segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Denota que liderança não existe.

Recusar partilhar o poder é cegueira política


Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Um vulcão dormente chamado Moçambique pode entrar em erupção quando menos se espere.
Nunca existiu tanta necessidade de liderança em Moçambique.
Visão estratégica, patriotismo, abnegação, coragem poderiam estar fazendo a diferença.
Mas interesses bem identificados de grupelhos e grupos estão cegando mentes e vontades.
Da mesma forma que a recusa de Salazar avançar para uma situação de emancipação e eventual Independência das colónias provocou rebeliões armadas desgastantes, hoje assiste-se a uma recusa dos “libertadores” em admitir que o caminho é a partilha do poder.
Tantas batalhas e sangue derramado em nome disto e daquilo para chegarmos a um ponto típico de encruzilhada.
O ar de “iluminados” que os “ajudantes” feitos juízes e advogados querem conferir à crise pós-eleitoral é uma máscara que esconde os seus reais objectivos. Moçambique precisa de uma liderança visionária para que a paz persista e se aprofunde.
O caminho passa por nos libertamos de “legalistas de pacotilha” que escondem a sua fraudulenta actuação, de modo a continuarem a excluir os seus compatriotas do gozo pleno de seus direitos.
Aquele manifesto jogo de empurra e de adiamento de decisões estratégicas para a manutenção da paz, envolto em proclamações supostamente sábias de “ilustres” cidadãos, visam unicamente manter o poder nas suas mãos, mesmo que seja contra a vontade popular expressa nas urnas.
Aqui, o que é necessário e fundamental é começarmos a ver, os políticos de todos os quadrantes, respeitando-se e admitindo que todos são moçambicanos com os mesmos deveres e direitos.
Aqui, o importante é que a primazia seja dada aos factores que reforcem a moçambicanidade, a soberania do país, a sua segurança, a sua unicidade com base na sua Constituição, e não em interpretações esporádicas falseadas do que está inscrito na CRM.

A CRM não legaliza a fraude. A CRM não é um uma “bíblia” a que não se possa acrescentar algo.
O assassinato brutal e grotesco de Cistac levanta uma série de questões e de suspeitas. Um verdadeiro cientista político desenvolveu uma tese que mostrava caminhos perfeitamente constitucionais para ultrapassar uma crise de natureza eleitoral. Foi removido do caminho porque a sua proposta apontava vias para a partilha do poder? Foi uma acção inspirada ou encomendada?
Os batedores e comentaristas nas redes sociais, cada um à sua maneira, procuram explicações, defesas e ataques contra o que consideram desvios ou tentativas de forçar assuntos ou decisões.
Dos porta-vozes dos partidos políticos ouve-se muito “barulho”, muitas vezes sem originalidade nem pertinência, sobre os assuntos que constituem a prioridade conjuntural.
Há muita “política de avestruz” no panorama político moçambicano, e muitas vezes escutam-se espectáculos televisivos teatrais com argumentos sofríveis e com as mais diversas denominações.
Discute-se muito sobre diversos assuntos, mas existe a evidente recusa de discutir o que é fundamental.
O poder efectivo e legítimo tem andado muito longe dos inúmeros debates promovidos.
Por vezes centra-se tudo na capital do país, onde a maioria dos comentaristas de serviço recrutados são simpáticos ao actual “status”.
Nampula, Beira, Quelimane, Tete, Chimoio, Pemba, Lichinga são parte de Moçambique, mas as suas opiniões são propositadamente excluídas dos serviços televisivos, como se não possuíssem opinião e sejam meramente consumidores do que os “omniscientes” residentes de Maputo tenham para dizer.
É exclusão da maioria a favor da minoria que se quer no poder, mesmo que para tal não tenha sido votada. Daí que os esforços da mediação nacional tenham redondamente falhado. Daí que tenhamos visto o Governo extinguindo unilateralmente a EMOCHIM. Daí que tenhamos visto um sector do aparato de defesa nacional enveredando pelas emboscadas como forma de resolver diferendos políticos.
Se hoje temos negociações inconclusivas no Sudão do Sul, com acordos assinados mas não cumpridos, a razão deve ser encontrada na relutância de políticos em entenderem com realismo os caminhos da paz e da razoabilidade.
Tudo se resume a encontrar-se uma resposta concreta, e não livresca ou retórica, daquilo que são as aspirações e direitos de milhões de pessoas que têm sido roubadas e excluídas no processo socioeconómico e político nacional. A maioria parlamentar perdeu uma oportunidade histórica de abreviar caminho e votar no sentido de acomodar propostas legítimas e sustentadas da oposição visando encontrar um meio-termo realista. Obviamente que o seu voto seguiu aquilo que foram as instruções emanadas da Comissão Política da Frelimo.
Da forma como funciona o nosso Parlamento, evidencia uma gritante incapacidade de produzir consensos legislativos em tempo útil.
Quando decidirem dar espaço às propostas que hoje chumbam, talvez a situação se tenha deteriorado para níveis assustadores e violentos.
Não é difícil ver que a abordagem pela maioria parlamentar suportada pelas deliberações do Conselho Constitucional é o prolongamento do regime de partido único.
E outra coisa é que dos parceiros externos estratégicos não se está recebendo assistência política crítica.
Há uma guerra de donativos entre eles, para manterem a sua esfera de influência e potenciarem negócios para as suas empresas em projectos bilionários no país.
Existe um “vulcão” chamado Moçambique lançando cinzas através do seu cume. Ainda não há lava sendo expelida, mas é de esperar que, mais cedo do que tarde, isso aconteça, tudo porque alguns senhores muito importantes se recusam a aceitar que, quando se perde nas eleições, é para aceitar e esperar por outras.
A CNE/STAE/CC conluiou-se e foi instrumentalizada para manter a Frelimo no poder. O cidadão comum sabe disso. As embaixadas estrangeiras em Maputo sabem disso, mas preferem manter-se caladas, para não serem acusadas de ingerência nos assuntos internos de Moçambique. A União Africana e a SADC são coniventes com o estado de coisas. A ONU é aquela organização mundial bombeira. Só reage depois de as guerras se instalarem, e os mortos a acumular-se. É um complexo diplomático-burocrata conjugando e concertando sem ter em conta os direitos dos milhões de moçambicanos que disseram que queriam ver outro partido no poder.
Ninguém quer instalar o caos em Moçambique, mas é manifestamente contraproducente impor aos moçambicanos o que já disseram por diversas vezes o que não querem. A força das armas e da represália politicamente motivada não tem lugar em democracia.
A lei do chicote e da penalização sociopolítica e económica não pode continuar a privilegiar a fraude como instrumento de manutenção do poder.
Ainda há oportunidade de corrigir a rota do barco em que seguimos. Mas não há todo o tempo do mundo para fazê-lo.
A superioridade exibida com desplante discursivo de megalomaníacos declarados em nada ajuda a cimentar a moçambicanidade que nos une. Existe sublimado em algumas mentes um complexo de superioridade que coloca tudo e todos como subordinados das suas pretensões, e isso pode ser bastante perigoso, como a nossa história não se cansa de ensinar.
Conclaves, por mais importantes que sejam, não serão suficientes para promover a paz, se não houver entendimentos básicos sobre como remediar, para prevenir o desastre.
A “equação Moçambique” não se pode resumir a “tudo para mim e nada para os outros.” (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 04.01.2016

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