segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Floresta na cabeça


6 h · Editado · 

Acho que agora consegui perceber melhor certas coisas. Sempre concentrei a minha atenção na proteção de crenças como o factor que impede debates mais construtivos na nossa esfera pública. É isso, mas precisa de ser contextualizado melhor. Quando olho a minha volta e vejo a forma como certos assuntos são abordados e por pessoas que não são de todo burras, fico parvo pelos níveis de inconsistência e incoerência. Por exemplo, se o líder da oposição disser em público que mandou matar agentes da lei e ordem haverá os que vão condenar isso com veemência (eu estarei entre eles) e aqueles que o vão defender. Se as forças da lei e ordem matarem alguém ligado à Renamo haverá o mesmo tipo de reações com papéis trocados. As vidas humanas que se perdem não vão fazer parte dessas reações senão como acessório dramático para incutir maior força à indignação.

Algumas pessoas atribuem este tipo de reações à quebra de valores morais na nossa sociedade. Nunca gostei dessa explicação por ela depender muito da idealização dum passado que nunca foi como a gente gosta de pensar que ele foi. E agora que penso ter uma explicação para isto dou-me conta de que, na verdade, o problema em Moçambique não é de falta de moral. Aliás, a explicação é justamente o excesso de moral. O que está a fazer mal a nossa sociedade é o excesso de valores morais. São valores apenas partilhados por grupos e guardados de forma ciumenta pelos seus membros como se fossem sua propriedade exclusiva. Esses valores funcionam como uma floresta que nos separa da razão. É um emaranhado que ergue barreiras contra a penetração da razão naquilo que debatemos. Nenhum de nós está imune a isso, nem mesmo eu que deploro a situação. O que acontece é que o mecanismo normal duma discussão que consiste em apresentar argumentos que se impõem em virtude de estarem mais próximos da verdade (ou da razão) esbarra constantemente contra este emaranhado de valores morais que filtra tudo e só deixa passar aquilo que não fere esses valores. Portanto, a aceitação duma posição passa a ser mais importante do que a qualidade do próprio argumento que sustenta essa posição.

Contei três valores e uma atitude que formam a floresta que faz frente à razão na Pérola do Índico a partir da leitura que faço do debate no Facebook. O primeiro valor é o patriotismo. É a marca argumentativa dos que estão mais próximos do governo. Para os patriotas debater é defender a Pátria; defender a Pátria é interpretar toda a interpelação que se faz ao governo como uma afronta, ingratidão, falta de auto-estima e alienação cultural. Nenhum argumento passa neste emaranhado se não consegue provar que não põe em causa a Pátria. Os principais espantalhos alvos das diatribes dos patriotas são o Ocidente, os doadores (sobretudo a União Europeia de Maputo, não a de Bruxelas – e aqui confesso-me também culpado, mas com razão!) e os brancos. Os brancos são um alvo privilegiado destas diatribes porque pela cor da sua pele dão melhor visibilidade à ameaça que pesa sobre a Pátria defendida por alguns dos patriotas. É uma ideia extremamente coerente assente num nacionalismo racial que, na verdade, inverte os termos dum conflito que parcialmente custou a vida a Mondlane durante a luta armada. Nessa altura esse nacionalismo racial tinha como seu inimigo o nacionalismo cosmopolita de Mondlane que permitiu que a luta armada fosse inclusiva e, por isso, acomodasse todas as cores do mosaico racial moçambicano. O problema desse nacionalismo cosmopolita, porém, foi que ele se prestou a uma interpretação marxista que violou o princípio inclusivo que tornara possível pensar Moçambique nesses termos e que culminou com o autoritarismo da primeira República. Para esse nacionalismo racial o problema em Moçambique foi justamente essa acomodação da “degeneração” (brancos, mulatos, asiáticos, etc.). Essa “degeneração” é que levou o país aos excessos da primeira República de modo que defender a Pátria hoje significa expurgar esses elementos do tecido político nacional. Nesta ordem de ideias, Dhlakama não constitui problema por ter reivindicações que até podem ser legítimas. Ele é problema porque, na óptica dos patriotas, está a ser usado pelos inimigos da Pátria. Nestas circunstâncias, nenhum argumento, por mais razoável que seja, vai passar se não conseguir enfraquecer as barreiras erigidas pelo patriotismo.

O segundo valor é o regionalismo, um dos maiores quebra-cabeças do nosso país. O regionalismo como valor é, por razões óbvias, mais vincado no Centro e no Norte do país, mas sobretudo no Centro. Para os regionalistas debater é mostrar até que ponto o país é controlado pelas etnias/elites do Sul. Tudo o que o governo faz tem como objectivo cimentar a supremacia do Sul em relação ao resto do país. Aqui também há ecos de conflitos trazidos da luta armada. Os que se opuseram ao nacionalismo cosmopolita de Mondlane na base dum nacionalismo racial profundamente influenciado por uma religiosidade cristã protestante reorganizaram-se em torno dum discurso mais ecuménico que inclui também os católicos com contas a ajustar com a Frelimo gloriosa e que ganha a sua coerência na rejeição do “Sul” (o termo mais vernáculo é: Matxangana). Neste contexto, Dhlakama não vale pelo seu discurso político, mas sim por representar a única defesa bruta contra o “Sul”. Mesmo pessoas bem esclarecidas têm dificuldades em resistir a esta postura. Podem até criticar Dhlakama pelos seus excessos, mas quando chega o momento em que ele está prestes a perder tudo (por exemplo, no ano passado quando foi cercado e recentemente com as emboscadas), o sentimento regionalista vem ao de cima e tolda as suas mentes ao ponto de perderem completamente o discernimento. Quem vai nos defender do “Sul” se ele desaparecer da cena política? Os insultos recentes ao Arcebispo Segunlane na Beira fazem parte deste padrão moral. Nestas circunstâncias, o debate de ideias fica sempre refém da força normativa do sentimento regionalista que, inclusivamente, faz de Nyusi traidor – à semelhança de malta Chipande, Pachinuapa, Tanzama, etc. durante a luta armada e durante a primeira República que foram vistos como traidores por se deixarem instrumentalizar pelo “Sul”. E com traidor não se negoceia porque traidor não pode inspirar confiança.

Para o terceiro valor uso o termo “populismo” na falta de melhor. É uma categoria avulsa que inclui dois tipos de convicções. A primeira é marxista e a segunda inspira-se na cultura dos movimentos sociais. Para a convicção marxista debater é denunciar a traição dos valores da “revolução moçambicana” protagonizada pelos seus inimigos que se camuflaram no passado como “revolucionários” e que agora deixaram cair a máscara. Daí a virulência dos ataques a Guebuza que teve o azar (ou a opção) de se fazer rodear por “patriotas” com aquele discurso racial que vimos mais acima. Para os marxistas entre nós, o Moçambique da Frelimo gloriosa teria sido o paraíso na terra se não tivesse havido desestabilização, razão pela qual muitos deles se opuseram a uma solução negociada do conflito. Mas uma vez que o país se viu obrigado a vergar-se perante o capitalismo internacional era de esperar que os camaradas de então prosseguissem com a luta pela transformação socialista do país, algo que não fizeram, traindo assim os ideais revolucionários pela segunda vez. Isso é imperdoável. A coisa é como em seitas religiosas. O pior inimigo não é aquele que ainda não foi convertido, mas sim aquele que abandona a comunidade. Isto explica o matrimónio de conveniência que existe entre os marxistas e Dhlakama. Nenhum deles morre de paixões por Dhlakama, mas o princípio é simples: inimigo do meu inimigo é meu amigo. O nosso país produz situações caricatas, pois Dhlakama e seus simpatizantes no MDM gostam muito de falar mal dos “comunistas” esquecendo-se que esses há muito que saltaram a trincheira… A segunda convicção que integra o populismo é a dos movimentos sociais, de gente, portanto, que se vê a si própria como defensora dos injustiçados vítimas da ganância das elites políticas. Esta segunda convicção não é necessariamente militante, nem toma obviamente partido por qualquer das partes, mas em dúvida a tendência é de se deixar persuadir pelo argumento que pinta mal o governo.

Acrescentam-se a estes valores morais uma atitude que eu gostaria de classificar de “prebendalismo”. Este termo designa uma condição em que uma instituição paga o sustento de alguém em troca dos serviços que essa pessoa presta a ela. Tem origem romana e continua a ser a principal marca do funcionamento da igreja católica que a institucionalizou na Europa medieval. No nosso discurso político damos o nome de “lambe-botismo” aos requisitos que devem ser satisfeitos para que alguém beneficie de prebendas, sobretudo do Estado.

O prebendalismo tem duas vertentes no nosso país. Dum lado ele manifesta-se como a defesa incondicional da posição do governo ou da posição dos que estão contra o governo na esperança de daí tirar proveito quando o dia chegar. Doutro lado ele manifesta-se como a defesa de posições susceptíveis de conquistar a atenção e o favor dos “doadores”. No nosso país um dos efeitos mais nefastos do prebendalismo virado para os doadores é a comercialização dos problemas sociais do país em troca da garantia dos meios de auto-reprodução da sociedade civil profissionalizada. O outro efeito é o de privar a esfera pública nacional de gente politicamente lúcida que prefere vestir o manto da “neutralidade” e só se pronunciar em questões políticas quando quer renovar a sua ilegibilidade às prebendas da indústria do desenvolvimento. Isto significa naturalmente criticar o governo usando aquela linguagem típica dessa indústria (corrupção, falta de transparência, direitos humanos, etc.).

Portanto, o prebendalismo convoca duas formas de estar no país. Por um lado, mobiliza gente que funciona como tropa de choque na esperança de ser chamada a ganhar alguma coisa no aparelho do Estado ou a ser deputado por um dos partidos da oposição. Por outro lado, ele promove uma indiferença cultivada em relação aos problemas do país na esperança de que a encenação da neutralidade resulte em alguns benefícios materiais (este grupo não exclui a possibilidade de ser chamado pelo governo, nessa altura ajusta o discurso). O prebendalismo é um investimento com muita paciência e exige persistência na defesa mesmo daquilo que é obviamente indefensável.

Sei que os tipos que tentei descrever aqui são muito rígidos, algo estereotipados e de certeza não exaustivos. Não fazem justiça a todos quantos intervêm no debate público, nem explicam completamente as dificuldades que a razão tem de se impor na nossa esfera pública. Ajudam-me, contudo, a avaliar alguns posicionamentos (incluindo os meus próprios posicionamentos) e a apreciar a grande dificuldade que é encontrar um ponto de enunciação a partir do qual poderíamos ter discussões úteis sobre o devir do nosso país. Essas discussões que não temos são aquelas que colocariam os méritos das questões no centro. São as discussões que articulariam os nossos argumentos com princípios e não necessariamente com valores.

Estou a fazer uma distinção algo problemática, mas útil. Quem articula o seu argumento com um princípio, por exemplo, o princípio liberal democrático da tolerância participa no debate político movido pela preocupação de respeitar os valores dos outros participantes na base da premissa segundo a qual a defesa dum valor não pode implicar a negação do direito que os outros têm de se articularem em defesa dos seus próprios valores. Este é um princípio que parte da falibilidade humana e não pressupõe a existência duma verdade a qual todos se devem submeter. O princípio entra em conflito com a saturação do país por valores exclusivistas que abordam qualquer valor diferente como uma afronta e a pessoa portadora dele como um inimigo a abater.

É com este quadro que tento entender a qualidade do debate na Pérola do Índico, mas acima de tudo no Facebook. Tento entender donde vem a intransigência, donde vem a incapacidade de ver a razão, donde vem a coragem que pessoas semi-analfabetas têm de pôr em questão a opinião qualificada de alguém mais letrado (e digo isto ciente da ponta de arrogância contida na pergunta), donde vem a facilidade com que pessoas formadas brandem peças de jornalismo de duvidosa qualidade, enfim, donde vem a resistência à razão, ao rigor conceitual, à postura crítica. Há excepções, naturalmente, mas tal como no adágio popular europeu, não é com duas andorinhas que se faz uma primavera. As outras andorinhas não querem vir enquanto as florestas que ocupam as nossas cabeças forem tão densas como são agora.

Para termos debates úteis era primeiro necessário desbravar essas matas normativas que se opõem à razão. E esse é um trabalho cansativo que acarreta consigo o perigo de todos ficarmos assim, impenetráveis à razão. Mas pior do que isso, o tipo de “debates” que fazemos tornou-se num factor de guerra, não de paz. Na verdade, e tal como tenho dito regularmente, o problema não é, nem nunca foi Dhlakama, muito menos o governo. O problema somos nós numa ilustração caricata do que tenho chamado de fenómeno da bicha. Pensamos que encontramos a bicha quando na verdade nós é que fazemos a bicha (para os meus amigos brasileiros: fila). Quem ainda abana a cabeça estupefacto quando ouve que há guerra naquele ou noutro ponto do continente africano só precisa de olhar para a qualidade do debate no nosso Facebook para perceber a coisa. E é aí onde a defesa de convicções entra em cena. Debater é procurar apenas aquilo que reforça as nossas convicções, não o que nos obriga a questionar o que damos por adquirido.

Eu preciso de uma pausa. Noto com o andar do tempo que estou a ficar cada vez mais azedo, menos racional, e normativo. Não é bom. É mau sinal. Prefiro assistir e, de vez em quando, comentar, ou então falar das outras coisas belas da vida como viajar, comer, beber, envelhecer e dos amores da vida. Sempre tive inveja dos que só falam dessas coisas. Só de Deus é que não vou falar, pois esse ficou refém dos piores instintos na Pérola do Índico. Nem me interessa. Não estou a render-me, nem a desistir. Preciso de reflectir mais, e pronunciar-me menos.


Comments


Bayano Valy i hear you. mas podes ter a certeza que este teu "maderço" será aplaudido pelos teus detractores. às vezes é preciso violentar as mentes - acredito muito nisso. é que não vejo muitas vias para se fazer alguém abandonar as suas refeências normativas senão as de violentar a sua mente. sim, temos que viver e deixar as pessoas viver, mas quando as suas atitudes e práticas intelectuais causam mais danos do que bem, não vejo outra saída.


Elisio Macamo disso tenho a certeza, mas esse preço é menos mau.

Bayano Valy rir faz bem à saúde smile emoticon



Noe Nhancale Tocou na ferida, ainda mais com o mérito de ter sido humilde a ponto que incluir-se nos avos da critica que apresenta, só não gostei do anuncio da retirada ou retiro pois tem ajudado muito a chamar a razão em relação a maneira como os fenominos devem ser lidos.



Mario Joao Gomes Prof Elisio Macamo...eh para ja um.bom caminho. ..ha que descancar. ..abraco

Lindo A. Mondlane quanto ao ultimo parragrafo, acho que ha que seguir, sem dar se conta professor esta cambiando mentes e estes debates, sao escutados la em casa, e em parte redirreccionamos algumas decisoes dos governantes, pelo que acho positivo, ha meses tambem pensei igual me retirei de todos grupos politicos e fiquei apenas com os inocuos de ex estudantes em cuba, de literatura, cine etc.. mas nao posso evitar entrar num que outro debate aqui....


Elisio Macamo reflectir é também seguir.

Lindo A. Mondlane por isso professor, sabe sou seu devoto seguidor, e disfruto e aprende lendo esses artigos.. por certo deverias colecciona-los, se podem publicar em livro..


Juma Aiuba Desde o dia que Dhlakama voltou a cidade, parei de postar e comentar sobre politica porque vejo que os posts são lançados para não serem contrariados. Tenho visto peças jornalisticas de provocar ataque cardiaco. Nesse tempo que fiquei sem comentar politica não fui insultado. Como é bom!


Elisio Macamo é. o factor de guerras somos nós mesmos.

Alcídes André de Amaral Entao ai podemos dizer que somos o factor, as vitimas, os promotores... por outras palavras, nos matamos a nos mesmos mas negamos o homicidio... Somos deveras estranhos!


Raul Junior Desculpe Prof. Elisio, não fiz like ao texto não por que não tenha gostado, mas fiquei perdido do fio condutor! Hoje é dia do professor cá na pérola de Nyusi e de Dlakama! Posso aproveitar alguma passagem do seu texto dizer que o cenário Beira sobre Dom Dinis era previsível! Se há algo que temos em conjunto saber ultrapassar é a questão do regionalismo exarcebado! Temos também de aceitar o que eles defendem! Dom Jaime não me recordo em que momento veio apagar fogo em Maputo! Não estou a defender nada do mal. Temos de ser coerentes nos nossos valores excessivamente morais. Moçambique deve através de mecanismos educacionais muito fortes redefinir a moçambicanidade baseada em princípios de unidade na diversidade! Para quem vive nesta terra de jazigos sabe perfeitamente que ser do Sul é um erro tao grave para quem nasceu no Centro e Norte! Há quem, por exemplo, não gosta do que o Professor Macamo escreve sob simples argumento de que esse é do sul, dá aulas na europa porque é do sul, alias em machangana. Nunca discutimos nada sem olharmos para o céu regional. Eu estava feliz com o país que ia iniciar a partir do rio Save, porque Sofala e Manica passavam a ser Sul da nova República e Dlakama seria o Presidente do Sul! Abaixo tribalismo e regionalismo!


Elisio Macamo agora está a generalizar demais. a coisa não se apresenta assim em termos tão absolutos. estamos a falar da postura de certas pessoas, não de toda a gente.

Eliane Veras Esse é um dilema compartilhado. Nossa tendencia é tentar convencer os outros da justeza da nossa reflexāo e aí reside o risco de nos tornarmos normativos. A necessidade de estabilidade "lógica" conflita com os principios liberais a ponto de nos colocar a pergunta: é possivel de facto respeitar os valores dos outros?


Elisio Macamo é, tens razão Eliane. é um problema bicudo. talvez a questão resida nessa distinção bastante rudimental que tento fazer entre princípios e valores. nem tenho a certeza se é possível. mas se fosse eu diria que devia haver um princípio que salvaguardasse a necessidade de se respeitar os valores dos outros. a tolerância é certamente um deles, só que faz horas extras como valor também... é complicado. o silêncio acaba sendo o melhor remédio.

Manuel Bila obrigado professor pela profunda analise e de patriotas como professor Elisio Macamo que o pais precisa.


Elisio Macamo o termo "patriota" já está comprometido...

Manuel Bila Agora professor apenas tristeza por querer dar uma pausa, pena pra nos que acompanhamos sempre seus posts. Feliz dia do professor hoje celebra-se ca na perola do indico.


Reginaldo Mutemba Nao pode psssar para reflexao, sem aparecer... Ca ns perola do indico usamos muito o linchamento... Precisamos de reflectir todos sobre o tipo do paiis que vivemos e que queremos viver e que queremos deixar para ad geracoes vindouras.... Dr. Nao pode passar pata reflexao, senao deixara de ser... O mais facil ee dificil. Nao nos deixe com o nosso patrimonio florestal..
Precisamos de comunicar e nao somente trocar informacao.

Leo D. P. Viegas Meus parabéns professor Elisio Macamo por esta análise. Não sei se seria correcto chamar uma análise deconstructiva da nossa realidade. No entanto, seria interessante ainda aprofundar os valores regionais, pois, poderá potencialmente encontrar coisas mais interessantes. Desconfio que "os valores regionais" podem ainda ser fragmentados e não ser tomados na sua totalidade, ou como um todo. É ainda possível que a etnicidade seja um factor que complique ainda mais a equação ou o problema e se possa encontra algumas vozes dissonantes. Gostaria de ver este texto publicado. Meus parabéns Prof.


Elisio Macamo acho efectivamente que a etnicidade desempenha um papel, mas por enquanto não assim tão forte. na verdade, a situação é bem caricata. o discurso regionalista esconde muitas animosidades. eu que sou de xai-xai sei muito bem o que os meus pensam dos de maputo (que nos chamam de mugaza) e sei o que pensamos dos de inhambane (a quem chamamos de manhembanas, ou pior ainda, "fayi-koko" - que parte côco com a cabeça...). debaixo do "sul" escondem-se muitas animosidades da mesma maneira que debaixo de "norte" também se escondem. é tudo conveniência do momento...

Gito Katawala Há dias escrevi para um fórum de debate, e vi as alas, aliás trincheiras se abrirem.


Elisio Macamo ultimamente tem sido quase sempre assim.

Mário João Francisco Francisco Feliz dia do professor

Alcídes André de Amaral Forca, professor! Lembro-me duma vez que lhe sugeri que deacansasse! `E que `e pesado, pesado mesmo... seja no facebook ou em conversas por ai! Provoca uma irritacao daquelas que ja nem me bato tanto com a cabeca - nao gosto de envelhecer. Mas assim emsilencio, nas suas reflexoes, tente viajar um pouco nos trabalhos de Nietzsche principalmente no que diz respeito aos "valores morais" - nosso valores morais `e que nos matam (no fundo quis dizer assim o filosofo) mas tambem `e que nos acalmam, nos conforta, nos deixam assim, fracos, incapazes de pensar. Talvez uma boa proposta para si seria questionar-se a maneira do filosofo: donde vem os nossos valores, qual `e o valor destes valores ("o valor dos valores" - diz o filosofo) e qual `e a perspectiva pela qual estes valores foram engendrados? Estas perguntas, apesar de serem filosoficas, podem ser um bom caminho para resolvermos (epistemeligicamente) muitos dos nossos problemas! Vou dizer como o filosofo: "Precisamos duma critica dos [nossos] valores morais. Precisamos de colocar em questao os valores mesmos dos valores morais". Professor, o trabalho em Mocambique nao `e facil. Aquelas questoes que levanta sao um fardo grande para quem `e preguicoso, como eu por exemplo! Patriotismo, regionalismo e populismo - nao queria usar aspas - sao os nossos valores. Valores tao presentes no nosso seio... estam espalhados por ai, como uma epedemia - por isso eu tenho dito sempre que precisamos de mascaras e oculos de protecao intelectual ao entrarmos ou ao tentarmos entrar no debate publico mocambicano. E nao nos esquecamos dos fatos-macacos! Parece que professor teve oculos e mascaras mas esqueceu-se do fato-macaco. Ainda bem que se deu conta disso isto `e, dar-se conta dos males ("Nao `e bom") que ja estavam te consumindo: "azedo"; "menos racional", cada vez mais normativo! Quem aguenta com a "Ultima hora*Ultima hora*Ultima hora" do CANAL DE MOCAMBIQUE e uma gama de Mocambicanos compartilhando isso de um lado para o outro sem critica alguma! Sao estas coisas que irritam! Sao estas coisas que nos fazem, por vezes, perder a cabeca - so a TOLERANCIA `e que nos salva. Por isso descansa, mas nao desista! Porque tem ainds "Cocos intelectuais" que precisam de ser partidos. Claro, intelectualmente! Boa pausa!


Elisio Macamo sim, talvez nietzsche seja a solução, ainda que o seu próprio niilismo tivesse sido paradoxal, pois a rejeição da moral na base do argumento segundo o qual ela impediria o surgimento de seres humanos superiores era em si também uma espécie de moral... o melhor é mesmo descansar.

Alcídes André de Amaral ahahahah... sim! `E esta parte que ainda nao consegui entender ainda o filosofo... e o pior, ele admite isso! Mas estas questoes podem nos ajudar a compreender mais estes nossos valores morais - estes ai que professor conseguio identificar. E que me aparececem como um "Mal". Mas descasnsar `e sempre a melhor solucao. Noutro dia perguntaram um velho dos seus cento e tal anos: "qual o segredo da vida longa?" E o velho, fazendo o uso da sua "vida longa", alias, ainda longa -,porque as tantas nao morre - responde: dormir muito!

Elisio Macamo ok, dormir.

Sérgio Wíliamo Exercer cidadania eh isto aqui que o professor Elisio esta a fazer. AO fazer uso da sua capacidade critica, alicercada num arcaboico academico respeitavel, para trazer a tona as enfermidades da nossa Sociedade. Pena eh que o universo do facebook circumscreve-se a Uma duzia. 
A Massa critica de que a "perola do indico dispoe exige-se isto e muito mais.
Sugiro-lhe a voltar a escrever seus artigos p o jornal, sempre que puder, quem sabe, um dia, acordamos.

Elisio Macamo não me vou embora. estou por aqui.




Luís George Generoso Não se trata de pausa, em meu entender, mas "Eu preciso de uma pausa. Noto com o andar do tempo que estou a ficar cada vez mais azedo, menos racional, e normativo. Não é bom. É mau sinal. Prefiro assistir e, de vez em quando, comentar, ou então falar das outras coisas belas da vida como viajar, comer, beber, envelhecer e dos amores da vida. Sempre tive inveja dos que só falam dessas coisas.", demonstra que sempre viverá o pulso do "raquitico" e pauperrimo "debate" político na peróla do Indico enquanto de caixa de fosforo. A tridimensionada questão que levanta - Patriotismo, Regionalismo e Prebendalismo - é um dos factores de pessoalizar do debate que se pretenda fluido, rico, racional e formativo. Professor Elisio Macamo, irei respeitar sua pausa na esperança de voltar um dia em perspectiva evoluída para se confrontar com a actual realidade de nivelamento por baixo como diria nosso amigo Mablinga Shikhani. Vá para o seu mundo de coisas belas da vida como viajar, comer, beber, envelhecer e dos amores da vida, penso que seja compensador, conquanto assista o quanto puder à nossa sociedade política em tudo quanto possa manter este povo com dignidade, claro sem paridade nas suas reflexões. Bem haja professor



Elisio Macamo obrigado.


Julião João Cumbane «Quem articula o seu argumento com um princípio, por exemplo, o princípio liberal democrático da tolerância[,] participa no debate político movido pela preocupação de respeitar os valores dos outros participantes[,] na base da premissa segundo a qual a defesa dum valor não pode implicar a negação do direito que os outros têm de se articularem em defesa dos seus próprios valores. Este é um princípio que parte da falibilidade humana e não pressupõe a existência duma verdade [à] qual todos se devem submeter. O princípio entra em conflito com a saturação do país por valores exclusivistas que abordam qualquer valor diferente como uma afronta e a pessoa portadora dele como um inimigo a abater.»

Com todo o respeito à tua autoridade técninco-científica na apreciação de questões sociopolítico, acho que aqui nesta reflexão apresentas uma radiografia não-bem-tirada da nossa «floresta» intelectual, caro Elisio Macamo. Suspeito que não é a protecção de crenças que mata o debate profícuo de ideias na «Pátria Amada», mas sim a ausência de propósito comum. Onde não há comunhão de propósito, é difícil a construção de confiança. E a comunhão de propósito alcança-se facilmente quando se sabe distinguir entre as crenças e a verdade. A capacidade de distinguir entre as duas coisas (as crenças e a verdade) desenvolve-se mediante a educação, esta que entendida não só como instrução mas também como a transmissão de valores éticos sobre humanidade e sociedade. Não vejo como pode haver «excesso de valores morais» onde há dificuldades em distinguir entre crenças e a verdade (ou a razão). Nesse lugar o que há, de facto (eu penso), é um défice de valores morais. Pessoas correctamente educadas são aquelas que sabem olhar para o seu semelhante e valorizarem a vida dele como se fosse a sua própria. Podem brigar pela conquista de espaço, mas não se desejam a morte para proveito individual uma da outra; isto é, podem ser adversárias, mas não inimigas. Os nossos debates na esfera pública não são profícuos não por excesso de moral, mas sim porque nos combatemos, no lugar de procurar validar os nossos argumentos com o apelo à razão (ou ao conhecimento). É disto que decorre a «incapacidade de ver a razão»; é disto que decorre o pedantismo sem suporte intelectual robusto; é disto que decorre o recurso ao princípio de que «os fins legitimam os meios»; enfim, é disto que decorre que «o tipo de "debates" que travamos se torne num factor de guerra e não de paz». Julgo ser este complexo de complexos que descreves aqui nesta tua reflexão como a «floresta na cabeça» que precisamos desbravar para aprendermos a dar primazia à razão—no lugar das nossas crenças—nos nossos debates. Não consigo vislumbrar como esse "desbravamento" pode ser feito, senão com recurso à educação que incuta valores éticos que nos permitam olhar para as nossas diferenças como uma riqueza que deve ser explorada para o nosso bem comum. São valores éticos que nos permitem saber ser e estar; são valores éticos que nos permitem debater não para «defender ou reforçar as nossas convicções», mas sim para questionar continuamente os nossos valores com vista a aperfeiçoá-los. Uma «pausa reflectir»... Isso devemos fazer todos, para recarregar as baterias. Mas desistir é que não devemos.



Elisio Macamo boa sorte. precisamos todos dela.


Alcídes André de Amaral Mas, Juliao, eu acho que estas destorcendo o argumento de Macamo quando dizes assim: "Os nossos debates na esfera pública não são profícuos não por excesso demoral, mas sim porque nos combatemos, no lugar de procurar validar os nossos argumentos com oapelo à razão (ou ao conhecimento)". Se entendi bem o texto de Elisio "Excesso de valores" `e o argumento que ele defende quando analiza o debate publico mocambicano caraterizado por COMBATES e nao argumentos. As coisas seriam mais ou menos assim: o que faz com que o debate publico mocambicano `e assim, de muito de combates? (Vamos supor que o fundo do problema do professor Elisio `e esta questao). E a resposta que ele defende `e: "porque ha execesso de valores". Entretanto, se a mesma questao fosse levantada por si, caro professor Juliao, a resposta que defende `e, se estiver certo o que digo, "porque no COMBATEMOS". Ora, nao lhe parece que o caro Juliao esta colocar o problema como a solucao do problema?



Julião João Cumbane Alcídes André de Amaral, o Elisio Macamoacha que finalmente compreende a génese da improdutividade do nosso debate na esfera pública, em particular aqui no "Facebook": é o excesso de valores morais partilhados apenas por grupos («patriotismo», «regionalismo», «populismo») e uma atitude («prebendalismo»), que juntos formam «a floresta que faz frente à razão». Isto, se entendi bem o Elisio Macamo, faz com o debate de ideias degenere numa guerra entre grupos com diferentes valores. Ora, eu acho que o problema está é mesmo no défice de valores morais partilhados por todos, como uma sociedade. Excesso de valores morais não partilhados quando somos uma só sociedade implica que estamos divididos em compartimentos estanques, sem comunicação entre si. Ora, a maneira mais simples, a meu ver, de colocar este problema é aponta o que nos falta para estar unidos e debater proficuamente. A «floresta na cabeça» esconde o que nos deveria unir para podermos ter comunhão de propósito. Portanto, eu não estou a colocar o problema como solução, estou é sugerir uma outra forma de colocar o mesmo problema, de modo que ele seja facilmente visualizado. A fácil visualização de um problema facilita, por seu turno, a busca de uma solução com menor grau de incerteza no processo de busca e na solução possível de ser encontrada. E veja, Alcídes, que o Elisio expõe uma hipótese na tentativa de explicar a razão da inutilidade dos nossos "debates", para a seguir sugerir que «para termos debates úteis é necessário, primeiro, desbravar as matas normativas que se opõem à razão» (em referência à aquele valores e atitude indicados acima). Mas não indica como se pode fazer esse desbravamento, limitando-se apenas a dizer que «esse é um trabalho cansativo que acarreta consigo o perigo de todos ficarmos assim, impenetráveis à razão». Isto é atirar a toalha no chão. A minha contribuição é que podemos conseguir formar uma geração de moçambicanos que saibam ultrapassar as barreiras «normativas» indicadas por Elisio Macamo nesta reflexão, se reformarmos o nosso sistema de educação no sentido de não só dar instrução, mas também reforçar a formação de valores éticos tais o respeito pela vida humana, solidariedade, o reconhecimento da nossa nacionalidade como factor de união, a criação de uma identidade nacional baseada na nossa diversidade étnico-cultural e a eleição de um propósito comum. Não vejo, pois, em que é que estou a «distorcer o argumento do Elisio Macamo». Antes pelo contrário, estou a tentar aclará-lo, da forma como eu o entendo, sem querer com isto dizer que eu o entendo da melhor forma do que ninguém. Aceito correcção de interpretação. Nisto, acho que autor, oElisio, está na melhor posição. Mas não excluo a hipótese de teres,Alcídes, estares certo e eu errado.



Rildo Rafael Esse patriotismo muitas vezes é apenas a máscara do fervor partidário e ideológico em defesa da sua crença e visão do mundo! O patriotismo por vezes é chamado ao debate para funcionar como “COSMÉTICO”, mas que na prática apenas é solicitado em função da agenda partidária! Daí que a interpelação que se faz ao governo é visto “AFRONTA” e por um leque de adjectivos! A ideia da “Pátria Amada” una e que apenas corre perigo devido a acção “EXTERNA” e ou qualquer apoio que os nacionais vão tendo dos não moçambicanos! Quase um apelo contra a “nova” tentativa de colonização de Moçambique por causa do Boom dos recursos e outras situações, sem nunca olhar para as dinâmicas internas da sociedade! E se a interpelação vier de alguém com uma pigmentação branca torna-se ainda “mais suspeita” e de fácil associação! A isso também serão designados e ou rotulados de não patriotas todos os que irão “pensar diferente” daquilo que é a posição de um grupo! As novas concepções sobre sobre o modelo democrático também podem ser enquadradas como os “Inimigos da Pátria”, “inimigos da unidade do povo moçambicano”. Os que tomarem uma posição de não interpelação serão vistos como os “Amigos da Pátria! A outra parte da moeda do patriotismo é exacatamente o discurso que propaga a não unicidade de moçambique como uma pátria (não sob ponto de vista sociológico) onde os apelos para os desiquilíbrios regionais, a maldição dos recursos, equidades políticas, descentralização e desconcentração, etç fazem parte do reportório das reclamações/ sugestões de diversos actores. Enquanto uns falam dos inimigos da pátra, outros falam da efectivação desta mesma pátria!
A epopeia revolucionária em Moçambique ajudou a produzir regiões nas mentes dos moçambicanos! Lembro-me de uma canção do Roberto Chitzonzo que tenta desmistificar um pouco esse legado das origens regionais com um apelo a identidades fluídas! Precisamos realmente de construir uma nação e para tal temos que compreender as raízes destas visões /representações/ percepções (Sei que realmente existem?). É impressionamte como se estruturam essas leituras! O Arcebispo Segunlane é do Sul, logo é traidor (Sic). O Dom Jaime Gonçalves é do Centro logo esta mais ligado a partidos da oposição (Sic). A “arqueologia” dos adjectivos Mataxanganas/ Chingondos! O grande problema esta naquilo que afirmamos que somos (epopeia da revolução moçambicana) enquanto na prática adoptamos outras vias (Capitalista). Será que ideais da revolução moçambicana ainda continuam “os mesmos” nos nossos dia? Será que ainda se pode falar em traição? Quem traiu a quem e porque? As análises dos “marxistas” deixam de se enquadrar na esfera do capitalismo internacional? Teremos alguma racionalidade no prebendalismo nas suas várias vertentes?
Penso que poderemos ter uma lista de valores da qual contamos com a suas reflexões! Floresta na cabeça! Talvez precisemos de pessoas para desbravar essas florestas!
Um abraço

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