domingo, 20 de setembro de 2015

Investigador: Moçambique vive um contexto "bastante conturbado”


18 de Setembro de 2015, 16:29
O director do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Luís de Brito, defendeu hoje que o país vive um "contexto bastante conturbado", marcado pela situação dos dois principais partidos moçambicanos e um discurso vazio sobre paz.
"Moçambique vive um contexto bastante conturbado, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista social e económico", disse Luís de Brito, falando hoje em Maputo, à margem do lançamento do livro "Desafios para Moçambique 2015", da autoria do IESE.
Num momento em que Moçambique vive sob ameaça de um conflito militar entre o exército e a maior força de oposição, Renamo, Luís de Brito disse que o principal desafio para o país é a manutenção da paz, alertando, no entanto, para a proliferação de um discurso vazio, fundado na ideia de que o bem-estar e a estabilidade dependem unicamente do "calar das almas".
"A paz só se constrói na base da inclusão social, política e económica", declarou o diretor do IESE e coordenador do grupo de investigação da obra hoje lançada.
Para Luís de Brito, a Frelimo, partido no poder há 40 anos, vive "um momento de crise", que se iniciou ainda sob liderança do ex-Presidente Armando Guebuza, a par de uma ascensão das forças de oposição com assento parlamentar, a Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
"O MDM beneficiou bastante da ausência da Renamo nas eleições autárquicas de 2013 e teve tempo para se afirmar como um grande partido, tendo atingido grandes resultados", afirmou o investigador, acrescentando que, embora tenha entrado para as eleições gerais de 2014 fragilizada, a Renamo, por sua vez, saiu revitalizada do escrutínio.
"Não é possível imaginarmos um partido que, mesmo com a fraude eleitoral, tem mais de um terço de votos em eleições a ser marginalizado e afastado do processo e poder políticos", afirmou Luís de Brito.
Enaltecendo a importância de o país adoptar uma política de descentralização, Luís de Brito entende que o projecto das autarquias autónomas da Renamo convida os moçambicanos a repensarem o modelo de governação actual, considerando que, no entanto, a proposta não pode ser uma imposição.
"A questão da descentralização neste país é absolutamente crucial", afirmou, acrescentando que é preciso que seja criado um ambiente sério para discussão da proposta, como forma de o país entrar realmente num processo construtivo.
No sábado, uma comitiva do líder da Renamo foi atacada em Chibata, junto do rio Boamalanga, quando regressava de um comício em Macossa e se encaminhava para Chimoio, capital de Manica, no centro.
Na quinta-feira, a Renamo acusou directamente o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, de ter dado ordens para assassinar Afonso Dhlakama, imputando ao ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, e ao chefe do Estado-Maior General, Graça Chongo, conivência no suposto plano.
Para Luís de Brito, o ataque à comitiva do líder da oposição é anormal e exige uma investigação séria, principalmente num contexto complexo como o que actualmente Moçambique vive.
"Este não pode ser um caso que a polícia diz que não encontrou os autores do ataque. É preciso que haja um esforço para descobrir os seus autores e resolver, de uma vez por todas, esse dilema", acrescentou, lembrando que estes problemas não são novos, mas estavam apenas escondidos desde 1992, ano da assinatura do Acordo Geral de Paz.
A maior força de oposição moçambicana exige a criação de autarquias provinciais em todo o país e quer governar as seis regiões onde reclama vitória eleitoral nas eleições de Outubro último em Moçambique, sob ameaça de tomar o poder à força.
Em 2013, o braço armado do principal partido de oposição bloqueou a única estrada que liga o centro ao norte do país, levando a confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e a Renamo durante 17 meses.
Os confrontos cessaram formalmente em 05 de Setembro do ano passado, com a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares entre Afonso Dhlakama e o então Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
Lusa

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