Protestos contra Presidente provocaram já 20 mortos e levaram a um golpe de Estado falhado. Há receios de que se reacendam divisões entre hutus e tutsis.
As eleições legislativas e locais no Burundi foram adiadas uma semana, do dia 26 de Maio para 2 de Junho, de acordo com o decreto promulgado nesta quarta-feira pelo Presidente da República, Pierre Nkurunziza. O Presidente tenta responder assim aos apelos internacionais e à violência diária nas ruas da capital, uma semana depois de um golpe de Estado falhado que tentou afastá-lo do poder.
Os tumultos no pequeno país africano começaram a 25 de Abril, dia em que Nkurunziza anunciou que se iria recandidatar a um terceiro mandato como Presidente do Burundi. De acordo com a Constituição do Burundi, o Presidente está limitado a dois mandatos de cinco anos, mas Nkurunziza diz que o seu primeiro mandato não é válido, uma vez que foi eleito pelo Parlamento e não por sufrágio universal. O Tribunal Constitucional concorda com o actual Presidente e a sua candidatura foi considerada válida.
Já morreram 20 pessoas desde o início dos protestos contra Nkurunziza e é improvável que a decisão de adiar as eleições legislativas e locais vá acalmar os ânimos dos manifestantes. Principalmente porque as eleições presidenciais, a causa dos protestos, se mantêm ainda marcadas para dia 26 de Junho, apesar dos apelos lançados nesta semana pelo Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que participou no processo de paz em 2005, para que o sufrágio seja suspenso.
A violência regressou às ruas da capital Bujumbura nesta semana. Barricadas em chamas e apedrejamentos tornaram-se num cenário habitual. Nesta quarta-feira, polícia e exército tentaram dispersar vários grupos de manifestantes com disparos para o ar.
“Os manifestantes construíram mais barricadas e agora estão a parar os carros que tentam passar pelos seus bairros”, relata de Bujumbura o enviado da Al-Jazira. De acordo com um fotógrafo da Reuters, também na capital, um dos manifestantes foi atingido na perna por uma bala durante os protestos. Na terça-feira foram detidas oito pessoas na sequência de violentos apedrejamentos contra as autoridades.
Os confrontos interromperam-se por apenas alguns dias na semana passada, quando, em seu lugar, um grupo de militares tentou um golpe de Estado que pretendia destituir Nkurunziza.
Aliados do Presidente e participantes do golpe trocaram tiros nas ruas de Bujumbura na noite de terça para quarta-feira. O líder do movimento, o general Godefroid Niyombare, que fora recentemente afastado do exército pelo Presidente Nkurunziza precisamente porque se opusera à sua candidatura a um terceiro mandato, chegou mesmo a anunciar que o Parlamento fora destituído e Nkurunziza afastado do poder. Mas Niyombare e seus aliados acabaram por ser detidos e o golpe caiu por terra.
O receio de que os confrontos nas ruas reacendam as tensões étnicas entre hutus e tutsis levou a que mais de 100 mil pessoas tivessem fugido do Burundi apenas no último mês. Tal como o vizinho Ruanda, o Burundi está dividido entre uma maioria de etnia hutu, à qual pertence Nkurunziza, e uma minoria tutsi.
O conflito interno entre as duas etnias durou 12 anos e terminou em 2005, ano em que Nkurunziza foi apontado Presidente do Burundi pelo Parlamento. Estima-se que tenham morrido cerca de 300 mil pessoas.
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