Isso não tem a ver com raízes quadradas, mas com ter gato ou ser preocupado
Quando dizemos que o homem é um animal superior, nós nos referimos ao fato de ser mais inteligente que outros por ter a capacidade de pensar, compreender, raciocinar e processar a informação de forma lógica. A questão ao longo da história tem sido como medir ou detectar essa capacidade. A própria dotação humana, e seu inerente pragmatismo, levou a homem à criação dos testes de inteligência, esses instrumentos para comparar as pessoas quanto a suas habilidades mentais e cognitivas. Os primeiros testes foram criados no início do século XX pelos psicólogos Binet e Simon, por encomenda do primeiro-ministro francês, para poder detectar o atraso mental em crianças. Mas antes deles existiram outros estudos, também científicos – embora menos modernos –, que mediam a inteligência com base em parâmetros tão arbitrários como o tamanho do cérebro, partindo da seguinte premissa: quanto maior o tamanho encefálico, maior a agudeza intelectual.
Os anos passam, a ciência evolui e continuamos obcecados com o estudo da inteligência. Agora os pesquisadores também se interessam em descobrir se existem traços em comum entre as pessoas superdotadas que possam defini-las. Ou seja, que aspectos, qualidades ou atividades elas compartilham. Em busca de coincidências, a comunidade científica não perde a oportunidade de valorizar todos os tipos de fatores: das atividades da infância aos vícios adquiridos.
Será que existem, então, indícios externos, além do coeficiente intelectual, para identificar as pessoas mais brilhantes? Aqui estão algumas características muito curiosas que situam quem as tem mais perto da genialidade que a maioria dos mortais.
1. Ser o primogênito
Em muitas famílias, aquilo que o irmão mais velho diz é lei, e não só os demais irmãos o obedecem, como também os próprios pais aceitam resignados sua “superioridade” para analisar as situações e determinar o que é preciso fazer, em uma espécie de ditadura consensual. Tanto é assim que o assunto tem sido de estudos e gerado ampla literatura. Para explicar o fenômeno, quase sempre se recorre às variáveis ambientais, em oposição aos fatores biológicos ou herdados, com base na premissa de que o primogênito talvez receba mais atenção e estímulo intelectual de seus pais, além de adotar posteriormente o papel de ajudante destes na criação e educação dos irmãos mais novos. Foi a essa conclusão que chegaram os autores de um estudo recente realizado na Universidade de Leipzig (Alemanha), no qual se analisou uma amostra de 20.000 crianças de até três nacionalidades. Stefan Schmukle, o psicólogo que liderou a investigação, concluiu que a ordem dos irmãos não influi na personalidade, mas sim na inteligência, que aumenta levemente no caso dos mais velhos. Atenção: não quer dizer que os irmãos mais novos não sejam capazes de realizações incríveis.
2. Estudar música durante a infância ou adolescência
Só existiu um Mozart, mas as crianças que estudam música desde tenra idade pertencem a esse grupo de pessoas notavelmente inteligentes.
É o que explica María del Carmen Reis Belmonte, música, docente e pesquisadora. Além de ela mesma ter vivido isso e de testemunhar esse fato dia a dia em seu trabalho como professora, sua tese, realizada na Universidade de Valência (Espanha), descreve a realidade que muitos docentes intuem: “A música influi na inteligência do aluno, cria conexões a partir de seu próprio sentido de ser. Trabalha conceitos matemáticos e linguísticos ou conhecimentos do ambiente que o rodeia”. Sua investigação, que parte dos estudos pedagógicos e clínicos sobre a resposta das pessoas à música, comprova que qualquer criança melhora seu rendimento quando estuda música, e ainda mais aquelas que se dedicam à sua aprendizagem em nível extraescolar. “Elas desenvolvem outro tipo de estratégias de natureza social e emocional muito positivas e benéficas para sua autoestima e para o comportamento na sala de aula, como o trabalho em equipe e a responsabilidade de apresentar um trabalho bem feito nas audições e concertos”, explica.
3. Preocupar-se com frequência
Ser um pouco preocupado não é tão ruim e, se lidamos bem com isso, é sinal de inteligência emocional, que consiste em reconhecer as emoções do outro, segundo o célebre psicólogo americano John D. Mayer. Já se escreveu muito sobre essa capacidade e sua relação com o estresse. Uma das últimas teorias é apresentada pela psicóloga e professora da Stanford University Kelly McGonigal. Ela se retrata de suas afirmações anteriores nas quais vinculava o estresse com uma doença, afirmando agora que “o estresse só é ruim se nós mesmos acreditarmos que seja”. “As pessoas que vivem o estresse como uma oportunidade de superar desafios conseguirão, além disso, melhorar sua inteligência emocional e sua resiliência”, assinala. Tudo isso tem a ver com a oxitocina, um hormônio que intervém – tanto como a adrenalina – no estresse. A doutora McGonigal explica: “A oxitocina, hormônio produzido em casos de estresse, também aprimora os instintos sociais e nos prepara para fortalecer relações próximas. Promove o desejo de contato físico, melhora a empatia e nossa disposição de ajudar e apoiar”. Ou seja: quanto mais preocupação, mais oxitocina, mais desejo de nos aproximar do próximo e, portanto, mais habilidade de compreender o mundo.
4. Beber álcool, mas não fumar
A tendência de maior consumo e dependência da bebida em adultos se relacionou com um índice de inteligência alto na infância. Esse fato foi comprovado em um estudo com quase 7.000 pessoas, integrantes do grupo 1958 National Survey (amostra de pessoas estudadas pelo Centro de Estudos Longitudinais no Reino Unido), que tiveram seu quociente de inteligência (QI) medido aos 11 anos e, posteriormente, aos 42. Ficou confirmado que os mais preparados na infância consumiam agora mais álcool. Com o tabaco, segundo um experimento realizado no hospital Sheba Medical Center de Israel em 2010, ocorre exatamente o contrário.
5. Ter um gato
Um estudo realizado em 2014 na Carroll University, em Wisconsin (EUA), pôs em pé de guerra as pessoas que gostam dos cães ao afirmar que quem tinha gato era mais inteligente que elas. O teste analisou 600 estudantes universitários, todos com um animal de estimação, para revelar que os que criavam um felino tinham um QI superior, enquanto os donos de cães eram mais simpáticos. Denise Guastello, a autora do estudo, explicou que provavelmente os resultados se devam à personalidade dos sujeitos: os donos de cães, que têm de sair mais à rua e relacionar-se, são pessoas mais alegres e extrovertidas; enquanto os que preferem os gatos passam mais tempo em casa, cultivando seu cérebro com longas leituras.
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