São 34 cadáveres e 350 órgãos humanos que estão desde sábado, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.Real Bodies – Descubra o Corpo Humano mostra o que acontece quando nos movimentamos.
Uma bailarina, um lançador de pesos, um basquetebolista com a bola na mão – três corpos literalmente sem pele, músculos flectidos, parados, mas cheios de movimentos. Há uma galeria na exposição Real Bodies – Descubra o Corpo Humano dedicada inteiramente ao desporto, para mostrar que o corpo humano está concebido para o movimento.
“Queremos transmitir às pessoas que o corpo humano é óptimo para o movimento”, explica ao PÚBLICO Laura Alegria, curadora da exposição, defendendo que a mostra promove uma vida fisicamente activa, algo que é bom para o próprio corpo. “Precisamos de nos mover. Nesta sociedade passamos muito tempo sentados.”
Quem visitar a exposição aberta desde 31 de Outubro na Cordoaria Nacional, em Lisboa, e ainda sem data de encerramento, irá ver muito mais do que isso. Ao todo, há 34 cadáveres e 350 órgãos humanos preservados com três técnicas diferentes e têm um aspecto fresco. Por isso, é possível ver como são as nossas entranhas: os aparelhos respiratório, digestivo, urinário, sexual, circulatório; o cérebro e muitos, muitos músculos.
“É muito didáctica”, diz a curadora, da Doca, a empresa inglesa que montou a exposição juntamente com a portuguesa World Crew - Events. “É feita para que todas as pessoas possam perceber o que é o corpo humano.”
Esta não é a primeira vez que Lisboa recebe uma exposição deste género, onde se mostram cadáveres humanos preservados. Em 2007, o Palácio dos Condes do Restelo, na Rua da Escola Politécnica, abria as portas para a mostra O Corpo Humano Como Nunca o Viu. Cinco cadáveres que estão na Cordoaria Nacional já tinham feito parte daquela exposição.
Para lá da plastinação
Várias exposições semelhantes passearam-se por muitas cidades do mundo nos últimos anos. Tudo começou com Body Worlds, de 2004, criada pelo médico anatomista Gunther von Hagens, que em 1977 desenvolveu uma técnica de preservação de cadáveres que baptizou de “plastinação”.
A plastinação permite fixar os tecidos mortos de forma a impedir a sua decomposição. É uma técnica constituída por cinco passos: primeiro, usam-se substâncias químicas para travar a decomposição do corpo; depois, dissecam-se as partes necessárias do cadáver para mostrar a sua anatomia; em terceiro lugar, elimina-se a água do corpo usando acetona; de seguida, coloca-se o corpo numa câmara de vácuo, num banho de polímeros líquidos – o vácuo obriga a acetona líquida a tornar-se gás, libertando-se dos tecidos, e sendo substituída pelos polímeros; finalmente, aplica-se silicone para endurecer o corpo.
Desta forma, graças às propriedades do plástico, o cadáver fica preservado indefinidamente, com um aspecto luzidio.
Na nova exposição, além da plastinação, há ainda a utilização de mais duas técnicas, explica Laura Alegria. Uma em que se utilizam resinas de epóxido (um polímero artificial), o que permite endurecer os tecidos. Esta técnica foi usada para, depois, se poderem cortar finas fatias do corpo humano, outra aposta da exposição. A terceira técnica, chamada “fundição”, permite conservar apenas o sistema circulatório. Neste caso, injectam-se polímeros nas veias e artérias. Desta forma, é possível conservar os vasos sanguíneos, da cabeça aos pés, sem mais nenhum tecido.
Os cadáveres provêm dos Estados Unidos e da China, segundo a informação prestada pela empresa de assessoria portuguesa da exposição Inha&Maria Luís: alguns pertenciam a pessoas que doaram os seus corpos para a ciência depois de morrerem, outros eram de pessoas que morreram e os seus corpos não foram reclamados. As leis dos Estados Unidos e da China, refere ainda a empresa de assessoria, permitem que os corpos sejam doados para a ciência.
No passado, algumas exposições pelo mundo com cadáveres humanos plastinados estiveram envoltas em polémica quanto à origem dos corpos. Grupos defensores dos direitos humanos acusavam as empresas que organizavam as exposições de que os corpos eram de presos chineses condenados à morte.
Esta exposição, que veio de Jesolo, no Norte de Itália, junto a Veneza, está aberta das 10h às 20h, todos os dias da semana, incluindo fins-de-semana e feriados. O bilhete custa 15,5 euros por adulto e há descontos para estudantes, idosos, crianças, famílias, grupos de adultos e grupos escolares.No fim-de-semana de abertura, mais de 3000 pessoas visitaram a exposição.
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