terça-feira, 5 de janeiro de 2016

COISAS QUE NÃO DEVEM SURPREENDER A NINGUÉM EM 2016


ANTEVISÃO
Se eu fosse consultor político ou de comunicação de qualquer político, a primeira coisa que faria-assumindo que já possuo um plano de comunicação – seria actualizar o meu plano de comunicação de crise.
Este país tem altos e baixos já previsíveis, tal como a nossa imprensa e as redes sociais. O que ia fazer com este plano actualizado?
Primeiro, iria olhar para os doze meses e identificar os meses mais conturbados e menos conturbados. Nos meses mais conturbados acordaria com o meu assessorando um conjunto de mensagens e “boas notícias” e nos menos conturbados, as decisões mais sérias e, às vezes, posições menos populares.
Segundo iria concentrar as minhas mensagens para os sectores mais críticos por forma a responder e convencer a população enfurecida
Terceiro, actualizaria a equipa de comunicadores, virada para a produção de conteúdos. Os ministérios, partidos políticos e demais instituições gostam e querem comunicar. Mas acabam por optar em propaganda e relações públicas de baixa qualidade, recorrendo à táctica de bombeiro. Dizer o que está a fazer, que resultados está a obter e o que precisa dos cidadãos não custa tanto. Mas implica ter pessoas que saibam escrever e saibam colocar a informação em tempo útil e em canais apropriados. A comunicação institucional não é sobre a promoção individual do dirigente; é sobre o compromisso público. 
Então, aqui vão alguns temas que em 2016 há-de ler:
DE JANEIRO A ABRIL: período de alta tensão social e política 
• Matrícula, livro escolar, vagas, contratação de professores. Chuvas, cheias [calamidades naturais], emergências, reassentamento, reabilitação pós-cheias; cólera, pulverização intradomicialr. Aqui e acolá, aparecerão entrevistas; grandes entrevistas ao estilo de balanço do ano anterior e perspectivas do ano em curso, feita aos principais dirigentes deste país. 
• Politicamente, poderemos ter alguns desenvolvimentos em relação as negociações entre o governo e a Renamo, provavelmente sem saídas de grande vulto. Se prevalecer o acordo de cessar-fogo e de não-agressão, isto já será muito importante.
• Também testemunharemos dois eventos de grande vulto, nomeadamente as reuniões magnas dos órgãos sociais da Frelimo incluindo o próprio comité central. Depois disso, seguirão as exonerações. O anúncio pelo presidente Nyusi do FIM do actual modelo de negociação com a Renamo sugere que José Pacheco não poderá continuar neste governo. Com ele, mais outros poderão acompanhar-lhe. De referir que o Presidente não mexeu ainda com alguns postos de defesa e segurança, nomeadamente Chefe de Estado-maior das FADM, Comandante-geral da PRM, Director-geral do SISE entre outras. Em menor grau, algumas movimentações ministeriais, trocando actores daqui para ali. Pessoalmente não estou satisfeito com alguns ministros, amigos do Presidente, nomeadamente, o senhor Silva Dunduro, a senhora Cidalia Chauque e o senhor Agostinho Mondlane. Estes são o expoente máximo da inércia neste seu governo!
DE MAIO-SETEMBRO: período de media tensão 
Este tem sido normalmente um período de média tensão. Muitas datas comemorativas que exaltam a nossa “moçambicanidade” vão ajudar a tornar o ambiente menos tensos: PRIMEIRO DE MAIO; 25 DE JUNHO, 25 DE SETEMBRO, 7 DE SETEMBRO. Acrescido a isto, é o período em que os preços estabilizar; os campos verdes dão os seus frutos e há pouca fome. O tempo seco/frio vai dar espaço para muitos festivais para divertir a juventude incauta. Aqui, o período é da polícia. Este é o período de pico da criminalidade, mas também o que mais resultados as forças da defesa e segurança produzem”: detenções, mortes e “limpeza de arquivo”. Nos últimos dez anos, a “limpeza” dos criminosos famosos deu-se entre neste período: pense no Mario Mandonga, Agostinho Chauque, Nequinha, Nacasaco, Samito, etc. É também o período que a crítica social matura e ganha força. Os g40 normalmente se notabilizam neste período intermedio, para o mal-estar de todos.
OUTUBRO-DEZEMBRO: período de baixa tensão social
Este tem sido um período de cansaço. As pessoas já não têm paciência nem esperança pelo governo. Aqui a crítica é directa; o insulto também. Os “G40 perdem” espaço pois alguns sectores internos do poder começam a dar forma a crítica social. O “Estado da nação” é a maior promessa que a partir de Novembro vai alimentar o debate intelectual. Para além do Estado da Nação, é igualmente tempo para preparar e apresentar o orçamento para o ano seguinte bem como o período da maior prova oral do governo. 
• O período mais influente da oposição é entre Outubro a Dezembro
• O período mais influente do governo é entre Janeiro a Setembro
• O período mais influente da Frelimo é só em datas festivas. É que a Frelimo não consegue dissociar-se da agenda do governo e, agindo assim, atrela-se a ele. Porque ela própria associa-se a todas as datas interessantes da História de Moçambique ante a ausência ou boicote da oposição, é nestas alturas que ela sobressai.
À oposição falta-lhe calendário político próprio. Na verdade, a oposição consegue ser influente durante este período devido a presença do governo no parlamento para prestar contas e apresentar orçamentos. É neste pequeno intervalo que a oposição “mostra serviço”. Alterar este cenário implica encontrar outras formas de intervir e engajar o povo. À Frelimo, significa encontrar um discurso próprio que se apresente não apenas como suporte ao governo mas o seu fiscalizador número 1.
A única forma de o governo melhorar a sua imagem é através da redução da assimetria de informação m todas as esferas da sua actuação por forma a fomentar um debate informado sobre as suas actividades. É muito injusto ser julgado por pessoas menos informadas. 
Esta é a pauta política para 2016. No essencial, nada de novo. O desarmamento da Renamo não acontecerá. As FADM, não irão desarmar a força. A Paz continuará podre. Haverá menos novos-ricos. O melhor que poderá acontecer para nós os pobres é continuarmos vivos e não morrermos de fome ou doença evitável. 
Em Dezembro, voltaremos a usar as nossas camisas brancas (as mesmas usadas em 2015) para, com o champanhe em punho, comemorarmos a chegada de 2017!
DECLARO ASSIM ABERTA O ACTIVISMO CÍVICO DE 2016. QUE DEUS ME ACOMPANHE.

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