O líder do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), terceiro maior partido, disse hoje que o constitucionalista Gilles Cistac foi assassinado por encomenda, após pronunciamentos que "irritaram uma elite política intolerante".
"Não tenho dúvidas nem reservas de que este assassinato é uma encomenda", afirmou Daviz Simango, em declarações à Lusa, considerando que o atentado contra Cistac, hoje manhã no centro de Maputo, como "uma grande tragédia", cujo esclarecimento imediato se tornou num "imperativo nacional".
Segundo Simango, "os seus pronunciamentos constitucionais e administrativos do professor doutor [Cistac] irritaram muita elite política, que é intolerante, demagógica e não entende que só se pode construir uma sociedade pela diferença e se cada um se puder expressar de forma livre".
"Tudo fizeram para silenciar um homem justo, um homem que procurou que todos nos tivéssemos uma visão clara do que é isso do Estado de Direito", declarou Daviz Simango, também presidente do município da Beira, segunda maior cidade, sem precisar o alvo das acusações.
O líder partidário disse que os órgãos do MDM e os munícipes da Beira estão "tristes, chocados e magoados por este assassinato bárbaro", condenando atitudes destinadas a silenciar o constitucionalista, porque "não se apagam homens da dimensão do professor doutor Cistac".
Simango recordou ainda que Gilles Cistac "dedicou grande parte da sua vida a formar moçambicanos, a criar a massa intelectual e, com o seu saber, contribuiu para que Moçambique possa criar as bases de um Estado de Direito de facto".
O constitucionalista Gilles Cistac foi assassinado a tiro hoje de manhã por desconhecidos, à saída de um café no centro de Maputo.
O académico foi transportado ainda com vida para o Hospital Central de Maputo, onde acabou por morrer cerca das 13:00.
A polícia disse que segue a pista de quatro suspeitos, três negros e um branco, e que foi este último quem abriu fogo contra Cistac.
O académico de origem francesa é um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo, partido no poder.
Em entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de criar regiões autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.
O Governo considerou o atentado "um ato macabro" e espera que os autores sejam "exemplarmente punidos", enquanto a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição, afirmou que o académico foi vítima de "perseguição política" motivada pelas suas posições recentes.
A Lusa tentou ouvir a Frelimo, mas ainda não obteve resposta.
Lusa – 03.03.2015
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