ocupantes estejam interessados em comprar crédito. Mas, o que mais preocupa, continuou, é o facto de os crediteiroscompetirem de forma desenfreada, já que quem chega primeiro ganha dinheiro”. Essa corrida chega a levar os seus participantes à morte. Só para citar um exemplo, Clara Vasco apontou para o caso de um jovem que perdeu a vida, “ao atravessar a avenida, com o intuito de atender à solicitação de um motorista de chapa que pretendia comprar crédito”.
Azares na cidade de Maputo e na Matola também. Quem nos deu certeza disso foi Alex Machava, soldador de tubos de escape, funcionário de uma oficina posicionada em Mahlampsene, Matola. “Aqui andam (os vendedores de crédito)em debandada. Quando alguém assobia eles perdem o norte. Correm, trepam em viaturas de grande porte… um desses comerciantes perdeu a vida ao ser espetado por um ferro transportado num camião; o outro, que também perdeu a vida, foi atropelado ao perder equilíbrio nessas manobras perigosas. É realmente preocupante”. Entretanto, Alex preferiu repartir as culpas ao afirmar que os camionistas, principalmente sul-africanos, contribuem para essas ocorrências. “Eles nunca param. Compram crédito com o carro em movimento”. E, distribuindo o mal pelas aldeias, coube a vez aos vendedores ao afirmar que “não devem colocar o dinheiro em primeiro lugar, mas sim a vida”.De qualquer forma defendeu que somente os automobilistas podem mudar esta situação“se deixarem de comprar crédito em circunstâncias que colocam o comerciante em risco de vida”.
VALE TUDO POR
QUALQUER TOSTÃO
Vendedores de crédito contactados pela nossa reportagem reconheceram os tropeços que vêm dando ao desenvolverem o seu negócio. Até porque “eu próprio já fui atropelado”, declarou Fernando Lindre, natural da Zambézia, residente em Maputo.
Fernando está nesta lida “há vários anos”. Com os lucros sustenta a família, uma vez que, por dia, consegue amealhar no mínimo cem meticais para garantir a refeição.
Vítima de uma distracção que quase lhe tirou a vida “… fui atropelado quando tentava apanhar dinheiro da venda de crédito”, atestou que a forma mais segura de lutar pelo seu ganha-pão é “montar banca num lugar fixo”, o que implica ficar parado em um determinado ponto à espera do cliente.
Poderia ser o ideal se reunisse consenso. A verdade é que os seus colegas de faina não vêem combons olhos esse modo de se posicionar no negócio.
“Para conseguir sobreviver, entro na batalhade olho vivo”, palavras de Francisco Mugabe, natural de Gaza, residente em Maputo, vendedor de crédito há onze anos. Mais feliz na arrecadação, “ganho no mínimo trezentos meticais por dia”, garantiu que de tudo faz para não colocar a vida em risco “tomo cuidado ao atravessar as ruas para vender crédito”, o que demonstra a sua devoção pela circulação de faixa em faixa, uma vez que, na sua opinião “parar (no mesmo lugar) é morrer”.
VENDA FORA DO CONTROLO
DA POLÍCIA MUNICIPAL
A propósito do comércio praticado de forma desordenada colocando em risco de vida seus praticantes,domingo conversou com Lourenço Chirindza, chefe do Departamento de Relações Públicas do Comando da Polícia Municipal, que, reagindo a este facto, afirmou que“se trata de uma actividade que nunca teve autorização da Polícia Municipal, daí que é feita de maneira anárquica, portanto, fora do controlo desta autoridade”.
De qualquer forma, de acordo com Lourenço Chirindza, está em curso um trabalho que visa regular a venda informal de uma forma geral. “Saibam, só para citar um exemplo, que não se permite o comércio informal em avenidas protocolares. Com efeito, está em curso um trabalho de educação cívica mas, paralelamente a isto, existem as Agremiações, tais como a Associação dos Trabalhadores do Sector Informal (ATSOTSE), que visam sistematizar a actividade desses comerciantes, uma vez que se pretende que seja desenvolvida de maneira ordeira, sem criar embaraços”, disse Chirindza.
Carol Banze
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