quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Microsoft apresentou uma das mais impressionantes demonstrações de tecnologia da história

 – difícil vai ser fazê-la funcionar como prometido

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No evento em que apresentou ao mundo o Windows 10 (falarei mais sobre ele) e algumas outras novidades, a Microsoft reservou alguns minutos PARA algo que parecia vir diretamente do futuro: o Projeto HoloLens, que traz a ideia de realidade virtual, que mal chegou, a um outro nível. A ideia é que, ao colocar os óculos especiais, a pessoa veja à sua volta elementos “holográficos”, que parecem reais – e que consiga manipulá-los. Assistindo a esse vídeo fica mais fácil entender a visão: 
A ideia de realidade aumentada sendo projetada por todos os lados está presente há décadas na ficção científica, do Holodeck de Star Trek ao Jarvis, que Tony Stark usa PARA projetar suas armaduras, a jogos de videogame como Dead Space. Mas nunca alguém havia mostrado o trailer de algo que pretende ser comercial como o que a Microsoft fez hoje.
Alguns dos cenários apresentados, como o de um designer mudando as cores e formas de uma moto e um “holograma” do objeto mudando em tempo real, ao seu lado, fazem sentido, são plausíveis, e já há tecnologia para fazer com que eles existam. Mas outros, especialmente em se tratando de videogames, não tem a menor chance de decolar em um futuro próximo (menos de 5 anos). Certamente não com a fluidez que os trailers apresentam. Antes de explicar por quê, vamos entender como a Microsoft diz que o HoloLens funciona:
O HoloLens é um computador inteiro vestível na cabeça, que fica em termos de tamanho entre um Google Glass e o Oculus Rift – dois dos gadgets mais falados dos últimos anos. Ele tem uma CPU, uma placa gráfica e outra dedicada a gerar “gráficos holográficos”. O visor em si deixa ver o que há à sua volta ao mesmo tempo que “projeta” os gráficos no seu campo de visão, com ângulo de 120º – o suficiente PARA causar uma imersão quase completa. A repórter da Wired, que testou algumas demos do HoloLens, diz que ele funciona bem ao enganar o seu cérebro PARA fazer com que ele perceba luz como matéria. Alex Kipman, o inventor do negócio, dá a seguinte explicação:
“Os fótons quicam pelo mundo e, em algum momento, eles voltam para o fundo dos seus olhos, e através disso, você tem a percepção de como é o mundo à sua volta. [Com o HoloLens] Você essencialmente está alucinando, ou você vê o que a mente quer que você veja.”
É uma explicação bizarra, mas faz sentido. A “visão” apenas começa nos olhos, mas é formada de fato no cérebro, e é possível enganá-la se o mundo “de mentira” envolver todo o nosso campo, como é o caso do HoloLens e o Oculus Rift. Da mesma forma, os sensores de movimento com acelerômetros e giroscópios já estão baratos e desenvolvidos o suficiente para fazer com que possamos “olhar” à nossa volta, e o que está na tela acompanhar. Com o que temos hoje, eu consigo ver em um futuro bem próximo as construções de Minecraft sendo jogadas no sofá, como a demo sugere, ou o solo de Marte sendo projetado no chão da sala. Faz sentido – há coisas assim em museus. 
O pulo do gato, que diferencia o HoloLens de tudo que veio antes, está em como você pode manipular, com as mãos, o mundo à sua volta. Os outros dispositivos de realidade virtual apresentados até agora, ou mesmo o Google Glass, permitem que vejamos as coisas mexendo a cabeça. Mas o controle, nesses dispositivos, ainda se dá por métodos convencionais: algo como um joystick ou a voz. No caso do HoloLens, não. E é por isso que eu não acredito que ele funcione. Basta voltar no tempo.
A primeira vez que vimos o Kinect (então “Project Natal”), há cinco anos, foi algo absolutamente impressionante. Uma câmera que detecta rapidamente seus movimentos e traduz em ações dentro de um jogo parecia uma tecnologia que havia chegado também uns 10 anos antes. Não à toa, o apetrecho PARA Xbox 360 foi um sucesso – o acessório de videogame que vendeu mais rápido em toda a história. Era a ideia do Wii, mas sem controles. Jogos como Dance Central mostraram o potencial da tecnologia.
Que, no fim, nunca foi muito adiante e não chegou nem perto de realizar o que a primeira demo (Project Milo) prometia. O Xbox One, com bem mais capacidade de processamento e um Kinect melhorado, poderia fazer com que “entrássemos” no jogo de maneira bem mais crível. Mas não foi o que aconteceu, porque nenhum desenvolvedor (nem os jogadores) se mostrou muito disposto. Os jogos que saíram com funcionalidades do Kinect inclusas eram medíocres. A Microsoft acabou por vender o Xbox sem Kinect, e ninguém parece sentir falta. Porque, e isso é importantíssimo, uma parte importante de jogar videogame é não apenas “entrar” no mundo, mas ter um controle preciso. E o Kinect ainda não consegue traduzir perfeitamente, e sem “lag” (a diferença de milisegundos entre a ação e o resultado na tela), os comandos do jogador. Difícil acreditar que isso foi solucionado.
Porque o HoloLens usa a tecnologias do Kinect PARA traduzir os movimentos das mãos em “controles”, mas isso ainda é bastante imperfeito. Para manipular um bloco virtual de Minecraft (uma das demonstrações do vídeo), seria preciso um controle fino bastante preciso, e eu não consigo ver como isso seria atingível. Se para fazer um comando se realizar for preciso repetir o “input” algumas vezes, essa tecnologia cairá rapidamente em desuso (como são os comandos por voz do Kinect no meu Xbox).
É verdade que estamos no princípio, vendo apenas protótipos. Mas na (absolutamente otimista) reportagem da Wired, as demos mostravam comandos ridiculamente simples, do tipo “levantar o braço” ou escolher um grande botão em três possíveis. Tudo para diminuir a frustração, imagino. Só que com essas (necessárias) limitações, acho que será impossível criar algo tão imersivo, como as demos sugerem. Pelo entusiasmo com que todos da Microsoft falam do projeto, o HoloLens deve virar realidade (dificilmente morrerá vergonhosamente na praia como o Google Glass), mas é bom calibrarmos as expectativas. 
Alex Kipman, o curitibano que está por trás do Kinect e do HoloLens, é inegavelmente um visionário. Mas a realidade é que não basta construir a fundação de um aparelho de realidade virtual, é preciso criar bons mundos de mentira PARA povoarmos. Desde Second Life, estamos esperando.
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