quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O crime organizado violento e especialmente virado para a elite política, intelectual e financeira de Moçambique


O crime organizado violento e especialmente virado para a elite política, intelectual e financeira de Moçambique, nos últimos tempos, é uma séria ameaça à nossa sobrevivência como Estado e como nação. Como nunca em toda a história do país, têm sido abatidos à tiro juízes, professores universitários, advogados, jornalistas e até deputados. Empresários têm sido sequestrados. Milhões das nossas divisas em moeda externa têm sido “exportados” para o exterior, através de jogadas ocultas perpetradas por pessoas que conhecem muito bem o nosso sistema financeiro, o mesmo que lança mensagens hipócritas para pacatos cidadãos apertarem o cinto ao mesmo tempo que pautam por uma disciplina de esbanjamento público dos seus impostos em carros desportivos de alta cilindrada para os seus gestores de topo. Há uma lógica de conduta junto da nossa opinião pública pretensamente erudita que faz com que, enquanto endurece as críticas contra a prevalecente militarização do maior partido da oposição, se destaquem os seus ouvidos de mercador aos sucessivos atentados armados à integridade física dos seus dirigentes de primeira linha. Os meios de comunicação social públicos não fazem manchetes com este tipo de crimes contra as instituições do Estado. Juízes como Dinis Silica representam o poder judicial do Estado. Deputados como o Manuel Bissopo (que é apenas o secretário-geral do maior partido da oposição moçambicana) representam o poder legislativo do nosso Estado. Afonso Dhlakama que, queiramos ou não, representa uma fasquia muito importante do povo moçambicano e a nossa própria democracia, já sofreu duas tentativas fracassadas de assassinato. Assassinar à queima roupa o prestigiado constitucionalista Gilles Cistac ou o ilustre jornalista Paulo Machava é atentar contra as liberdades fundamentais dos cidadãos. Os raptos de proeminentes empresários (Momade Bashir Sulemane, só para citar um nome, é um dos homens mais ricos do país e também já passou por isso) é uma evidência suficientemente elucidativa da seriedade da nossa progressiva degeneração como Estado.

Provavelmente, a dimensão catastrófica dos nossos rumos presentes como Estado e como nação não interessa ainda à certos quadrantes do nosso pulsar político, económico, social ou intelectual. Os “nossos” ainda não começaram a morrer, não é verdade? Impressionante o “nosso” grau de indignação selectiva. Quando se começar a assassinar os nossos representantes oficiais na estrutura do Estado (ou acham que eles são inatingíveis?), talvez os nossos alertas vermelhos disparem. Não se precisa de ser perito em segurança para perceber a vulnerabilidade com que muitos dos nossos dirigentes superiores de Estado circulam pelas nossas artérias e em quê é que resultaria um ataque devidamente organizado à sua integridade física. Não pretendo aterrorizar a ninguém. Estou apenas a dizer que a percepção pública que se está a formar junto das forças vivas deste país indica claramente que há uma deliberada acção de perseguição e sumária eliminação de todos aqueles que se mostram contra o discurso e as práticas políticas do dia. As pessoas estão a ficar com medo, tanto as indefesas como as militarizadas. Num cenário de sobrevivência, os seres humanos transformam-se em animais ferozes e sanguinários, consequências disso vivemos todos os dias no Médio Oriente, na Europa, nos Estados Unidos e até no Ruanda ou no Burundi. A ilusão de poder e o seu consequente abuso só nos levará ao caos.


38 comentários
Comments

Romana Aércia Sitoe Li uma parte.. Fico por concluir logo. 

Sallymo Eugenio Sallymo Querem que o povo. Deixar de estudar. Se deseenteressar pela politica e seus deveres . Dedicar-se ao consumo exessivo de 3-100. e outras bebidas de baixa custo mas com maior teor destrutivo que vagueiam pelo pais sem control.

Leila Lukács Salvado "A ilusão de poder e o seu consequente abuso só nos levará ao caos." -- eh isso mesmo Edgar, não só em Moçambique mas no Mundo o ser humano vive em uma ilusão óptica absurda!

Stress Rapper "Impressionante o “nosso” grau de indignação selectiva." Me encontro desprovido de palavras...

Amilton Munduze Nao estamos tao longe do caos.

Jeremias L. Chauque Muito interessante o texto, mas denota a mesma fraqueza com que nos deparamos na analise da natureza e gravidade do problema, pois parece-me que se esta a sugerir, ou dar-se enfase as elites, naquilo que chamaria de elitizacao da indignacao. O crime violento afecta a todas as camadas sociais, sem nenhuma distincao, mas parece que ha uma pre-disposicao de nos indignarmos se a vitima for uma ilustre figura publica nacional, como se a nossa nocao de preciosidade da vida dependesse do status da vitima e nao do valor intrensico que a vida humana tem. Fala-se muito do caso Bissopo, mas nada se fala sobre o Chefe de um dos postos de Gorongosa, que ontem foi igualmente barbarmente assassinado pelos homens da RENAMO, no passado falamos muito do Cistac, mas nem uma palavra em relacao ao Dangerman, num outro passado, falamos do Juiz Silica, mas nada se disse sobre o jovem pugilista que encontrou a morte nas bandas do Costa do Sol. Alias, a nossa Assembleia da Republica selectivamente abordou os casos mediacos e calando-se sobre os outros. Faco, por isso, o apelo para que alarguemos a nossa indignacao, para abarcarmos os sem nome, que igualmente encontram a morte em circunstancias similares ou piores.

Lindo A. Mondlane Bem dito, tambem ja havia notado no caso dos secuestros, como dizes a violencia afecta a todos so q ha alguns mais previlegiados e mais simpaticos q outros...

Jeremias L. Chauque E no caso dos sequestros dizia-se que era o problema dos monhes, por isso todos assobiavam para o lado.

Milton de Messi Grande observação está. Clap. 
Ainda a dias, o caso da menina de 12 anos que foi engravidada. Caminhando para o Caos.

Edgar Barroso Jeremias L. Chauque, a minha perspectiva de análise gravita em torno da instituição Estado. Escreva tu sobre o indivíduo, se te for conveniente e pertinente. Há muita coisa podre a acontecer em Moçambique. Be my guest.

Jeremias L. Chauque O Chefe do Posto assassinado pela RENAMO eh uma figura do Estado, se quizermos eh um dirigente do Estado.

El Mono Assassinado por quem???

Zarito Mutana El Mono parece que andam gajos armados com fardamento da Renamo mais que não são da quele partido da perdiz, com intuito de confudir as pessoas.

El Mono Eu não me deixo levar por essas ladainhas. Tsk.



Edgar Barroso Jeremias L. Chauque, queres mesmo entrar nesse debate de proporcionalidade?

Jeremias L. Chauque Nao sei o que queres dizer com proporcionalidade.

M Griffe Nhamposse Bom o único e único problema que me preocupa como cidadão é que tudo começa lá no topo....lá mesmo onde se dividem libras dólares e os euros....más então quando a divisão for mal aplicada o povo é quem vai pagar...

M Griffe Nhamposse Era justo se o nyusi e o cota djaka pegassem os dois pistolas de cowboy e fizessem um duelo e deixarem o povo fora disso...

Edgar Barroso Jeremias L. Chauque, tu pretendes descredibilizar a seriedade do que eu estou a dizer no post, diluindo o assunto com comparações descontextualizadas e esticando a delimitação da análise. Eu estou a falar do recrudescimento do crime organizado violento e a sua repercussão política e social. Estou a falar de percepções e de conceitos como o do dilema de segurança. Estou a falar da institucionalização de execuções sumárias de opositores políticos e intelectuais.

Amilton Munduze Jeremias L. Chauque, acredito que percebeste muito bem a mensagem que o Edgar pretende transmitir. A ideia de um Estado frágil e susceptível a tudo sob ponto de vista de insegurança. Se os criminosos podem atingir os nossos representantes e as pessoas mais protegidas deste pais, o que resta ao pacato cidadão?! Viver a deriva. Quem pode matar o Presidente da Republica a quem lhe custa matar? Espero ter sido util.

Jeremias L. Chauque Oh Edgar Barroso, entao achas que tres homens da RENAMO invadem a residencia de um chefe de posto, que eh por excelencia um orgao do Estado, crivam o sr de balas e a achas que a comparacao eh descontrextualizada? Como assim descontextualizada?

Amilton Munduze Foi provada a autoria da Renamo neste acto? Caso sim, condeno.

Jeremias L. Chauque Testemunhas na residencia confirmaram que se tratava de homens da RENAMO.

Amilton Munduze Como conseguiram concluir assim? Se eu vestir uma roupa verde e disparar por ai nao serei imediatamente da Renamo? Tu mesmo sabes que essas conclusoes so podem vir depois de uma investigacao profunda. ja foi feita e assim se concluiu?

Laximidas Jamine Jeremias L. Chauque, lí tudo o que escreveste mas ainda não justificaste as tuas escritas........ Não sou muito de palavras bonitas ou diccionárias. A quem ou o quê estás a defender nesses teus argumentos ?

Jeremias L. Chauque Dificilmente vais perceber o que digo, de partires de principio de que estou a defender alguem. O ponto eh sobre a elitizacao da indignacao, quando ha casos que envolvem personalidades e o silencio cumplice de todos quando nas mesmas circunstancias pessoas anonimas sao vitimas do crime organizado ou violento, como queiramos.




Edgar Barroso Jeremias L. Chauque, estás a dizer que o Estado agora faz retaliação banditesca? Crivam de balas jornalistas, deputados, advogados, empresários e juízes pela lei do "olho por olho"???

Jeremias L. Chauque Tu eh que estas a dizer isso. Nao ha nada nas minhas palavras que te possa levar a essa interpretacao. Os pontos que apresento sao clarissimos...

Jeremias L. Chauque Ate porque eh nenhum dos casos que apresentas provou-se o envolvimento do Estado como autor. Presumo que o Estado eh mencionado pelo facto de nao estar a cumprir o seu papel de proteger os cidadaos, presumo.

Amosse Mucavele bem dito Edgar Barroso, o seu post alude ao crime instituncionalizado, se o jovem pugilista que responde pelo nome de Paulo Sergio, e o Danger Man representam alguma instituincao legal ou judicial, teriam muito peso as questoes aqui levantadas, creio que e chegado o momento de aprendermos a ler com os olhos de ler e nao com ideias pliticamente instrumentalizada.

Reggie Uambason Para q um crime seja chamado organizado é necessario q as coisas aconteçam de forma organizada. Estes crimes barbaros e ediondos nao tem nada de organizado. Mas é sao crimes desorganizados, feios, sem nenhuma arte e sem nenhum requinte. É um insulto para criminosos organizados.

El Patriota Perfeito Edgar!

Edgar Barroso Jeremias L. Chauque, eu tenho muito cuidado com o uso de expressões de forma indiscriminada. Tu, num dos teus comentários, dizes que "três homens da RENAMO invadem a residência de um chefe de posto, que é po excelência um órgão do Estado, crivam o senhor de balas". Já se provou judicialmente isso? Provou-se o envolvimento da RENAMO como autora ou são apenas as tuas idiossincrasias?

Não estou a defender a RENAMO mas também não vou fazer vista grossa às nossas instituições que detem o monopólio (legal) do uso de violência. Mais do que ninguém, tu tens conhecimentos profundos de como o Estado age (através das suas forças visíveis e ocultas) diante de contextos como o nosso. Não sou suficientemente ingénuo a ponto de acreditar que os bárbaros assassinatos aos titulares "desalinhados" das nossas instituições públicas (um juíz, um deputado) e referências "corrompidas" da sociedade civil (um jornalista, um professor universitário) sejam por motivos corriqueiros. 

Mais uma vez, convido-te à seriedade: hoje estão a matar os "outros", mas a qualquer momento os "nossos" poderão começar a ser mortos. Daí até ao Ruanda ou ao Burundi são três tempos...

Jeremias L. Chauque Continuas sem entender os meus pontos mano, nao os nossos e os outros, este eh o ponto.

Edgar Barroso Você já percebeu o que eu estou a dizer no post, Jeremias L. Chauque.

Eduardo Matine Here comes the Chaos in slow motion...hugs.


Calton Cadeado Há determinadas palavras que trem muito conteúdo e significados políticos muito fortes. A sua utilização carece de um cuidado profundo, principalmente quando se trata de uma pessoa que conhece o valor das palavras! Acho que associar este caso (que condeno profundamente) a ameaça à sobrevivência do Estado e da nação eh um profundo exagero e um alarmismo infundado! Edgar Barroso pode providenciar exemplos que tornem a sua afirmação suficientemente robusta para provar o grau de ameaça à sobrevivência do Estado?
Percebi, no texto, uma clara identificação das personagens do crime organizado...!

Amélia Vaquina O Sr. Carlton Cadeado sugere que o Edgar barroso medisse as palavras??? É este tipo de sociedade onde as pessoas tem medo de se expressar que o Sr. quer??? Se o Sr. vive do medo então não presuma que os outros devam viver com o medo, se o Sr. é lambe-botas seja sozinho, nem todos somos iguais, os governos se enganem ao pensar que vão calar a vós do povo para sempre, nada é pra sempre. O Edgar Barrosoé um académico por esforço próprio, deve ser por isso que "eles" não investem na educação porque tem medo que o povo saia da ignorância para assim poderem fazer frente.

Milton de Messi Grande observação Edgar
A continuarmos assim, não estaremos longe do caos.

O Edgar, me parece ter esgotado os exemplos que te referes no seu texto. Até porque, todos crimes por ele citado são de um passado recente e que todo aquele que for atento, há de lembrar -se.
Até onde sei é tarefa do estado providenciar a segurança e tranquilidade públicas. No seu ponto de vista, acha que este estado está conseguir providenciar isso ao seu povo? 

Cpts.

Circle Langa We are burning so slowly, the thrill of victory is no longer. We better becareful.

Valdano Tchaka Os crimes hediondos e actos macabros que tem acontecido de forma sistemática na sociedade o principal responsavel e inequivocamente o Estado que furto se do seu papel de provedor da segurança pública...falta de esclarecimento,impunidade,apatia,abafamento de casos, contribui para a moralização da violência e a sua reprodução, e da azo a justiça pelas próprias mãos.

Calton Cadeado Senhora Amélia! Estou espantado com o tom da sua agressividade e ataque pessoal! Não a conheço e, mesmo sem a conhecer, pode ter a certeza de que não serei deselegante para consigo. Não faz o meu tipo. Entretanto, posso dizer-lhe, com muita convicção, que você não tem a mesmas lentes que Edgar é eu temos para perceber o meu texto! Convido-lhe a dispor-se para eu lhe explicar ou então pergunte ao Edgar as bases teóricas que estou a usar. Portanto, percebo a sua ignorância e recomendo prudência na percepção e no memento de comentar coisas que não percebe com profundidade!

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