Por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
“Em certas páginas das redes sociais digitais há especialistas dos grandes planos dramáticos: um tiro corresponde para eles a 50 tiros, um ataque a 100 ataques, um ferido a 200 feridos e um morto a 300 mortos. Estão especialmente ávidos pelas mortes governamentais.” Carlos Serra, sociólogo moçambicano.
A estrada nacional número um (EN1) no troço Save – Muxúnguè e vice-versa voltou a ser o “corredor da morte” devido aos ataques perpetrados pelo braço armado do partido Renamo. Em consequência destes acontecimentos, o governo na qualidade de tutor dos superiores interesses nacionais, voltou a introduziu colunas militares para escoltas de viaturas civis e protecção de pessoas e bens. Com esta medida, espera-se que o governo e as forças de defesa e segurança (FDS) consigam não só travar o derramamento de sangue, mas também – e fundamentalmente – na repressão infringida aos autores desses actos macabros.
Não são as populações de Save e Muxúnguè as únicas vítimas deste conflito. É o país inteiro que sofre com isso, porque a dor de uma ferida não só tem efeitos no local, como abrange o corpo todo. É o país inteiro que está a ser dilacerado por este conflito absurdo e injustificável. Tenho cá comigo que não se justifica a guerra. Justificá-la é igual a uma barbaridade.
O medo entrou pelas nas nossas veias e instalou-se no nosso corpo. Onde quer que a gente vá, o medo acompanha-nos. Mesmo quando dormimos, já não sonhamos com a paz, porque o medo é quem pilota os nossos sonhos e escolhe a pior pista para aterrar o nosso destino: a desgraça!
A Renamo diz que os meios justificam os fins, e que os ataques visam forçar o governo a aceder às suas reclamações. Pergunto a si, caro leitor, se querelas políticas é motivo para um partido com representação parlamentar ferir e matar populações civis indefesas?
Independentemente das amarguras que tenham causado este conflito, a Renamo está a pautar pelos caminhos da perdição e isto é claramente um ataque à razão. Penso que todos nós na vida – e os partidos políticos não fogem à regra – estamos sempre sujeitos a engolir sapos. O mais importante, parafraseando o meu amigo Joaquim Marcos Manjate, é nunca vergar, pois quanto mais nos vergamos, mais fácil fica de nos subirem às costas.
A Renamo deixou de ser um partido que aglutina os interesses do povo e passou a ser um clube de mercantilistas que luta para “saciar os sacos vazios”. Não será pela nomeação de governadores provinciais que a Renamo luta. O que a Renamo quer, disso quase que já ninguém duvida, é o acesso aos recursos minerais e energéticos em descoberta e exploração no país. Pouco lha interessa o poder.
A segunda pergunta que faço ao leitor é está: Se os partidos políticos precisam de eleições para aspirar a ser governo, por que motivo a Renamo abanda os pleitos eleitorais?
Para o nosso paradigma de gestão governativa, centralizado na figura de um soberano com forte dependência na máquina partidária, a nomeação de seis governadores provenientes da Renamo não constituiria uma garantia de acesso aos recursos minerais e energéticos, embora reconheça que os seis nomeados – e apenas esses – teriam acesso a um poder administrativo limitado.
Ademais, os governadores provinciais são controlados por um “remoto controlo”, pouca acção têm para agir à margem das decisões centrais. Por outro lado, a Frelimo não aceitaria a alteração do jogo “ao meio do campeonato”, porquanto a regra de partilha não fez parte do escrutínio eleitoral em Outubro de 2014.
Em política a vitimização é, infelizmente, a principal regra de sobrevivência dos partidos. E a Renamo para legitimar o actual conflito político-militar percebeu que era necessário, em primeiro lugar, fazer-se passar por vítima de maus tratos da Frelimo, e, em segundo, arranjar um bode expiatório que é a reivindicação para a nomeação dos governadores nas províncias onde ela, a Renamo, ganhou o pleito eleitoral. Porque a pieguice não tem fórmula fixa (depende da habilidade e da astúcia de cada pessoa), brevemente nascerão outros chiados para justificar o injustificável: a matança contra as populações indefesas.
Faço uma terceira pergunta ao leitor: como é que se explica que um partido que tenha lutado pela democracia seja ele mesmo o seu coveiro?
Os geólogos advertem que os recursos naturais do país são esgotáveis. Certamente não irão acabar amanhã. Lula da Silva é o melhor exemplo de que na política, assim como na vida, a paciência, a persistência e o saber fazer ganham vitórias. A precipitação nunca levou ninguém ao pódio. Espero que o líder máximo da Renamo, Afonso Dhlakama, compreenda o ensinamento de Lula da Silva e do meu amigo Nkulu, poeta anónimo que tanto admiro, nas seguintes reflexões:
1. A gula excessiva pode matar o próximo apetite e decretar falência onde havia promessa.
2. As temperaturas da forja nunca são frias, quando o objectivo for o de moldar o ferro.
3. Ganhos imediatos, sem semear, são traiçoeiros.
4. Vitórias fáceis não forjam quadros.
Tem sido muito difícil a Renamo compreender os fenómenos históricos. Poucos, como o saudoso académico David Aloni, o estratega político Raul Domingos e o também académico Jafar Gulamo Jafar, o compreendiam. Impedir a circulação de pessoas e bens, num país sem fronteiras entre moçambicanos, colocará, indubitavelmente, a Renamo e o seu líder como réus no tribunal da consciência dos eleitores do amanhã.
As alas militar e política da Renamo não se podem esquecer que a despartidarização do partido é uma possibilidade que o governo NUNCA descartou. A Renamo deve expor os seus argumentos no parlamento. Deve, igualmente, evoluir na paz. De contrário, apesar de suas acções belicistas estar a ser aplaudidas por uma certa imprensa inconsequente, cavará, com uma enorme profundidade, a própria sepultura.
Bem dizia o meu saudoso amigo e historiador português José Hermano Saraiva “É preciso evoluir sem violência. É preciso não fazer vítimas. As revoluções só triunfam quando têm as suas raízes na paz.” O que custa, cara Renamo, pautar por estes conselhos? Zicomo (Obrigado).
P.S.1: Detesto dizer isto: A EDM precisa de ser disciplinada em matéria de gestão para melhorar os seus serviços. A EDM está a prestar péssimos serviços aos moçambicanos. A mediocridade dos serviços está a causar vítimas mortais e prejuízos materiais irremediáveis nas pessoas. E a incompetência, para provar que não tem limites, os clientes passam agora dias sem corrente eléctrica. O desrespeito pelos seus “patrões” é tão avassalador que já nem consegue copiar um comunicado de penitência. Eu que pensava que viver em grandes centros urbanos fosse atenuante das consequências do péssimo serviço daquela empresa, convivo, diariamente, com cortes que já passo o jantar à luz de velas. Para o brinde, a corrente eléctrica vem e vai, numa autêntica piscadela que danifica os meus aparelhos. Há que se criar, para o efeito, um museu para colocar os danos que a empresa causa aos seus clientes. Sobre a linha de cliente, que se gabou funcional, é melhor nem sequer falar. A gravação mantém-se fiel à tradição “tum, tum, tum, ligue mais tarde”. Parabéns, para alguns a incompetência é obra. Se o mudar de casa fosse poligamia, então eu seria rei dos polígamos e a EDM o meu padrinho. Eduardo White no seu eterno sono diria, nas suas lucubrações poéticas, que este é “O país de mim”. E é.
P.S.2: Queixa, o governo, de exclusão na organização de grandes eventos desportivos internacionais. Uma pinga de chuva miúda foi suficiente para o desabamento do muro de vedação da piscina olímpica, matando, infelizmente, uma peça importante para o requinte da modalidade de natação. Em outros países, não muito distantes do nosso, a demissão nem seria exigida. Responsabilidades? Só quando a galinha tiver dentes.
WAMPHULA FAX – 24.02.2016
Dércio Tsandzana