Monday, March 9, 2015

DIREITO DE VIVER E DEVER DE MORRER: NÃO PARO DE PENSAR EM CISTAC E “NÓS”


O homicídio contra Cistac foi uma daquelas coisas horrendas que perturbam e mexem com todo tecido social moçambicano. Inconformismo, revolta, apelo a justiça, tem sido sentimentos partilhados quase que coletivamente após o homicídio. A indignação é tanta que até convocou-se uma marcha de repúdio. A última marcha de natureza similar que me lembro foi de repúdio aos raptos. Ambas possuem algo de comum e interessante: um sujeito culpado. A Frelimo. Se para o caso do homicídio contra Cistac o que se coloca como maior probabilidade é que este tenha acontecido sob mando da cúpula frelimista, nos passados presentes raptos a Frelimo era e é culpada de nada fazer para os parar. Assim são as análises do meu país.
Penso ser nobre realizar marchas de repúdio as coisas que nos incomodam. Coisas que nos inquietam precisam ser repudiadas publicamente. Equívoco democrático é ficar no silêncio diante de tantas injustiças, na mesma ou maior proporção que é equivoco condenar ou reprimir o direito de se manifestar. Isso constitui enorme ditadura democrática. Essa ditadura foi expressiva quando o Estado opressor enviou os seus representantes que tem o poder na ponta da espingarda para paralisar a marcha do sábado.
Com esses dois acontecimentos (marcha e Estado repressor), fiquei pensando no quão o horrível homicídio contra Cistac veio descortinar cada vez mais algumas nocividades no nosso meio. Refleti tanto sobre a marcha que questionei-me sobre o sentido dela. Penso que se estivesse no índico juntar-me-ia aos marchantes mas um pouco infeliz. Não somente pela morte do Cistac, mas sobretudo por se estar a marchar em nome desse assassinato. Logo depois, ao ver o aparato policial, questionaria o Estado democrático que reprimia as manifestações que até onde sei eram pacíficas.
Depois de questionar o Estado democrático iria ao encontro dos meus pares de marcha para perguntar sobre a razão da marcha. Imagino que a resposta imediata seria: reivindicamos o assassinato macabro do professor Cistac por essa gente sem escrúpulos que tudo faz para se manter no poder. Depois disso perguntaria porque é necessário reivindicar a morte do Cistac? Talvez esse questionamento seria bastante incômodo que teria dificuldades de fazer a terceira pergunta: porque essa gente sem escrúpulos não pode matar para se manter no poder? Ai a conversa seria difícil porque eu seria categorizado como G40, frelimista lambe-bota, espião do SISE. Isso se continuasse em vida. Tenho muito medo de alguns guardiões da democracia e Estado de direito. Não tem limites nos feitos para a defesa e manutenção das suas convicções.
Todas as questões que fiz acima têm alguma razão de existência.
Permitem-nos refletir sobre a equívoca ética da vida que habita em nós. É que parece que temos em nossas mãos quem deve viver e quem deve morrer. Temos um sentido ético da vida muito confuso que somos capazes de defender a morte em nome da vida e em outros momentos a vida em detrimento da morte. Ética da vida, viver, possibilitar a vida, defender a vida por amor a vida, está um pouco distante de nós, infelizmente. É tão equivocada a nossa ética da vida que somos os que estamos na vanguarda das decisões sobre quem deve matar e quem não deve.
Falo isso a propósito das hostilidades lideradas pela Renamo. Não me lembro de terem havido manifestações repudiando as mesmas. Mas houve mortes, tantas mortes, mas como eram justificáveis não houve necessidade. Pela democracia vale matar. Para tirar esse escroto que se chama Frelimo diante dos nossos olhos, matar é por justa causa. Dlakhama é o Alfa e o Ômega que merece todas as nossas preces e júbilos. Esse é um equívoco generalizado na nossa sociedade. Infelizmente.
O ódio (talvez justo) contra Frelimo está fazer de nós assassinos. Bom, exagerei. Retifico, não nos faz assassinos, torna-nos cúmplices. Para além de que nos submeteu numa miopia que ainda pode gerar muito mau estar no país. A forma como defendemos a Renamo pelo ódio a Frelimo (responsável por todos males que ocorrem no país), nos distancia constantemente do Estado de direito que hipocritamente defendemos. Já imaginaram que se não fosse pelos equívocos da Renamo durante esses anos, possivelmente não teríamos vivido todos os cenários de carnificina no Centro do país? Já pensaram no quão alimentar as incoerências de Dlakhama e seu partido, que variam de governo de gestão até regiões autónomas podem constituir a base para a morte do Cistac? Um filósofo muito atual de nome Slavoj Zizek tem um livro intitulado violência onde a principal premissa sua é de que: a violência que enxergamos (assassinato de Cistac) é produto de uma outra, oculta, profundamente arraigada nas bases do nosso sistema político (as investidas renamistas). Leitura tendenciosa da minha parte.
Já pensaram no quão somos falsos ao repudiar o assassinato do Cistac pelos indivíduos sem escrúpulos que tudo fazem para se manterem no poder, mas não sentimos mesma indignação quando os indivíduos que querem alcançar o poder matam sem nenhum pudor? Pior de tudo: são jubilados. Já pensaram no quão defendemos uma ética vazia de ética? Sabem, juro palavra de honra, chego a pensar que nós não reivindicamos a morte do Cistac. O que alimenta o nosso ódio são os supostos mandatários dessa morte. Conforme coletivamente acredita-se, é a Frelimo. Isso nos irrita tanto porque para nós, a Frelimo não tem esse direito, afinal, esse direito já atribuímos a Renamo. Que Frelimo vaidosa!!
É tão profunda a nossa miopia quase cegueira que já estamos jubilando os pronunciamentos do nosso herói e libertador da pátria que lidera o ceifamento de vidas em nome de vidas. Ele disse que vai vingar a morte do Cistac. VIVA. Companheiros, talvez essa seja a hora de repensarmos nossos posicionamentos. É hora de pensar nesse Estado democrático e do direito que defendemos com toda força diante de tantos equívocos. Mas danem-se os equívocos, afinal, existe quem nos coloca diante deles: É a Frelimo. Tem muita razão Edgar Morin quando diz que quando as ideias nos possuem ao invés de sermos nós a possui-las, os desastres são eminentes.
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  • Elias Castro 'Ressentimento' da derrota é falta de compreensão ...O que digo, reverenciando a memória do "Doutor", é que nós, servidores públicos com cargo eletivo, temos a obrigação de tê-lo como inspiração de humildade. Esta característica é o que o faz tocar brilhantemente, até o seu calcanhar, chato é que a bola para, muitas vezes, um companheiro que quer marcar o gol. Não crtico o seu posicionamento até porque espero que o mesmo sirva de lição, tanto que, se bem aprendida, aquela que evitaria que boas e necessárias leis se tornassem inócuas porque governantes responsáveis por sua implementação deliram, acreditando que podem fazê-lo sozinhos, sem envolver sociedade civil e outros entes. Enfim, ao menos o senhor ressaltou que o momento é de desmontar palanques e entender que em uma democracia disputa-se no processo eleitoral visões, propostas e e destaca-se diferenças entre projetos. “Um governo tem que governar para todos os eleitores, independente de qual seja o voto daquele eleitor. […] Qualquer tentativa de retaliação por parte de quem ganhou ou ressentimento por parte de quem perdeu [a eleição] é uma incompreensão do processo democrático.
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  • Elisio Macamo reflexão profunda e oportuna. quem quer mesmo honrar a memória do malogrado tem que se posicionar claramente em relação a este trecho importantíssimo: "... parece que temos em nossas mãos quem deve viver e quem deve morrer. Temos um sentido ético da vida muito confuso que somos capazes de defender a morte em nome da vida e em outros momentos a vida em detrimento da morte. Ética da vida, viver, possibilitar a vida, defender a vida por amor a vida, está um pouco distante de nós, infelizmente. É tão equivocada a nossa ética da vida que somos os que estamos na vanguarda das decisões sobre quem deve matar e quem não deve." parabéns!
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  • Honorio Isaias Massuanganhe Edgar Cubaliwa...a sua escrita está a se tornar insustentável para mim...simplesmente desconcertante e dolorosa. O que te posso dizer...é que este exercício é novo...pensar, mas pensar sem nos perder nas emoções...trazer pela palavra apenas os factos, sem a contaminação das nossas emoções...está ainda muito difícil...Represamos tantas dores e angustias, que na hora da catarse as emoções nos orientam para um lugar confortável. Lugar esse que não nos confronte, que não levante o véu sobre o que realmente somos...o outro é a nossa salvação, o outro'' FRELIMO'', outro ''vizinho'', o outro ''amigo''...todos os outros menos nos e outro de nos...fazemos tudo para não nos implicarmos com as nossas falhas e atitudes...Eu devo admitir que preciso cultivar em mim esse discernimento de olhar para mim e procurar em mim elementos que concorre para o que supostamente parecer ser do outro...Fazemos muitas racionalizações e com isso nos afastamos da razão, da racionalidade.
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  • Alcídes André de Amaral Reflexao bem necessaria mas tambem, ao que me `e permitido constatar, com bases em meus sentidos `e claro, altamente desnecessaria! Vou explicar melhor: uma sociedade orientada para o que ela carece, que na minha opiniao, e no caso da nossa sociedade `...Ver mais
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  • Edgar Cubaliwa Ao Elias Castro tenho a dizer que temos ainda um longo caminho pela frente. Muitas encruzilhadas encontram-se. Algumas criadas conscientemente outras não.
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  • Edgar Cubaliwa Ao Professor Elisio so posso agradecer a felicitação. Não é fácil ler um parabéns vinda de uma mente tão critica que incasavelmente procura dar lições sobre como debater. Infelizmente está dificil o aprendizado. E se a qualidade do debate ainda pode servir para medir o nivel do desenvolvimento conforme escreveu no passado, lendo diversos textos e comentários no face, percebo o quão estamos mal. Muito mal mesmo. Abraços
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  • Edgar Cubaliwa Honorio Isaias meu mano, é duro para mim saber que o que escrevo tornou-se insustentável aos seus olhos. Procurarei resgatar a sustentabilidade. Tentarei descobrir onde perdi o primeiro amor e irei resgata-lo. Vamos ver se funciona. Abraços
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  • Honorio Isaias Massuanganhe Edgar Cubaliwa...a tua escrita nao poderia ser a mais iluminada...nos levando para nossas trevas...aquelas que nos criamos e nao temos coragem de a visitar...a tua escrita me causa uma dor necessaria para quem almeja intervir com responsabilidade...para nao correr o risco de trilhar pelo lugar comum...Edgar, eu e que preciso ter coragem de me submeter a uma profunda auto analise e separar o trigo do joio...Continue assim meu irmao...veja que nao ha muitos like no teu texto...acredite Edgar e pelo desconforto que ele causa, poucos terao a coragem de apartir do seu texto iniciar uma viagem introspectiva, dolorosa mas necessaria...sao textos como os seus que nos reposicionam e nos alertam constantemente para nao perder o foco...nao confundir a dor do analista e o fenomeno em analise - que exige objectividade. Forca mano, continue assim. Todo o meu respeito pela sua escrita e pensar.
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