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Se no meu país houvesse um interesse genuíno pela paz era desta vez que acabava a palhaçada do Centro de Conferências Joaquim Chissano e se devolvia a discussão do presente e futuro político do país ao parlamento. Para isso era necessário que houvesse mais compromisso com a democracia, um conceito que infelizmente causa muita confusão na cabeça de muita gente. Era preciso que o país tivesse um governo com um programa claro de paz (que vai para além de acomodar a Renamo, mas garantir uma liberdade real dos moçambicanos); era preciso que tivesse mediadores com mais coragem ainda de chamar a atenção do líder da oposição para o facto de que eles não têm nenhum mandato do povo para trivializar o parlamento; era preciso que o país tivesse uma oposição não-armada que sabe intervir nestes assuntos a favor dos princípios constitucionais (e não dos seus ressentimentos em relação à história); era preciso que o país tivesse uma imprensa menos clubistas que aposte na promoção dum espaço de discussão e intervenção que ice os princípios constitucionais como bandeira da argumentação (e não o que cada um sente em relação aos que estão envolvidos no assunto); era necessário que houvesse uma esfera pública que se sentisse desconfortada na posição de espectadora. Era, enfim, necessário que houvesse um compromisso real com a democracia, e não aquele gesto instintivo que garante financiamentos para isto ou aquilo, elogios deste ou daquele, aquela sensação de que estou do lado dos bons contra os maus.
“O mundo começou sem o homem e vai acabar sem ele. As instituições, os sistemas de moral e os costumes que eu passei a minha vida inteira a documentar e a tentar entender são eflorescências passageiras duma criação em relação à qual eles não têm significado senão talvez o de permitir à humanidade desempenhar o seu papel na sua criação”.
Estou a citar em tradução literal do brilhante livro autobiográfico de Claude Lévi-Strauss com o título que uso também para este “post”. A Pérola do Índico dá um novo significado a estas palavras prescientes do antropólogo francês.
Lindo A. Mondlane, Gabriel Muthisse, Luís George Generoso e 55 outras pessoasgostam disto.
Comments
Chixssone Abel Pinto O que é democracia para Moçambique?
Elisio Macamo boa pergunta. responda!
Chixssone Abel Pinto De acordo com as abordagens teoricas sobre democracia, que traz uma serie de elementos que o compõe, não consigo encontrar uma resposta contextualizada sobre a democracia em Moçambique. Elementos como tolerância, participação, liberdade de imprensa e de associação, entre outros me coloca sobre em questão sobre essa "democracia" que estamos a viver.
Elisio Macamo compreendo. é só ter o cuidado de não ir à rua exigir coisas que não conhece como alguns fazem...
Alvaro Simao Cossa Exactamente Elisio Macamo, mas ha quem nao respeita o parlamento, nao acredito que seja a instauracao da democracia o objectivo da contenda, ha outros motivos meramente economicos. O que sempre ouvimos e' artimanha, para o ingles ver e ouvir.
Elisio Macamo nem nunca foi. mas é através do compromisso com ela que vamos limitar o ímpeto destructivo dessas pessoas.
Alvaro Simao Cossa Eu acredito muito Elisio Macamo, na sua conviccao ingenua da compreensao da nossa realidade, e' sinal de boa vontade e patritismo enorme, em mim tambem vive essa celula, por isso eu te compreendo, mas ha outros estimulos que movem a oposicao, e pelos...Ver mais
Fernando Chiconela Farei "like" depois de ler.
Fernando Chiconela Espero que este regresso de Dlhakama da parte incerta, seja a luz oara uma Paz proficua. A Paz começa em cada um de nós. É preciso aprender a viver na diferença.
Elisio Macamo duvido que seja. aquele indivíduo vai regressar tantas vezes quantas forem necessárias para acomodar o ego daqueles que encontraram a sua realização social na trivialização da nossa vida.
Mario Joao Gomes Como nao sou um expert nestas areas, so me resta dizer que concordo com o prof Elisio Macamo, e acho que sinceramente a Renamo e o seu presidente terao que fazer politica de outra forma, se quiserem chegar ao poder, assim nao vao la, de certeza, o tempo vai passando, a idade vai pesando.. ...do outro lado da barricada ha erros tambem...todos no geral a falhar redondamente... best
Elisio Macamo todos nós teremos que fazer política de outra forma abandonado este nefasto princípio dos fins que legitimam os meios. precisamos acima de tudo de gente comprometida com princípios e não com crenças.
Mario Joao Gomes Absolutamente prof Elisio.,,I agree...politica sem armas e em agressividade nas palavras, de todos..
Innocent H. Ab Prof., qual é o acontecimento (ou a linha de tempo) que marca o fim da época de palhaçada e o início da seriedade que desenvolves no post? Será que não houve inúmeras ocasioes para tal que não foram aproveitadas?
Elisio Macamo boa pergunta.
Jose Luis Barbosa Pereira Professor,muito profundo o que escreveu...oxalà seja compreendido e escutado...e sobretudo que se materialize esse sonho...a democracia constròi - se e depende de todos nós...
Cremildo Chitará A transferir-se (devolver, na verdade) diálogo para a Assembleia, ter-se-ia que alterar (inverter, de facto) as regras daquela casa, para que a minoria ganhasse nas votações (pelo menos na opinião dos académicos, analistas e especialistas que ocupam todo o espaço de opinião para estimular os aplausos ao líder e sua "entourage"!)
Elisio Macamo sim, é mesmo devolver o diálogo. não é transferir. é devolver.
Guilherme Mussane Caro Elisio Macamo, à montante da realidade politica actual da pérola do Indico, os argumentos ou as propostas que apresenta são de aplaudir. Todavia, quero lembrá-lo que, à jusante, recentemente, o seu colega e amigo Severino Nguenha alertou para o facto de não se considerar o Direito como panaceia de todos os problemas políticos do País. Severino diz e cito de memória: "O mais importante é que saibamos ter uma sociedade justa. O direito deve estar em sintonia com a justiça". Temos que ter ousadia de revisitar a constituição, a Lei Eleitoral e outros instrumentos de cariz legal e perguntarmos-nos se estes são o caminho e se são a verdadeira porta para chegar à Justiça.
Cremildo Chitará E cada vez que um grupo não se sentir "justiçado", vamos rerevisitar os instrumentos legais para "integrar" tal grupo!!!
Guilherme Mussane Caro Cremildo Chitará, a justiça não é uma dádiva de Deus, é uma construção social que exige vontade, entrega e muita disposição para dar, receber e retribuir como bem diria Marcel Mauss. Nunca haverá justiça acabada, perfeita que agrade, a mesma medida e ao mesmo tempo à todos.
Armistício Mulande Mas é isso mesmo Guilherme. Não vamos revisitar a constituição e as leis com AKM e comícios que evocam a divisão. Nem com ultimatos e demonstração de força de quem quer que seja. As leis são revistas neste país regularmente. A constituição, ela mesma, tem os parâmetros para a sua revisão. E ela pode ser revista, mas precisa de inteligência.
Elisio Macamo caro Guilherme, infelizmente não li essa entrevista do severino, por isso dependo de ti para saber o que ele disse. incomoda-me a distinção que fazes entre "montante" e "jusante", pois sugere um lugar privilegiado a partir do qual se podem ver as coisa...Ver mais
Guilherme Mussane Caro Elisio Macamo, a citação de memória acima é de uma intervenção, recente, do Nguenha no forum MOZEFO. Lí-a numa das edições do jornal "O País"desta semana. Vou procurar para transcrever. Respeito a sua posição, mas acho que o radicalismo de direito não foi, não é e nunca será solução para a justiça nem caminho seguro para a verdadeira reconcialição e paz que todos nós almejamos.
Guilherme Mussane Os americanos que muitas vezes se consideram pais da democracia, descobriram, recenetemente, que ter direito de posse de armas é legal, mas isto já está a criar problemas. E, o presidente Obama disse várias vezes que é preciso repensar este assunto. Isto mostra que não há desenho constitucional perfeito. Não nego que "a justiça está irremediavelmente casada com o direito"mas acho que não são nehuma obra art'sitica de Salvador Dalí e precisam de ser constatemente aperfeiçoados, arrejados, adequados a c ada momento da realidade histórica. Elas não obra acabada nem divina e, sendo resultantes da razão podem ser revisitados sempre que a realidade social o demandar.
Alcídes André de Amaral Eh! A nossa confusao quase cobarde com o conceito de Democracia `e o que temos entretanto, `e o que nos mata. Parece que ninguem esta (genuinamente) preocupado com a paz! Mesmo os homens de batina ate aos nossos intelectuais e os nossos politicos! Mesmo que se ande por ai a pedir a paz (a Paz pede-se?), a implorar pela paz, a encher comicios bombastico e ambivalentes do lider, a compartilhar informacoes como compartilha os resultados de futebol enfim, mesmo que se faca isso ninguem parece estar preocupado com a paz mas sim com ajustes de conta, raiva do seu mal estar, a sua insatisfacao politica a ponto de querer um fim independemente dos meios. Tudo isso porque nos escapa das vistas, da mente (e do estomago) os valores Democraticos, os principios democraticos. Nos falta cidadania, civilidade e consciencia critica... Assim, pelo mesmo sentimento que reparamos o Governo (seja por parte de alguns membros do partido como o MDM) tambem reparamos a RENAMO. Um sentimento vazio de objectivodade, carente de valores, caracterizada pela ausencia de principios! Estamos num mar e numa condicao em que onde atracarmos `e ai mesmo! Sabes, professor, precisamos de perola indianos!
Elisio Macamo profundo o que escreve Alcídes André de Amaral. o nosso problema é que temos ainda pouca gente a procurar refúgio nos princípios que a constituição consagra. esse é o problema. muitos pensam que basta condenar este ou aquele para se ser coerente. não falam de nenhum lugar em particular. falam.
Alcídes André de Amaral Sim. Por isso tenho dito que alguns de nos precisam de comecar a prnsar nas geracoes vindoras... ninguem apresenta um projecto, um modelo de cidade. Parece que nos preocupamos com "isto aqui" entretanto sem base alguma desta sua preocupacao!
Elisio Macamo isso.
Armistício Mulande Não há paz onde ninguém está preparado para ela. E a minha opinião é que não estamos, como sociedade, preparados para a paz.
Elisio Macamo bom, enquanto tivermos jornais como o canal de moçambique, jornalistas sérios que elevam um pesadelo ao estatuto de "figura do ano" só por pirraça contra aqueles que traíram os valores dum passado tenebroso, enquanto tivermos uma esfera pública que pensa que ser democrata é dizer que se é democrata nunca estaremos preparados para a paz como sociedade.
Niz Tambira Entao como é que podemos sair do ªdialogo falaciosoª para uma Democracia preocupada com o bem estar colectivo?como termos cultura politica higienizada é uma imprensa também higienizada que cumpre o seu mandato neste cenário de absoluta partidarizacao das mentes?
Elisio Macamo sabe, com todo o respeito, não entendo o sentido destas perguntas. é para dizer o quê? que só com a guerra justa, com comícos incendiários, com a divisão do país? quando é que vamos entender que a mudança que queremos começa connosco mesmo a partir da rejeição da violência. ninguém é vítima ou espectador.
Reginaldo Mutemba Se vencermos as alas.... Vencermos a ambicao desmedida, possamos ter um parlamento que discuta assuntos do paiis e nao assuntos pessoais. Se vencermos o objectivo pelo qual as pessoas sap indicadas a dedo nos respectivos partidos para ser deputados. Vencer a conciencia segundo a qual, ser deputado significa favor que os lideres dos partidos dao, de poder obter isencoes fiscais e passar a ganhar prestigio e regalias. Um parlamento que nao ee independente de interesses individuais, nao ee parlamento republicano.
Alvaro Simao Cossa A nossa compreensao errada da democracia, faz-me deduzir que so ha paz onde existe democracia, mas nao e' assim, esta forma de pensar nao porta nada realistico nem cientifico. A paz nao e' resultado somente da democracia, teriamos que recorrer a historia da humanidade para compreender esta verdade.
Reginaldo Mutemba " o fazer de conta" , complica muito.
. nao assumimos novas formas, as quais comprometemo-nos...
Domingos Chapungo Realmente meu caro! Pena que este país tem parlamento sem parlamentares, tem oposição, sem opositores, tem academicos sem academia, tem jornalistas sem jornalismo, tem analistas sem analises. Os arbitros não são proibidos a ter clubes, mas não podem manifestar-se ao apitar um jogo. Oque acontece nesta patria que me pariu é o inverso. Tenho pena do nosso futuro!






















1 comentário:
lamento bastante o cenario que se vive na perola do indico,fala se tanto do dialogo mas o governo é primeiro a kevantar as armas .pela paz
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