Muitos dos perseguidos são professores e estudantes universitários e arriscam entre um a cinco anos de prisão.
O governo turco lançou esta sexta-feira uma caça aos signatários de uma petição que pede o fim das operações controversas do exército contra a rebelião curda, o que suscitou a ira do Presidente Recep Tayyip Erdogan, reavivando as críticas sobre a sua deriva autoritária.
Por ordem da justiça, a polícia turca deteve em Kocaeli (nordeste) 14 universitários que colocaram o seu nome por baixo deste “apelo pela paz”. Em Bolu (norte), as forças de ordem revistaram os domicílios de três outros signatários da petição.
Em todo o país foram abertos inquéritos judiciais por “propaganda terrorista”, “insulto às instituições e a República turca” e “incitamento a violar a lei” contra os signatários da petição, que arriscam entre um a cinco anos de prisão.
Segunda-feira, perto de 1200 pessoas já tinham assinado “uma iniciativa universitária pela paz”, que reclamava o fim da intervenção das forças de segurança turca contra os apoiantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no sudeste do país de maioria curda.
O texto denuncia “um massacre deliberado e planificado em total violação das leis turcas e dos tratados internacionais assinados pela Turquia”.
Apoiados por tanques, o exército e a polícia turca avançaram há um mês sobre as cidades de Cizre e Silopi que estão a cumprir um cessar-fogo bem como o distrito Sul de Diyarbakir, para desalojar apoiantes armados do PKK que se tinham entrincheirado em alguns bairros. Os combates provocaram a morte de inúmeros civis e o êxodo de uma parte dos habitantes.
Esta petição, que também é assinada por intelectuais estrangeiros como o linguista americano Noam Chomsky, provocou a fúria dos dirigentes turcos.
Pela terceira vez esta semana, Erdogan acusou os signatários de serem cúmplices dos “terroristas” do PKK e justificou as acções judiciais contra eles. “Aqueles que se juntam ao campo dos cruéis são eles próprios cruéis e aqueles que apoiam os autores de massacres são cúmplices dos seus crimes”, disse o Presidente turco.
Nas páginas do jornal Yeni Safak, um dos porta-vozes favoritos do poder, o editorialista Ibrahim Karagül apelou aos estudantes a “boicotarem as aulas daqueles que apoiam o terrorismo e se escondem por detrás da palavra paz”.
Várias universidades abriram inquéritos disciplinares contra professores signatários da petição, registando-se já um caso de um professor que foi despedido em Düzce (noroeste). E nas redes sociais são muitos os estudantes que insultam os seus colegas signatários com frases como “traidores como tu não têm lugar no glorioso solo turco”.
Estas operações policiais são “muito perigosas e inaceitáveis”, denunciou o Partido republicano do povo (oposição social-democrata). Elas “mergulham a Turquia nas trevas”, reagiu o Partido Democrático dos Povos (pró-curdo).
A representante da Human Rights Watch na Turquia, Emma Sinclair Webb, escreveu no Twitter que estas detenções de universitários são “escandalosas”.
“Exprimir a sua preocupação com a violência não significa apoiar o terrorismo. Criticar o governo não é traição”, explicou o embaixador dos Estados Unidos em Ankara, John Bass.
Depois de mais de dois anos de cessar-fogo, os combates entre as forças turcas e o PKK foram retomados no Verão passado, estilhaçando as negociações abertas no final de 2012 para tentar pôr fim a um conflito que já provocou mais de 40 mil mortos desde 1984.
Sem comentários:
Enviar um comentário