COMPREENDENDO A RENAMO: MISSÃO IMPOSSÍVEL II
Assim é porque já vou na segunda série de elucubrações, tentando compreender um suposto partido político que dá pelo pomposo nome de Resistência Nacional de Moçambique, abreviadamente designado por RENAMO. Tem sido titânico, entretanto, inglório, o esforço de compreender se estamos em presença de um movimento dirigido por um Senhor de Guerra ou um clube de amigos, que à custa do suor do povo tem tentado amealhar ganhos económico-financeiros, sem para tal fazer o mínimo esforço.
Tenho andado particularmente atento ao desenrolar do diálogo político entre o Governo e a Renamo, que tem lugar a pedido do grupo de Afonso Dlhakama. Na carta endereçada ao Governo, a Renamo justifica o pedido com o facto de ser signatária dos Acordos Gerais de Roma. Deste pressuposto passei a estar certo que o que este movimento pretendia era ressuscitar o AGP, não ignorando que o mesmo deixou de vigorar com a tomada de posse dos órgãos democraticamente eleitos em 1994, para além de que parte remanescente e relevante deste instrumento foi incorporado na Constituição da República aprovada em 2004, curiosamente por pressão da Renamo e com o seu beneplácito.
Neste exercício, tento sintetizar esta “longa-metragem”, que tem como cenário das filmagens o Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, as matas de Santungira e a região montanhosa de Gorongosa.
Em primeiro lugar, sempre defendi que Afonso Dlhakama tem um incomum pavor de eleições. Assim é que todas as manobras que têm sido realizadas visam, em última análise, evitar que o país vá a eleições. A Renamo tentou, sem sucesso, inviabilizar a realização do recenseamento eleitoral e do processo de votação, nas eleições municipais de 2013, tendo visto frustradas as suas pretensões, primeiro, pela firmeza do Governo e da soberana vontade do povo moçambicano. No presente ano, saltitando de exigência em exigência, a rapaziada de Afonso Dlhakama procura evitar que haja eleições. Aliás, os muitos porta-vozes deste partido têm sido constantes em proferir ameaças de não participar e impedir que o povo moçambicano participe nas eleições gerais e para as assembleias provinciais. A Renamo assim age porque sabe que não só não vai ganhar as eleições, como também e sobretudo, vai averbar uma copiosa derrota, que vai ficar nos anais da história, pois desde 2009 que não se visualiza qualquer trabalho político que justifique alguma esperança na conquista de eleições. Justamente porque não quer ser objecto de chacota pública, especialmente do seu descendente, o MDM, há um gigantesco esforço para evitar um cenário de eleições. Não poucas vezes o presidente do MDM foi cognominado de ingrato pelos muitos porta-vozes da Renamo, para além de que Dlhakama tem dito que Daviz Simango não passa de um “miúdo, achado em Inhambane e que andava de chinelos.” É, portanto, pouco crível que Afonso Dlhakama e sua turma queiram correr o risco de ser suplantados por miúdos que há uns anos atrás deambulavam pela “Terra da Boa Gente” calçando chinelos, não constituindo problema ser suplantados pela Frelimo, facto que corre o risco de virar natural.
Em segundo lugar, é facto que já não pode passar despercebido aos olhos da opinião pública, dando conta de termos hoje uma Renamo visivelmente dividida. Apesar de todos na Renamo venerarem Afonso Dlhakama, não custa perceber que há uma Renamo de Crise, formada por que não estão na Assembleia da República, cujo papel é fazer aparições constantes na comunicação social, como um estratagema para conseguir alguma visibilidade política. Também é pacífico afirmar-se que existe a Renamo dos fatos, decotes, extensões, perfumes, carros de alta cilindrada, confortavelmente sentados na Assembleia da República, à custa do suor do povo que com seus impostos os suporta, mas para paradoxalmente financiar matanças contra este mesmo povo. A outra Renamo é aquela que não consegue dissociar-se do instrumento que melhor manejam e quiçá, o grupo menos beneficiado em tudo o que tem sido conquista deste movimento. Quer uma ou outra Renamo, à sua maneira, buscam protagonismo político e, todos têm como sua referência incontornável o Sr. Afonso Dlhakama, a quem evocam para justificar os seus actos. Por outras palavras, proferem ameaças contra o povo moçambicano em nome de Afonso Dlhakama, sabotam com altas doses de hipocrisia os trabalhos da Assembleia da República e “abusam das regalias” em nome de Afonso Dlhakama e, por fim, matam, saqueiam, ameaçam, bloqueiam, tudo em nome de Afonso Dlhakama. É esta divisão que torna a Renamo um movimento atípico, em que tudo vale, menos lutar para o em do povo moçambicano. Porém, por mais que pretendam, uns e outros são a Renamo que semeia terror e que usam as armas para alcançar o poder.
Em terceiro lugar, pelo andar da carruagem no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, não carece de muito trabalho intelectual para concluir-se que a Renamo boicota o diálogo. É imperioso lembrar que a justificação que a Renamo dava para perpetrar ataques contra civis, membros das Forças de Defesa e Segurança era o suposto desequilíbrio que a lei eleitoral promovia. Aliás, a defesa acérrima da paridade teve como porta-vozes certos cidadãos que hoje vivem “à grande e à francesa”, por conta da mesma paridade, sem pena do líder usado que hoje, em desespero de causa, quer se apartar da mata, onde se meteu por vontade própria. Hoje a Renamo pede algo que sabe não vai ter, como estratégia para continuar a legitimar os ataques contra a boa vontade dos moçambicanos. É a táctica do bloqueio ao diálogo.
E para terminar, não pode ser menos verdade que Dlhakama está sendo vítima da sua própria estratégia, a de manter homens armados e armar outros tantos, com o fim de tentar aceder ao poder. O homem meteu-se numa alhada que está sendo difícil de dela se desembaraçar. E hoje Dlhakama, quase que em desepero de causa, alega que quer sair do mato, mas que para tal é necessário que as Forças de Defesa e Segurança saiam da Gorongosa. Será assim tão difícil chegar à capital país? Ao líder da Renamo não faltam exemplos de como se pode sair de parte incerta e chegar vivo e ileso à Maputo, basta perguntar ao deputado Manuel Bissopo, Secretário-Geral do seu partido, com quem esteve, em parte incerta, desde 21 de Outubro de 2013 e com quem alegadamente tem falado todos os dias. Manuel Bissopo convocou a imprensa e contou as peripécias da sua viagem da Serra da Gorongosa até se restabelecer nas poltronas da Assembleia da República, sem que alguém o molestasse ou exigisse contas sobre o que quer que fosse. Em suma, Afonso Dlhakama sabe como sair de onde se meteu, por vontade própria. Se assim não for, estará a dar razão a quem sempre disse que ele não se remeteu a tamanho sofrimento por vontade própria, mas coagido pelos seus militares, a quem prometeu fundos e mundos, obrigando-os a permanecer nas matas, guarnecendo arsenal militar, que às vezes tem o nome de Presidente. Infelizmente, esses homens não foram integrados na vida civil, nem se beneficiam das pensões que o Estado disponibilizou, nem ainda vêm a côr do dinheiro que Dhlakama vinha gastando em Maputo e Nampula, na companhia de um grupo restrito. E hoje, reclamam igual benefício, mantendo em cárcere privado o seu líder, algo que prometeram em 2007. Aqui vai um apelo ao General Dlhakama, cuja casa anda muito silenciosa e o Mercedes preto continua estacionado na mesma posição e o capim só faz lembrar a parte incerta onde se remeteu. Os seus miúdos andam desnorteados, pois enquanto uns dizem que querem fazer guerra, outros dizem que querem paz e há outras que dizem que não concordam com a sua opção militar. Há outros que dizem que o General é candidato natural, outros dizem que ainda não foi indicado como tal. Não custa perceber que essas dissonâncias são o reflexo de ausência de liderança.
Mas é importante lembrar ao General que o Chefe de Estado Maior das FADM, o Comandante-Geral da Polícia e o Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança vivem aqui em Maputo. Espero que não obrigue a que eles sejam retirados de onde estão hoje, de modo a que ele faça pré-campanha livremente. O Sr Dhlakama saiu de Santungira para a famosa parte incerta, supostamente cercado pelas FDS, foi recensera-se também cercado por elas, pelo que não vejo que haja dificuldade de usar a mesma arte para chegar a Maputo, como o fez o Secretário-Geral.
Mais não direi, sob pena de me confundir, pois entender a Renamo, é obra!
PS: Senhor General, apesar de desmentir, o seu miúdo de pés descalços e de chinelos, a quem o senhor resgatou em Inhambane e que hoje é presidente de um partido formado à base de quadros seus, disse que o senhorr tem direito a assistência médica e que não pode continuar a viver assim. Será que ele está a mentir? É que o senhor disse que não está doente e esse miúdo agora vem falar de assistência médica. Mas porquê?
Alexandre Chivale
alexandre.chivale@sapo.mz
JORNAL DOMINGO – 22.06.2014
Neste exercício, tento sintetizar esta “longa-metragem”, que tem como cenário das filmagens o Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, as matas de Santungira e a região montanhosa de Gorongosa.
Em primeiro lugar, sempre defendi que Afonso Dlhakama tem um incomum pavor de eleições. Assim é que todas as manobras que têm sido realizadas visam, em última análise, evitar que o país vá a eleições. A Renamo tentou, sem sucesso, inviabilizar a realização do recenseamento eleitoral e do processo de votação, nas eleições municipais de 2013, tendo visto frustradas as suas pretensões, primeiro, pela firmeza do Governo e da soberana vontade do povo moçambicano. No presente ano, saltitando de exigência em exigência, a rapaziada de Afonso Dlhakama procura evitar que haja eleições. Aliás, os muitos porta-vozes deste partido têm sido constantes em proferir ameaças de não participar e impedir que o povo moçambicano participe nas eleições gerais e para as assembleias provinciais. A Renamo assim age porque sabe que não só não vai ganhar as eleições, como também e sobretudo, vai averbar uma copiosa derrota, que vai ficar nos anais da história, pois desde 2009 que não se visualiza qualquer trabalho político que justifique alguma esperança na conquista de eleições. Justamente porque não quer ser objecto de chacota pública, especialmente do seu descendente, o MDM, há um gigantesco esforço para evitar um cenário de eleições. Não poucas vezes o presidente do MDM foi cognominado de ingrato pelos muitos porta-vozes da Renamo, para além de que Dlhakama tem dito que Daviz Simango não passa de um “miúdo, achado em Inhambane e que andava de chinelos.” É, portanto, pouco crível que Afonso Dlhakama e sua turma queiram correr o risco de ser suplantados por miúdos que há uns anos atrás deambulavam pela “Terra da Boa Gente” calçando chinelos, não constituindo problema ser suplantados pela Frelimo, facto que corre o risco de virar natural.
Em segundo lugar, é facto que já não pode passar despercebido aos olhos da opinião pública, dando conta de termos hoje uma Renamo visivelmente dividida. Apesar de todos na Renamo venerarem Afonso Dlhakama, não custa perceber que há uma Renamo de Crise, formada por que não estão na Assembleia da República, cujo papel é fazer aparições constantes na comunicação social, como um estratagema para conseguir alguma visibilidade política. Também é pacífico afirmar-se que existe a Renamo dos fatos, decotes, extensões, perfumes, carros de alta cilindrada, confortavelmente sentados na Assembleia da República, à custa do suor do povo que com seus impostos os suporta, mas para paradoxalmente financiar matanças contra este mesmo povo. A outra Renamo é aquela que não consegue dissociar-se do instrumento que melhor manejam e quiçá, o grupo menos beneficiado em tudo o que tem sido conquista deste movimento. Quer uma ou outra Renamo, à sua maneira, buscam protagonismo político e, todos têm como sua referência incontornável o Sr. Afonso Dlhakama, a quem evocam para justificar os seus actos. Por outras palavras, proferem ameaças contra o povo moçambicano em nome de Afonso Dlhakama, sabotam com altas doses de hipocrisia os trabalhos da Assembleia da República e “abusam das regalias” em nome de Afonso Dlhakama e, por fim, matam, saqueiam, ameaçam, bloqueiam, tudo em nome de Afonso Dlhakama. É esta divisão que torna a Renamo um movimento atípico, em que tudo vale, menos lutar para o em do povo moçambicano. Porém, por mais que pretendam, uns e outros são a Renamo que semeia terror e que usam as armas para alcançar o poder.
Em terceiro lugar, pelo andar da carruagem no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, não carece de muito trabalho intelectual para concluir-se que a Renamo boicota o diálogo. É imperioso lembrar que a justificação que a Renamo dava para perpetrar ataques contra civis, membros das Forças de Defesa e Segurança era o suposto desequilíbrio que a lei eleitoral promovia. Aliás, a defesa acérrima da paridade teve como porta-vozes certos cidadãos que hoje vivem “à grande e à francesa”, por conta da mesma paridade, sem pena do líder usado que hoje, em desespero de causa, quer se apartar da mata, onde se meteu por vontade própria. Hoje a Renamo pede algo que sabe não vai ter, como estratégia para continuar a legitimar os ataques contra a boa vontade dos moçambicanos. É a táctica do bloqueio ao diálogo.
E para terminar, não pode ser menos verdade que Dlhakama está sendo vítima da sua própria estratégia, a de manter homens armados e armar outros tantos, com o fim de tentar aceder ao poder. O homem meteu-se numa alhada que está sendo difícil de dela se desembaraçar. E hoje Dlhakama, quase que em desepero de causa, alega que quer sair do mato, mas que para tal é necessário que as Forças de Defesa e Segurança saiam da Gorongosa. Será assim tão difícil chegar à capital país? Ao líder da Renamo não faltam exemplos de como se pode sair de parte incerta e chegar vivo e ileso à Maputo, basta perguntar ao deputado Manuel Bissopo, Secretário-Geral do seu partido, com quem esteve, em parte incerta, desde 21 de Outubro de 2013 e com quem alegadamente tem falado todos os dias. Manuel Bissopo convocou a imprensa e contou as peripécias da sua viagem da Serra da Gorongosa até se restabelecer nas poltronas da Assembleia da República, sem que alguém o molestasse ou exigisse contas sobre o que quer que fosse. Em suma, Afonso Dlhakama sabe como sair de onde se meteu, por vontade própria. Se assim não for, estará a dar razão a quem sempre disse que ele não se remeteu a tamanho sofrimento por vontade própria, mas coagido pelos seus militares, a quem prometeu fundos e mundos, obrigando-os a permanecer nas matas, guarnecendo arsenal militar, que às vezes tem o nome de Presidente. Infelizmente, esses homens não foram integrados na vida civil, nem se beneficiam das pensões que o Estado disponibilizou, nem ainda vêm a côr do dinheiro que Dhlakama vinha gastando em Maputo e Nampula, na companhia de um grupo restrito. E hoje, reclamam igual benefício, mantendo em cárcere privado o seu líder, algo que prometeram em 2007. Aqui vai um apelo ao General Dlhakama, cuja casa anda muito silenciosa e o Mercedes preto continua estacionado na mesma posição e o capim só faz lembrar a parte incerta onde se remeteu. Os seus miúdos andam desnorteados, pois enquanto uns dizem que querem fazer guerra, outros dizem que querem paz e há outras que dizem que não concordam com a sua opção militar. Há outros que dizem que o General é candidato natural, outros dizem que ainda não foi indicado como tal. Não custa perceber que essas dissonâncias são o reflexo de ausência de liderança.
Mas é importante lembrar ao General que o Chefe de Estado Maior das FADM, o Comandante-Geral da Polícia e o Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança vivem aqui em Maputo. Espero que não obrigue a que eles sejam retirados de onde estão hoje, de modo a que ele faça pré-campanha livremente. O Sr Dhlakama saiu de Santungira para a famosa parte incerta, supostamente cercado pelas FDS, foi recensera-se também cercado por elas, pelo que não vejo que haja dificuldade de usar a mesma arte para chegar a Maputo, como o fez o Secretário-Geral.
Mais não direi, sob pena de me confundir, pois entender a Renamo, é obra!
PS: Senhor General, apesar de desmentir, o seu miúdo de pés descalços e de chinelos, a quem o senhor resgatou em Inhambane e que hoje é presidente de um partido formado à base de quadros seus, disse que o senhorr tem direito a assistência médica e que não pode continuar a viver assim. Será que ele está a mentir? É que o senhor disse que não está doente e esse miúdo agora vem falar de assistência médica. Mas porquê?
Alexandre Chivale
alexandre.chivale@sapo.mz
JORNAL DOMINGO – 22.06.2014
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