terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Quem quer ser presidente?


05.01.2016
PAULA FERREIRA
São dez os candidatos à Presidência da República. Mas parece ser apenas um e, à primeira vista, nem sequer precisa de fazer campanha. Nem lhe convém. A campanha servirá de escrutínio à narrativa criada, ao longo de anos, pelo "candidato-presidente". Uma alegada vitória antecipada, aferida em estudos de opinião, desmobiliza um eleitorado que, de eleição a eleição, se afasta desse dever cívico.
O alheamento sentido, neste momento, em relação às presidenciais é um mau sinal. Independentemente de haver ou não segunda volta, a abstenção é a mais séria candidata à vitória. Escolher um presidente da República afigura-se, portanto, coisa pouca: no mais alto cargo da nação, para parte substancial dos portugueses, não se vislumbra utilidade.
A tamanho desinteresse não será alheio quem ocupou o cargo na última década. A Aníbal Cavaco Silva caberá um pequeno rodapé na História, enfim, porque é preciso explicar às gerações futuras que não cumpriu bem o seu papel. Num país dividido pela intervenção da troika, tomou o partido dos credores, fazendo vistas largas às dificuldades de milhares de concidadãos; a Constituição da República, que deveria ter sido o seu guia, guardou-a na gaveta a bem das boas relações com Berlim e Washington e da dita estabilidade dos mercados. Cavaco não foi, ou não quis ser, o presidente de todos os portugueses. Alguns dos seus amigos, ou antigos membros de seus governos, aparecem ligados a infindáveis casos de corrupção. O cavaquismo, numa palavra, não prestigiou Belém.
2. Parece mentira pelo insólito. O Fisco penhorou o Centro Escolar de Alcobaça. Os interessados em adquirir uma escola, respetiva cantina, ginásio, recreio e salas de aula equipadas, podem enviar propostas, até ao final do mês, à Autoridade Tributária e Aduaneira. O preço base é de 970 994,50, para um imóvel avaliado em 2 774 217 de euros.
A eficácia da nossa máquina fiscal só nos pode deixar satisfeitos, extremamente felizes. Na sofreguidão de apresentar resultados (mesmo assim aquém dos necessários para que possamos ver a sobretaxa reduzida em 2016) faz-se cega e, assim, cai no abismo do ridículo.
O Centro Escolar de Alcobaça, por certo, não será leiloado. O que está em causa nesta história rocambolesca não é, como se depreende, a execução da dívida, mas o objeto executado. Não terá a empresa municipal de Alcobaça, responsável pelo não pagamento de 246 mil euros de IVA, nada mais suscetível de penhora? Vamos fazer um exercício pouco provável, todavia possível: se houver interessados, a escola é vendida? Ou tudo não passa de um fazer de conta que o sistema funciona. E funciona, sem dúvida.

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