A TALHE DE FOICE
Por Machado da Graça
A notícia que o Magazine Independente dá e o Canal de Moçambique amplia para tema de capa é profundamente preocupante.
Estou a falar da morte do Capitão Rodrigues Mandlate, das FADM, e dos seus dois enterros.
Estou a falar de tudo o que foi feito para evitar que a família do capitão soubesse da sua morte.
Rodrigues Mandlate deixou a sua casa, em Maputo, a 12 de Setembro último. Ao despedir-se da família informou que ia acabar com a vida de Afonso Dhlakama.
A 25 de Setembro, data do seu 47º. Aniversário, foi um dos que, vestido à paisana, emboscou a comitiva de Afonso Dhlakama.
E pagou isso com a sua própria vida.
Quem para lá o mandou não se preocupou, sequer, em recolher o corpo e entregá-lo à família. Ou, pelo menos, em lhe fazer um funeral condigno. Foram as populações locais do local onde caiu que o enterraram, como terão feito com outros combatentes cujos corpos se espalhavam pelo mato.
Pelo contrário tentou negar a sua morte. Quando a família estranhou que ele não telefonasse para casa disseram-lhe que ele estava num local sem acesso telefónico...
Só depois de vários meses nestes jogos das escondidas é que as FADM admitiram o falecimento, foram buscar o corpo à sua anónima cova em Manica e o entregaram à família, fazendo um funeral oficial.
A pergunta é: quantos Mandlates estarão nas mesmas circunstâncias, enterrados de qualquer maneira ou abandonados às feras no meio do mato para esconder uma guerra suja, uma guerra que não é admitida? Uma guerra em que militares de carreira fazem emboscadas sem fardamento para fingir que são civis revoltados.
E quem toma as decisões sobre esta guerra? A resposta que parece óbvia diz que é o Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança. Só que se levantam bastantes dúvidas sobre se isso é verdade. Ou será que temos um Comandante em Chefe para inaugurações e cerimónias protocolares e outro Comandante em Chefe para dirigir a guerra suja?
O nosso país já assistiu a muitas guerras. Temos, no norte, cemitérios militares de vários países que participaram na I Guerra Mundial, relativamente bem cuidados.
Os portugueses, durante a luta armada de libertação nacional, anunciavam, nos jornais, as suas baixas, identificando os mortos.
Só agora os mortos são tratados, realmente, como carne para canhão, sem direitos nem compaixão.
Será este partido/governo o mesmo do falecido Marechal Samora Machel? Agiria ele deste modo?
Não creio.
SAVANA – 15.01.2016
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