Segunda, 23 Março 2015
“FAÇA o que eu digo. Não faça o que eu faço”. Esta é uma velha máxima utilizada amiúde pelos inúmeros hipócritas que pululam neste mundo. Que não são poucos, infelizmente. Nós em Moçambique também temos pregadores desta estirpe. E, para que a sua pregação ganhe adeptos, não se cansam, esses pregadores, de repetir a ladainha até à exaustão.
Desde há algum tempo que um grupo de iluminados, com duas figuras à cabeça, vem “ensinando” às direcções editoriais do jornal “Notícias”, Rádio Moçambique e da Televisão de Moçambique, a “melhor forma” de fazer jornalismo. Porque, segundo o seu entendimento, neste momento, estes órgãos de informação estão a prestar um péssimo serviço ao público.
A edição de 13 de Março corrente do jornal Savana, apresenta-nos, entre outras matérias, um artigo de opinião talhefoiceira, que começa com o “Depois do papel que desempenharam na tentativa de assassinato de carácter de Gilles Cistac e de outras pessoas que não afinam pelo diapasão do poder do dia, a questão dos G40 e das direcções subservientes (sublinhado meu) dos órgãos de informação do sector público tem que ser enfrentada e resolvida a curto prazo na medida em que está a minar a credibilidade desses órgãos e a ser um factor de desestabilização social”.
DESESTABILIZAÇÃO O QUE É?
Segundo o dicionário “Universal” da língua portuguesa – Porto Editores, desestabilizar é um acto ou efeito de criar desarmonia, criar perturbação, criar desequilíbrio, só para citar estes significados. Portanto, entende o articulista do jornal Savana, que as opiniões veiculadas pelos órgãos de informação acima mencionadas são causadoras de desestabilização no país.
Para este ilustre, a incerteza que paira sobre se Moçambique continuará uno e indivisível “amanhã”, caso avance a ideia das regiões autónomas – designação que agora mudou para municípios provinciais, a incerteza que paira, não configura nenhuma desestabilização.
Depois da assinatura do acordo de cessação das hostilidades no país entre o então Presidente da República, Armando Guebuza, e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, o país respirou de alívio após cerca de dois anos de incerteza e ansiedade, causadas pelas escaramuças militares que afectaram especialmente a zona do centro do país. Como estamos lembrados, no seguimento daquele acto, foram criados instrumentos para a operacionalização dos entendimentos alcançados. Destaco aqui a questão da integração dos homens armados da Renamo, nas FADM e na PRM. Como se sabe, até hoje nada foi feito em relação a esta matéria, por a Renamo estar a condicionar a concretização do facto, apresentando argumentos que “todo o mundo”.
Sobre este assunto de integração dos seus homens armados, estamos, portanto, perante um impasse. Um impasse que levanta uma enorme interrogação: porque é que o partido de Dhlakama teima em não entregar a lista dos homens a integrar? E, a resposta a esta pergunta pode ser encontrada nas informações que circulam indicando a movimentação desses mesmos homens para novas bases. Foram apontadas duas regiões para onde alguns desses homens se estabeleceram recentemente: Chibuto em Gaza e Funhalouro em Inhambane. Preparação para novos confrontos militares?
A CREDIBILIDADE DOS ÓRGÃOS DE INFORMAÇÃO (…)
O articulista do Savana diz a questão dos G40 e das direcções subservientes dos órgãos de informação do sector público tem que ser enfrentada e resolvida a curto prazo na medida em que está a minar a credibilidade desses órgãos. Sobre esta “orientação” pergunto: quem é que define e avalia essa credibilidade, e, quais os critérios usados para avaliar essa credibilidade?
Quando os órgãos de informação que “não afinam pelo diapasão” do grupo pregador do evangelho “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, condenam as manobras da Renamo, estão a desestabilizar o país? Quando a Renamo põe o país em stress e incerto quanto ao futuro, através de manobras dilatórias no diálogo das segundas-feiras, quem desestabiliza o País são os opinadores dos órgãos de informação do sector público? Quando os pregadores do evangelho acima mencionado defendem as ideias promotoras da desunião do país, quem desestabiliza o país são os que escrevem as suas opiniões nos órgãos de informação do sector público?
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