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Francis Ford Copolla diz que “A re-escrita é o nome do meio da escrita”. Hemingway também deixou bem claro que “A primeira versão de qualquer coisa é uma merda”. Eu acabo de dar umas pinceladas num texto publicado em Julho passado, no Savana, sob o titulo de "O arquitecto do duplex". Quem leu na altura pode ajuizar se a merda eh o primeiro texto ou este remake.
O arquiteto de maos atadas
Filipe Nyusi disse que ele era o arquiteto do 4º andar. Eu preferia ser um engenheiro. O arquiteto esboça o sumo da estética, o engenheiro traça o esqueleto que a sustenta. Na alegoria de Nuysi, Moçambique é como um edifício em construção. Mondlane calcou as fundações com betão bem maciço e Samora ergueu o primeiro andar.
O edifício de Nyusi não tem um rés-do-chão. Eu imaginaria um piso térreo que fosse um enorme vão, onde coubessem os moçambicanos de todas as matizes, as várias correntes fundadoras da Frelimo, os lutadores clandestinos, os que não pegaram em armas mas escreveram com balas a geografia da liberdade. Caberiam também os expurgados e os habitantes de N’telela. O vão é enorme que os bandidos renovados teriam lá o seu espaço. Os mortos da guerra civil e todos os mártires anónimos da moçambinidade. Os marginalizados da nossa pobreza, encarnando o cavalo da fábula que emerge dos escombros desta desilusão coletiva. As crianças de rua e os velhos das míseras pensões.
Nyusi foi inteligente quando inventou a trama. Eu adorei, confesso. Mas quem olha para o edifício, repara em fissuras indisfarçáveis. No SAVANA da semana passada, o Sacana acertou em cheio quando redesenhou a casa de Nyusi. Colocou um terceiro andar de paus e estacas, precário. É o seu retrato do andar de Guebuza. Falível. Por cima desse andar, Nyusi alinha os primeiros tijolos do seu piso. É uma engenharia assassina. O andar de Nyusi só pode ruir, arrastando consigo o de Guebuza.
Confesso também que não quero imaginar esse cenário. É demolidor. É como que se um terramoto destruísse a nossa esperança. Por isso, se me convidassem a redesenhar o edifício, ele não teria um quarto andar. Não porque o terceiro andar seja de estacas. Para mim, o terceiro é de tijolo e cimento mas não foi totalmente coberto e vertem gotas pelas frestas das paredes. Um amigo meu disse que era sangue, e eu retorqui que eram lágrimas. Na verdade, o arquiteto do terceiro alinhou mais uns tijolos por cima da viga de amarração. E o andar aumentou uns metros, criando vasos comunicantes com o que por cima for colocado.
Nyusi está amarrado. O actual estágio da obra ainda não permite um quarto andar. O edifício vai ter mesmo um duplex no terceiro andar. Nyusi é o arquiteto do duplex. Mas recentemente assaltaram-lhe o atelier e para alem de lhe destruirem o sketch rabiscado, ataram-lhe as maos. Muitos no bairro zombam dele: a obra esta parada e o cheiro a sangue perpassa agora por todos os cantos.
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Juvêncio Abilio Comé Boa analogia.
OL Penicela ..... e o cheiro a sangue perpassa agora por todos os cantos.
Clelio Clelio Com os sucessivos abalos sismicos na nossa política doméstica,uma hora o edifício vai ruir...todo!!!
Adelino Branquinho Amigo Marcelo Mosse, li o primeiro texto, e agora este remake, por estar tao bem escrito, nao se sente o cheiro a merda nem sua presenca. O cheiro a sangue sim, perpassa; as lagrimas tambem escorrem pelos cantos de varios olhos. Grande abraco e bom fim de semana.
Nkuyengany Produções A Pàtria Chama por Nòs
Geraldo Mandlate Certo, MM. Mas nao podemos esquecer que ele fez parte da equipa dos construtores do terceiro piso. Ele até comandou algumas actividades decisivas na obra. Por isso, ele nao é inocente. Ele esta justamente a dar continuidade da obra que o dono (organizacao que ele lidera) escolheu. Ele (arquitecto) e o dono da obra estao conscientes de todos os riscos que colocas aqui sobre o edificio. Mas eles parece me que conhecem outros riscos piores esses. Por isso quando todos os trabalhadores (serventes, pedreiros, carpinteiros etc) no edificio em a construir - para ter mais força e motivar o ARQUITECTO, cantam: AVANCA NAO RECUA.
Lacerda Lipangue Sem comentários Marcelo Mosse. Uma analogia por excelência. Será que as massas querem o dúplex e vale a apena este?
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