O secretariado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi quase todo reestruturado, esta sexta-feira (05.02). Dos nove membros do secretariado mantiveram-se apenas três, incluindo o secretário-geral, Eliseu Machava. A sua sucessão não fez parte da agenda, ao contrário do que vinha sendo ventilado na imprensa moçambicana.
Num discurso durante a reunião do Comité Central da FRELIMO, o presidente do partido, Filipe Nyusi, afirmou que, com a presente reestruturação, pretende-se ter um secretariado a tempo inteiro, verdadeiramente executivo, mais ativo, dinâmico e adequado à realidade do país.
"O que está em causa neste momento histórico de crescimento do nosso país e da nossa economia é a capacidade de inovar a FRELIMO. Está em causa a nossa capacidade de saber estar, não só no contexto em que vivemos mas sobretudo perante os desafios que temos pela frente", afirmou Nyusi.
O líder da FRELIMO defendeu que o novo secretariado deve refletir o crescimento do partido: "Queremos um secretariado que, para além de consolidar as conquistas e experiências alcançadas desde a criação da FRELIMO, continue a promover a coesão e unidade entre os membros da família FRELIMO, em particular, e entre os moçambicanos, em geral."
Quem entra, quem sai
Quatro membros do secretariado da FRELIMO foram substituídos em cumprimento de uma diretiva do partido que considera incompatível aquele cargo com o de deputado. Foram abrangidos pela medida o porta-voz da FRELIMO, Damião José, o secretário para a Organização, Sérgio Pantie, o secretário para a Área Económica, Edson Macuácua, e o secretário para Organizações Sociais, Carlos Vasco.
Outros dois membros - Carmelita Namashulua, ministra da Administração Estatal e da Função Pública, e Amélia Nakhar, presidente da Autoridade Tributária - renunciaram aos seus cargos no partido, alegando a complexidade das suas atividades governativas.
Foram eleitos para ocupar os lugares deixados vagos Esperança Bias, Helena Muando e António Niquice, todos membros do Parlamento que vão ter de renunciar aos cargos naquele órgão, Agostinho Trinta, governador da província de Inhambane, e Chaquil Abubacar, administrador de Monapo, na província de Nampula, o maior círculo eleitoral do país.
Membros influentes da FRELIMO: Da esquerda para a direita, Graça Machel, Raimundo Pachinuapa, Aires Aly e Luísa Diogo
Oportunidade para Nyusi reforçar liderança
A sessão do Comité Central realizou-se numa altura em que o país completa um ano após o início do novo ciclo de governação. Para o analista Egídio Vaz, a reestruturação da FRELIMO constituiu uma oportunidade soberana para Filipe Nyusi reforçar a sua liderança no seio do partido:
"A FRELIMO encontra-se fraturada. Se não fosse o poder político que detém sobre o Estado, diríamos que o partido está em crise - uma crise administrativa e de liderança, na medida em que existe, até agora, um conjunto de focos de poder cuja manifestação põe em causa a coerência do discurso e a praxis do Governo atual."
Críticas a RENAMO
Em diversas mensagens apresentadas durante o encerramento da sessão, condenou-se a maior força da oposição, a RENAMO, responsabilizando-a pela tensão político-militar no país. Foi feito ainda um apelo a Nyusi para que se prossiga com o diálogo com vista à preservação da paz.
O analista Egídio Vaz considera que os resultados da reestruturação da FRELIMO podem influenciar positivamente na resolução da atual tensão: "O partido passaria a falar em uníssono, algo que não aconteceu nos últimos 14 meses, e o poder seria concentrado em órgãos apropriados, influenciados pelo presidente da FRELIMO."
Esta foi a primeira sessão do Comité Central da FRELIMO dirigida por Filipe Nyusi, desde que assumiu a presidência do partido no poder, em março de 2015. Nyusi anunciou a realização de uma sessão ordinária do partido em breve.
No comments:
Post a Comment