Tomada de posto de Al-Tanf permite aos islamistas uma ligação mais directa entre posições que ocupam na província de Homs, Síria, e o território conquistado na vizinha província iraquiana de Anbar
O último posto fronteiriço com o Iraque que o regime sírio ainda controlava, Al-Tanf, foi tomado pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), que, após a queda de Palmira, uma pérola do património da humanidade, consolida o seu domínio sobre uma vasta zona transfronteiriça.
A tomada de Al-Tanf permite aos islamistas uma ligação mais directa entre as posições que ocupam na província síria de Homs e o território conquistado na vizinha província de Anbar, no Iraque, observa Jim Muir, da BBC.
As forças do Presidente Bashar al-Assad só detêm agora na prática os cinco postos fronteiriços da Síria com o Líbano. Os dois que asseguravam a passagem para a Turquia foram encerrados e os restantes 12 estão nas mãos ou do Estado Islâmico, ou dos autonomistas curdos, ou do ramo sírio da Al-Qaeda que tem grupos rebeldes como aliados.
Em termos territoriais a situação não é melhor para Assad, que, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, só controla agora 22% do país. Mais de metade da Síria foi conquistada pelo Estado Islâmico e o resto está nas mãos de outros grupos. “Mesmo que o EI controle regiões pouco povoadas, controla uma área geográfica muito importante, que lhe permitirá ameaçar a Síria profunda como [a cidade de] Homs e Damasco”, disse à AFP o director do observatório, Rami Abdel Rahmane.
Mas esse não foi o último dos mais recentes desaires das forças de Assad: jihadistas da Frente al-Nusra, ramo sírio da Al-Qaeda, e aliados, tomaram, esta sexta-feira, o hospital de Jisr al-Shughur, na província de Idlib, nordeste, onde há um mês estavam cercados 150 soldados com as suas famílias. “Dezenas de soldados fugiram, outros foram mortos no local e no exterior do estabelecimento, ou capturados”, disse o director do observatório.
A versão do regime, divulgada pela televisão oficial, é outra: “após uma resistência épica, os heróis” escaparam do hospital e “transportaram com eles os feridos e os corpos dos mártires, juntando-se aos seus companheiros de armas”. Jisr al-Shughur tinha sido tomada no dia 25 de Abril, com excepção do hospital, localizado no Sul da cidade.
Também esta sexta-feira foi raptado um padre da Igreja Católica Siríaca da diocese de Homs, juntamente com um colaborador. O padre Jacques Mourad, membro de uma comunidade que privilegia o diálogo inter-religioso, foi levado do mosteiro de Mar Musa por três pessoas mascaradas quando organizava o acolhimento a refugiados de Tadmur, a cidade junto à qual fica Palmira. As Nações Unidas calculam que um terço dos 200 mil residentes tenha fugido.
Os êxitos islamistas na província de Homs e na iraquiana de Anbar, cuja capital, Ramadi, foi há dias por eles conquistada, estão a levantar dúvidas sobre o êxito da estratégia de combate ao EI. Na quinta-feira, os jihadistas tomaram as linhas defensivas das forças do Governo de Bagdad, a cerca de sete quilómetros a Leste de Ramadi, em Houssayba, de onde se admitia que saísse uma contra-ofensiva.
O vice-primeiro-ministro iraquiano, Saleh al-Mutlaq, repetiu a ideia de que este não é um “assunto local” e apelou a um maior envolvimento internacional. “Todo o mundo enfrentará este perigo, se não houver uma clara estratégia de combate ao Estado Islâmico”, disse, citado pela BBC.
O Presidente francês, François Hollande, que, após a queda de Palmira, apelou à “acção” contra o perigo islamista voltou a apelar à “preparação” de uma nova ronda de negociações em Genebra para tentar encontrar uma” solução política” para a crise síria. A cidade suíça acolheu já, em 2012 e 2014, duas sessões de negociações entre o regime de Damasco e a oposição que se revelaram infrutíferas. “Uma vez mais, apelamos a que seja preparada uma nova Genebra”, disse, segundo a agência AFP, à margem da cimeira europeia de Riga.
Depois de, na quinta-feira, a UNESCO ter declarado que “qualquer destruição” em Palmira “seria uma enorme perda para a humanidade”, também a Liga Árabe manifestou, esta sexta-feira, a sua preocupação com o destino da cidade milenar. “A captura pelo EI da cidade antiga representa uma grave ameaça para um dos lugares mais importantes do património mundial", disse o secretário-geral, Nabil al-Arabi.
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