O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, afirmou hoje que a difícil situação económica que o país atravessa não deve levar ao desespero, assegurando que há reservas para suportar 3,7 meses de importação de bens e serviços não fatorais.
"Esta realidade relativa à depreciação do metical, apesar de preocupante, não deve colocar-nos numa situação de pessimismo que nos conduza ao pânico e ao desespero", disse Rosário, falando hoje no parlamento, na sessão de perguntas dos deputados ao Governo.
Assinalando que a moeda moçambicana depreciou-se em 43% em relação ao dólar, entre janeiro e outubro do ano em curso, o primeiro-ministro moçambicano observou que a desvalorização da moeda moçambicana acompanha a tendência das moedas de todo o mundo face à divisa norte-americana.
"É importante sublinhar que, neste momento, o metical não é a única moeda a depreciar-se no mundo. A fortificação do dólar americano afeta muitas moedas no mundo", destacou Carlos Agostinho do Rosário.
O primeiro-ministro apontou ainda a queda dos preços das matérias-primas como um dos fatores da má situação económica do país, frisando ainda que a atual conjuntura acentuou a deterioração da balança comercial de Moçambique.
"Dados estatísticos de setembro de 2015 indicam que, nos primeiros nove meses do ano em curso, as exportações do país reduziram em 9% face a igual período do ano passado. Por sua vez, as importações reduziram apenas em 3%, isto significa que estamos a consumir mais do que produzimos, o que contribui para a depreciação do metical", salientou.
Para Carlos Agostinho do Rosário, a estabilidade do metical e a melhoria das condições de vida da população só se alcançam com a consolidação da paz, aumento da produção, produtividade e atração de investimentos direcionados ao desenvolvimento do capital humano, infraestruturas e produção de bens e serviços.
"A estabilidade do metical exige ainda uma gestão macroeconómica prudente e esforços na vigilância contra todos os atos tendentes ao uso indevido do metical", frisou.
Apesar da conjuntura económica adversa, prosseguiu Carlos Agostinho do Rosário, os fundamentos económicos do país mantêm-se satisfatórios.
A inflação média em outubro foi de 2,5% contra a meta de 5,6%, o crescimento económico previsto para este ano será de 6,3% e estará acima da média da África Austral e as reservas internacionais líquidas podem suportar 3,7 meses em importações de bens e serviços não fatoriais, salientou Rosário.
Em finais de outubro, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, assumiu que a economia do país enfrenta uma conjuntura adversa, traduzida pela queda do metical, diminuição de divisas e investimento, e avisou que Moçambique está a consumir mais do que aquilo que produz.
"Em cada ano, o país regista maior saída de divisas do que entradas, ato que tem sido superado com recurso à ajuda externa e significa que estamos a consumir mais do que produzimos", alertou Filipe Nyusi, discursando na gala de aniversário do banco Millennium Bim.
Avisando que não ia fazer "o discurso habitual", o Presidente moçambicano passou em revista os principais indicadores económicos do país, começando pela forte desvalorização de 33,9% do metical face ao dólar, entre dezembro de 2014 e a primeira quinzena de outubro deste ano.
Nyusi referiu que "o metical não é caso único" e que a sua desvalorização face à moeda norte-americana é menor do que outros países, "embora não seja motivo de pouca preocupação".
Segundo o chefe de Estado, a expressiva flutuação do metical é também explicada pela descida das cotações internacionais de matérias-primas, com impacto nas exportações de Moçambique, que vende essencialmente energia, gás, alumínio, algodão e açúcar.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avançou que o Orçamento do Estado de Moçambique para 2016 deve sofrer ajustamentos, em particular na sua previsão de crescimento económico, que deverá ficar abaixo do que estava calculado.
"Algum ajuste será necessário no Orçamento do Estado, para rever parâmetros macroeconómicos e níveis de despesa pública", declarou aos jornalistas Alex Segura, representante do FMI em Moçambique, à margem da apresentação em Maputo de um relatório da instituição financeira sobre perspetivas para a África Subsaariana.
O FMI reviu no final de outubro em baixa o crescimento económico de Moçambique, para 6,3% este ano e 6,5% em 2016, alertando que existem "novos desafios que exigem medidas decisivas de política económica".
PMA (HB) // VM
Lusa – 25.11.2015
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