sábado, 2 de janeiro de 2016

ENTRE AS DUAS FACES DE UMA HISTÓRIA, UM PÉSSIMO SERVIÇO DE PAUL FAUVET

25-11-2005


Por Benedito Marime
Na edição de 28 de Outubro último, vem inserida uma entrevista do Reverendíssimo Dom Jaime Pedro Gonçalves, Arcebispo da Beira, o qual, a determinada altura, lembrando os sinuosos caminhos ideológicos da Guerra Fria, com manifestos reflexos no imediato do nosso pós-independência, refere a recusa do falecido Presidente Samora Machel em visitar o Vaticano, para aí se encontrar com o Papa, quando da sua visita à Itália.
Cerca de um mês depois, em edição de 18 de Novembro seguinte, o Centro de Documentação Samora Machel reage em carta ao mesmo Savana, juntando uma fotografia do mesmo falecido Presidente junto do também já falecido Papa João Paulo II, dizendo pretender com esse gesto “repor a verdade, contribuindo assim para o alcance dos objectivos para o qual este centro foi criado, que são a preservação do legado de Samora Machel”.
De posse deste dado, Paul Fauvet, jornalista afecto à AIM, não perdeu tempo: foi, pressuroso, a correr, para as páginas da edição do mesmo dia 18 de Novembro do boletim da AIM, em língua inglesa, insultar e vilipendiar o Arcebispo, sob o sugestivo título de “Archbishop of Beira lied about Samora Machel” ( Arcebispo da Beira mentiu sobre Samora Machel) .
Sem bases para o tema que se propõe, Paul Fauvet agarra-se a velhos estereótipos de serviço, ora rotulando Dom Jaime como o corifeu do imobilismo conservadorista da Igreja Católica em Moçambique, ora acusando-o de ter mentido sobre as relações  entre o Governo de Machel e o Vaticano.
Diz depois que estas relações, afinal anteriores à  Independência, datariam da audiência de Paulo VI a Marcelino dos Santos, em 1970, facto este que ele pretende por muitos anos inédito, a julgar pela forma como o coloca no seu texto, no qual diz que “Samora Machel mencionou este facto em Dezembro de 1982, no encontro que ele dirigiu com os representantes de todas as denominações religiosas do país, incluindo Dom Jaime, então o Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique”. Ainda sobre este encontro, diz Paul Fauvet que, na circunstância, Samora Machel fez referência a eclesiásticos que em Moçambique se posicionaram contra as atitudes colaboracionistas da hierarquia, em cuja “lista de honra se não encontra o nome de Jaime Gonçalves”.
Como um dos estudiosos dos episódios que Paul Fauvet aqui se permitiu baralhar, sinto ser meu dever esclarecer quanto segue.
É um facto histórico que, na sua primeira visita à Itália, o Presidente Samora Machel se recusou a ir ao Vaticano ver o Papa. E fê-lo, por razões ideológicas que nunca escondeu.
Na verdade, para além de diversos pronunciamentos anteriores à volta da Igreja Católica em Moçambique e de como não apreciava a ligação desta ao Vaticano e ao Papa, quando da oitava sessão da Assembleia Popular, de 6 a 9 de Outubro de 1981, Samora Machel deteve-se, na recepção de encerramento, em conversa com uma delegação da igreja Católica , na  circunstância representada pelo Presidente da CEM (Conferência Episcopal de Moçambique), Dom Jaime Pedro Gonçalves, pelo Arcebispo do Maputo, Dom Alexandre José Maria dos Santos e pelo Padre Joaquim António Mabuiangue, Vigário Geral da Arquidiocese do Maputo. Do teor dessa conversa, exarado em “Breve relatório da participacao da Igreja Católica na oitava sessão da Assembleia Popular”, distribuído, como documento reservado, aos Bispos e Superiores(as) dos Institutos, transcrevo o seguinte:
  • “Sabe, Dom Jaime, eu vou à Itália. Saio daqui no dia 13 e estou lá no dia 14. Vou visitar o povo e o governo italianos. Mas não vou visitar o Papa. Não vou ao Vaticano. Tenho o escritório cheio de cartas que me aconselham a ir falar com o Papa. Falar o quê? Alguns italianos estão aqui, foram enviados para me convencer a ir ter com o Papa. Dizem que seria bom ir ter com o Papa,dada a compreensão e a aproximação da Igreja e do Estado em Moçambique. Eu não estou a aproximar-me do Papa, mas sim dos Bispos moçambicanos. Os nossos problemas devem ser resolvidos aqui. Se eu for ao Vaticano, como e onde me vai receber o Papa? Na Igreja? Na Biblioteca? Vou beijar o anel? Como vai ser isto?”
Retomando a palavra, depois de mandar calar um alto dignitário que tentara pôr água na fervura, Samora Machel  rematou:
  • Não vou falar com o Papa. Eu sou Chefe de Estado, Presidente da República Popular de Moçambique. O Comité Político Permanente da Frelimo nomeou-me Marechal de Moçambique. O Comité Central constituiu-me Comandante em Chefe das Forcas Armadas de Moçambique. Acima de mim só está Deus, se ele existe. Repito, acima de mim está Deus, se existe”.
Aqui interveio um veterano, a sossegar o Presidente, dizendo-lhe “E como ele não existe...” Animado, o Presidente prosseguiu:
  • “Acima de mim, só está Deus, se ele existe. Portanto, não vou falar com o Papa. Estarei na Itália uma semana, mas não vou falar com ele. Que é que vou dizer? Eu quero resolver os problemas com os Bispos moçambicanos. Depois poderão ir ter com ele, tendo já a cara lavada. Somos um povo independente e livre. Bem, assim como em 25 de Junho brindei com o Bispo de Pemba, vou agora brindar com os Bispos que estão aqui (...)”.
E foi assim que Samora Machel se recusou a ir ao Vaticano. Quero acreditar – e é natural que assim seja – que era a este episódio que Dom Jaime se referia, até pelo facto de, para a segunda visita, o episcopado ter sido, naturalmente, ouvido para a aceitação da visita ao Papa pelo Chefe de Estado Moçambicano, como é da praxe da diplomacia do Vaticano.
De qualquer forma, a ida ao Vaticano quando da segunda ida à Itália não anula o desconfortante episódio que antecedeu a primeira visita à Itália, podendo tão só corrigi-la, o que é bom – só os loucos é que nunca mudam, e Samora Machel não era louco nenhum, quaisquer que tenham sido os seus erros.
Aliás, Samora Machel acabaria cumprindo o que prometera.
  • Em 1982 autorizou, pela primeira vez, os Bispos moçambicanos a efectuarem a sua primeira visita “ad sacra limina apostolorum” (com a periodicidade de cinco anos, destina-se à prestação comum de contas ao Vaticano) e a convidarem o Papa a visitar Moçambique.
  • Não obstante, e por ocasião da tal reunião de Dezembro de 1982 com as confissões religiosas, menosprezou o Delegado Apostólico nela presente, reafirmando alto e bom som que na Itália reconhecia apenas um Governo, não entendendo o papel do Vaticano ali e, ainda menos, o de um Representante deste em Moçambique. O empenho institucional e a paciência do visado (Monsenhor Francesco Colassuono), por um lado, e o tacto diplomático não menos brilhante nem paciente de Joaquim Chissano, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique e o início do “glasnost”soviético (portador, este, de distensão generalizada, mesmo nos níveis ideológico e diplomático), por outro, acabariam, porém, aplainando o terreno e foi assim que Samora Machel esteve no Vaticano em finais de 1985, a essa visita se referindo a foto publicada no Savana.
Só é de lamentar que um centro de documentação tenha levado tanto tempo a localizá-la e a reagir, aparentemente ignorando a anterior visita, à qual se refere a declaração de Dom Jaime.
Não posso terminar estas linhas sem me insurgir, uma vez mais, contra Paul Fauvet. Sempre que se lhe aparece alguma oportunidade de vilipendiar a Igreja Católica, fá-lo sempre com manifesto gosto e ódio, escrevendo, a despropósito, das baixarias mais reles que, só não ofendem, por virem de quem vêm – de uma trânsfuga que precisa, a todo o custo, de se manter em Moçambique, país que, infelizmente e cada vez mais se vai transformando em guarita de toda a espécie de bestas, de entre eles os piores biltres lá das estranjas.
Já escreveu cobras e lagartos contra a Igreja Católica, e até, de viva voz, no recente seminário comemorativo dos 30 anos da Rádio Moçambique, em resposta a uma intervenção do Padre João Carlos Nunes, o indesejável imigrante se deu ares de intervir, não sobre a matéria do seminário, mas sobre a Inquisição e outras coisas que não eram para ali chamadas.
Mais uma vez se saiu mal. Se tem ouvidos para ouvir, e cabeça para pensar (que a careca seja só por fora e não para o interior do couro cabeludo), procure informar-se bem antes de escrever, até para não embaraçar quem finge que quer ajudar. Antes, porém, e como prova da sua integridade, desafio-o a traduzir este meu texto para o Inglês, a inseri-lo em próximo número da edição nessa língua, como forma de dar a conhecer a outra face da estória, nomeadamente a sua desastrada intervenção jornalística neste caso.
SAVANA - 25.11.2005

Não escrever a história a partir dos restos do apartheid!(2)

"Será bom também enfatizar que um avião que aterrou no Maputo antes do Tupolev (Cmdt. Ramiro) não sentiu qualquer VOR que tivesse tentado desviá-lo da rota pretendida. Mais do que isso, o voo 103, que pretendia aterrar no Maputo logo a seguir ao Tupolev, ( Cmdt. Sá Marques) afirmou reiteradamente que também não se apercebeu de qualquer frequência estranha ( de VOR ou outra) que pretendesse desviá-lo da rota pretendida. Pergunta-se se uma emissão rádio pode afectar uma aeronave sem afectar todas as outras nas suas  imediações.
Pode também ficar a saber que este último Cmdt. foi mais tarde pressionado pelos soviéticos (através da segurança do Maputo) para dizer que também ele havia detectado esse suposto VOR. Esta chantagem foi de tal maneira intensa que ele se viu obrigado a sair de Moçambique."
Veja:

D.Jaime e Samora Machel (1981)

D. Jaime, Presidente da C.E.M.:
"Breve relatório da participação da Igreja Católica na 8ª. Sessão da
Assembleia Nacional Popular (Maputo, 6-9 Outubro de 1981; participantes.
  D. Jaime e P. Joaquim Mabuiangue)".
Reservado aos Bispos e Superiores(as) dos Institutos; não se publique.
"Desta vez o convite foi-nos feito para participar na Sessão de abertura e
encerramento. Não tomamos parte nos grupos de estudo: tanto no discurso de
abertura como no de encerramento não houve nada que se referisse à Igreja.
Tudo estava centrado no Plano Prospectivo Indicativo. A referência à
Igreja foi feita na recepção final no Palácio da Ponta Vermelha. Para esta  recepção
foi tambem convidado o Senhor Arcebispo.
Durante o banquete o Presidente da República fez três discursos.
(.)
2º discurso
(.)
- Sabe D. Jaime, eu vou a Italia. Saio daqui no dia 13 e estou là no dia 14.
Vou visitar o povo e o Governo italianos. Mas não vou visitar o Papa. Não
vou ao Vaticano. Tenho o escritório cheio de cartas que me aconselham a ir
falar com o Papa. Falar o quê? Alguns italianos estão aqui, foram enviados
para me convencer de ir ter com o Papa. Dizem que seria bom ir ter com o
Papa dada a compreensão e a aproximação da Igreja e Estado de Moçambique.
Eu não estou a aproximar-me do Papa, mas sim dos Bispos Moçambicanos. Os
nossos problemas devem ser resolvidos aqui. Se eu for ao Vaticano como e onde me vai receber o Papa. Na Igreja, na biblioteca, vou beijar o anel, como vai ser isto?
- De joelhos, respondeu o Chipande.
- Chipande, não fales, ordenou o Presidente que continuou tendo a mão esquerda no bolso.
Não vou falar com o Papa. Eu sou Chefe de Estado, Presidente da República
Popular de Moçambique, o Comité Politico Permanente da Frelimo nomeou-me
Marechal de Moçambique. O Comité Central constitiu-me Comandante em chefe
das Forças Armadas de Moçambique.
Acima de mim só está Deus, se ele existe. Repito, acima de mim está Deus,
se ele existe.
- E como ele não existe. - acrescentou Marcelino dos Santos, com voz pesada.
O Presidente fez uma pausa inesperada e prosseguiu com voz grave:
- Senhor P. Joaquim, D. Jaime e D. Alexandre, não tomem a sério o que  disse Marcelino dos Santos. Repito não tomem a sério o que disse Marcelino dos Santos.
E continuou:
- Acima de mim só está Deus, se ele existe. Portanto, não vou falar com o Papa. Estarei na Italia uma semana, mas não vou falar com ele. Que é que  vou dizer? Eu quero resolver os problemas com os Bispos moçambicanos, depois poderão ir ter com eles tendo já a cara lavada. Somos um povo independente  e livre. Bem assim como em 25 de Junho brindei com os Bispos de Pemba, agora vou brindar com os Bispos que estão aqui. (.)

FONTE: Primeiro publicado (em ingles)em:
Eric Morier-Genoud, «Of God and Caesar. The Relation between Christian Churches & the State in post-colonial Mozambique, 1974-1981», Le Fait Missionnaire (Lausanne), September 1996, 79p.

MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA EM FRANCA DEGRADAÇÃO

Namp05_1Localizado em Nampula
O Museu Nacional de Etnologia (MUSET) em Nampula não dispõe de fundo de investimentos para a sua reabilitação, como tinha sido anunciado em meados de 2004, pelo respectivo director, Guilherme Kulyumba, que garantia a existência, nos cofres de Estado, de mais de 800 milhões de meticais.
Para Kulyumba, a promessa então feita pela Direcção Provincial de Finanças não passou de um “falso alarme”, uma vez que chegada a hora do inicio das obras, o dito passou por não dito, alegadamente porque o Museu de Etnologia não tinha cabimento orçamental para a reabilitação daquela infra-estrutura que, por sinal, é de interesse nacional.
Este procedimento, que Kulyumba apelidou de má fé, veio criar grandes constrangimentos, tanto para a instituição, como para o público utente que estava na expectativa de ver o museu com uma face nova e condigna. Aliás, o edifício em referência já há muito que clama por uma reabilitação total, pois o tecto apresenta grandes fissuras, as casas de banho encontram-se degradadas, para além do bloco administrativo se encontrar sem meios materiais à altura duma instituição de dimensão nacional.
A reabilitação total ou parcial deste museu está muito longe de se concretizar, porque não vejo nenhuma luz verde a curto e médio prazos. Enquanto não houver autonomia, continuaremos a depender dos que até agora querem ver isto a afundar, para virem depois chamarem-nos incompetentes - desabafou a fonte.
No entanto, o director provincial de Finanças, Mussa Inze, confirmou a existência de tal montante, justificando que o atraso na concessão dos fundos foi derivada do envio tardio da requisição, que se registou em Janeiro de 2005, depois do encerramento do exercício, que normalmente ocorre em 31 de Dezembro de cada ano.
Se realmente houve culpado, é quem se atrasou na adjudicação da obra e não a nossa instituição. Concluiu Mussa Inze.
Refira-se que o Museu Nacional de Etnologia não dispõe de autonomia orçamental, razão apontada pelo seu director como mais que suficiente para a actual situação de desespero financeiro em que se encontra, porque depende de terceiros, no caso vertente, da Educação e Cultura, que, no seu entender, ainda não enquadrou o museu nas prioridades do sector.
Kulyumba observou, ainda, que a verba atribuída para o funcionamento do museu, que varia entre 18 a 20 milhões de meticais, está aquém das suas reais necessidades.
WAMPHULA FAX – 11.11.2005

AINDA OS ECOS DO MEMORANDO SOBRE A HIDROELÉCTRICA DE HCB

Caborabassa02Acabou o trabalho*
ANTÓNIO BOTELHO DE MELO
Pese toda aquela pequena comoção ao fim da tarde de quarta-feira passada dia 2 de Novembro de 2005, quando de Lisboa as agências noticiosas informaram que, contrário às declarações dos chefes de estado português e moçambicano em contrário menos de 24 horas antes, seria assinado afinal um memorando de entendimento entre os governos de Portugal e Moçambique quanto à eventual disposição da pasta da empresa Hidroeléctrica de Cahora Bassa, SA, a novidade foi recebida em Portugal com o maior desinteresse, não tendo para nada contribuído as palavras de circunstância de José Sócrates e de Armando Guebuza (que terá vertido uma lágrima) no prime time televisivo da estatal RTP eram cerca das oito horas da noite.
José Sócrates, pródigo em predicados, elogiou como “bom” o negócio em que ainda por cima anunciou o perdão da restante dívida moçambicana a Portugal e o milagre até agora bíblico da multiplicação do pão: baixa de mais que mil milhões de euros do erário público do estado português, mas – precisou – “sem impacto nas contas do Estado”.
Leia o texto completo em
Nota: Interessante e muito completa, esta visão moçambicana sobre o dossier Cahora Bassa.
Relembre:

09-11-2005

Não escrever a história a partir dos restos do apartheid!

Mbuzini
Não escrever a história a partir dos restos do apartheid!
Por Paul Fauvet*
Duvidar sobre a versão oficial de acontecimentos dum passado recente pode ser uma atitude saudável para um jorna­lista.  Mas o artigo sobre a tragédia de Mbuzini de Luís Nhachote (nas páginas centrais do SAVANA de 21.10.05) rejeita a versão “oficial” moçam­bicana, só para abraçar a versão oficial do regime do “apartheid”!
É espantoso que não só Nhachote, mas, também, o jornal ZAMBEZE e mesmo a televisão STV declaram que o livro do propagandista
pró-RENAMO João Cabrita, com o título “A Morte de Samora Machel”, é alguma coisa nova, espectacular, nunca vista antes.
A obra de Cardoso e Mbu­zini
Na realidade, Cabrita simplesmente re-edita as alegações de 1986/87 do regime então vigente em Pretória. Essas alegações, incluindo o suposto plano para invadir o Malawi, tiveram na altura a resposta das autoridades e da imprensa moçambicanas.
E Luís Nhachote deve saber que o jornalista que mais escreveu sobre Mbuzini foi o nosso colega Carlos Cardoso, na altura director da AIM.
Em vez de escutar fontes moçambicanas, em vez de ler, por exemplo, os artigos que Cardoso escreveu em 1986/87, Nhachote preferiu fazer a sua história a partir da lata de lixo do apartheid.
Para os seus artigos sobre Mbuzini Cardoso gan­hou o prémio sobre o jorna­lismo investigativo da Orga­nização Nacional de Jorna­listas (ONJ). É pena que nos dias de hoje esses artigos tenham caído no esqueci­mento.
É indicativo da baixa qualidade do livro de Cabrita que Carlos Cardoso e a AIM não sejam citados como fontes — embora sejam, de longe, as fontes mais impor­tantes devido à sua tese de que o desastre foi provocado pelos militares do apartheid.
Para preencher essa lacuna, nada melhor que voltar ao ano distante de 1986, voltar ao trabalho de Cardoso. Na recente bio­grafia de Cardoso, da minha autoria, conjuntamente com Marcelo Mosse, nos capí­tulos sobre Mbuzini, consta o seguinte:
“A primeira indicação de que poderia ter sido uma sabotagem electrónica veio  de onde menos se esperava. Sérgio Vieira recorda que, quando chegou a Koma­tipoort, a caminho de Mbuzini, a 20 de Outubro, o Comis­sário Johann Coetzee, da Polícia sul-africana, depois de apresentar condolências, soltou esta informação: ‘Mi­nis­tro, sabe o que diz a minha tripulação? Tem de se procurar um emissor de radio por ali’. E apontou na direcção das montanhas. Assim, os pilotos de heli­cóptero da Polícia, menos de 24 horas após o de­sastre, acreditavam que o Tupolev tinha sido induzido a sair da rota por um rádio-farol pirata....”
As manobras sul-africa­nas
A 21 de Outubro recebi uma chamada do escritório da UPI (agência noticiosa americana) de Joanes­burgo. O correspondente da UPI achava que a AIM devia saber que ele tinha recebido uma chamada anónima de um homem identificando-se como ofi­cial da força aérea sul-africana que alegava saber que a Força Aérea sul-africana tinha colocado um falso rádio-farol algures na região da fronteira e que isso causara a queda do avião.
Fernando Lima ligou dos Estados Unidos. Disse que um oficial da força aérea americana afirmava que isso era possível, usando equipamento elec­trónico em terra, de modo a desviar um avião da sua rota es­tando o piloto con­vencido que seguia a rota certa.
Este oficial disse que conhecia bem o Tupolev 134 e sabia que os militares sul-africanos tinham a tec­no­logia para interferir no sistema de navegação do Tupolev. Usando esta tec­nologia podiam criar uma falsa rota que podia induzir o piloto em erro.
Assim, diferentes fon­tes, a milhares de quiló­metros de distância, tinham tido a mesma suspeita de que não se tratava de um simples caso de erro do piloto, mas que o avião tinha sido deliberadamente atraí­do para fora da sua rota.
O Governo sul-africano sem dúvida que se com­portou como alguém que tinha algo a esconder. A dada altura, Pik Botha anunciou que havia álcool nos corpos dos membros da tripulação soviética. Tecnicamente, a afirmação era correcta, uma vez que o álcool é um dos sub­pro­dutos da decomposição dos corpos. Mas o que Botha queria sugerir é que o avião se despenhara porque os pilotos estavam bêbados....
Mas a manobra de di­versão mais efectiva foi a súbita divulgação de um documento alegadamente retirado do local do de­sastre. Pik Botha convocou uma conferência de im­prensa, afirmando que o documento era a prova de uma conspiração de Mo­çambique e do Zimbabwe para derrubar o Governo do Malawi.
Quando as notícias desta conferência de im­prensa chegaram à AIM, Cardoso telefonou imedia­tamente a Teodato Hun­guana (o então ministro de informação). Esta era a primeira vez que Hunguana ouvia falar das afirmações de Botha.
“É uma tentativa grosseira de transformar a vítima em réu, fazer do agredido agres­sor, fazer do invadido invasor, apresentar o desestabilizado como desestabilizador”, ex­cla­mou para Cardoso. Não tinha a menor ideia sobre se o documento apresentado vinha ou não do avião e declarou: “Alertámos a comu­nidade internacional para um facto extremamente grave – a África do Sul está a fazer tudo para impedir o normal procedimento da investi­gação às causas da morte do Presidente Samora Machel”.
Pouco depois as palavras de Hunguana percorriam o mundo através de um des­pacho da AIM. Hunguana recordou este incidente como um dos exemplos do profis­sionalismo de Cardoso: a pronta reacção de Cardoso à conferência de imprensa “ajudou a neutralizar os planos da África do Sul”.
Investigações da AIM
De facto, em cada estágio a AIM estava em cima da notícia, e Pretória concluiu que não podia fazer decla­rações sem a resposta de Maputo...
Uma das áreas-chave investigada pela AIM foi o sistema de radar sul-africano. Porque a pergunta óbvia era: porque é que não foi usado o sistema de controlo aéreo para avisar o piloto que o Tupolev estava fora da rota e em risco de entrar no espaço aéreo sul-africano? Os sul-         -africanos menosprezaram isto dizendo que o avião estava a voar a tão baixa altitude que saiu dos moni­tores do radar e os con­troladores aéreos assumiram portanto que tinha aterrado em Maputo.
Pik Botha afirmou a 1 de Novembro que o Tupolev “simplesmente desapareceu dos monitores. Ninguém em controlo do radar podia ou teria imaginado que hou­vesse alguma coisa anormal nisso”.   Botha pintou um qua­dro que dava o sistema de radar como primitivo ou ineficiente, moni­torado por pessoal desatento.     Mas uma investigaçãozinha da AIM, usando fontes sul-africanas publicadas, de­monstrou que Pik Botha estava a mentir. Mais de dez anos antes, a África do Sul tinha resolvido o problema de “aviões desaparecidos” dos monitores do radar. Em Mariepskop, junto das mon­tanhas do Drakensberg, foi montado um sistema de aviso concebido para alertar sobre “aviões hostis apro­ximando--se da África do Sul”.
O regime do apartheid vangloriou-se disso. O “Star” de Joanesburgo, em Feve­reiro de 1975, escreveu sobre este sistema que “pode detectar a maior parte dos movimentos numa vasta circunferência entre o oeste do Botswana, o norte da Rodésia, o sul de Moçam­bique e o leste do Natal. Calculadores de altitude são posicionados perto e podem calcular a altura de qualquer aeronave detectada pelo scaner. Este material era transmitido por computador ao quartel-general do sis­tema de defesa radar sul-africano, em Devon, que avaliava se a aeronave que se aproximava era amiga ou inimiga.
Em 1982, o sistema sofisticou-se com a aqui­sição do sistema de radar computorizado Plessey AR-3D. A própria empresa Plessey publicitou que o sistema dá “um quadro completo da situação no ar ao pessoal do comando central”.
Um quadro completo, não um quadro parcial, donde um objecto do tama­nho do Tupolev-134 podia desa­parecer miste­riosamente.
Além disso, em Março de 1985, uma nova rede de radar de baixa altitude foi tornada operacional ao longo da fronteira com Moçam­bique. Pik Botha tinha-se vangloriado do novo sistema e as suas palavras podiam encontrar-se na imprensa sul-africana da altura, 19 meses apenas antes do desastre de Mbuzini....
Também em Março de 1985, toda a fronteira do Transvaal ocidental foi de­clarada um “espaço aéreo especialmente restrito” e Malan (ministro de Defesa sul-africano) anunciou que “todas as ajudas tecno­lógicas possíveis estão a ser usadas para garantir a sua eficácia”. Para obter auto­rização para entrar nesta área restrita, os pilotos deviam contactar o quartel-general da força aérea. Mas o Tupolev entrou directa­mente na área restrita e não houve nenhuma ten­tativa para o dissuadir disso.
Em Novembro de 1986, Botha tinha convenien­te­mente esquecido as suas tiradas anteriores sobre as capacidades do radar da África do Sul...
Uma vez saído o relatório factual (da comissão de inquérito tripartida), a coo­peração da África do Sul na investigação do desastre terminou. Pretória tinha feito o mínimo requerido pelas normas da ICAO. Passou então a rejeitar os pedidos de Moçambique para uma investigação do VOR que o avião tinha seguido.
A controversa Comis­são Margo
Em vez disso, os sul-africanos organizaram a sua própria audição pública sobre o acidente, dirigida pelo juiz Cecil Margo, que conseguiu ter êxito em des­viar as críticas ao Governo.
A Comissão Margo nem remotamente foi imparcial. De fontes em Pretória Car­doso soube que um dos seus membros era também admi­nistrador da COMAIR, uma companhia aérea usada como frente pelas forças armadas sul-africanas para o reabastecimento da RE­NA­MO e da UNITA.
Mas, apesar de nem Moçambique nem a URSS estarem representados na Comissão Margo, surgiam de vez em quando per­guntas inconvenientes da parte dos advogados sul-africanos. Foi assim que perguntaram a Pik Botha porquê teria ele feito falsas acusações de que a tri­pulação do Tupolev estava embriagada. Margo inter­veio para impedir mais inter­rogatórios desta natu­reza.
Como se previa, a co­mis­­são de inquérito Margo atirou as culpas para a tripulação soviética e tanto as auto­ridades moçam­bicanas como as soviéticas rejeitaram as conclusões. O relatório Mar­go saiu a 9 de Julho de 1987, mas Armando Guebuza (na altura ministro dos Trans­portes e Comu­nica­ções) reiterou que o trabalho da comissão inter­nacional de inquérito estava longe de ter terminado. “Só se pode chegar a conclu­sões depois de todos os factos terem sido inves­tigados”, disse, “e parti­cularmente este novo ele­mento vital – onde estava este VOR, era uma arma­dilha ou não? Mas os sul-            africanos, na sua maneira arrogante e intransigente do costume, continuaram com o seu próprio inquérito e mandaram-nos o relató­rio”...
Nos finais de Junho de 1987, Magnus Malan de­clarou que não toleraria “a exportação da revolução” não só no sentido de suble­vação violenta, mas, tam­bém, na forma de propa­ganda anti-apartheid. Num artigo de 30 de Junho, Cardoso escreveu: “Esta é a primeira vez que um diri­gente do regime do apar­theid tenta tão aber­tamente impor a jornalistas e políticos nos estados da Linha da Frente o mesmo nível de censura que impõe aos jornalistas dentro da própria África do Sul”.
A propaganda da SABC e o seguidismo cabritista
A 9 de Julho a SABC celebrava a conclusão do inquérito Margo com um ataque à AIM e a Carlos Cardoso em particular. Éra­mos todos descritos como “agentes soviéticos”.
“Pouco depois do de­sastre, os doutrinadores soviéticos começaram a conceber e efectivar uma intrincada estratégia de desinformação”, clamava a SABC. “Moscovo cooptava a assistência de agentes so­viéticos de influência dentro das agências do Governo de Moçambique. Os meios de comunicação de Mo­çambi­que participaram em pleno nesta campanha e serviram para dar ímpeto à operação inteira”.
“Dias antes da morte de Machel, Carlos Cardoso, o director do instrumento de propaganda da FRELIMO, AIM, um marxista ortodoxo, es­peculou que a África do Sul ia possivelmente retaliar pela explosão da mina que matou seis soldados sul-africanos. Num artigo, Car­doso decla­rou explicitamente que o Presidente Machel era um alvo provável de uma ten­tativa de assassínio”. Neste ponto a peça da SABC mostrava a fotografia de Cardoso no ecrã.
“Cardoso emergiu mais tarde como figura-chave na estratégia de desinformação soviética”, continuava a SABC. “Na sua capacidade de director da AIM, ele esteve na origem de uma grande percentagem da produção total de desin­formação”...
A isto seguiu-se, dias mais tarde, uma carta formal ao Governo enviada por Colin Patterson, chefe da mis­são comercial sul-afri­cana em Maputo, protes­tando contra os artigos de Cardoso. Hunguana mos­trou a carta a Cardoso.
Patterson escreveu: “Con­­­­sidero decepcionante que Moçambique tenha se­guido tão servilmente a linha de Moscovo sobre Mbuzini. O que torna o assunto mais triste é que Moscovo conhece a verdade e tenta defender a sua reputação e posição em África, ao passo que Mo­çambique aparente­mente permite que o empurrem para assumir um ponto de vista totalmente desmentido pela evidência e as con­clusões de peritos mundiais, para promover a sua própria inexplicável campanha de difamação contra a África do Sul”.
Segue-se a ameaça ve­lada: “Deste modo, la­mento dizê-lo, Moçambique  já foi perigosamente longe na via da desconfiança e sus­peição, no que diz res­peito ao povo e Governo da África do Sul”.
À distância de 15 anos, as invectivas da SABC e de Patterson sobre a conspi­ração soviética dão vontade de rir. Mas na altura pare­ciam carregadas de amea­ça.
Finalmente, a questão de sucessão. A ideia de que Chissano “golpeou” Mar­celino dos Santos só pode convencer alguém que não estava em Moçambique (Cabrita) ou era jovem demais para recordar o ambiente daquela altura (Nhachote). Na realidade, Chissano era o sucessor evidente. Eu me lembro bem de discussões infor­mais entre jornalistas, anos antes de Mbuzini: ninguém duvidava: Chissano seria o próximo presidente. Assim, a decisão rápida da FRE­LIMO depois da morte de Samora de eleger Chissano presidente  não tomou ninguém de surpresa (em Maputo pelo menos, em­bora talvez não nas hostes de apartheid).
Falcões de ontem e de hoje
Como Mbuzini contribuiu para a paz
Por Luís Nhachote
O nosso colega media­FAX (edição de 24 de Ou­tubro) noticiou que proe­minentes figuras políticas nacionais afectas ao partido FRELIMO puseram em causa o livro do inves­tigador moçam­bicano João Cabrita – “A Morte de Samora Machel”, no tocante à versão do autor sobre a forma como perdeu a vida o fundador da República Popular de Moçambique e também sobre o alegado plano de guerra que visava a invasão da República do Malawi, deposição do Presi­dente Banda e instalação de um novo regime no país vizinho.
O veterano e histórico da FRELIMO Marcelino dos Santos disse ao mediaFAX que “quem é moçambicano não duvida que Machel foi morto pelo apartheid”.
O conceituado escritor e intelectual Luís Bernardo Honwana, tal como Sérgio Vieira, na sua qualidade de co-fundador do Centro de Documentação Samora Ma­chel, também desmentiu que Samora tivesse morrido numa missão de guerra.
Ambos insistem que o primeiro Presidente moçam­bicano morreu no cumpri­mento de uma missão de paz. Minutas de uma reunião realizada no dia 16 de Outu­bro, três dias antes da morte de Samora Machel, na posse do SAVANA, ilustram que este morreu em missão de guerra.
O que diz o livro de Cabrita
O livro de Cabrita, de facto, faz referência e cita documentos sobre um plano militar que terá sido fabricado por Moçambique e pelo Zimbabwe para o derrube do regime do Presidente Kamu­zu Banda, da República do Malawi, tido então como retaguarda da RENAMO-Resistência Nacional Mo­çam­bicana.
Desenvolvendo a sua tese sobre o aproveitamento político do desastre de Mbu­zini, Cabrita trás dados novos afirmando que houve um aproveitamento “genera­lizado”, quer por parte dos Estados da então Linha da Frente e da sua aliada e extinta União Soviética comu­nista, quer da própria África do Sul, quer ainda dos partidos da oposição que se viriam a estabelecer em Moçambique depois de 1992 quando é assinado o Acordo Geral de Paz em Roma.
O autor de “A Morte de Samora Machel” escreve a dado passo: “A própria África do Sul, como que numa tentativa de desviar as aten­ções do seu alegado envol­vimento na morte de Samora Machel, fez uso de um documento da Presi­dência da República moçambicana descoberto entre os des­troços do Tupolev em Mbu­zini, o qual dava conta de um plano concebido pelos Go­ver­nos de Moçambique e do Zimbabwe para se invadir o Malawi e depor o regime de Kamuzu Banda.”
O investigador João Cabrita, que em “A morte de Samora Machel” trouxe ao público peças do inquérito ao acidente de Mbuzini – peças essas de que o nosso Governo sempre dispôs, mas manteve sempre, inex­pli­cavelmente, em segredo –, a dada altura  refere que “o documento (da reunião de 16 de Outubro de 1986) deixa transparecer a relu­tância do então Presidente zambiano, Kenneth Kaunda, em apoiar o plano (de Samora), cuja fase inicial incluía o encerramento de todas as fronteiras com o Malawi”.
E acrescenta, voltando a citar o documento, que Machel “pretendia asse­gurar, com carácter de urgência, o desdobramento na província da Zambézia de 1500 homens idos de Maputo e Nacala, assim como a transferência de aviões MiG-17 e helicópteros de combate da Beira para aquela província. Aviões MiG-21 seriam transferidos de Maputo para Beira, de onde operariam.”
As minutas de Maputo
O documento a que nos temos estado a referir são as minutas de um encontro entre delegações de alto nível de Moçambique e do Zimbabwe realizado em Maputo a 16 de Outubro de 1986, portanto 3 dias antes do Tupolev de Samora Machel se despenhar em Mbuzini, na África do Sul, a poucos metros da fronteira moçambicana.
O SAVANA conseguiu obter algumas dessas mi­nutas e de uma leitura atenta do documento se pode constatar o ambiente de grande tensão militar então reinante na zona da África Austral. A linguagem utiliza­da nessa reunião é reve­ladora do agudizar do conflito armado em Moçambique e das posições extremadas que o nosso País, assim como o Zimbabwe pareciam estar dispostos a adoptar para se pôr cobro à insta­bilidade político-militar no nosso País.
Dizia Samora Machel na abertura do encontro de 16 de Outubro de 1986, em Maputo: “A atmosfera da nossa região em relação aos bandidos armados está muito elevada. Parece que pela primeira vez sentiram o perigo que representa o banditismo armado na nossa região.”
Em suma, era uma lin­gua­gem de homens de guerra, temperados na guer­ra, dispostos a continuar a fazer a guerra com o fito de  acabar com a guerra. Na sua ordem de ideias, o alcance da paz seria, sem dúvida, o seu objectivo final. Mas o preço em vidas e infra-estruturas teria sido enorme para Moçambique e para a região, mais ainda sem garantias de sucesso, de­preende-se da leitura das minutas de Maputo. A busca da paz com outra estratégia provou-se ser um caminho mais acertado. Hoje todos beneficiamos dela se a lin­guagem belicosa não voltar ao léxico político nacional pela voz de quem parece precisar dela para regressar à ribalta...
Antes do início do en­contro de 16 de Outubro de 1986 (3 dias antes da fata­lidade aeronáutica que pôs termo à vida do primeiro Comandante-em-Chefe das FPLM) que contou com a participação dos ministros de estado da Segurança e da Defesa do Zimbabwe, res­pectivamente Emerson Mu­nangagwa e Ernest Kadan­gure, para além dos co­mandantes do Exército e da Força Aérea de Robert Mugabe, nomeadamente o Ge­ne­ral Rex Nhongo e o Mare­chal Tungamiray, entre ou­tros, o Presidente Samora Machel fez questão de or­denar que o embaixador do Zimbabwe  acreditado em Maputo, senhor Mvundura, abandonasse a sala de reu­niões.
As minutas do encontro citam Samora Machel como tendo dito a-propósito: “Os embaixadores são compli­cados. Quando me reúno com o Primeiro-Ministro estão presentes e quando me reuno com os militares querem também” estar presentes. (NB: Robert Mugabe ainda não era presidente, o PR do Zimbabwe era Canan Bana­na)
Referindo-se ao Malawi, o falecido Presidente Machel é citado nas minutas a dizer que “neste momento o que nos interessa é o foco do banditismo armado no Ma­lawi. E, neste momento, a África do Sul está a fazer força, a 80 quilómetros daqui, acusando Moçambique de várias coisas, que é para não atacarmos o centro e eles continuarem a fazer do Ma­lawi a sua base.”
   
O plano de guerra de Sa­mora
Virando-se para o General Rex Nhono, o Presidente Machel começou por dizer: “Rex, vamos dar tarefa aos políticos. Primeiro-Ministro (Mário Machungo, de Moçam­bique, hoje PCA do BIM) e Emerson consigam que:
1.  Malawi aceite que as forças de Moçambique atra­ves­sem Zambézia/Tete/Zam­bézia através do seu território [...] assim como dê auto­rização para tropas zimba­bweanas passem de Tete/Zambézia/Tete.
2.  Zimbabwe proponha ao Malawi que utilizemos o porto da Beira... Esta é a parte política e só pode ser feita por gente da segurança e contra-inteligência.
3.  Moçambique e o Zimbabwe descubram nova força no Malawi. Banda está gasto. Não deixemos a África do Sul colocar a direcção no Malawi. Não deixemos os ingleses, os americanos, a RFA escolher líderes para o Malawi.  Os militares sabem como devem fazer as coisas.
4.  Ganhemos o povo inteiro do Malawi. Nas nossas declarações sempre afir­memos que o povo do Malawi é nosso amigo, as auto­ridades é que são más, a sua acção é que prejudica as nossas relações. Ganhemos a maioria. Aqui estamos a seguir a teoria de Mao Tsé Tung: ganhar a maioria, isolar a minoria e aniquilar um por um. Nós podemos também organizar uma frente de libertação do Malawi, equipar e infiltrar no Malawi para liquidar os bandidos lá. Podemos também definir os alvos para essa frente de libertação do Malawi. O melhor combate é transferir a guerra da tua zona para a do inimigo e fazer dela carreira de tiro.”
Kaunda contra a guerra
No prosseguimento da sua alocução na reunião de 16 de Outubro de 1986, o Presidente Samora ordenou que os militares colocassem “todos os meios na Zambézia o mais urgente possível” acrescentando: “Nós fe­chare­mos a fronteira com o Malawi. Sem armas e meios nada podemos fazer. Seria suicí­dio. Se não fazemos isso o Malawi vai continuar a meter bandidos armados. Temos algumas forças especiais para cumprir operações especiais. E temos cerca de 41 MiGs21. A vitória prepara-se. A vitória organiza-se. Exige sangue frio.”
De acordo com  Samora Machel, “o Presidente Ken­neth Kaunda não garantiu fechar a fronteira com o Malawi. Fizeram-lhe a per­gunta e não deu resposta satisfatória.” 
Tanzânia também era alvo
Ainda segundo Machel, “quando fecharmos a fron­teira devemos ter a certeza de que se o Malawi desviar as suas mercadorias para a Tanzânia nós vamos partir as pontes que o ligam à Tan­zânia. Mas terão de ser pontes que levarão 4 a 5 anos a construir. Se desviar a rota através da Zâmbia, não vamos partir as pontes da Zâmbia, mas partiremos as do Malawi que dão saída para a rota Kasangulo/Botswana e entrar para a África do Sul. Se partirmos as pontes que os levam à Tanzânia e à Zâmbia temos o Malawi nas mãos.” 
Virando-se para o vice-ministro da defesa moçam­bicano, Armando Panguene (hoje embaixador nos Esta­dos Unidos da América), e o ministro de estado zimba­bweano para a Defesa, Ka­dan­gure, Samora Machel afirmou:
“Já defini o meu pen­samento. Ponham lá a fun­cionar”.
Ao que Kadangure, de acordo com as minutas, respondeu: “Sim, pode ser feito”.
O antigo Presidente mo­çam­bicano informou os seus interlocutores que a 10 de Outubro, isto é, 6 dias antes da reunião de Maputo, ele reunira-se “nesta mesa com moçambicanos, cubanos e soviéticos,” tendo ficado decidido que Sebastião Mar­cos Mabote (então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Moçambique - FAM-FPLM) “devia seguir imediatamente para a Zam­bézia” a fim de “reconhecer o efectivo dos bandidos arma­dos em cada distrito e pre­parar um campo para receber 1.500 homens que sairão de Maputo e de Nacala.”
Segundo as suas próprias palavras, o Presidente Machel queria: “Transferir os MIGs21 para a Beira e a partir de lá vão operar. Os Migs17 e helicópteros de combate irão para a Zambézia que é perto do Malawi e de todos os distritos que os bandidos armados ocuparam no nosso País.”
E a finalizar, as minutas citam Machel como tendo dito: “Assim vemos friamente a situação. Esta é a nossa estratégia. O ponto é: como participa o Zimbabwe nisto tudo?”
SAVANA – 04.11.2005

08-11-2005

Dossier de pensões ligado aos antigos funcionários da administração colonial

Em 29 de Janeiro de 2005, declarava o então Ministro dos Negócios Estrangeiros Dr. António Monteiro que:
"0 Governo Português decidiu reabrir o dossier ligado ao pagamento das pensões de reformas aos antigos funcionários da administração colonial portuguesa.
O ministro português dos negócios estrangeiros António Monteiro fez saber que brevemente vai ser reactivada uma comissão técnica encarregue de resolver o diferendo."
Ora acontece que há muito que existe legislação para esse efeito.
Porque não foi a mesma divulgada é que não sei nem entendo. Desconheceria o então Ministro português esta legislação bem como as autoridades angolanas, pois tais palavras foram proferidas em Angola? Talvez porque não passasse pelos Orçamentos de Estado, sendo directamente entregue aos beneficiários. Talvez porque o antigo país colonizador ficaria com uma imagem diferente daquela que interessava propagandear nesse tempo. E tanta gente a falar em nome do povo...
Mas, voltando ao assunto, verifica-se que:
1 — Os funcionários e agentes das ex-províncias ultramarinas têm o direito de requererem a aposentação verificados unicamente dois pressupostos; terem mais de cinco anos de serviço e terem efectuado os descontos devidos para a aposentação.
— A tal não obsta a perda de nacionalidade portuguesa.
como é comprovado pelo Acordão do Supremo Tribunal Administrativo de Portugal de 17 de Maio de 1994.
Resta-me alertar aos interessados (não esquecendo viúvas e herdeiros) para que requeiram o benefício a que têm direito, para o que sugiro o contacto com os serviços consulares portugueses em Moçambique.
Só lamento que, entretanto, muitos dos beneficiários já hajam falecido.
Podem imprimir o texto completo do acordão em
Fernando Gil

07-11-2005

MEMÓRIAS ULTRAMARINAS

Virgínia Cabral Fernandes esteve em Moçambique, onde nasceu em 1916, em Goa e Angola. É dessa sua vivência que nos dá o seu relato que poderão encontrar em:

05-11-2005

André Matsangaice – O testemunho de uma mulher

Por Linette Olofsson
Foi com grande entusiasmo e apreço que participei no passado dia 17 Outubro nas celebrações de mais um aniversário do passamento físico de André Matadhi Matsangaice, o fundador e primeiro líder da Resistência Nacional Moçambicana, na Vila de Gorongosa.
Sendo eu membro da Liga da Mulher da Renamo, integrada neste movimento após o Acordo Geral de Paz, algo vindo do fundo da minha alma me dizia que era importante e oportuno eu ir a Gorongosa, a Marringwe, para conhecer in loco os testemunhos ali deixados pelo comandante André, a história da Renamo e também como juntar-me a seus  familiares , antigos guerrilheiros  e, porque não? Às pessoas mais importantes que são as populações que deram no passado o seu apoio para que a Renamo se tornasse um partido poderoso, com raízes profundas no seio nas massas.
Leia o texto completo em

04-11-2005

Em 94: vitória da Frelimo foi ditada pela ONU!

Charles Baptista
As primeiras eleições multipartidárias de 1994, que deram vitórias ao partido Frelimo e seu candidato, Joaquim Chissano, não resultaram da expresão dos eleitores, contudo, dos interesses estranhos a Moçambique. A vontade do povo ficou patente, pois, em onze circulos eleitorais, a RENAMO ganhou seis e a Frelimo, as restantes cinco, o que deixou os camaradas apavorados.
Este facto demonstra, de uma forma clara, que as eleições foram ganhas pela RENAMO e seu candidato,Afonso Dhlakama. A Frelimo e Chissano perderam-nas, contrariamente, ao anunciado ao público.
As Nações Unidas, ONU, vinham de uma derrota diplomática de Angola, onde as eleições foram um julgamento popular que forçou a UNITA a regressar para as matas, mergulhando o país numa terrível guerra civil.
Em Angola, a ONU estava desprovida de forças para interposição ou de intervenção. Tanto o governo de Luanda quanto a UNITA dispunham intactos, até às eleições, dos seus artefactos bélicos. Esta experiência inglória interessava, sobremaneira, à ONU
que não se repetisse em Moçambique.
Acertada a estratégia entre a Frelimo e a ONU, munida de um contingente militar capaz de fazer intervenção, quando necessário, iniciou-se a desmobilização dos exércitos, a desactivação, como em nenhuma outra na história das pacificações, dos meios letais. Assistiu-se ao desmantelamento de tanques, carros de assalto, mísseis, bombardeiros, aviões de transporte, à massiva recolha de armas dos esconderijos para desencorajar qualquer tentativa de recomeçar a guerra por parte da RENAMO.
O governo ficou sereno por saber que a vitória estava garantida enquanto a RENAMO deixou-se ficar na sua ingenuidade enquanto era enganada pelos seus “irmãos”. O representante do secretário-geral da ONU, Aldo Ajello, abandonou o País 24 h depois das eleições, lavando as mãos, tal como o fez pôncioPilatos.
Se a RENAMO tivesse ascendido ao poder, a Frelimo teria criado desordem generalizada, com a violência em espiral tanto no campo como nos centros urbanos.
O País teria sido ingovernável. Tal situação forçaria a RENAMO a regressar às matas. O descrédito e a incompetência teriam invadido as missões de pacificações da ONU.
Para permitir uma transição “pacífica e ordeira”, a ONU e as potências ocidentais desenharam a estratégia de relegar a RENAMO para a condição de derrotada artificial, proclamando a Frelimo e seu candidato vencedores da conveniência. Esta versão fala-se nos corredores das chancelarias em Maputo.
O período 1994-1999, é caracterizado pelas privatizações das empresas do Estado ou sob gestão. Como novos patrões aparecem indivíduos ligados à Frelimo ou a ela associados. Este foi um momento singular que proporcionou às elites políticas da Frelimo detivessem o poder económico.
Doravante, os quadros séniores da Frelimo para além do poder político, passaram a ter também a componente económica, tornando, assim, mais difícil a sua remoção da Frelimo do poder.
CORREIO DA MANHÃ (MAPUTO) – 04.11.2005

A repartição dos 85% do capital que passa a ser detido pelo Estado de Moçambique

"Uma fonte que segue as negociações, disse ao
mediaFAX
a partir de Lisboa, que os 85 por cento das acções detidos pelo Estado, vão ser repartidos entre a empresa de electricidade sul-africana, Eskom , EDP, empresa de energia portuguesa, ainda EDM, companhia moçambicana de electricidade , IGEP, Instituto de Participaçãoes do Estado, INSS entre outros. Desconhece-se por enquanto, o nível percentual a caber a cada integrante no negócio."
Extraído do MediaFax, de 04.11.2005

HCB e o futuro das relações luso-moçambicanas

Embora este texto tenha sido publicado anteriormente à visita de Armando Guebuza e da assinatura do Memorando sobre a Reversão de Cahora Bassa para Moçambique, vale pelos dados contidos, muito superiores aos anunciados por Portugal. Engano de jornalista?
O futuro da barragem hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) voltará a estar no centro da mesa das conversações, quando o Presidente Armando Guebuza, na sua primeira visita oficial a Portugal, reunir-se, na próxima semana, com o seu homólogo Jorge Sampaio.
Sem dúvida que Cahora Bassa tem sido o elemento mais crítico no relacionamento entre os dois países nos últimos anos.
Por força dos Acordos de Lusaka, que abriram caminho para a independência de Moçambique, a HCB permaneceu propriedade de Portugal, em território moçambicano.
A ideia era que o empreendimento passaria para o controlo de Moçambique passados 25 anos, depois que Portugal tivesse liquidado toda a dívida de mais  de 1 bilião de dólares contraída junto de várias instituições credoras da Europa. A liquidação desta dívida contaria com as receitas provenientes da venda de energia à África do Sul.
Nem Portugal nem Moçambique poderiam prever o que viria a acontecer depois da independência deste último país. A guerra que deflagrou em Moçambique, apenas um ano após a independência, teve como alvo privilegiado os postes de transmissão da energia da HCB para a África do Sul.
Quando a guerra terminou em 1992, 1 895 postes tinham sido totalmente destruídos, e 2 311 precisavam de reabilitação ao longo dos 893 quilómetros que as linhas percorrem em território moçambicano.
Sem o fornecimento de energia à África do Sul, os rendimentos que se esperava da HCB não se materializaram. Por outro lado, como o acordo inicial previa que parte da energia transformada na África do Sul seria revendida a Moçambique a preço baixo, este país acabou comprando-a a preços comerciais.
Os juros acumulados sobre a dívida contraída por Portugal para a construção da HCB, bem como os custos de manutenção do empreendimento durante o período de paralisação e na reposição das torres, representam neste momento cerca de 2,6 biliões de dólares.
Actualmente, Portugal detém 82 porcento das acções da HCB, ficando para Moçambique os restantes 18 porcento.
Para a inversão desta estrutura accionista, Portugal exige que Moçambique lhe pague os 2,6 biliões de dólares. Moçambique oferece muito menos.
Se Moçambique tivesse que pagar o valor solicitado por Portugal, teria que contrair uma dívida pagável, somente em pelo menos trinta anos. Isto, numa altura em que o país pede aos credores o perdão da sua dívida.
Repetidas rondas negociais sempre criaram expectativas de se estar perto de uma solução mutuamente favorável, mas tudo não passava de uma ilusão. 
O arrastamento do impasse torna difícil que Moçambique materialize alguns dos seus projectos de desenvolvimento de longo prazo, tais como a construção da projectada barragem de Mpanda Ncua, igualmente no rio Zambeze, o empreendimento das areias pesadas de Chibuto, e a exploração de todo o potencial do vale do Zambeze.
Sem o poder soberano sobre a HCB, a utilização de mais energia da HCB para Moçambique requer complexas negociações tripartidas com Portugal e a África do Sul, uma vez que este último país terá que ceder a quota que lhe é atribuída ao abrigo do acordo assinado com Portugal, e que permitiu a viabilidade da construção da barragem.
Não se vislumbra no horizonte qualquer solução que venha a sair das conversações da próxima semana em Lisboa, apesar do optimismo expresso pelos dois presidentes no seu encontro de Setembro, em Nova Iorque.
Contudo, será de esperar que findos os três dias de troca de cordialidades protocolares, Guebuza e Sampaio tenham dado um passo decisivo, mais próximo de uma solução definitiva.
Tudo dependerá da capacidade negocial de ambas as partes. Mas, sobretudo, da vontade, determinação e coragem políticas dos líderes portugueses de verem encerrado um longo e tortuoso dossier colonial.
SAVANA - 28.10.2005

“Chissano golpeou Marcelino para se tornar Presidente”

Sugere João Cabrita no seu livro A Morte de Samora Machel
Compilação de Luís Nhachote
A editora Novafrica parece apostada na senda da negação, ou pelo menos de questionamento à história oficial que o establishment frelimiano nos impôs. Primeiro foi a controversa biografia Uria Simango - Um Homem, Uma Causa, em que Barnabé Lucas Nkomo, o seu autor, punha em xeque a tese de que o reverendo e fundador da FRELIMO fora traidor da causa nacional. Agora lança o livro A  Morte de Samora Machel, no qual João Cabrita, historiador mal visto por figuras do regime, sugere que Chissano usou o argumento étnico para, num golpe palaciano, afastar o sucessor natural, Marcelino dos Santos, e ascender a Presidente da República — como veio a acontecer —, após a morte do Marechal em Mbuzini. Assustador!
Veja o artigo completo em

A " oferta de Cahora Bassa"

Texto que acabei de enviar aos senhores Deputados da Assembleia da República de Portugal:
Senhor Deputado
Cahora Bassa é tão só a quinta maior barragem do mundo. Cahora Bassa produz a energia eléctrica a um dos custos mais baixos do mundo. Cahora Bassa é fruto do querer de Portugal. A Frelimo, da qual ainda faz parte Armando Guebuza, tudo fez para que a sua construção não fosse levada adiante. Custou vidas de portugueses e moçambicanos. Na construção e na defesa dessa mesma construção.
Não nacionalizou Samora Machel a Hidro-Eléctrica de Cahora Bassa, pois que a dívida da sua construção ascendia, em 1975, a 30 milhões de contos portugueses. E os credores principais eram a Alemanha, Noruega e África do Sul. Estivesse ela já paga e também tinha sido nacionalizada, como o foram os bens de meu falecido Pai.
Não sei quanto valerão agora os 30 milhões de contos, dinheiro de Portugal e de Moçambique, então Província Ultramarina.
Só sei que Portugal transfere para Moçambique, 67% do seu capital e a dívida que estava inscrita no orçamento português de 2,3 milhões de dólares, é remida por 950 milhões de dólares.
Friso não estar a pôr em causa a reversão do controle da Barragem para o Estado de Moçambique. Mas assim não!
Dizem os nossos governantes ser preciso que os portugueses "apertem o cinto".
Diz o Ministro das Finanças de Portugal não se estar perante um perdão de dívida, mas sim face a uma situação de custos irrecuperáveis. Como? Agora que a exploração da hidro-eléctrica já é positiva... Que fosse amortizada em dez, quinze anos, por exemplo. Porque não?
Não haverá nenhum Senhor(a) Deputado(a) que inquira do actual Governo de Portugal, quando impõe tantos sacrifícios ao povo português, de como e porquê se pôde chegar à conclusão agora anunciada. Será Vossa Excelência?
Relembro-lhe, Senhor Deputado, o que escrevi no então existente Jornal Novo, em 17 de Abril de 1979:

A Factura de Cahora Bassa

*por Fernando Inácio Gil
Em artigo publicado no passado dia 9 do corrente, após escrever “Somos vítimas, mas vítimas maiores serão os nossos filhos”, acrescentava:
“Não os obriguemos a pagar a factura que outros ficaram a dever, nem que tenhamos que ser nós a pagá-la.
Mas muito mais honrados se sentirão se tivermos a coragem de a fazer pagar por quem na realidade a ficou a dever.”
Será pois que, quando o Ministro Álvaro Barreto, na televisão, aludiu a uma carta de Vasco Gonçalves ao Presidente da Frelimo, tencionaria começar a endossar responsabilidades a quem efectivamente as tem?
Se assim foi, “haja Deus” que já não é sem tempo!
E, em tão boa hora o fez, que logo um semanário, além de publicar a carta perdão de Vasco Gonçalves, igualmente deu à estampa uma anterior subscrita por Samora Machel, prenhe de insultos a todos os nossos maiores.
São, na verdade, dois documentos históricos que bem atestam, a prevalecer uma maioria de esquerda no nosso país, qual seria o seu destino final.
Só que a tal maioria de esquerda não é mais que um slogan, embora a tenhamos ainda de suportar – moral e materialmente – até que novas eleições exprimam a vontade do povo português.
Dizia Vasco Gonçalves, na sua missiva de 9 de Maio de 1975, a Samora Machel que “só posso (re)afirmar-lhe(sem margem para qualquer hesitação), e como resultado de profundo empenhamento pessoal, do Governo e do povo português no processo em curso, que se pretende claro (o itálico é nosso) e gerador de novas e decisivas solidariedades”, concluindo que “Portugal considera definitivamente encerrado aquilo que se tem designado por “contencioso económico e financeiro”(de que se tem ocupado a comissão B das negociações), reforçando-se, assim, o já afirmado pelo MNE major Melo Antunes, como enviado do Governo, no recente encontro de Haia, havido com o Vice-Presidente da Frelimo.”
Não indo por agora comentar a carta de Samora Machel dirigida ao primeiro-ministro do Governo Provisório da República Portuguesa, em 18 de Abril de 1975, à qual aquela serviu de resposta, não resistimos a sua parte final:
“11.1        É nesta perspectiva ( de 500 anos de dominação colonial) e só nela, que pode ser avaliado o  “contencioso económico e financeiro”, e determinada exactamente a parte exigível a Portugal e a parte que Portugal pode exigir a Moçambique em consequência dos benefícios que Moçambique recebeu de cinco séculos de pilhagem colonial e de dez anos de guerra de agressão.
11.2                         No caso de o balanço ser favorável a Portugal, Moçambique engaja-se a pagar integral e imediatamente a totalidade da sua dívida.
11.3                         Entretanto, a Frelimo declara a sua vontade de que se interrompam as negociações em curso e se anulem os documentos já publicados, a fim de se reiniciar  oportunamente a discussão global da nova perspectiva.”
E andam tantos políticos e governantes a dizer que a democracia é a política da verdade!
Então, só quatro anos depois, e porque alguém o forçou, é que o povo português vem a saber que uma então existente Comissão Nacional de Descolonização se não opôs a que um Governo Provisório da República Portuguesa, liderado por um qualquer Vasco Gonçalves, todos sem o mínimo de representatividade, decidisse que “Portugal considera definitivamente encerrado aquilo que se tem designado por “contencioso económico e financeiro” com Moçambique.
Irra, que é demais!
E afirma Vasco Gonçalves que tudo isto se conseguiu com o empenhamento do povo português no processo que se pretende claro...
Mas já que a ponta do véu se começa a levantar, muito gostaria o povo português de saber qual o montante e, se possível, a discriminação de mais esta dádiva feita em seu nome, felizmente que com o seu “empenhamento”.
Mais, que fossem explicadas ao povo português as reais consequências daí advindas.
E, igualmente, se o Estado Português está disposto a indemnizar todos quantos foram lesados por acto, já para não falar no montante que a si mesmo, isto é, a todos nós  pertence.
E, pelo que correu em tempo em certos círculos, qual o valor e o destino dos auxílios estrangeiros que expressamente cobriam tal ou outras cedências?
Ou será que tais auxílios não passaram de falsas promessas?
Por tudo isto, sr. Ministro Álvaro Barreto, não esteja tão optimista quanto a Cabora-Bassa!
Melhor talvez seja ir preparando o Povo Português para ir pagando mais estes 30 milhões de contos de responsabilidade externa portuguesa.
Repare, sr. Ministro, que Portugal aceitou no Acordo de Lusaca que a Frelimo só indemnizasse o nosso país daquilo que entendesse ser em benefício do povo de Moçambique.
Qualquer arbitragem está fora de causa, apenas o que os senhores da Frelimo decidirem.
Aliás tudo é lógico da parte de Moçambique já que Vasco Gonçalves e o Governo português de então aceitaram continuar a negociar com a Frelimo:
         - É que se as negociações continuaram foi aceite integralmente a perspectiva da Frelimo que condicionava o seu prosseguimento à aceitação dos tais “cinco séculos de dominação colonial e dez anos de guerra de agressão”...
É pois mais que hora de se começar com o “julgamento dos responsáveis”.
Vamos a cartas na mesa que, quem tiver a consciência tranquila, nada terá a temer.
Bastas razões terá pois o dr. Mário Soares para afirmar que ainda é cedo para se discutir a descolonização.
Razões tinha pois o dr. Jorge Sampaio para nada dizer acerca dos resultados das negociações que ia tendo com Sérgio Vieira.
Razões têm pois todos os implicados no processo para se calarem e não deixarem ninguém falar.
Só vergonha é que não têm!
Mas sobejas razões temos nós, o povo português, de não mais sustentar quem o traiu e não soube defender os seus reais interesses – morais e materiais.
Será que, se Vasco Gonçalves fosse um verdadeiro português, se quedaria, aliás em tom subserviente, no seu magnânimo perdão?
Mousinho, Neutel, Capêlo, Gago Coutinho e tantos outros não lhe dizem nada, sr. Brigadeiro Vasco Gonçalves?
Tenhamos, pois nós, os verdadeiros portugueses, vergonha do juízo dos nossos filhos.
* Membro Directivo da Associação Projecto I
Moçambique está na posição correcta. Se eu puder comprar por 10, porque irei pagar 30 ou 40?
Cordiais saudações
Fernando da Silva Inácio Gil
Funcionário Aposentado

03-11-2005

RENAMO prudente sobre acordo Portugal-Moçambique

A RENAMO, principal partido da oposição moçambicana, reagiu hoje com prudência ao acordo assinado quarta-feira entre os governos de Lisboa e Maputo visando a reversão para Moçambique da maioria do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).
"Ainda não fomos informados oficialmente" sobre o memorando de entendimento aprovado quarta-feira em Lisboa, disse o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, recusando um "comentário oficial" enquanto o seu partido não conhecer "todo o processo".
"Temos que ver os processos antes de tomar uma decisão", insistiu Mazanga que, no entanto, considerou "bem-vindo o regresso" da HCB à tutela moçambicana.
"É sempre bom que os moçambicanos tenham o usufruto do seu património", disse Mazanga que questionou o facto de Cahora Bassa ter sido "o único empreendimento construído pelos portugueses que não foi imediatamente devolvido a Moçambique após a independência, como aconteceu com as casas e fábricas".
"É preciso que os moçambicanos reflictam por que é que Cahora Bassa foi sendo adiada", insistiu.
A barragem no rio Zambeze, a maior na África Austral, foi um dos principais alvos da guerrilha conduzida pela RENAMO contra o governo da FRELIMO, de 1976 a 1992.
Os ataques, nomeadamente a destruição dos postes de transporte de energia, conduziram à paralisação do empreendimento durante longos períodos.
O memorando assinado quarta-feira em Lisboa pelo ministro das Finanças português e o ministro da Energia de Moçambique, na presença do primeiro-ministro de Portugal e do presidente moçambicano, estabelece que Cahora Bassa passa a ser controlada em 85 por cento por Moçambique, ficando o Estado português como "accionista de referência" e "parceiro estratégico" e os restantes 15 por cento.
O documento prevê também o pagamento a Portugal de 950 milhões de dólares (787,4 milhões de euros), que é menos de metade do valor total da dívida estimado pelas autoridades portuguesas - 2,3 mil milhões de dólares (1,9mil milhões de euros).
De acordo com o memorando de entendimento, as negociações para a reestruturação e transmissão da HCB ficam concluídas até ao final deste ano, ficando marcadas duas reuniões entre os ministros da Energia de Moçambique e das Finanças de Portugal para 21 e 22 deste mês e 16 e 17 de Dezembro.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 03.11.2005

Cahora Bassa passa para Moçambique

acordo
Encontro de José Sócrates com Guebuza acelerou negociações Anunciado perdão da dívida   
Abarragem de Cahora Bassa vai passar a ser gerida por Moçambique. Após 30 anos de negociações arrastadas, a antiga colónia portuguesa vai passar a deter 85% do capital da Hidroeléctrica e Portugal mantém-se como accionista de referência e parceiro estratégico, com 15%. É este o enquadramento geral do acordo assinado ontem entre os dois estados. "Este acordo exprime uma mútua confiança entre os dois países", disse o primeiro-ministro, José Sócrates no final da cerimónia que decorreu na residência oficial de S.Bento. "É um acordo que nos honra e honra a nossa história", acrescentou.

O acordo foi assinado pela mão do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos e do ministro da Energia de Moçambique, Namburete. O presidente moçambicano, Armando Guebuza, por seu lado louvou por seu lado o esforço feito por Portugal para concluir o acordo.

Na manhã de ontem, num encontro entre o chefe de Governo português e o chefe de estado de Moçambique que decorreu em Sintra foram acertados os últimos detalhes do documento assinado ao final da tarde. Estão em curso, ainda, as negociações para alterar a composição accionista, nomeadamente a indemnização de 1,8 mil milhões de euros pela construção e manutenção da barragem.

Sócrates anunciou o perdão integral da dívida moçambicana a Portugal, dependente apenas da negociação de uma formula de inserção na contabilidade nacional desse perdão. 


Acordo de cooperação melhorado

Foi assinado ontem o Programa Anual de Cooperação (PAC), no valor de 19,6 milhões de euros, que Sócrates disse reflectirem a vontade do Governo de "participar no desenvolvimento de Moçambique".

O Programa incide nas "áreas do desenvolvimento, e este ano foi facilitada a verificação se os projectos são concretizados. Sócrates referiu que "Portugal está nos primeiros lugares de investimento estrangeiro".

JORNAL DE NOTÍCIAS - 03.11.2005

Portugal garante investimentos com redução em Cahora Bassa

Construção é o sector mais beneficiado. Dívida paga até ao final de 2006 

ana tomás Ribeiro 
Helena Garrido
Moçambique vai passar a deter 85% do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) e Portugal reduz a sua posição de 82 para 15 %, segundo o acordo ontem assinado entre os dois países. Maputo pagará 950 milhões de dólares a Portugal até final de 2006 e os empresários portugueses ficam com direito de preferência em projectos na área da energia. O acordo final será assinado até ao final deste ano.

"Cria-se um ambiente favorável ao investimento de empresas portuguesas", disse ao DN o ministro de Estado e das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos que ontem assinou o acordo em São Bento com o ministro da Energia moçambicano, Salvador Namburete.

O acordo final será assinado até ao final do ano. Nestes próximos dois meses as duas partes terão de acertar algumas questões que estão em aberto, como é o caso da transição da gestão da HCB e do estatuto dos trabalhadores portugueses que lá se encontram.

É explicitado no documento ontem assinado que os acordos subsequentes não podem ter efeitos negativos no défice orçamental português. O memorando resolve o problema da dívida da empresa a Portugal, questão que impediu a resolução desta problema desde a independência de Moçambique em 1975. Nesse quadro, o Estado de Moçambique paga a Portugal 700 milhões de dólares no prazo de um ano a contar da data da assinatura do acordo final agendado para o fim de 2005. Este calendário pode ser prorrogado por um máximo de seis meses, desde que se tenha pago pelo menos 50% daquele valor. A empresa HCB amortiza 250 milhões de dólares também em 2006.

No seu conjunto, são amortizados 950 milhões de dólares, valor abaixo dos 2,3 mil milhões de dólares que estavam inscritos nos livros como dívida de Cahora Bassa ao Estado português.

O ministro de Estado e das Finanças não considera que se esteja perante um perdão de dívida, mas sim face a uma situação de custos irrecuperáveis, associados à situação de guerra vivida por Moçambique. Em termos técnicos pode considerar-se estar perante um tipo de operação harmónio, ou seja, redução de capital com diminuição de posição accionista.

"Cria-se um ambiente positivo que vai beneficiar as empresas portuguesas", afirma o ministro das Finanças, que recentemente se deslocou a Moçambique exactamente para desbloquear um problema com 30 anos.

Construção com ganhos. O sector português da construção e engenharia será um dos mais beneficiados, a curto prazo, com este acordo. "As empresas portuguesas vão ter direito de preferência nos projectos de energia que Moçambique está a desenvolver", afirmou Fernando Teixeira dos Santos nas declarações que fez ao DN. Segundo afirmou, o sector que mais beneficiará com este acordo será o da construção já que, sublinhou, "as empresas portuguesas têm grande 'know how' na construção e barragens".

O memorando consagra explicitamente o direito de preferência "em condições de igualdade" em futuros projectos no sector da energia, particularizando a concretização da Central Norte de Cahora Bassa. Um projecto hidroeléctrico considerado fundamental para aumentar a produção da barragem, posicionando Moçambique como o grande exportador de energia da África Austral. A central funcionará ainda como um reservatório de água para o vale agrícola do Zambeze.

Segundo o comunicado ontem difundido pelo Ministério das Finanças, o entendimento "permitirá realizar importantes investimentos no sector energético, a consolidação de diversos projectos industriais e o desenvolvimento agro-industrial do vale do Zambeze".No quadro do acordo, os Estados deixam de ter responsabilidade do fornecimento da energia de Cahora Bassa, como acontecia até agora. Serão as empresas, a HCB e a Eskom a assumir essa responsabilidade.

Sócrates satisfeito. A assinatura do memorando de entendimento sobre a Hidroeléctrica de Cahora Bassa "é um acordo histórico para Portugal e Moçambique", disse ontem o primeiro-ministro José Sócrates, manifestando a sua "satisfação pessoal por ter sido agora possível concluir uma negociação que já se arrastava desde 1975". Na sua opinião, "este é um bom acordo para os dois países, reflecte uma múltipla confiança entre ambos e potencia boas relações para o futuro." Sócrates salientou que este entendimento também "honra a nossa história".

Por seu turno, o presidente moçambicano, Armando Guebuza, confessou que já desde a manhã de ontem estava "convencido que isto tinha de acabar hoje. E acabou mesmo. O acordo aconteceu e demonstra o nível de bom relacionamento e de amizade existente entre os dois governos e os dois povos". E anunciou "Daqui a pouco Cahora Bassa passa a ser gerida por Moçambique".

* com Daniel Lam
DIÁRIO DE NOTÍCIAS - 03.11.2005

01-11-2005

Nkomo: desculpa-me a chateação!

ADELINO BUQUE
“Se Buque procurasse informar-se sobre as condições então exigidas para a travessia na ponte de Púnguè talvez não passasse pelo espanto que passou e não nos chateasse, hoje.”, (Nkomo).
Francamente. Aceite o meu pedido de desculpas.
Não era minha intenção chatear o senhor e muito menos as pessoas a que se refere no seu artigo. Na verdade, escrevi pensando que fosse um diálogo entre Nkomo e eu. Nem sabia da existência de um grupo que se ocupava da investigação de seja o que fosse quando, a dado passo do seu artigo, diz e cito: “O artigo referido por Buque
surge apenas em resposta à nossa consciência de cidadania, no âmbito de um exercício democrático reinante no nosso país”.
Mas vamos ao que interessa.
Em resposta a tal carta, que chateou o grupo do senhor Nkomo, aparece um dado interessante, que revela a ingenuidade militar do Matsanga. Na verdade, como é que um comandante que se preze age como agiu no fatídico 17 de Outubro? Segundo conta o grupo, “durante o tiroteio de 17 de Outubro de 1979 na Gorongosa, apercebendo-se da presença de um tanque militar governamental que ia disparando a torto e a direito, escudando-se os atacantes no interior dele, Matsangaíce entendeu pegar numa granada e correr com ela para introduzí-la na escotilha daquela máquina, de modo a imobilizá-la. Exactamente no momento em que ia atirar o engenho para o interior do tanque, uma bala disparada por um soldado governamental atingiu-o mortalmente”.
Acredite, caro leitor, eu não sou militar nem entendo lá muito dessa técnica, mas acredito que um homem que goza da sanidade mental não vai se expor tal como se relata que o fez o comandante André Matsangaíce, para quem começava a simpatizar com a estória fica com a impressão de que o seu líder não passava de um aventureiro,
nada mais.
Só um pequeno detalhe: não existe um “rebanho” de buques e julgo que por essa via está claro também que não há imagens a serem cuidadas, aqui e neste artigo está o meu exclusivo exercício de pensamento, não é, por conseguinte, um pensamento do grupo e nem sei se o partido a que pertenço subscreve isto, por uma razão muito simples: nunca ninguém desse partido me disse particularmente ou em público que tinha feito bem em defender este ou aquele posicionamento.
É interessante como busca o termo nó-górdio para sustentar as operações militares no período de guerra de desestabilização, há, de facto, referências inegáveis da nossa história de luta de libertação mesmo olhando de um ângulo difícil, que bom!
Eu disse e reitero a minha admiração pela forma frontal como Nkomo aborda as questões que para uns são autênticos tabus. Este debate, embora tenha chateado o grupo de Nkomo, só é possível porque Nkomo deu a cara e disse o que disse, muitos de nós nunca tínhamos visto a imagem do Matsanga, mas graças às suas publicações passamos a conhecer o homem que é herói para uns e bandido para outros, quando em 2004 publicou o livro sobre o Reverendo Uria Simango de entre o público que lotava o Franco estava lá este Buque exactamente porque gosto das suas abordagens sem pretender assimilar os seus ideais sócio-políticos como é óbvio, será possível para si, caro Nkomo, esta relação sem ferir a ninguém!
Pela forma como apresenta o seu pensamento me parece o único com direitos constitucionais não admitindo que eu pense diferente sem que isso signifique inimizade.
Se aceita o meu conselho, continue a publicar o que souber sobre a estória da nossa sociedade, não se importando em agradar a este ou àquele, quanto questionar o que escreveres isso vai acontecer sempre e não deve ser motivo de se antagonizar com os leitores mesmo que esse leitor se chame Adelino Buque. Valeu, Nkomo!
CORREIO DA MANHÃ (MAPUTO) – 01.11.2005
Veja:

31-10-2005

Malawi alvo de guerra de Samora Machel

MediaFAX está na posse de documentação que indicia tal facto
Maputo- O falecido presidente Samora Machel, tinha o Malawi, como alvo de guerra para derrotar o então MRN (Movimento de Resistência Nacional), então denominado oficialmente por bandidos armados.
De recordar que o Malawi nessa altura era um importante bastião do movimento de Afonso Dhlakama, no seu combate contra o Governo liderado pela Frelimo.
De acordo com alguns documentos recuperados em Mbuzini, local onde despenhou o avião presidencial, cujas cópias estão em poder do mediaFAX, na véspera dos factos, mais concretamente em 16 de Outubro de 1986, Samora reuniu-se com uma delegação zimbabweana em Maputo, para traçar-se a respectiva estratégia.
No encontro em que a delegação zimbabweana era chefiada por E. D. Munangagwa, então ministro da Defesa, Samora traçou uma estratégia que assentava em duas saídas.
A primeira, com o envolvimento do Zimbabwe, consistia em persuadir o Malawi a aceitar que as FPLM (Forças Populares de Libertação de Moçambique) fizessem um desdobramento Zambézia/Tete/Zambézia através do seu território na luta contra os guerrilheiros do MRN, actualmente Renamo.
Segundo Samora só assim o Malawi iria provar não ser inimigo.
“Essa é a maior prova de que ele (Malawi) não é a base do inimigo, prova evidente de que não quer guerra em Moçambique”, disse Samora nesse encontro.
O plano incluía ainda a permissão do trãnsito de militares zimbabweanos pelo Malawi em direcção a Moçambique no seu apoio às FPLM.
Por outro lado, o Malawi deveria participar na protecção das colunas de camiões no corredor, Beira/Chimoio/Tete/Malawi.
“Esta é a parte política, e, só pode ser feita por gente da segurança e contrainteligência”, defendeu Samora na reunião.
A segunda saída que devia ser em paralelo com a outra era derrubar o governo de Kamuzu Banda, então presidente do Malawi e colocar nova liderança.
“Moçambique e Zimbabwe devem descobrir nova força no Malawi. Banda está gasto. Não deixemos a África do Sul colocar a direcção no Malawi. Não deixemos os ingleses, os americanos, a RFA (República Federal da Alemanha) escolher os líderes para o Malawi”.
“Ganhemos o povo inteiro do Malawi todo”. “Ganhemos a maioria”. “Aqui estamos a seguir a teoria de Mão Tsé Tung: ganhar a maioria, isolar a minoria e aniquilar um por um”, argumentava Samora Machel.
No plano defendido por Samora , este advogava que também devia-se “organizar uma frente de libertação do Malawi, equipar e infiltrar no Malawi para liquidar os bandidos lá”.
“O melhor combate é transferir a guerra da tua zona para a do inimigo e fazer dela uma carreira de tiro”.
“No boxe mexemos o inimigo com a mão esquerda, para apanhar uma abertura e dar o golpe final: na boca do estômago (o adversário vai-se dobrar três vezes)”, disse Samora nessa reunião que teve lugar três dias antes da sua morte, um encontro em que Samora fez questão de mandar fora da sala do encontro o embaixador do Zimbabwe em Maputo, H. E. M. Vundura.
(JC).
MEDIA FAX – 31.10.2005

29-10-2005

Homenagem aos pára-quedistas tombados nas lutas travadas entre 1974 e 1996

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No dia 22 de Outubro foi descerrada no museu militar de Joanesburgo uma lápide de justa homenagem, constando nela o nome de todos os pára-quedistas heroicamente tombados pela causa que os fez lutar na guerra de 20 anos compreendidos entre 1974 e 1994 prolongando-se ainda nas lutas por este país até 1996.
Entre eles estão nomes de Portugueses e entre estes os dos nossos queridos compatriotas 1º Sargento Francisco Daniel Roxo HC, Sargento José Correia Pinto Ribeiro "Carnaval" e Sargento Ponciano Soeiro.
A lápide foi descerrada pelo Coronel Jan Breytenbach o "Pai" de todos eles.
Os nossos referidos compatriotas tinham feito neste país o curso de pára-quedista militar.
Mais um motivo de orgulho, mais uma vez os nossos corações palpitaram felizes, mais uma justiça foi feita e vem-me de novo à lembrança Camões:
Tudo vale a pena... A nossa alma não é pequena!
Manuel Resende Ferreira.
Legendas:
Foto 1 Homenagem a pára-quedistas tombados em combate 22 de Outubro 2005.
Foto 2 Coronel Jan Breytenbach.
Foto 3 Coronel Jan Breytenbach e o Sargento Fred Kruger, o homem desta nobre e feliz ideia.

24-10-2005

Samora morreu numa missão de guerra

Mbuzini, 19 anos depois 
O desastre de Mbuzini, ocorrido vai para 19 anos, continua na mente de todos os moçambicanos. As opiniões divergem quanto ao que terá realmente acontecido na noite de 19 de Outubro de 1986. Acidente ou sabotagem? Eis a grande questão. 
[ZAMBEZE - 10/18/2005]
 

Almeida Santos não diz a verdade

Porque será que, tantos anos depois, continua Almeida Santos a não querer dizer a verdade, misturando factos não acontecidos, com outros mal contados.
Peço-vos para atentarem neste pequeno video antes de continuarem:
São dois pequenos excertos de um programa da SIC  "Marcelo Caetano, A corda na garganta" apresentado em 1999.
Na primeira parte pode-se ouvir Almeida Santos a dizer que já se não ia tranquilo à Nammacha ou ao Bilene. Se bem me lembro, só depois de Setembro de 1974 tal aconteceu. Mas ainda há milhares de testemunhas vivas para desmentirem o Dr. Almeida Santos.
No segundo trecho resume a história da Companhia de Omar, contando uma história em que teria sido entregue à delegação portuguesa uma cassete que depois trouxe e entregou ao General Spínola.
A verdade é que Almeida Santos esteve em Dar-es-Salam apenas a 15 de Agosto de 1974, quando, na realidade,  a cassete foi entregue ao Major Melo Antunes a 2 de Agosto, tendo sido ele que a trouxe para Portugal e entregue ao General Spínola na realidade na companhia de Almeida Santos.
Vê-se assim que em 1999 ainda se branqueava a ida de Melo Antunes a Dar-es-Salam de 31 de Julho a 2 de Agosto de 1974.
E o segredo só foi desvendado quando o Comandante Almeida e Costa o relatou em 2004.
Veja em
e faça depois o seu juízo.
Será que tudo isto virá no seu livro? Em que termos?
Fernando Gil

21-10-2005

ANDRÉ MATSANGAÍCE: DA REALIDADE HISTÓRICA; DO MITO, ATÉ A MORTE DE UM HOMEM

Por Barnabé Lucas Ncomo
Comemorou-se no passado dia 17 de Outubro mais um aniversário do passamento físico de um homem. Passaram então 26 anos desde o dia em que André Matsangaíce, bandido para uns, herói nacional para outros, de pés firmes na terra que o viu nascer, caía em combate por uma causa.
Passados que são estes 26 anos, a nós, nada nos resta senão “ensinar” aos homens de amanhã:
Na história da humanidade jamais existiu bandido ou terrorrista algum que vergou um regime político de um estado soberano. Existiram, sim, homens munidos de ideais políticos, que lutaram contra alguns regimes políticos até a queda destes. É que, longe de ser um atributo político, o conceito de bandido outerrorista é sempre uma atribuição política.
Leia o texto integral em
ZAMBEZE, 20.10.2005

É tempo de dizer a verdade sobre Mbuzini!

Passam 19 anos após a morte trágica do primeiro Presidente de Moçambique, o Marechal Samora Moisés Machel, vítima de um acidente aéreo ainda não esclarecido ocorrido na região de Mbuzini na cordilheira dos Libombos, a noroeste de Maputo.
Vários foram os palpites publicamente lançados sobre as verdadeiras causas da morte de Samora, avultando a versão, ainda não comprovada, do governo moçambicano, segundo a qual, Samora Machel foi assassinado pelo então regime do “Apartheid” da África do Sul.
Essa vaga acusação nunca chegou a ser substanciada em instâncias apropriadas, isto é, Moçambique nunca fundamentou as suas acusações contra o regime do “Apartheid” e nunca se queixou desse regime em nenhum tribunal internacional apropriado. Apenas acusou na imprensa nacional e internacional.
Por seu turno, a União Soviética, proprietária do avião e da tripulação, fez coro às acusações vagas contra o regime do “Apartheid”sem, no entanto, ajudar Moçambique a consubstanciar tais acusações em foros apropriados.

O ponto principal é que existem três versões fundamentais sobre as prováveis causas do acidente fatídico de Mbuzini:

• “O terrorismo de Estado” perpetrado pelo regime do “apartheid”, insistentemente alegado pelo governo de Moçambique;
• “alguém em Moçambique que facilitou tal acto”, como publicamente o declarou Graça Machel, em várias ocasiões;
. ou tudo foi “consequência de erros e negligência da tripulação”, como parece ser a conclusão principal da Comissão internacional de inquérito, que investigou o acidente e publicou o seu relatório.

Depois de longos meses de trabalho da Comissão de Inquérito sobre o acidente, o governo de Moçambique declinou aceitar as suas conclusões recomendando a continuação das investigações, o que, na prática, não tem acontecido, uma vez que o próprio governo de Moçambique pouco ou nada tem feito para que algo de novo viesse à superfície sobre a morte de Samora Machel.
Quanto à senhora Graça Machel, que acusara publicamente “alguém” de Moçambhique de ter facilitado a morte de seu esposo, a mesma Graça Machel veio, mais tarde, declarar que não tinha provas do que dizia.
A questão de possíveis erros técnicos da tripulação na origem do acidente de Mbuzini está, razoavelmente, documentada em relatórios e pareceres da comissão investigadora e dos governos participantes.
O livro de João Cabrita, “A morte de Samora Machel”, lançado esta semana em Maputo, proporciona muito útil informação para se tirar as conclusões sobre o que, realmente, se terá passado na fatídica noite do dia 19 de Outubro de 1986.
Os defensores da teoria de “terrorismo de Estado” sustentam a sua tese, baseando-se num hipotético VOR (Rádio-ajuda à navegação aérea) falso, instalado algures nas montanhas, que teria desviado o Tupolev presidencial da sua rota com destino a Maputo.
“Os que defendem a versão de que o desastre de Mbuzini se tratou de um crime premetidado alegam que teria existido uma rádio-ajuda – o chamado VOR – transmitindo na mesma frequência que a do VOR do aeroporto de Maputo, e que fez com que o Tupolev presidencial se desviasse da sua rota, acabando por provocar a colisão do mesmo”, escreve Cabrita no seu livro, acrescentando que “os argumentos apresentados por Moçambique e pela União Soviética para provar não apenas a existência mas também o recurso a um VOR falso como forma de se provocar o acidente, simplesmente, não convenceram.
Ambos os países, aliás, defenderam pontos de vista de tal modo contraditórios que acabariam por tornar inconsistente a tese do VOR falso.
Sintomático da insustentabilidade dessa tese é o facto de ainda hoje, passados que foram 19 anos desde a data em que ocorreu o desastre, as autoridades moçambicanas continuarem a admitir ser difícil provar a existência do VOR falso”.
Presume o livro de Cabrita que ao insistir na teoria do VOR falso, Moçambique pretendia fazer um aproveitamento político da morte de Samora Machel com um duplo propósito em mente.
Por um lado, utilizar a morte de Samora Machel no âmbito da luta contra o “apartheid”, apresentando o desaparecimento físico como mais um exemplo de agressividade de Pretória em relação aos seus vizinhos.
Por outro lado, ajudar a União Soviética a encontrar uma forma airosa de se desenvencilhar do embaraço de ter que admitir publicamente que, por negligência, uma tripulação sua causara a morte do chefe do Estado de um país aliado.
Ainda os investigadores não haviam concluido a fase da recolha de dados, já o vice-ministro soviético de aviação civil dizia que o acidente de Mbuzini só poderia ter sido consequência de uma das três causas por ele enumeradas, nomeadamente o abate da aeronave por fogo disparado a partir do solo; uma explosão a bordo do avião; ou ainda interferência provocada por aparelhos radiotransmissores situados em território sul-africano. Excluida estava, pois, a hipótese de erro da tripulação”.
O livro de Cabrita sublinha que Moçambique viria a dar o seu aval à teoria soviética sobre o VOR falso, “não obstante o facto de contrariar flagrantemente o parecer emitido por peritos moçambicanos”.
A dado passo, o livro sobre a morte de Samora Machel elucida que “tanto Moçambique como a União Soviética nunca acusaram formalmente a África do Sul de ter utilizado o VOR falso, se bem que, para o consumo público, se alegasse o contrário.
Inexplicavelmente, o governo de Moçambique, apesar de ter rejeitado as conclusões da Comissão de Inquérito, nunca contestou, junto da Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO), o teor do respectivo relatório, com a agravante de um jurista moçambicano representar o país no Conselho de Administração daquele organismo das Nações Unidas.
E não obstante o facto de as autoridades moçambicanas publicamente declararem que Samora Machel foi vítima de um crime de terrorismo de Estado, elas nunca recorreram às instâncias jurídicas internacionais para fazerem valer a sua tese, especialmente quando os acusados de presumíveis autores ainda detinham o poder em Pretória e que facilmente poderiam ter sido levados à barra dos tribunais pois representavam um regime que havia atraído contra si a antipatia quase generalizada da comunidade internacional”.
Chegados aqui, ocorre-nos indagar o por quê de o governo moçambicano, sendo sério no que diz sobre a sua convicção em relação aos presumíveis autores da morte de Samora Machel, não fez mais do que falar para demonstrar sua indignação em relação à morte e sua convicção em relação aos presumíveis autores?
Quando o governo de Moçambique afirma que, do lado moçambicano, as investigações sobre a morte de Samora prosseguem o que é que, exactamente, pretende comunicar? Pretende comunicar que o governo ainda está a investigar ou que o governo, de facto, nunca fez o necessário para demonstrar a sua vontade em esclarecer a morte de Samora?
Por que é que a senhora Graça Machel abandonou a sua tese da conspiração interna na morte de Samora? Terá deixado ela de estar convencida de que alguém de dentro tinha interesse em matar Samora ou, pura e simplesmente, abandonou essa tese em troca de sua acomodação no seio da família Frelimo?
Assim, e por ocasião de 19 de Outubro de 2005 exigimos que as autoridades moçambicanas mostrem a sua coerência e seriedade em relação à morte de Samora Machel. Basta de evasivas e de acusações vagas não consubstanciadas em actos jurídicos pertinentes.
É tempo de o governo de Moçambique, por sinal chefiado pelo ainda chefe da Comissão Nacional de Inquérito sobre o Acidente de Mbuzini, Armando Guebuza, encontrar uma forma de explicar ao povo moçambicano quem matou Samora Machel e por que é que o mataram. Trata-se de um imperativo histórico que jamais caduca.
É tempo de ouvirmos a verdade sobre as partes nebulosas da nossa História!

Salomão Moyana - ZAMBEZE - 20.10.2005

Ainda a entrevista de Almeida Santos ao DN

Em continuação da nota de rodapé colocada após a entrevista de Almeida Santos ao Diário de Notícias e que encontra em
acrescento, pensando nos menos informados e para os que se fazem de esquecidos, a transcrição de dois parágrafos do livro de Ruy Miguel ( ao tempo jornalista do Diário de Notícias)  no seu livro "25 de Abril, O Marxismo na Revolução":
"No seu livro "Tempo de Subversão", o conhecido dirigente comunista Carlos Brito, deu preciosas achegas para a nossa tese de que o Movimento dos Capitães primeiro, o Movimento das Forças Armadas depois, foram controlados pelo Partido Comunista Português. E, curiosamente, "lendo nas entrelinhas", o panorama torna-se suficientemente claro para não ter dúvidas.
Recordando um encontro entre as direcções do PCP e do PS recém criado, escreve que: "Foi deste último(encontro Cunhal-Soares) que saiu o importante comunicado conjunto reclamando o fim da guerra colonial e a relização de negociações com vista à independência imediata de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique." e recorda que isso "representava um grande progresso" pois em 1970, em Roma, o representante da ASP recusara "subscrever a defesa do direito à independência imediata dos povos das colónias"."
Estas considerações de Carlos Brito(PCP), só vêm confirmar a notícia seguinte, aliás nunca desmentida:
"REPORTAGEM ESPECIAL
Por John C. Wahnon
Os Secretários-Gerais do Partido Comunista Português (PCP) e Partido Socialista (PS, juntamente com outros membros dos Partidos, reuniram-se em Paris em Maio de 1973 para estudarem as possibilidades de canalizarem o descontentamento então evidente em certos sectores das Forças Armadas Portuguesas no sentido de estruturarem um movimento militar capaz de derrubar o Governo Português. Desde o inicio, o PCP provou ser tão altamente organizado e conhecedor da situação que maravilhou e convenceu o PS a juntar-se ao movimento.
0 PCP tinha fichas detalhadas de todos os oficiais portugueses e contava com um número surpreendente de membros e simpatizantes nas Forças Armadas e nos sectores de Serviço Público. 0 Secretário-Geral do PCP decidiu, contudo, par razões óbvias, que não se aventuraria em certas actividades para evitar que riscasse a posição que tinha adquirido. Portanto, delegou no PS, então praticamente desconhecido e por consequência menos susceptível de causar suspeita, a responsabilidade de fazer o trabalho sujo. 0 PS atacou as medidas do Governo Português enquanto o PCP generosamente financiou as operações. Moscovo, a fonte desses fundos, só impôs uma condição:
- Independência imediata a todas as colónias portuguesas e transferência das respectivas soberanias, sem eleições, aos movimentos pró-russos.
0 Acordo final, respeitante às condições impostas pela Rússia, foi assinado numa reunião a que compareceram cinco comunistas e quatro socialistas, no primeiro andar de um restaurante de Paris adjacente a Farmácia da Ópera. Há quem afirme que o PCP ou o PS, mas não ambos, assinou o acordo final com a Rússia. Seja como for, o acordo tinha duas cláusulas:
1- Entrega de dinheiro: a Rússia contribuiria inicialmente com dois milhões de dólares para financiar a organização do golpe de Estado que derrubaria o Governo Português.
2 - Compromisso: 0 PCP e o PS comprometiam-se a dar Independência imediata às Colónias Portuguesas representadas na Reunião, para a ocasião, pelo PAIGC, MPLA e FRELIMO.
0 que sucedeu em Moçambique, Guiné, Cabo Verde e Angola, foi de tal forma vergonhoso, que os responsáveis pela concessão da independência, só se atreveram a cobrir a sua traição a Portugal, e às populações locais, com loucas generalidades de óbvio cultivo soviético. Os partidos opostos à FRELIMO em Moçambique, ao PAIGC na Guiné e Cabo Verde e ao MPLA em Angola, foram perseguidos e por decisões totalitárias e fascizantes, proibidos de defender os ideais que sustentavam.
In Newsletter Boston, MASS-USA - Agosto de 1976 Volume I- N.º 2."
Voltando ao livro atrás referido, de Ruy Miguel, aproveito para transcrever mais o seguinte:
"O 25 de Abril foi um autêntico "jogo de guerra". Jogou-se com o factor psicológico, com a falta de comando (por vontade de Marcello) e, portanto, com a falta de reacção das tropas que, disciplinadamente aguardaram ordens para sair dos quartéis.
Vem a propósito recordar que, o Comandante da Região Militar de Tomar apenas se rendeu ao fim da manhã do dia 26 de Abril.
Tanto os carros de combate como os soldados que participaram no "golpe" não dispunham de munições reais. Só ao fim da tarde, já depois da saída de Marcello do Carmo, andaram camionetas a distribuir munições.
Salgueiro Maia, o falecido capitão de Cavalaria, que avançou de Santarém, com carros de combate, infelizmente já não pode responder à pergunta: quem lhe terá dito que não encontraria oposição de fogo, em Lisboa, à qual não poderia responder com as suas granadas de instrução?
Quem o teria informado? O comando do MFA, o PCP, ou tratou-se apenas de "um espírito santo de orelha"? Estou firmemente convencido que Salgueiro Maia tinha a certeza que as forças leais ao Governo não abririam fogo sobre si e os seus soldados."
Será que Almeida Santos se lembrou destes factos para o seu livro? Ou Mário Soares o lembrará? Ou serão irrelevantes?
Fernando Gil

20-10-2005

Livro critica falhas da segurança na morte de Samora Machel

Maputo, 19 Out (Lusa) - Os serviços de segurança moçambicanos cometeram diversos erros durante a viagem aérea de Samora Machel, denuncia um livro publicado em Maputo sobre o desastre que vitimou o presidente moçambicano, passam hoje 19 anos.
João M. Cabrita, autor de "A morte de Samora Machel", hoje lançado em Maputo, sobre o desastre aéreo de 1986 que vitimou Machel e mais 33 passageiros e tripulantes do voo presidencial, critica o comportamento do Ministério da Segurança - SNASP, na época dirigido por Sérgio Vieira.
"Terá forçosamente de explicar para a história da nação moçambicana as razões das graves lacunas observadas no sistema de segurança nacional no dia em que ocorreu o desastre", escreve Cabrita, sobre Sérgio Vieira, um dos defensores da tese de que o presidente moçambicano foi vítima de terrorismo de Estado, possivelmente do então regime de "apartheid" sul-africano.
A queda do Tupolev-134A, com tripulação soviética, ocorreu ao princípio da noite de 19 de Outubro de 1986, quando o aparelho regressava a Maputo, vindo da Zâmbia, onde Machel participara numa cimeira com os seus homólogos zambiano, Kenneth Kaunda, angolano, José Eduardo dos Santos, e zairense, Mobutu Sese Seko.
Por razões que continuam a gerar polémica, o aparelho embateu numa montanha na África do Sul, já bastante perto da fronteira com Moçambique, quando deveria estar a aterrar no aeroporto de Maputo.
De acordo com o autor do livro a "secreta" moçambicana falhou ao não garantir que o voo se mantivesse afastado do espaço aéreo sul- africano, "demais a mais estando aquele Ministério na posse de informações de que (a África do Sul) preparava um ataque directo contra Maputo e o derrube do regime de Samora Machel".
Falhas em "todas as estações de radar situadas na região sul de Moçambique", que não informaram do desvio de rota, inexistência de protecção eficaz à estação VOR (Rádio VHF Omnidireccional), na cabeceira da pista principal do aeroporto de Maputo, e o lançamento de operações de busca apenas quatro horas depois da perda de contacto da torre com o aparelho presidencial são outras situações denunciadas por Cabrita.
"Este livro é mais uma tentativa que tenho feito para apresentar uma versão diferente dos acontecimentos daquela que é hoje tida como a única", disse à Agência Lusa João Cabrita, em declarações por telefone a partir da Suazilândia, onde vive.
No livro, o autor denuncia igualmente o comportamento da tripulação soviética que acusa de estar "distraída com questões estranhas ao voo".
"O comandante procurava por uma caneta para anotar o número de cervejas e coca-colas a encomendar do bar da aeronave para a tripulação levar para casa após a aterragem em Maputo (Ó) o co-piloto escutava uma estação de rádio da União Soviética, que transmitia um boletim de notícias, seguido de um programa musical", refere Cabrita sobre o ambiente no +cockpit+, numa altura em que já havia sinais contraditórios sobre a rota seguida.
O lançamento de "A morte de Samora Machel" (edição Nováfrica, Maputo, 2005) realizou-se à margem das poucas iniciativas oficiais que hoje assinalam o 19º aniversário da morte do carismático primeiro presidente de Moçambique.
As cerimónias evocativas, dirigidas por Maria da Luz Guebuza, mulher do actual presidente de Moçambique, Armando Guebuza, decorrem no local do acidente, Mbuzini, nelas participando cerca de 600 pessoas, a maioria jovens do movimento "Continuadores".
Também hoje, o Centro de Documentação Samora Machel, dirigido pela sua viúva, Graça Machel, inicia um programa de comemorações culturais e recreativas que decorrerá durante um ano.
LAS.

19-10-2005

Almeida Santos em entrevista à RDP Africa e publicada no Diário de Notícias

Almeida_santos10Traz, hoje, o Diário de Notícias a transcrição da entrevista de Almeida Santos ontem dada à RDP África.
Devido à importância que a acção de Almeida Santos teve para com Portugal e os ex-territórios portugueses em África, transcrevo a mesma, seguida de comentários e chamadas de atenção minhas, que poderão encontrar em
E não deixe de colocar aqui o seu comentário.

Acordo militar continua no “segredo dos deuses”

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Revela Mariano Matsinha

O Acordo de Lusaka ainda não é do domínio público, sobretudo a parte militar que continua secreta. Ela existe, está guardada a sete chaves pelo Governo da Frelimo, de acordo com o veterano Mariano Matsinha, um dos seus negociadores. 

ZAMBEZE - 9/8/2005
Samora Machel, Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Alberto Chipande, Óscar Monteiro, Bonifácio Gruveta, Sebastião Mabote, Jacinto Veloso, Mariano Matsinha, Xavier Sulila, Joaquim Munhepe, Mateus Malichocho, João Phelembe, Joaquim de Carvalho, José Mosane e Graça Simbine, são os filhos da pátria moçambicana que há 31 anos, num frente a frente na “State House” em Lusaka, na Zambia, confrontaram-se com a delegação portuguesa liderada por Mário Soares para a assinatura do memorando que ficou conhecido nos anais da história por “Acordos de Lusaka”.

Volvidas três décadas da assinatura dos Acordos de Lusaka, um memorando de entendimento que pôs fim à guerra travada pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) contra a dominação colonial, o povo moçambicano ainda continua refém desse acordo assinado há 31 anos, em seu nome. Não obstante a data ser comemorada anualmente com pompa e circunstância, os que comandam os destinos da nação moçambicana, nunca lograram sequer pronunciarem de forma clara e ampla sobre as cláusulas deste acordo, até hoje, mergulhado naquilo que se chama de “segredo de Estado”. Estamos a falar do “acordo militar”, ainda não tornado público, mas que no decurso das negociações em Lusaka, constituiu o prato forte.

De acordo com o veterano da Frelimo Mariano Matsinha, um dos que constituiu a delegação moçambicana em Lusaka, “o Acordo de Lusaka é de domínio público, contrariamente ao Acordo Militar que se encontra nas mãos do governo do dia, e, sem ainda data para a sua publicação, de acordo com as parcas informações que diz ter.

A não publicação do referido documento até à data, é de acordo com palavras de Mariano Matsinha, é fruto de compromissos assumidos entre as duas delegações que estiveram reunidas na “State House”.

“Realmente trata-se de um documento importante para se compreender o processo em si, dos Acordos de Lusaka, mas o importante naquela altura era o reconhecimento por parte de Portugal que nós tínhamos direito à independência. Infelizmente não participei na discussão do “Acordo Militar”, e nem sei quais são as cláusulas plasmadas, mas acredito que os portugueses tinham as suas razões em pedir para que não fosse publicado, face à situação em que se encontravam.

O documento está guardado a sete chave pelo governo. Não conheço o seu prazo, mas acredito que a breve trecho será tornado público”, explicou o veterano da Frelimo.

A uma pergunta do ZAMBEZE sobre o cumprimento ou não das cláusulas dos Acordos de Lusaka, Matsinha garantiu que tudo até aqui corre (u) de feição e não há nada ainda por cumprir, tendo acrescentado que tudo quanto está plasmado no acordo de Lusaka, excepto o Acordo Militar é do domínio público e não sofreu alterações e nem omissões.

Hoje, passados 31 anos da assinatura dos “Acordos de Lusaka”, Mariano Matsinha, ora reformado da vida política activa, faz um balanço positivo sobre os mesmos acordos, sobretudo ao período em que o governo de transição tomou os destinos da nação moçambicana.

“Faço balanço positivo do governo de transição, pela coragem e determinação. É de louvar a coragem dos nossos homens que depois do cessar-fogo tiveram coragem de cair no quartel-general dos portugueses. É óbvio que os portugueses já não tinham muitas alternativas, porque o grosso já não queria continuar com a guerra. Mas nesse período, assistiu-se a distúrbios e sabotagens por parte dos portugueses e nós agimos com muita paciência, refere o veterano da Frelimo.

Recuado no tempo, como que a fazer o rescaldo dos acontecimentos, o nosso interlocutor referiu que a assinatura dos Acordos de Lusaka foi o culminar de um processo que iniciou com o golpe de Estado em Portugal, a 25 de Abril de 1974.

Foi assim no dizer de Matsinha que dois meses antes da assinatura dos Acordos de Lusaka, em Junho de 1974, as delegações moçambicana e portuguesa, chefiadas por Samora Machel e Mário Soares, respectivamente se encontraram pela primeira vez em Lusaka, mas sem no entanto se atingir os seus objectivos.

O interlocutor explica da seguinte forma: “A Frelimo ia com um poder máximo para negociar tudo, enquanto os portugueses apenas pretendiam assinar o acordo sobre o cessar-fogo, deixando tudo em suspenso. Estas foram algumas das dificuldades que tivemos em Junho, dai termos em conjunto elaborado um documento no qual informamos a Portugal que tínhamos negociado mas que ainda não se tinha chegado a um acordo definitivo. Eles por exemplo não sabiam qual era o destino a dar às colónias. A delegação Portuguesa de Junho não tinha poder. O poder político e militar estava nas mãos das forças armadas daí que mais tarde a Frelimo teve que encetar negociações secretas com o movimento militar, na Bélgica, Argélia, Tanzânia, entre outros países. Em linhas gerais, nós educamos os portugueses que era preciso resolver o problema das colónias. Enfrentamos outros percalços porque o general António Spinola continuava amarrado a ideias de federalismo porque tinha esperança que as suas ideias iam vingar.

Ainda sobre os acordos, nós já tínhamos comunicado aos nossos camaradas sobre a data e a hora da entrada em vigor do cessar- fogo e nessa altura os nossos homens já estavam nos quartéis portugueses, e enviamos Alberto Chipande para o quartel general Português em Nampula e depois para Lourenço Marques para restabelecer o processo de paz e evacuar as tropas portuguesas”, explicou.

O nosso interlocutor acrescentou que depois das manifestações havidas depois do 7 de Setembro de 1974, houve uma pressão em Portugal para se parar porque caso os reaccionários portugueses continuassem com os desmandos a guerra iria continuar.

A rematar, Matsinha que manteve dois dedinhos de conversa com a equipa de reportagem disse sentir-se lisonjeado por ter feito parte da delegação das negociações que culminaram com a assinatura dos Acordos de Lusaka e explica porquê: “Moçambique hoje tem um grande prestígio a nível mundial, contrariamente ao tempo colonial em que eram vistos como deslocados de guerra. Por outro lado, sinto-me prestigiado por ter vivido e sentido o peso do período colonial (o racismo, a humilhação, entre várias dificuldades) dai ter uma experiência especial”, salientou.
Celso Ricardo
Nota: Por lapso, só agora aqui publico este texto tão importante para portugueses e moçambicanos. As minhas desculpas. Fernando Gil

16-10-2005

António Guterres responde (1974)

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Perguntas:
-Há quem diga que se perdermos as colónias estamos destinados a ser uma província espanhola.
-Acha que Portugal pode manter a sua independência política, viver e desenvolver-se, sem as colónias?
António Guterres
Antes de mais importa referir que, bem acima dos eventuais problemas económicos que daí pos­sam decorrer, está o direito indiscutível dos povos das colónias à sua emancipação.
Emancipação que, para além do estatuto de in­dependência política, deve compreender a libertação das sujeições económicas de tipo neocolonial. Mesmo que isto criasse a Portugal graves dificuldades eco­nómicas, estas em nada poderiam afectar o reconhe­cimento e a aplicação prática desse direito.
Não me parece, porém, que o povo português tenha muito a temer com a separação dos territó­rios africanos. A exploração a que estes têm vindo a estar sujeitos nunca foi conduzida em termos de beneficiar generalizadamente a população, mas foi sim utilizada sistematicamente como instrumento ao serviço da riqueza e do poder dos grupos econó­micos dominantes, em perfeito paralelismo aliás com a própria exploração das classes trabalhadoras do continente. A estratégia desses grupos, no entanto, apontava cada vez mais para a sua inserção numa lógica europeia, em detrimento da dependência de relações coloniais.
Poderemos talvez analisar com um pouco mais de cuidado os dois elementos económicos que con­sidero mais importantes nas relações de Portugal com as colónias. Em primeiro lugar a exploração de matérias-primas, em segundo lugar as possibili­dades de exportação em condições preferenciais para os mercados africanos.
Quanto ao primeiro, há que referir que essa ex­ploração sempre foi feita de forma incipiente e na maioria das vezes ao serviço puro e simples de in­teresses estrangeiros. Nunca foi empreendida a va­lorização sistemática dos recursos naturais ultra­marinos, e o aproveitamento destes, quando feito directamente por portugueses, sempre se revelou deficiente. E se é indiscutível que foi possível às empresas portuguesas a importação a baixo custo de algumas matérias-primas, como o algodão ou o sisal e mais recentemente o acesso a fontes seguras de minério de ferro e petróleo bruto, não é menos verdade que a mesma política colonial impedia a Portugal a compra desses mesmos produtos, em condições por vezes concorrenciais, noutros merca­dos que se fechavam.
Quanto às exportações para a África, cujos dois principais elementos têm sido os têxteis e o vinho, há que reconhecer que os próprios grupos econó­micos autóctones vinham protestando já há algum tempo com a forma como decorriam, e com a sujei­ção que em nome dos exportadores europeus era imposta às possibilidades de desenvolvimento das indústrias locais. Manter este tipo de relação, aliás cada vez mais difícil mesmo antes do 25 de Abril, só servia a subsistência de algumas empresas mais re­trógradas, menos capazes de reconverter e moder­nizar as suas instalações industriais e de conseguir condições de competitividade nos mercados europeus que, pela sua dimensão, se afiguram bem mais pro­missores. Se é verdade que o principal estrangula­mento ao desenvolvimento industrial português está na exiguidade do mercado interno, então há que saber reconhecer que é no contexto europeu que pode encontrar-se solução para esse problema. An­gola e Moçambique, no seu conjunto, não represen­tam mais, em termos de consumo, que escassos dois milhões de consumidores europeus.
Apesar de tudo nada impedirá, mesmo com a independência, a importação de bens portugueses, sobretudo de equipamento, se estes forem os que corresponderem às necessidades de desenvolvimento dos novos países e se a indústria portuguesa souber encontrar uma competitividade que, mais uma vez, só lhe é possível com a inserção simultânea nos mercados europeus. Assinale-se ainda que se abrirão a Portugal novos mercados, quer os dos países socialistas, quer os do Terceiro Mundo, cujo acesso estava vedado por razões políticas e que, no
seu conjunto, mais do que compensam aquilo que eventualmente se perca.
Finalmente e talvez mais importante que tudo o resto, está o impacte que pode causar na economia portuguesa a canalização pelo Estado para in­vestimentos produtivos e de alcance social das verbas até agora consignadas às defesas militares. Se o Governo tiver o carácter e a força política capazes de as pôr ao serviço de todo o povo portu­guês e não do simples benefício e expansão dos grupos económicos privados e da classe dominante em geral, creio ser possível o início de um período acelerado do desenvolvimento. Desenvolvimento para o qual espero possa concorrer também o estancamento da emigração, e mesmo o seu retrocesso, e o próximo regresso do contingente militar em ser­viço nas colónias.
Não é hoje possível no Mundo, a um país como o nosso, uma situação de total independência. Penso no entanto que, desse ponto de vista e pelas ra­zões apontadas, Portugal só tem a ganhar com o fim da actual situação de exploração colonial. O que comprometia a independência nacional era sim o caminhar obstinado para um beco sem saída, en­quanto cada vez mais os trabalhadores mais válidos do país iam emigrando, na luta por condições míni­mas de vida e de trabalho.
In Portugal pode viver sem as colónias? - 1974

Dhlakama escala Gorongosa e Marínguè

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Para celebrar 26 anos da morte de Matsangaíssa
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O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, desloca-se no próximo dia 17 de Outubro ao distrito de Marínguè, província de Sofala, para celebrar o vigésimo aniversário da morte de André Matsangaíssa, primeiro líder daquele antigo movimento rebelde.
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Soube o Zambeze on-line de fontes da perdiz que as cerimónias comemorativas dos 26 anos da morte de Matsangaíssa começam no próximo dia 16 de Outubro, na vila de Gorongosa e serão liderado por Dhlakama.
“A vila de Gorongosa e um local histórico para Renamo, pois foi nesse local que André Matsangaíssa iniciou a luta pela democracia e liberdade para Moçambique, e, foi na mesma zona onde perdeu a vida”. Indica a fonte. Acrescenta que no dia 17, data da efeméride, na vila de Marínguè, serão realizadas as cerimonias centrais que incluirão um comício popular orientando pelo presidente da Renamo Afonso Dhlakama.
De referir que os distritos de Gorongosa e Marínguè foram bastiões do então movimento rebelde. Ė nas mesmas zonas onde até hoje se propala a existência de homens armados e esconderijos de armas.
Raul Senda - ZAMBEZE - 14.10.2005

15-10-2005

A MORTE DE SAMORA MACHEL (2)

"A Morte de Samora Machel"
© João M. Cabrita 2005
Edições Novafrica - Maputo – Moçambique
Introdução
Cerca de duas décadas após a morte do Presidente Samora Machel, persistem dúvidas quanto às circunstâncias do desastre ocorrido em território sul-africano, envolvendo a aeronave que o transportava. E não é para menos: antes de se ter nomeado a Comissão de Inquérito que investigaria as causas do desastre, já corria célere a versão de que o mesmo resultara de um acto de sabotagem. Posteriormente, os factos apurados pela referida comissão e as conclusões a que chegou viriam as ser considerados, unilateralmente, como tendo sido "cozinhados" pelo então regime da África do Sul de modo a se apresentar a ocorrência como um mero acidente.
Leia em:
Veja:
Recorde:

14-10-2005

A Morte de Samora Machel

Livro_capa_w20019 anos após o desastre de Mbuzini persistem dúvidas sobre o que terá realmente acontecido na fatídica noite de 19 de Outubro de 1986 quando uma aeronave do tipo Tupolev-134A, sob os comandos de uma tripulação cedida ao governo de Moçambique pela então União Soviética, embateu contra a região montanhosa dosLibombos, em território sul-africano, causando a morte de Samora Machel e de outras 33 pessoas.

Será que de facto se tratou de um "acto de terrorismo de Estado" como insistentemente alegam as autoridades moçambicanas?

Terá havido alguém em Moçambique que facilitou tal acto, como publicamente o declarou a viúva do primeiro chefe de Estado moçambicano?

Ou foi tudo consequência de erros da tripulação?

Estas e outras questões pertinentes são tratadas em A Morte de Samora Machel. O autor reconstrói com rigor os momentos que antecederam o desastre, e desmistifica tudo quanto de fantasioso se tem propalado a respeito do sucedido há 19 anos, apoiando-se para tal num minucioso relatório da comissão de inquérito que investigou o acidente de Mbuzini, mas que em Moçambique continua a não ser do domínio público.
Para encomendar

13-10-2005

Bispo da Beira apela para maior divulgação acordo de paz

O bispo da Beira, Jaime Gonçalves, apelou quarta-feira para maior divulgação do texto do acordo geral de paz assinado em Roma há 13 anos entre a FRELIMO e a RENAMO, como implementação do diálogo em Moçambique.
Jaime Gonçalves, que participou nas conversações de 1992 na capital italiana que puseram termo a 16 anos de guerra civil em Moçambique, ilustrou o seu apelo com o facto de existirem poucas edições em língua portuguesa do acordo geral de paz.
"As casas editoriais a todos os níveis não fizeram uma publicação do acordo. Eu mesmo, que participei nas negociações, o texto que tenho está em inglês que foi publicado numa revista inglesa em Roma, apesar do acordo ter sido escrito em português", queixou-se o prelado. Jaime Gonçalves, que falava numa conferência evocativa dos acordos de Roma, considerou que o ambiente de paz se encontra "degradado" no país e apelou ao diálogo entre o governo e a RENAMO na questão dos homens armados que a oposição mantém no centro de Moçambique.
"Não posso dizer que temos que voltar a Roma para se ultrapassar o caso dos homens armados da RENAMO. É preciso que o governo e a RENAMO, tal como foi em Roma, dialoguem", exortou o bispo católico da Beira, capital da província de Sofala.
No mesmo dia em que Jaime Gonçalves fez estas declarações, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, condicionava a resolução do caso dos homens armados do seu partido à sua integração na Polícia da República de Moçambique (PRM).
Afonso Dhlakama, afirmando interpretar correctamente o acordo de Roma, exigiu que aqueles homens continuem a providenciar a segurança a dirigentes e quadros da RENAMO embora fardados e pagos pelo Estado moçambicano. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 13.10.2005

12-10-2005

Professora em Palma, nos anos 20 de 1900

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Sobre a minha Avó, posso dizer-te que se chamava Alice dos Santos Carreira, nascida em Bragança no dia 29 de Outubro 1901. Mãe de quatro filhos, António Carreira hoje com 80 anos, Natália Carreira., falecida com 76 anos em 1990 no hospital Curry Cabral, Telmo Carreira (meu Pai) já falecido com 72 anos em 2000 em casa, chegou a Moçambique e depois seguiu para Palma em 1923/25 não sei precisar.
Esteve um ou dois anos a dar aulas numa escola, e depois desse tempo seguiu para Mossuril, e depois para Porto Amélia onde esteve a leccionar também.
Aqui em Porto Amélia nasceu o seu 4º  filho o mais novo, meu tio Bebé Carreira, conhecido jogador de Basquetebol do Sporting de Lourenço Marques, hoje com 73 anos.
Mais tarde seguiu para Lourenço Marques onde esteve muitos anos a dar aulas na escola ??? Sepulveda  (João Belo), na Malhangalene , onde chegou a Directora da Escola.
Em 1976 veio para Portugal contrariadíssima, foi para Valença do Minho viver, depois veio para Cascais, Mem Martins , onde adoeceu gravemente,  vindo a falecer em Lisboa no Hospital de S. José em 1986...
Já agora o meu avô, seu marido, chamava-se Humberto Anastácio Carreira e morreu bastante novo em Lourenço Marques, em 1940, quando meu pai tinha 13 anos.
Esta é uma pequena história da minha avó contada pelo seu neto mais velho.
Rogério Carreira hoje com 50 anos.
Nota: O meu obrigado ao Rogério Carreira, por mais este exemplo de amor a Moçambique.

11-10-2005

Afinal o que é Madina do Boé?

Do livro de Manuel Domingues UMA CAMPANHA NA GUINÉ 1965/67 - HISTÓRIA DE UMA GUERRA, retiro este depoimento e as fotos que apresento, donde poderei concluir que a Inde pendência da Guiné-Bissau ão foi proclamada em zona libertada, mas antes "abandonada" e sem ninguém residente:
2.2 - Afinal o que é Madina do Boé?
Por Jorge Monteiro Capitão Mil0 da CCaç 1416
Nota: Este documento foi-me entregue por Jorge Monteiro e reproduz uma entrevista que concedeu ao Semanário de Luanda " A. Palavra", em 1 de Fevereiro de 1974. motivo próximo, conforme é referido pelo entrevistador, cujos comentários aparecem no texto em itálico, tem a ver com o facto de o PAIGC, em 24 de Setembro de 1973, ter proclamado a unilateralmente a Independência, exactamente em Madina do Boé.
significado político deste acto era muito mais importante do que o valor que Madina do Boé militarmente pudesse representar para o Exército Português, o que na altura parece ter passado despercebido aos estrategas militares. Mantivemos o texto integral da entrevista de quem viveu onze meses, naquele que em 1966/67 era considerado o pior local da Guiné. MD
Leia em
Campanha_guine_capaMadina__bo_1966                         Mapa_guine

Assessora de Agostinho Neto foi informadora do KGB

ACÇÃO DO KGB JUNTO DA FRELIMO
11-Oct-2005 

Uma "assistente política" do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, foi durante anos informadora dos serviços secretos da antiga União Soviética, KGB, segundo documentos incluídos num livro agora publicado nos Estados Unidos.
Por José Pestana
da Agência Lusa
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O livro "The World Was Going Our Way - The KGB and the Battle for the Third World" é de autoria do historiador britânico Christophher Andrew e do antigo agente e arquivista do KGB Vasili Mitrokhin, que em 1992 fugiu da União Soviética com o auxílio dos serviços secretos britânicos, levando consigo milhares de documentos que havia desviado ou copiado durante anos.

Mitrokhin, com a ajuda de Andrew, publicou em 1999 um primeiro volume baseado nesses documentos e intitulado " The Sword and the Shield", que confirma alegações anteriormente feitas pelo antigo agente do KGB Oleg Kalugin de que o Partido Comunista Português entregou aos serviços secretos soviéticos centenas de quilos de documentos dos arquivos da antiga PIDE/DGS e documentos de identidade portugueses para fabricar falsas identidades.

Mitrokhin morreu no ano passado, antes da publicação deste novo volume de mais de 600 páginas que visa essencialmente as actividades do KGB no Terceiro Mundo, com um capítulo dedicado a África.

No prefácio, Andrew faz notar que devido ao facto dos documentos trazidos para a Grã-Bretanha por Mitrokhin serem ainda considerados secretos o livro foi submetido a análise das autoridades britânicas que aprovaram a nível ministerial a sua publicação "após longos atrasos".

O livro revela que na hierarquia soviética havia grandes diferenças de opinião sobre Agostinho Neto, que não contava com a confiança do Ministério dos Negócios Estrangeiros soviético, nem do Departamento Internacional do Partido Comunista Soviético.

O livro afirma que embora os representantes do KGB em Luanda (designados por "residência") tivessem "contactos privados" com Neto "a mais importante fonte para conhecer as intenções de Neto, em 1976, era uma assessora politica (do presidente)".

"Com o nome de código VOMUS dado pela KGB, (a assessora) tornou-se um contacto confidencial da residência de Luanda, segundo a qual ela exerceu uma +influência+ favorável sobre Neto e outros elementos da liderança do MPLA, no combate à ideologia maoísta", lê-se no livro.

Sem identificar VOMUS, o livro afirma que esta informadora do KGB foi detida em Junho de 1977 na sequência da tentativa de golpe de Estado de Nito Alves.

No prefácio, Andrews sublinha que era prática do KGB dar nomes de código não só aos agentes da organização, mas também a quem quer que fosse alvo de acções de aliciamento ou mesmo apenas personalidades em governos estrangeiros.

"Nomes de código não são só por si prova de que os indivíduos a quem se referem eram conscientemente ou por vontade própria agentes ou fontes do KGB," diz o historiador britânico. Por escolha própria, o livro não revela os nomes dos agentes do KGB mencionados com nomes de código.

O livro afirma que "tal como Moscovo, a embaixada soviética em Luanda tinha a maior fé em Nito Alves e lamentou que o golpe tivesse falhado".

Um dos elementos do KGB que sempre apoiou Agostinho Neto foi Oleg Nazhestkin, director da divisão em Angola do directório do KGB no exterior, que pela primeira vez contactou Neto pouco antes da independência, em Novembro de 1975, para informar o dirigente angolano que a URSS estava pronta a reconhecer um governo do MPLA.

Esse primeiro encontro começou de forma fria, pois Neto estava convencido que Nazhestkin vinha pressioná-lo a formar um governo de coligação com a FNLA e a UNITA, como Moscovo afirmara pretender até então.

Moscovo mudou de atitude depois do KGB ter avisado o bureau político do Partido Comunista que, sem apoio externo, o MPLA não seria capaz de continuar a controlar Luanda. Esse documento foi assinado por Viktor Chebrikov, vice-director do KGB.

O livro afirma que já depois da independência e por altura do golpe de Nito Alves, Neto queixou-se a Nazhestkin que o KGB estava a passar em revista a "roupa suja" para tentar encontrar "material comprometedor para o usar contra ele".

Anteriormente, Nazhestkin tinha defendido Neto junto do "Centro" (a direcção do KGB) de acusações provenientes de "fontes de confiança", segundo as quais o dirigente do MPLA estaria a desviar fundos soviéticos para uma conta bancária na Suíça.

Num documento enviado ao "Centro", Nazhestkin fez notar que como condição para esse apoio foi exigido que apenas um ou dois indivíduos no MPLA estivesse ao corrente e que só ele deveria decidir sobre questões ligadas à referida ajuda.

"Onde é que ele deve manter os fundos em moeda forte? Na sua gaveta ou numa mochila quando se desloca às zonas libertadas?", escreveu Nazhestkin.

O livro não avança pormenores sobre esta questão, mas revela a vasta rede de informadores e agentes que o KGB infiltrou em movimentos de libertação através de África.
MOÇAMBIQUE: A acção do KGB junto da FRELIMO
Assim, por exemplo, o livro refere que nos anos 60 o "Centro" não ficou bem impressionado com o primeiro presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, "tendo mais confiança num membro mais jovem da liderança da FRELIMO com o nome de código TSOM, que até há pouco tempo tinha sido estudante em Paris".

"Em 1970, uma proposta do Centro para o recrutar como agente foi vetada pelo Departamento Internacional (do partido), mas TSOM permaneceu um contacto confidencial do KGB que forneceu informações sobre a FRELIMO e Moçambique," diz-se no livro também sem identificar TSOM.

O KGB teve também, nos anos 60, profundas dúvidas sobre a capacidade da FRELIMO de levar a cabo uma campanha com sucesso contra Portugal.

"O Centro ficou inicialmente abismado com a qualidade dos guerrilheiros da FRELIMO," lê-se no livro.

"Entre 1966 e 1970, o KGB forneceu treino a 21 especialistas da FRELIMO em sabotagem, mas considerou-os todos ideologicamente +primitivos+ e ignorantes da União Soviética, excepto como fonte de armas e dinheiro," afirmam os autores.

A KGB manteve igualmente, durante anos, um agente no conselho de guerra da ZAPU, um dos movimentos de libertação do Zimbabué. Esse agente tinha o nome de código NED e passou mais tarde para o controlo dos serviços de informações militares da URSS, o GRU.

Em 1976, o KGB recrutou dois agentes dentro da SWAPO o movimento de libertação da Namíbia então com sede em Angola.

Um deles era uma "familiar" do presidente da SWAPO, Sam Nujoma, que recebeu o nome de código KASYTONO e que "mais tarde passou a operar como agente dos cubanos".

O outro, com o nome de código GRANT, era membro do comité central da SWAPO e "recebeu pagamentos para fornecer informações sobre os movimentos de libertação na África Austral e sobre as actividades dos chineses e de países ocidentais na região".

O livro revela que o agente do KGB em Londres Oleg Gordievsky entregou, em 1982, ao secretário-geral do Partido Comunista sul- africano, Yusuf Dadoo, 118 mil libras para o ANC e 54 mil para o próprio PC sul-africano, durante um período de seis meses, dinheiro esse que Dadoo em vez de colocar numa mala levou da embaixada "nos bolsos do seu fato e sobretudo".

10-10-2005

Estátua causa discórdia

O presidente de Moçambique, Armando Guebuza, afirmou que a RENAMO tem de respeitar a lei se quiser construir uma estátua em memória do seu fundador, André Matsangaíssa, na Gorongosa, centro do país.
«Para a RENAMO fazer qualquer coisa tem que seguir as normas legais e não acredito que possa contrariar a lei, sobretudo depois de o líder da RENAMO (Afonso Dhlakama) ter declarado publicamente que se conforma com a lei vigente», disse o chefe do Estado moçambicano, durante o fim-de-semana, sobre a polémica em torno da estátua a Matsangaíssa. O principal partido da oposição moçambicana anunciou na semana passada que vai erguer, no dia 16 de Outubro, uma estátua do seu fundador numa das suas sedes na Gorongosa, província de Sofala, centro. Este anúncio foi recebido com irritação por sectores dos governos provincial e central que alertaram para a necessidade de uma autorização oficial para a colocação de estátuas em espaços públicos. «Não vamos permitir a estátua a Matsangaísse», declarou no fim-de-semana Arssalão Chabala, administrador do distrito de Maringué, onde a RENAMO pretende homenagear o seu fundador.
Hoje, o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, revelou que a estátua será erguida no pátio da sede do partido naquele distrito, considerando que tal não viola a lei moçambicana. «A estátua será erguida dentro do quintal da nossa sede» na Gorongosa, e isso «não fere a Constituição» moçambicana, disse Fernando Mazanga. «É o mesmo que as pessoas fazem para os seus entes queridos, só que isso incomoda a FRELIMO porque foi este jovem que uniu os militantes da RENAMO para lutar contra o comunismo», acrescentou Mazanga. «Se o senhor Armando Guebuza não quer o multi-partidarismo no país, que o diga. Mas não nos venha com atitudes belicistas de incitação à violação», acusou Mazanga. Matsangaíssa foi morto em combate a 17 de Outubro de 1979, na Gorongosa, durante a guerra civil (entre 1977 e 1992), que opôs a FRELIMO e a RENAMO, antigo movimento rebelde.
Evocando a efeméride, a RENAMO agendou igualmente a realização de diversas actividades em Maringué, para as quais convidou 800 pessoas, incluindo representantes do corpo diplomático em Moçambique. A propósito, Armando Guebuza disse acreditar que a cerimónia da RENAMO estará em «consonância com a lei» moçambicana e descreveu a iniciativa como bem vinda se a mesma for para aquele partido da oposição se tornar mais democrática. «Não conheço quais são as intenções da RENAMO, mas acho que é sempre benvindo quando a RENAMO se reúne para se tornar mais democrática», sublinhou o chefe de Estado moçambicano.
EXPRESSO AFRICA - 10.10.2005

Radio Moçambique Livre

Emissão, do então proclamado "Movimento Moçambique Livre", no dia 8 de Setembro de 1974, nas instalações do Rádio Clube de Moçambique.
Ouça em

04-10-2005

QUO VADIS ÁFRICA?

Rafael Shikhani
HOJE, passados quarenta e tais anos desde as independências africanas, que leitura se pode fazer do período pós-independência? No contexto da Bipolarização, sem entrar ne­cessariamente na Guerra Fria, o panorama po­lítico africano era dominado pelo sentimento e ideologia, vamos assim considerar, do Não-Alinhamento. Este, associado a outras corren­tes, tornou-se um importante catalisador da fundação da OUA. Em termos cronológicos e de uma forma bastante resumida podemos estabelecer dois grandes momentos na histó­ria recente do continente africano.
O primeiro vai das independências ao fim da Guerra Fria (1989, Queda do Muro de Berlim) e nele temos uma África recém in­dependente e com alguma normalidade po­lítica, económica e social, mercê da herança das estruturas económicas coloniais, e algu­ma condescendência nos termos de trocas comerciais a nível mundial e, politicamente, progressista. Este período caracteriza-se so­bretudo pela bipolarização que determina a vida ideológica, política, económica e social do mundo de então. No final desaparecem os movimentos progressistas e o continente fica à deriva.
O segundo vai do pós Guerra Fria aos dias de hoje, onde os antigos regimes são postos em causa e em alguns casos contestados de forma extremamente violenta, Neste período caem alguns ícones das elites libertadoras de África e são introduzidos novos elementos políticos (democracia, multipartidarismo) e económicos (ajuda e programas de reajusta­mento estrutural).
Se tivermos em conta o ideário das in­dependências e analisarmos os períodos referidos, havemos de convir que muitos elementos concorreram para desvirtuar esse ideário. Ora vejamos: em muitos casos o processo não passou de uma mudança cosmética do opressor. Muito rapidamen­te foram-se desenvolvendo elites políticas cujo objectivo principal era única e exclu­sivamente a conquista do poder político. Será difícil esquecermo-nos de pessoas como Jean Bedel Bokassa, Idi Amin Dada, Mobutu Sesse Seko, Éden Kodjo, Sekou Touré, Mohamed Siad Barre, numa lista interminável na qual perfilam ainda alguns vivos. As independências não foram sufi­cientes, ainda, para criar nos africanos (a nível nacional e continental) uma persona­lidade nacional, um espírito de igualdade, unidade e pertença a um país (primeiro) e a um continente (segundo).
Muito embora existam dois conceitos que mudaram a vida do continente e do mundo, Independência e Democratização, muitas nações africanas são hoje uma péssima e lastimosa sombra do que foram outrora. As classes políticas não estão comprometidas com o desenvolvimento, preocupando-se mais com o enriquecimento pessoal. E o (pseudo) sistema democrático que se usa no continente (com algumas excepções) não passa de um modelo que permite uma ro­tação periódica de dirigentes corruptos e o agravamento da situação do continente.
REVISTA MAIS(Maputo) – JUNHO2005

A descolonização da Faixa de Gaza, e a dos Soares e Cunhais

a.santos martins*
TRINTA anos depois do abando­no das antigas províncias ultra­marinas portuguesas de África, pelos políticos e político-militares que tomaram o Poder depois da Abrilada de 1974, veja-se como foi diferente a descolonização da Faixa de Gaza, empreendi­da pelo governo israelita de Ariel Sharon — um governo «de direita», escla­recido, firme e corajoso.
António Almeida Santos, que foi o ministro da Coordenação Interterrito­rial no período da nossa «descolonização exemplar» e, depois, presidente da As­sembleia da República, escreveu já as suas «memórias» daquele período, mais de duas mil páginas que o ministro dos Negócios Estrangeiros da altura, Mário Soares, disse há dias (na SIC) que está a rever...
Espero ansiosamente a publicação, para ver se Almeida Santos vai habilitar, finalmente, os jovens portugueses, com a verdade verdadeira. E não «aquela» com que tantos trampolineiros, desde há trinta anos, vêm manipulando os «parolos». Que, segundo eles, só «têm direito» às versões (fraudulentas) que dão cobertura a criminosos que por aí se pavoneiam como «pais da democracia» e alimentam (também com «jobs» na «acção cultural») os seus filhotes políticos.
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Veja igualmente
O DIABO - 04.10.2005

O «revivalismo colonialista» de Fernando Rosas

brandão ferreira(*)
    Dr. Fernando Rosas (FR) i está preocupado. Assim o afirma em artigo saído no «Público» do passado dia 27 de Abril.
E está preocupado porque o autarca-mor de Coimbra, Dr. Car­los Encarnação, segundo diz, re­solveu inaugurar um monumento de homenagem aos «Combatentes do Ultramar», numa praça apelida­da - ela também! —, «Dos Heróis do Ultramar».
O escrito é todo ele uma aleivosia pegada, cheio de rancor e into­lerância. E se tal fica mal a qual­quer cidadão, acresce o ónus face às responsabilidades do Dr. Ro­sas, como político e como deputa­do. E como, ainda por cima, se assina como «historiador», as coi­sas ficam piores dadas as inverdades propaladas e a falta de hones­tidade intelectual (e crassa igno­rância!), evidenciadas, de todo in­compatíveis com aquele título.
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O DIABO - 04.10.2005

Estariam Amílcar Cabral e o PAIGC, ainda no início dos anos 70, abertos a uma solução negociada para a guerra na Guiné?

Estariam Amílcar Cabral e o PAIGC, ainda no início dos anos 70, abertos a uma solução negociada para a guerra na Guiné, na base de uma solução comunitária, ou mesmo federal, que envolvesse Portugal, a Guiné e Cabo Verde? Declarações nesse sentido, praticamente desconhecidas até à data, e a que o «DN» teve acesso, parecem confirmar claramente esta hipótese.
Em Outubro de 1971, Amílcar Cabral, dirigente máximo do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), está em Londres, na sequência de um périplo europeu de sedução ao Ocidente (pouco depois de ter sido recebido, no Vaticano, pelo papa Paulo VI, com outros dirigentes independentistas da África portuguesa).
Na capital britânica, o secretário-geral do PAIGC concede uma entrevista a duas publicações de exilados portugueses -Polémica e Anticolonialismo, representadas, respectivamente, por José Manuel Medeiros Ferreira e por Pedro George -, no decurso da qual fala da independência da Guiné e de Cabo Verde, num quadro de uma comunidade lusófona. Que disse Amílcar Cabral, dois anos antes da declaração unilateral de independência (24 de Setembro de 1973), quando interrogado sobre «o futuro das relações entre a Guiné e Portugal»?
Disse o seguinte: «Se porventura em Portugal houvesse um regime que estivesse disposto a construir, não só o futuro e o bem-estar do povo de Portugal, mas também o nosso, nós não veríamos nenhuma necessidade de estar a fazer a luta pela independência. Mas em pé de absoluta igualdade. Quer dizer, se o presidente da República pudesse ser, quer de Cabo Verde, da Guiné, como de Portugal; se todas as funções estatais, administrativas, etc., fossem igualmente possíveis para toda a gente, nós não veríamos nenhuma necessidade de estar a fazer a luta pela independência, porque já seríamos independentes, num quadro humano muito mais largo e talvez muito mais eficaz do ponto de vista da História».
Publicada em Dezembro de 1971 na revista Polémica (Genebra, Suíça), a entrevista de Amílcar Cabral poderia representar um passo táctico, propagandístico mesmo, de um chefe que desejava afirmar a luta do seu movimento independentista, nomeadamente no Ocidente. Interrogado sobre a interpretação das declarações de Amílcar Cabral, o ex-presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira (e sucessor de Amílcar Cabral na liderança do PAIGC, após o assassínio deste dirigente), disse ao DN: «Não se tratava de uma declaração táctica ou meramente propagandística, correspondia ao nosso pensamento».
A entrevista de Amílcar Cabral contém outros passos de interesse, no sentido do precisar do «pensamento» dos dirigentes principais do PAIGC. Disse Amílcar: «Como sabe, nós temos uma longa caminhada com o povo de Portugal. Eu estou aqui falando português, como qualquer outro português, e infelizmente melhor do que centenas de milhares de portugueses que o Estado português tem deixado na ignorância e na miséria».
E, depois da afinidade linguística, o líder guineense refere outras, históricas e culturais: «Nós marchamos juntos; e, além disso, no nosso povo, seja em Cabo Verde, seja na Guiné, existe toda uma ligação de sangue - não só histórica, mas também de sangue - e fundamentalmente de cultura com o povo de Portugal».
Depois de referir a possibilidade de «uma independência num quadro humano muito mais largo e talvez muito mais eficaz do ponto de vista da História» (sublinhado nosso), Amílcar aborda a questão mais profundamente ideológica das condições da construção desse quadro ideal, regressando ao refrão comum a todos os dirigentes independentistas.
«Nós somos povos africanos, ou um povo africano», sublinha Amílcar, «lutando contra o colonialismo português, contra a dominação colonial portuguesa. Nós estamos absolutamente convencidos de que, se em Portugal se instalasse amanhã um Governo que não fosse fascista - mas fosse democrático, progressita, reconhecedor do direito dos povos à autodeterminação e à independência -, a nossa luta não teria razão de ser.»
Quinta-feira, 24 de Setembro de 1998 - José Manuel Barroso, in «Diário de Notícias»

26-09-2005

Presidente pede envolvimento das forças armadas no combate no pobreza

O presidente moçambicano apelou às forças armadas para que se envolvam em acções de combate à pobreza absoluta no país, em discurso proferido hoje por ocasião do 41º aniversário do início da luta armada contra o colonialismo português.
O 25 de Setembro é também conhecido como o Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
"Tal como ontem - disse Armando Guebuza -, hoje, os moçambicanos são, uma vez mais, chamados a libertar a sua pátria de um novo inimigo, a pobreza. O sector da defesa nacional tem um papel preponderante neste combate".
Actividades culturais, comícios e homenagens aos heróis nacionais assinalaram hoje em Moçambique a passagem do 41º aniversário do início da luta contra a dominação colonial portuguesa.
Segundo a história oficial moçambicana, foi a 25 de Setembro de 1964 que o general Alberto Chipande, à frente de uma unidade militar da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), disparou o primeiro tiro contra a administração colonial portuguesa, em Chai, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, dando início à guerra de libertação do país.
A FRELIMO, sob a direcção do seu primeiro presidente, Eduardo Mondlane, morto em 1969 num atentado à bomba atribuído à PIDE, viu-se forçada a pegar em armas, perante a recusa do regime colonial português de António Oliveira Salazar de aceitar a independência de Moçambique.
O conflito só terminou a 07 de Setembro de 1974, depois de o governo português saído do golpe de Estado de Abril de 1974 ter aceite o histórico "Acordo de Lusaca", que lançou as bases para a independência de Moçambique, proclamada a 25 de Junho de 1975 pelo primeiro Presidente de Moçambique pós-independência, Samora Machel.
Contudo, um ano depois, o país mergulhou numa devastadora guerra civil de 16 anos, opondo as tropas governamentais da FRELIMO e a antiga guerrilha da RENAMO, primeiro apoiada pelo regime colonialista da Rodésia, hoje Zimbabué, e mais tarde pelo antigo regime do "apartheid" da África do Sul.
A guerra civil terminou a 4 de Outubro de 1992, por força do Acordo de Roma. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 25.09.2005

24-09-2005

CHAI - 25 DE SETEMBRO DE 1964

Cumprem-se amanhã 41 anos sobre a data oficial do início da luta armada em Moçambique.
Já é altura de se escrever a verdadeira história, não se continuando a propagar fantasias sobre o que, naquele dia, se passou no Chai, em Cabo Delgado.
Será que Alberto Chipande continua a manter o relatório apresentado na altura? Ou será que finalmente dirá a verdade?
Para recordar vejam:
MANU disparou primeiro tiro e não a FRELIMO (em Agosto de 1964)
25 DE SETEMBRO DE 1964
CHAI – CABO DELGADO - MOÇAMBIQUE

21-09-2005

CAHORA BASSA - Antes e depois de 1975

Como é do conhecimento geral a FRELIMO, durante a denominada "luta de libertação nacional" tudo fez para evitar a construção da Barragem de Cahora-Bassa, a quinta maior do mundo, obra que deveria ser orgulho dos portugueses, não só quanto à sua dimensão, como às circunstâncias que rodearam a sua construção.
Hoje, Cahora Bassa produz e transporta electricidade para  Moçambique, República da África do Sul, Zimbabué, Botsuana e, em breve, para o Malwi.
Na sua albufeira, com 270 km de comprimento e até 30 km de largura, são pescadas, diariamente,  toneladas de peixe.
Mais tarde, em 1986, em visita ao local, é descerrada por Samora Machel a placa cuja imagem apresentamos:
Cabora_bassa12a_1
                                                                                                   A inscrição:
"Esta maravilhora obra humana do género humano constitui um verdadeiro hino à inteligência, um promotor do progresso, um orgulho para os empreiteiros, construtores e trabalhadores desta fantástica realização.
Cahora Bassa é a matriz do desenvolvimento do Moçambique independente. Os trabalhadores moçambicanos e portugueses, fratrenalmente, juntando o suor do seu trabalho e dedicação, garantem que este empreendimento sirva os interesses mais altos do desenvolvimento e prosperidade da R.P.M.
Moçambicanos e Portugueses consolidam aqui a unidade, a amizade e solidariedade cimentadas pelo aço e betão armado que produziu Cahora Bassa.
Que Cahora Bassa seja o símbolo do progresso, do entendimento entre os povos e da paz no mundo."
Samora Machel - Songo 17 de Setembro de 1986
P.S.: Como as opiniões mudam...
Veja:

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