Ivan Maússe com Bitone Viage em Maputo.
- Em Moçambique há pouco espaço para a honestidade!
Quando apontamos que em Moçambique há pouco espaço para a honestidade, estamos a dizer em outras palavras que, no país, levar uma vida honesta está cada vez mais difícil, senão impossível.
Isso devido a factores ligados à vida na Era-capitalista, muito por causa do consumismo que muito caracteriza os nossos dias, somado à nossa política salarial, que constitui uma verdadeira humilhação.
As pessoas até tem vontade em viver honestamente, mas as adversidades da vida não lhes permitem isso. Poucos são aqueles que estão verdadeiramente preparados para viver de forma honesta.
• Afinal, o que seria viver de forma honesta?
Em ciências sociais fala-se que o Homem é um ser eminentemente social. Ele se encontra inserido na ordem social, que compreende outras sub-ordens: trato social, moral, religiosa, jurídica, costumeira.
Ao todo, através da instituição de princípios, normas ou valores, as sub-ordens supra, visam fundamentalmente permitir uma boa convivência entre o Homem e os seus semelhantes.
Nisto sucede que só teria uma vida honesta aquele que rege sua vida segundo às normas, princípios ou valores da ordem social, sendo que quem delas descura, passa a trilhar das avenidas da desonestidade.
• Descrição do problema:
Notamos que o nosso país ocupa um lugar de “destaque” na lista dos países mais corruptos do mundo, envolvendo funcionários públicos, pessoas comuns e até personalidades políticas/governamentais.
E geralmente a primeira grande componente tida como causa do fenómeno corrupção, é a pobreza que muito abunda em nosso país, que obriga as pessoas a optarem por actos desonrosos para ganhar a vida.
Para nós isso é relativamente discutível, mas, acrescentamos ao afirmar que a culpa maior é daqueles que estão a frente da tomada de decisões, através da sua politica salarial algo que madrasta.
E isso faz com que muita gente, particularmente os jovens (sendo a maioria da população), optem por sectores de trabalho que abram mais possibilidades para a prática de actos de corrupção, que outros.
Se por um lado é verdade que muitos estão preocupados em ser empregados do Estado, por outro, é verdade que os mesmos querem estar naqueles sectores que lhes permitam prosseguir com as “boladas”.
Esses sectores, através das brechas à prática das “boladas”, chegam a possibilitar com que o infractor a cada final do mês junte somas de dinheiro que constituem quase o dobro de seu salário normal.
Parece-nos que, nos dias que correm, a luta não é apenas seguir o curso e carreira dos sonhos. O mais importante são os ganhos, quer honrosos quer desonrosos que dele se pode extrair e levar a vida.
E talvez se justifique a razão de termos um número cada vez mais elevado de seguidores de enfermagem, docência, polícia, defesa nacional, o que combina também com a luta pelo emprego.
• Como se poderia promover uma vida honesta?
A resposta à essa pergunta é relativamente simples. É preciso permitir que as pessoas tenham poder económico que lhes permita suprir com as suas carências primárias de ordem fisiológica e existenciais.
É impensável desejarmos a existência de profissionais blindados de honestidade e demais virtudes, se à partida trabalham demais e auferem um salário mísero, e seu posto abre espaço para as “boladas”.
É impensável exigirmos honestidade para um profissional que por causa do mísero e humilhante salário que aufere, não consegue reunir condições para ter casa própria, família, transporte e alimentação.
Nestes termos, estamos a rebater que enquanto não se pensar numa política salarial que seja consentânea à realidade do nosso país, pensar em profissionais honestos será sempre uma utopia.
Aliás, tudo piora porque, ao lado daqueles que trabalham mais e auferem salários míseros, temos aqueles que pouca trabalham, no entanto, auferem salários algo que robustos. Uma discrepância!
Ademais, a nível do Aparelho do Estado assistimos a uma discriminação salarial flagrante, onde chega-se a afirmar que “só os sectores produtivos é que recebem salários mais elevados, quando os outros, não”.
Deste modo, notamos que para uns o Estado é pai, e para outros (os demais) é padrasto, a começar pela docência, polícia, enfermagem. Esses são na óptica do Estado os sectores “improdutivos”, apenas “tiram”.
Assim, não deve nos surpreender o facto de estes serem os sectores que mais se registam fenómenos de corrupção. Isso porque eles são os “enteados” do Estado: os desamados, desamparados e mais.
Sobre isso, basta notar as condições de trabalho daqueles, mesmo no sector-privado. Lá eles também auferem um salário mísero e humilhante sob o olhar impávido dos decisores políticos. Estado padrasto!
Portanto, a existência de pessoas honestas depende muito da vontade política dos que detêm o poder de decisão em Moçambique, quer para o sector público, quer ainda para o sector privado nacionais.
• Considerações finais:
Mais do que dissemos, não temos. Mas persuadimos que é chegada a altura de repensarmos na maneira como promovemos a honestidade no nosso país, particularmente entre os nossos profissionais.
Acreditar apenas que seja possível termos pessoas virtuosas através de uma educação para os valores em nossas escolas, é falacioso, isso porque as demandas e desafios da vida corromperão o individuo.
Portanto, a nosso ver, em muitos casos os actos desonrosos durante o exercício da profissão resultam da necessidade de ajustar o “bolo salarial” face às perplexidades da vida que se pretende cada vez mais cara.
Reduzir os actos de corrupção transcende a aplicação de medidas sancionatórias aos infractores. Exige a institucionalização de outras medidas, algumas delas de carácter preventivo como por exemplo:
(i) a incrementação de uma distribuição racional da riqueza, (ii) desconcentração da riqueza em alguns sectores da administração pública em detrimento dos restantes à desculpa da política de produtividade.
A melhor forma de combater a corrupção, é evitar com que a mesma aconteça que sancionar seus infractores, que pouco existiriam!
Mais que forçar a honestidade entre os funcionários, devemos rever as condições de trabalho destes e só assim as “boladas” nas instituições públicas e privadas irão reduzir substancialmente, num país em que até o emprego compra-se, a privilégio dos gestores dos recursos humanos que vêm seu posto como um verdadeiro jackpot.
O país, a nação e o Estado projectam-se!
- Bem-haja Moçambique.
Maputo, 19 de Janeiro de 2016.
Sem comentários:
Enviar um comentário