Luanda - Mais de uma centena de russos chegaram a Catoca e outros tentam chegar para substituir e “abafar” o crescimento de técnicos nacionais e promover a mais vergonhosa e humilhante “desangolanização” da empresa, que até ao ano de 2014, com a direcção efectiva e maioritária de quadros angolanos era uma empresa de orgulho nacional e exemplo doméstico de boa gestão aos olhos do mundo.
Fonte: Club-k.net
Na sequência da irresponsável, despropositada e inesperada destituição do então director-geralangolano, o outro sócio maioritário, a empresa russa estatal Alrosa, que na verdade apoiava a continuidade do ex-DG angolano, aproveitoupara colocar um DG de nacionalidade russa.
Com a nomeação do novo DG russo, Serguei Amelin, no início deste ano, começou o retrocesso da empresa. De facto, ao longo do presente ano de 2015, Catoca foi “assaltado” por uma avalanche de técnicos russos, justificada com o falso argumento de que em Angola não existem técnicos nacionais com experiência e capacidade suficientes para o desenvolvimento da empresa.
A verdade regista que até 2014, com quadros nacionais nos principais órgãos de direcção da empresa, a Sociedade Mineira de Catoca era nacional e internacionalmente considerada o orgulho e exemplo de boa gestão empresarial. Por conseguinte, em Angola foi a primeira empresa a ganhar o Prémio Sirius, da prestigiada consultora internacional Delloite, distinção outorgada anualmente àquela que é considerada a melhor empresa do país.
No início da década de 2000, Catoca tinha cerca de 140 técnicos expatriados de nacionalidade russa. Tendo a antiga direcção empreendido uma séria política de formação de quadros nacionais, assim como desenvolvido a política de substituição de técnicos expatriados por nacionais bem qualificados, permitiu a redução da mão de obra expatriada da Rússia em cerca de 50%. Ou seja, se em 2000 existiam cerca de 140 técnicos russos, em 2014 este número havia reduzido para 70, o que representava também menos gastos para a empresa, visto que os expatriados em regra custam muito mais caroque os nativos.
Desde que Serguei Amelin tomou posse, em Fevereiro de 2015, até Setembro passado,chamou mais de uma centena de russos, sendo que alguns já laboram oficialmente com os correspondentes vistos de trabalho. Outros, porém, trabalham ilegalmente, uma vez que não possuem vistos para o efeito e muitos outros ainda aguardam na Rússia para virem a Angola, por via de cartas-convite já emitidas por Serguei Amelin, transformado em “dono” do Catoca.
Um caso paradigmático de que o DG transformou Catoca em coutada privada é o que se segue. Dos vários russos que trabalhavam ilegalmente em Angola, há dois nomes que se sobrelevam, designadamente Ivan Gourgenov e Yuri Neomini. Há sensivelmente quatro meses, o DG do Catoca reuniu a direcção para informar que a empresa necessitava de um novo software para compras de serviços, materiais e equipamentos. Nesta reunião, Ivan Gourgenovsurgiu numa vídeo-conferência, a partir da Rússia, na qualidade de intermediário da venda do “bendito” software, denominado Orpheu.Então, através da vídeo-conferência e com o irrestrito apoio de Serguei Amelin, Ivan Gourgenov tentava convencer sobre as “grandes vantagens” do software em causa.
Nesse dia, na sala ninguém acreditava no “peixe” que o suposto intermediário tentava vender. Nem mesmo os russos. Mas todos tinham medo de contrariar o todo-poderoso DG, sob pena de sanções sociais difusas ou ostracismo aberto. O “filme” produzido por Serguei Amelin visava influenciar os restantes cinco directores que, não tendo, entretanto, “engolido” o mal-elaborado “enredo”, meteram-se em copas e deixaram a sala para murmurarem fora sobre o “argumento” de terceira que o “patrão” tentou impingir-lhes.
Além de Serguei Amelin, a SMC tem dois directores-gerais-adjuntos, de nacionalidade angolana, um director de Produção russo, um director de Recursos Humanos brasileiro e um israelita que desempenha o cargo de director de Administração e Finanças. Todos sabiam que o “peixe” que se aprestava a ser vendido não era da excelência que o pregão dizia, mas outros interesses sobrepuseram-se à verdade.
Mesmo assim, Ivan Gourgenov não só conseguiu vender o desnecessário e supérfluo software,como passados pouco menos de 60 dias “caiu” de para-quedas em Catoca, onde foi apresentado como Director de Compras, para espanto dos incrédulos directores não-russos. Face à indignação de alguns dos seus parceiros de direcção e dos trabalhadores angolanos, que já não queria calar, Serguei Amelin tratou de “corrigir o tiro” e apresentar o seu compatriota como “grande especialista” em compras internacionais, ramo em que supostamente tinha larga experiência. Estranhamente, depois de ter sido apresentado como Director de Compras, “baixou” para Chefe de Departamento de Compras, Contratos e Logística, para mais tarde “virar” assessor do DG para Compras de Excelência!
A verdade é que o “comprador de excelência” Ivan Gourgenov, tal como muitos outros russos que “caíram” da mesma forma que ele em Catoca, trabalha sem nomeação oficial, sem qualquer documento que indique a sua função. Isto não lhe impede, todavia, de assinar documentos da empresa, fazer as compras que lhe apetece – em demasia, diga-se –, quase exclusivamente só a fornecedores russos. Mais grave do que isso é que o “assessor” já trabalhou em Angola ilegalmente, com visto de turismo. Apesar de a Lei do país ser “estuprada” constantemente pelos russos do Catoca, nem os directores angolanos têm coragem de denunciar isso, com medo de represálias e perda de regalias. Na verdade, os DG-Adjuntos não passam de figuras decorativas, sem poder real nem participação nas principais tomadas de decisões. Na prática, são subjugados pelo DG russo e até pelo seu subordinado israelita que se ocupa da pasta das Finanças e outros russos, independente da categoria que possuam.
Serguei Amelin sabe que este cenário não se vai prolongar por muito tempo e que mais cedo do que tarde alguém que efectivamente mande neste país vai pôr ordem no circo. Por isso, parece ter gizado um minucioso plano de delapidação e rapina da empresa que deve ser executado no mais curto espaço de tempo possível. E o plano é simples: Colocou Ivan como comprador principal da empresa, orientou o fraquíssimo director de Produção russo Vadim Dzura, chamou da Rússia Yuri Neomin, que era fornecedor do Catoca, e colocou-o como uma espécie de director-adjunto de Equipamentos de Produção. Assim, Yuri Neomin prepara as encomendas, Vadim aprova, enquanto Ivan compra com a aprovação final de Amelin.
No âmbito desse plano tétrico, as áreas e departamentos da empresa que eram geridas por quadros nacionais, de facto e de jure, estão agora em mãos expatriadas, principalmente russas. Atente-se, pois, ao funesto quadro “pintado” por Serguei Amelin. Minas: Serguei Podozov; Metalurgia: Erockin; Manutenção de Equipamentos: Yuri Neomin; Suprimentos e Logística: Ivan Gourgenov; Planeamento e Controlo: Alexey; Programação de Produção e Controtolo Técnico: Kamarov; Formação de Quadros: Tiago Duarte; Operações de Recursos Humanos: Deam. Todos são russos, com excepção dos dois últimos, de nacionalidade brasileira. Estes e outros expatriados, apoiados pelo DG russo, director de Produção Russo, director Financeiro israelita (para os trabalhadores é o pior de todos) mandam a seu bel-prazer, sem que os GD Adjuntos angolanos tujam ou mujam, o que é estranho.
Outro sinal de que Catoca está a saque é que mesmo tendo o DG a informação do Departamento de Equipamentos, segundo a qual a empresa tem camiões de transporte de minério e estéril em quantidade confortável, não se coibiu de comprar três novos camiões e uma plataforma, meios da marca russa Belaz, que custaram quase Cinco Milhões de Dólares Americanos. O estranho, ou nem tanto assim, é que todos sabem que as performances destes equipamentos são quase nulas e até na Rússia são usadas marcas internacionalmente reconhecidas como a Caterpillar, Komatsu, Volvo, Libeher e outras. Mas Amelin é a Lei dentro da Catoca e arredores. Ele pode e faz tudo o que lhe der na real gana e nas reuniões com as chefias intermédias da empresa diz à boca larga que não representa a Alrosa mas sim a Endiama...
Outro sinal da delapidação da Catoca está no descaso que o DG faz do sector de Planeamento Estratégico, cuja missão é criar novos negócios, no fundo, diversificar, o que significa projectarnovas concessões, quer ao nível nacional, quer ao nível internacional, destacando-se neste capítulo os investimentos no Zimbabwe e na RD Congo. Foi a partir dessa área criada em 2012 que se descobriu a nova mina do Luaxe, apresentada como troféu exclusivo da Endiama.
Desempenho operacional baixa, custos sobem
Catoca, é consabido, sempre foi uma empresa rentável, proporcionando mais lucros e receitas fiscais que todas as outras diamantíferas juntas. Porém, devido a gestão nada parcimoniosa de Serguei Amelin, o desempenho operacional está em baixa e, consequentemente, os lucros. Por esta razão é que para a Assembleia-Geral da empresa, realizada quarta-feira última, 25 de Novembro, havia preparado um relatório em que apresentaria apenas os custos gerais operacionais, ficando mascarado o facto de apesar de os custos terem reduzido, a massa mineira tratada foi, de longe, inferior ao período homólogo de 2014. Prova disso é que de Janeiro a Outubro do ano passado, Catocatratou 14.200 milhões de metros cúbicos de massa mineira, com um custo de USD 325,5 milhões (custo unitário de USD 22,30), ao passo que no mesmo período de 2015 a massa tratada foi de 12.700 milhões de metros cúbicos, que custaram USD 293 milhões (custo unitário de USD 23,30). Portanto, sendo estas simples contas aritméticas – não há necessidade de se recorrer à matemática que é algo mais complexo –, é fácil concluir que a nova direcção está a onerar mais a empresa que a anterior.
Não menos grave porque futuramente, quando os russos já não estiverem em Angola, é o desprezo que Seguei Amelin e os seus pares de direcção têm pelas normas universalmente consagradas de protecção ambiental. Qualquer trabalhador de base do sector sabe que o desenvolvimento de uma mina passa pelo tratamento do minério de forma proporcional ao tratamento do estéril. Este preceito básico não tem sido observado, estando Catoca neste momento a tratar mais minério do que estéril, prática que visa unicamente a busca cega de proventos financeiros, também conhecida nos círculos mineiros como “tratamento de lavra ambiciosa”. Mas isso terá um custo alto lá mais para a frente. Quer dizer, o futuro da mina será comprometido por via da redução do tempo de vida útil porque o seu desenvolvimento não é sustentável.
A factura, esta, será apresentada pela mãe-natureza lá mais para a frente, com consequências nefastas imprevisíveis para a região, numa altura em que Seguei Amelin, David Mishal, Ivan Gourgenov e outros da mesma confraria estarão refastelados nas poltronas de suas casas, gozando as delícias do dinheiro ganho em angola sem justa causa.
MPLA pode pagar a factura
Se do ponto de vista ecológico a factura da exploração de rapina desenvolvida pela actual direcção-geral da Catoca virá lá mais para a frente, politicamente esta pode ser apresentada já dentro de sensivelmente ano e meio, quando o país for a votos para mais um pleito eleitoral, o de 2017. Isto porque, além de tudo o que já foi relatado, a gestão danosa de Serguei Amelin tem humilhado os nativos das regiões diamantíferas, onde os russos são os novos donos e senhores.
O governo da Lunda-Sul e a SMC firmaram um protocolo de cooperação para o desenvolvimento da província, abrangendo os sectores da Saúde, Educação, Desporto, Cultura, Fomento Empresarial e outros. Ao abrigo desse acordo existiam vários programas, entre os quais o de cultivo de peixe cacusso e mandioca, alimentos muito consumidos na região, e também um de apoio às comunidades rurais, para citar apenas estes. Com a chegada dos russos, porém, estes programas desaceleraram, estando quase a perecer.
O motivo dessa desaceleração prende-se com o facto de a obrigatoriedade de realização de concursos públicos para adjudicação de obras e encomendas estar a ser ignorada, resultando daí a falta derecursos para sustentar os programas em referência. O que acontece é que empresas russas beneficiam de adjudicação directapara quase tudo que são obras e fornecimentos a Catoca. Só assim se justifica que no presente ano o fornecimento proveniente de empresas privadas russas tenha duplicado, senão mesmo triplicado.
Até em Saurimo, capital da província, onde existem várias pequenas e médias empresas angolanas de construção, que deveriam ser alavancadas pela actividadeda Catoca, no âmbito da parceria estratégica com o governo provincial, as firmas russas tomaram a dianteira. E há muitos exemplos disso mesmo. Um é o da construtora Rosanstroy, detida por um cidadão russo conhecido por Bestolov e com sede na capital da província, que sem concurso obteve a adjudicação de contratos no valor de Um Milhão de Dólares Americanos para a construção da nova oficina da Catoca; para a instalação da vedação do armazém de sucata; e para a construção do muro do armazém central. Outro é o da Wenco, do também russo Losif Tabakman, igualmente beneficiada sem concurso com um contrato de Quatro Milhões de Dólares Americanos para a instalação de um sistema de rádio-comunicação em camiões da diamantífera.
As pouquíssimas empresas angolanas que ainda prestam serviços a Catoca só o fazem porque alguns proprietários tiveram de usar de altas influências para não serem apeados do negócio, enquanto outros optaram por métodos menos ortodoxos, ameaçando directamente o director russo ou seus conterrâneos coadjutores. Isto faz com que os nativos sintam-se párias na sua própria terra, excluídos na partilha da riqueza que brota no seu próprio quintal, enfim humilhados. Tudo isto tem exasperado os ânimos na província, onde centenas de milhares de cidadãos juram a pés juntos penalizar o MPLA nas urnas, em benefício do PRS, partido de origem local, que na opinião de muitos populares, está em melhores condições de defender os interesses da região.
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