15/03/2015 - 08:44
Há uma pergunta recorrente: Por que não surgiu, em Portugal, um partido como o Podemos, ou o Syriza? Se a crise que afectou os países do Sul da Europa é semelhante, qual a razão PARA que PS e PSD resistam melhor aos efeitos da austeridade?FOTO: MIGUEL MANSO
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São 10 da manhã de sábado. Nos jardins da Gulbenkian, em Lisboa, há gente a correr, há quem repita os movimentos lentos do tai-chi, e há 80 pessoas que se juntam no auditório 2 da Fundação PARA discutir a “Regeneração do Sistema Político”. Rui Martins é um deles, o primeiro dos 16 oradores que se inscreveram para falar, nesta manhã, no Congresso da Cidadania. Traz consigo uma imagem clara. No PS, “apenas metade dos militantes paga quotas”. Metade da metade são os que votam. E o restrito núcleo de “militantes activos” é metade disso.
No entanto, o PS é o partido que lidera as sondagens. Aquele que surge melhor colocado para chegar ao Governo. Ou seja, a julgar pela sua vida “interna”, os cidadãos estão a fugir-lhe; mas quando se trata de saber quem preferem ver no Governo, os cidadãos portugueses (mais de 35% deles, pelo menos) continuam a mostrar confiança no partido.
O PS é apenas o exemplo dado, desta vez. O mesmo poderia ser dito para o PSD. E outra coisa para os dois, juntos: o “centro” partidário português continua a merecer a confiança, ainda hoje, de dois terços do eleitorado. E essa é, nos dias que correm, uma originalidade portuguesa. Somos o único dos países afectados pela crise que parece manter intacto o sistema partidário que existia antes da austeridade. Na Grécia, o partido equivalente ao PS, o PASOK, que governou o País em alternância com a Nova Democracia (o partido-irmão do PSD), quase que desapareceu. Em Espanha, o PSOE e o PP, a dupla que exerceu o poder em rotatividade, estão agora ameaçados por dois partidos que nasceram nos últimos anos, o Podemos e o Ciudadanos. E não só: Itália, França, Reino Unido, Irlanda, todos têm novidades partidárias e parecem estar a viver o fim do bi-partidarismo tradicional. E Portugal? Por que resistem melhor os partidos do centro aos efeitos da crise?
“O caso português está a fugir dessa tendência de ruptura na Europa do Sul”, avalia o cientista político Marco Lisi. Nos países onde o sistema político se está a fragmentar rapidamente verifica-se que co-existem duas tendências: “um líder que consegue estruturar uma mensagem, para além das questões conjunturais”, como Pablo Iglesias, em Espanha, ou Beppe Grillo, em Itália; e “uma enorme descrença em relação à elite política”, originada por grandes escândalos de corrupção como os que marcam a actualidade na Espanha ou na Grécia.
“Em Portugal a percepção da corrupção é elevada, segundo todos os indicadores, mas não há aproveitamento político”, prossegue Marco Lisi, nem nos media, nem no surgimento de novos partidos com essa retórica. “Isso deve-se, em parte, ao papel do PCP, que consegue parlamentarizar as atitudes mais anti-sistémicas”, conclui o professor da Universidade Nova de Lisboa.
Lisi não é o único a apontar o PCP como “tampão” ao surgimento de novos partidos, como o Syriza ou o Podemos. Gustavo Cardoso, sociólogo, considera que “o PCP oferece a muitos cidadãos um repositório de revolta e, ao mesmo tempo, de confiança”. Raquel Freire, realizadora e organizadora do movimento 12 de Março - a primeira grande manifestação anti-crise, ainda durante o Governo de José Sócrates, em 2011 - atribui, aliás, aos comunistas o mérito de uma “grande vantagem democrática” portuguesa: “Portugal não tem extrema-direita porque tem um PCP forte, que absorve esse voto de protesto, enquanto em França, por exemplo, há transferências directas de votos entre o partido comunista e a Frente Nacional.”
Mas o PCP não parece estar, como o Syriza, a transformar-se num partido eleitoralmente capaz de discutir a vitória nas próximas eleições. Ou seja, pode conter o surgimento de outras forças, mas não recolhe os votos de descontentamento. João Bonifácio Serra, historiador e ex-chefe da Casa Civil de Jorge Sampaio, vê outra forma de esse descontentamento se manifestar: A abstenção. “A crise do sistema político vai-se manifestar. Pode não dar origem a um Podemos, mas pode resultar numa grande abstenção. Os cidadãos vão penalizar os partidos não votando.”
Essa espécie de revolta silenciosa, que se manifesta não se manifestando, resulta, para João Serra, de Portugal ser, nesta altura, “uma sociedade que envelheceu muito, e muito rapidamente”. Com a demografia a favorecer o “conformismo”, faltam as evidências de que os partidos vejam estes “sinais de grande preocupação”, conclui.
Nuno Garoupa, professor de Direito, presidente da comissão executiva da Fundação Francisco Manuel dos Santos, também sublinha a “apatia da sociedade portuguesa”. Um sinal disso é a evidência de que “a juventude que emigrou não tem nenhum envolvimento com o País”. Depois, Portugal tem um “espaço público muito viciado, em que 95% do comentário nas TVs em canal aberto, que é o que chega à grande maioria das pessoas, é feito por ex-ministros, ex-primeiros-ministros, muito concentrado em dois partidos.”
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O sistema politico em Portugal, para quem ainda não tiver percebido funciona da seguinte maneira depois do 25 de Abril: os partidos com assento parlamentar recebem subvenção estatal, regojizando-se com os nossos impostos, para que outros partidos novos não dêm em nada devido à falta de meios inerente à falta de financiamento! Acresce e é óbvio para quem quiser pensar um pouco perceberá que PS e PSD são os partidos da rotação sistémica governamental, o CDS é o side-kick do PSD quando este é governo e estes 3 governam para perpetuar os tachos e a corrupção, o PCP, PEV e BE são os amigos-inimigos dos outros 3 pois têm tachos e não têm a responsabilidade de governar nem querem, todos estes 6 partidos perpetuam o sistema Bilderberguiano de controlo social, que se rege pela "autodefesa
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A qualidade de vida democrata dos portugueses, está assegurada. Por todos aqueles que sempre votaram, nos partidos do arco do governo. Segundo um que acabo de ler, estes ladrões são bons , as alternativas são piores. Ou seja os ladrões deles, são os melhores. Pobre país, nos votos desta gentinha.
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o PREC a seguir ao 25 de abril deu nos uma visão do que seria um governo comunista ta tudo documentado . . . o PCP a unica coisa para que serve desde essa altura é para manter os descontentes e revoltados sobre controle a troco grandes tachos em sindicatos e em milhares de outros lugares onde podem vegetar
Dagama tem toda a razão e está tudo datado, começo do gamanço 1985. E tem um nome que o confunde a si, como a mais uns milhões de votantes dos da gamanso, Processo Reaccionário em Curso (PREC), Que ainda continua, conforme os números do país demonstram, e os dagama aplaudem, com a maior desfaçatez e mentira. Provas do contrário? Não existem só mentiras, desfalques, e apropriação do erário publico, de todas as formas e feitios. O que eu me riu dos dagama e quejandos. Que pena que eu tenho deles.
Porque é que em Portugal não se assistiu a um movimento semelhante? A resposta é bem simples: Os portugueses são burros, mas não são assim tão burros! Este sistema e estes partidos são bons? Não. Mas esta alternativa é pior. É essa a razão, a única razão.
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A apatia é realmente o sentimento reinante em Portugal. Temos uma populaçao envelhecida, mas ainda se verifica que são sobretudo os mais velhos que se mobilizam de um modo mais constante para manifestações, e participação no debate politico. Não hajam duvidas de que existe efectivamente um colossal distanciamento dos mais jovens (nem todos obviamente) em relação à politica.
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O povo português é um povo órfão, daí Sebastião. Sebastião é um mito de orfandade colectiva. A quietude salazarista perante as crises, tal como a que agora se verifica, é uma deriva tornada padrão de comportamento colectivo resultante de uma auto-estima baixa. Só que nesta crise, Portugal corre o risco de perder definitivamente parte da sua soberania, e é por isso que o que agora se joga é tão importante. A globalização vai roubar a Portugal a oportunidade de alguma vez ser uma pátria adulta.
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Os grandes media, pertença de uns poucos grandes consórcios capitalistas - instrumentário das classes dominantes na antagónica sociedade em que vivemos - apresentam a "nova esquerda" europeia como sendo a reanimada velha social democarcia, a quimera da esperança para milhões de pobres e outros tantos ameaçados de probreza e exclusão social na Europa. Só, porque prometem suavizar a austeridade imposta por Bruxelas. Surpreendente? Talvez não. Yes we can. Se funcionou nos EUA, porque não funcionar na Europa? Enquanto não se colocar em causa a consciência social prevalecente, tudo bem.Fortalece o Sistema O que preocupa esta gente é porque não funciona em Portugal. Haverá em Portugal uma consciência de classe que ponha em causa os interesses da classe dominante?
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se aquilo que o julio entende por "consciência de classe" é o que vem na liturgia leninista que o PCP apregoa desde sempre, a resposta que o país tem dado claramente é "não".
Uma consciência de classe que tenha como perspectiva um real Humanismo? É que as propostas da chamada "nova esquerda" - suavizar a austeridade - estão aquém do primeiro esclarecimento. Recordemos Rousseau: " Nenhum cidadão deve ser tão rico que possa comprar outro e nenhum deve ser tão pobre que se tenha de se vender. Não toleres nem rico ou pedinte". A "nova esquerda" não é só uma rebelião pequeno burguesa. Traz em si muitas contradições. A sua visão programática recorda os anos da crise económica antes da 2. Guerra que levou à fascização da Europa. A aliança do Syriza com a extrema direita, parece não ser um acaso. A Europa precisa de um segundo esclarecimento...
Julio: enquanto andar às voltas com chavões leninistas fósseis como "consciência de classe", "classe dominante" ou "rebelião pequeno burguesa", está a chover no molhado. não é por esse caminho que se vai conseguir travar o capitalismo desmesurado e resolver os desequilíbrios sociais. pequeno burgueses somos quase todos. e quem não é não quer saber do assunto para nada, que tem que arranjar qualquer coisa para comer ainda hoje. o desafio é pôr todos os pequenos burgueses a perceber a que ponto estão a ser roubados pelos grandes grupos económicos e propor soluções exequíveis e internacionais para resolver a coisa.
aninhas, o "joguinho das Urnas" continua a ser um elemento útil de entertenimento e de manutenção no poder dos crápulas de sempre. Não pense, contudo, que isso impeça o esclarecimento. Que a consciência de que se vive numa sociedade de interesses antagónicos cresça, alargue. Quer a senhora queira quer não...
Em Portugal houve também nesta crise outra originalidade além do entorse presidencialista em que Cavaco é o primeiro-ministro do primeiro-ministro. Cavaco podia manter a governabilidade moral, mas não abdicou, baixou o padrão. Isso é mortal para o sociedade quando combinado com um poder que se camufla com o povo. Do poder não se espera nada, nem do lado saudável da demagogia a que está obrigado na sua missão de catapultar a sociedade. Por outro lado, a sociedade portuguesa não tem campo para a esperança, e aquela que existe é morta logo à nascença porque é logo ocupada por marinhos pintos...Se se comparar por exemplo com a educação política da cúpula do "Podemos" por aqui se vê o potencial de mudança...
julio: quer queira quer não, a cartilha leninista e o PCP, no caso português, não ajudaram grande coisa, para não dizer nada, a fazer evoluir positivamente a sociedade portuguesa e resolver os desequilíbrios sociais. sempre quiseram revolução, não evolução. e a revolução não aconteceu. vamos ter de ir pela evolução, com o sistema que temos, as relações internacionais que temos. o marxismo-leninismo arrumou de vez e não vale a pena perder mais tempo com ele. agora é outra esquerda que tem que mostrar o que consegue fazer pela justiça social.
aninhas ( vai-me permitir o modo crinhosa como a trato ), eu até citei Rousseau. Se quiser até poderei citar Lénine e iremos ver que é muito mais actual que "fóssil". Agora o que eu gostava de ver, era só uma das suas "propostas internacionais exequiveis" que resolvam a coisa. Eu não estou a ver qual. É que isto não tem a ver com pessoas. Tem a ver com um sistema ( falido ) que simplesmente enriquece uns ( cada vez mais ) e, por mais que trabalhem, criem ou inovem, empobrece cada vez mais gente....
Julio: se eu lhe soubesse responder, fundava um partido. :) mas o piketty, que percebe mais do que eu sobre o assunto, explica isso no "O capital no século XXI". e rui tavares também tem algumas boas respostas para lhe dar. eu disse "algumas". :)
Vá lá aninhas, faça um esforço. Eu sei que é capaz de melhor...
não a um domingo :)
Ok. Eu já levei o cartão amarelo...Boa Noite!
Julio o jogo das urnas, não conta para as Donas anas cristinas e quejandos. Vide o exemplo das eleições ucranianas, e o apoio dado pelos mesmos aos golpistas.
mais um momento de aldrabice e perseguição pidesca obsessiva, pelo jojoratazana51, grande "defensor da liberdade".
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