Sobre acções felizmente não letais
Constato, para bem ou mal das nossas vidas e pecados, que muitas acções que nos atormentam a vida não matam os autores das pequenas, médias ou grandes barbáries
Isso com certeza se letal em muito aumentaria a taxa de mortalidade em Moçambique.
A OMS viria a correr investigar e muitas ONG nacionais e estrangeiras, pluricontinentais afluiriam para nos darem ajuda. Ainda bem que a ineficiência e negligência não matam.
Vejamos uma lista do que vivo, daquilo que muitos sofrem e, que remédio, passivamente todos vão engolindo para não sofrerem represálias que mais escangalhariam o nosso quotidiano.
1. Uma repartição pública segundo as normas abre as suas portas às 07h30. Sorte quando tal acontece pelas 08h00!
2. Claro que ninguém trabalha nos sábados e sabemos por isso que quem recorre ao serviço deve chegar atrasado ao trabalho, uma vez que no sábado tal está excluído. Paciência e muita.
3. Quanto custa isso à economia nacional por ano?
4. Ainda não tomei chá, diz-nos com frequência quem nos atende.
5. Deverão os utentes responsabilizarem-se pelo chá? Muitas vezes o que vai levar o documento à repartição nem sempre matabichou.
6. O Chefe saiu, está em reunião, viajou, sofreu infelicidade, e isto acontece dias e semanas a fio. Quantas idas a esse serviço devem-se fazer para que se resolva o assunto? Quais os custos que sofrem os utentes e a economia?
7. Perdemos o seu documento. Prudentemente deve-se sempre levar uma cópia para que carimbem como deu entrada o requerimento. Lá se faz uma segunda e mesmo terceira via, para nossa maior alegria! O incómodo fica connosco, o desmanzelo e negligência beneficia o funcionário.
8. Com algum incentivo moral como me pediram uma ou outra vez e sempre recusei, rapidamente tudo se resolve.
9. Tão rapidamente que certos tipos chegados na véspera dos confins da Ásia ou Grandes Lagos, Somália ou Nigéria em menos de uma semana já possuem BI, Passaporte e até certificados de nascimento! Claro que isso não acontece a custo zero!
10. Se discordamos de ofertar o refresco ao polícia arriscamos que nos revistam o carro, a roupa, as crianças que estão connosco e até algo inventem para nos sancionarem da falta derefresco.
11. Pelo dia pululam, medindo com radares a velocidade do carro, pela noitinha e dias de chuva rareiam os polícias ou até desaparecem.
12. Chapas e My Love criam terror a quem conduz nas regras a sua viatura. Ultrapassam pela direita ou esquerda sem fazerem qualquer sinal. Fazem isso mesmo nas rotundas. Estacionam quando bem lhes apetece, numa curva, numa lomba. Não usam pisca-pisca, muitos nem luzes têm pela noite, pneus carecas, condutores sem carta profissional para o transporte público de pessoas, viaturas sem seguros ou com seguros mais que ridículos.
13. Poderemos omitir nas desgraças os meninos e senhores ébrios que pela noite se dedicam a rallies, galgam passeios, abalroam rotundas, destroem semáforos e candeeiros e amachucam pacíficos carros estacionados? Por vezes matando pobres desgraçados de peões e até entrando pelas paredes de casas alheias?
Claro que na sua maioria os funcionários e polícias são probos, mas como se diz, basta uma gota de tinta numa camisa branca para ela ficar suja.
Que saudades dos tempos em que se sancionava a incúria, o desleixo, a negligência, sem mencionar a pilhagem dos bens públicos, as negociatas com comissões por baixo da mesa.
Com certeza que o pluralismo na sociedade e o multipartidarismo não consideram como virtudes e valores os males descritos.
Verdade se diga com Samora, quem tem bife na boca não fala e quando os grandes se corrompem os pequenos seguem.
O que fazer? Neste que fazer todos os maltratados devem apoiar o esforço titanesco que o Presidente Nyusi está a empreender com uma equipa de governação razoavelmente sólida, honesta e eficiente. Sim ele está fazer, mas que devemos nós fazer, nós os cidadãos vítimas destes abusos no quotidiano?
Queixarmo-nos nas mesas dos cafés e bares, numa conversa entre amigos, escrever para os jornais (se eles publicarem salvo em abaixo-assinado e como anúncio), manifestações nas ruas, com autorização prévia da autoridade?
Sim tudo isto. Mas mais.
1. Existem deputados na Assembleia da República, nas Assembleias de Cidade e Província, eleitos por nós, e que devem traduzir nesses locais as aflições e desgostos que sofrem os seus eleitores.
2. Os edis e vereações devem zelar pelo bem comum, agirem ao seu nível para porem termo ao que aflige o cidadão e residente da sua urbe. Verem e ouvirem até no seio das suas famílias e amigos, fazerem inquéritos na rua.
3. Incluo os Ministros, Vice-Ministros, Directores Nacionais e Provinciais, autoridades diversas nos diversos. Certamente e em especial os dirigentes dos vários escalões dos partidos, especialmente aqueles que estão no poder, as organizações sociais.
Queremos e todos juntos, fazermos um clamor que brade aos céus, que liberte da surdez e da cegueira as autoridades nos mais diversos escalões, queremos acções e não promessas, discursos, notas que se tomam num comício e para pouco ou nada servem.
Quem aceitou ocupar um lugar por eleição ou designação superior não pode ficar alheio ao penar quotidiano das pessoas. Ocuparem-se delas faz parte das tarefas prioritárias e quotidianas.
Dêem acesso a livros de reclamação nas esquadras e repartições, publiquem mesmo como anúncios nos jornais as listas das reclamações. Resolvam o nosso penar devido à ganância, incúria, desleixo, negligência de quem recebe salário para nos servir.
O que hoje escrevo faz parte dos meus votos de Boas-Festas, dos desejos de todos e especialmente das gerações do 25 de Setembro e do 8 de Março que tanto deram para se construir uma pátria livre e de que todos se orgulham e mostra-se como modelo em África e no mundo. Um abraço forte para que construamos um país melhor, para nós, nossos filhos, netos e gerações vindouras.
P.S. Ensinavam-nos em casa a não andarmos rotos e descuidados. Os Jeans com buracos custam mais caro que os bons. Dizem que é moda. Para bem de todos a a estupidez e mau gosto não matam.
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