24.10.2015
MIGUEL CONDE COUTINHO
Eu gosto bastante de estabilidade, mas da estabilidade do meu emprego, dos impostos que espero ter de pagar, dos preços dos serviços públicos básicos e das taxas que os fazem subir, das pensões atuais e futuras, da capacidade do sistema de justiça de proteger a minha presumível inocência e de perseguir e punir quem prevarica. Gosto ainda mais da estabilidade do direito de todos poderem escrever e dizer o que pensam, e da convicção de que mais importante do que o consenso ou a unanimidade, é a legitimidade da dissensão, da discordância e da incoerência. Gosto da estabilidade de haver incerteza eleitoral regular, que é sinal de que existem opções e compromisso.
Na última década tivemos a estabilidade de duas maiorias absolutas. Uma gerou a bancarrota e a outra desembocou nesta radicalização de posições. Tudo debaixo do olhar paternalista de Cavaco Silva, um adepto do caminho único que defendeu sempre o valor da estabilidade do Governo, acima de todos os outros, independentemente da arrogância de quem governou. Na política, a diferença e a incerteza são condições prévias da democracia. Que tenha sido Mario Draghi (!) a lembrar esta evidência, quando comentou esta semana a situação de Portugal, demonstra bem ao ponto a que isto chegou.
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