Moçambique: População foge do exército para o Malaui
Por Michel Santos
14/01 17:36 CET
| updated at 14/01 - 19:54
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Só num dia da semana passada chegaram mais de 300 refugiados moçambicanos a um campo no Malawi, acusando as forças do Governo de queimar as suas casas.
O Malawi estará a receber nesta altura centenas de refugiados moçambicanos que fogem, aparentemente, das forças do Governo que perseguem apoiantes do grupo da oposição Renamo.
Segundo conta a Agência France Press, os refugiados que chegam ao Malawi relatam como os soldados chegam às aldeias e incendeiam as casas e celeiros, alegando que a população alberga apoiantes do grupo liderado por Afonso Dhlakama, que anunciou recentemente o objetivo de conquistar o poder em seis províncias do país.
Omali Ibrahim de 47 anos é um exemplo desses testemunhos. À AFP o agricultor contou que “os soldados chegam em veículos governamentais para queimar casas e celeiros de milho e acusam-nos de abrigar soldados da Renamo”. Ibrahim proferiu estas declarações à chegada ao campo de refugiados de Kapise, no distrito de Mwanza no Malawi com a mulher e os cinco filhos.
Esta família estava entre as mais de 300 pessoas, a maior parte mulheres e crianças, que chegaram ao campo num só dia na semana passada, relata a AFP. A maioria caminhou durante vários dias para chegar ao campo de Kapise que se localiza a apenas 500 metros da fronteira com a província moçambicana de Tete, local de fortes tensões entre as forças do Governo e militantes da Renamo e uma das regiões reclamadas pelo grupo de oposição liderado por Dhlakama.
Outra testemunha, neste caso Luciano Laitoni, de 60 anos, conta que “podíamos ter sido mortos pelos soldados do Governo se não nos tivéssemos escondido no mato durante dois dias”. Num relato impressionante, Laitoni diz que ” a nossa casa e celeiro de milho foram queimados, mas felizmente estamos aqui em segurança”.
Também Flora Manuel, de 25 anos, que chegou ao campo com os seis filhos e o seu marido diz que ficou sem nada: “Todo o nosso gado, de 16 porcos e seis galos, foi morto e o celeiro cheio de milho incendiado, mas felizmente sobrevivemos e fugimos”.
Os testemunhos seguem-se, sempre com a garantia de que “nós nunca vimos um soldado da Renamo. Nós não somos Renamo”.
A polícia de Tete já reagiu e desmentiu as alegações dos agricultores ouvidos pela AFP. O porta-voz das forças policiais da província, Luis Nudia, não tem dúvidas em afirmar à France Press que “isso não é verdade. A polícia está aqui para proteger as pessoas – é inconcebível (que o exército incendeie casas)”, garantindo ainda que “nós não estamos numa situação de conflito armado”.
Apesar disso Nudia admite que existe alguma tensão política na região, descrevendo-a como uma “situação temporária”.
Confrontado com as notícias locais, desde dia 31 de dezembro, que dão conta dos confrontos entre tropas do Governo e da Renamo o porta-voz do principal grupo da oposição, Antonio Muchanga, explica à AFP que “tem havido alguns confrontos. As forças armadas começaram a incendiar as casas de algumas pessoas. Foi sempre a maneira de eles operarem”.
Do lado do Malawi também já houve reações. Bestone Chisamile, do ministério dos Assuntos Internos do país, garante que o fluxo repentino de refugiados é “um grande problema”, informando que tem recebido relatos de uma nova insurgência em vilas ao redor dos distritos de Zobue e Moatize, em Tete. Chisamile diz ainda que o campo não tem mais espaço e comida para mais pessoas explicando que a solução para o conflito “está com o Governo moçambicano”, revelando ainda que o Malawi já iniciou movimentações diplomáticas junto de Maputo para tentar resolver a situação.
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