Monday, December 17, 2012

RTP - o inacreditável está a acontecer? – Henrique Monteiro



Lisboa – Quando se falou na privatização da RTP, muita gente aplaudiu, convencida de que se iria poupar muito dinheiro ao Estado. Pois bem, um serviço público de televisão pode bem viver dos quase 170 milhões de taxas pagas anualmente sem qualquer contributo do Orçamento. E assim deveria ser.

Fonte: Expresso

A sua passagem para mãos privadas implicaria uma de duas coisas: ou acabar com qualquer serviço público na televisão (modelo desconhecido mesmo nos EUA) ou compensar quem o fizesse, gastando mais ou menos o mesmo dinheiro.

A entrega da RTP a um privado arruína toda a comunicação social. Alguns veem nisto uma guerra comercial simples. Mas não é. São todos prejudicados, incluindo rádios e jornais, porque o mercado publicitário que já está a cair mais de 20 por cento ao ano teria mais um fortíssimo competidor.

Acresce que a grande divisão nos grupos de media coloca de um lado aqueles que pretendem ganhar a vida através dos seus projetos de comunicação social, e do outro, os que utilizam a comunicação social para potenciar negócios estranhos ao meio e interesses que nada têm a ver com o jornalismo e a comunicação em si.

É por isso que o mais inacreditável, o pior dos mundos, está a acontecer com a RTP caso se confirmem as mais recentes notícias. Se o Governo vender 49% da RTP ficamos com uma televisão nominalmente pública gerida por privados. Privados esses que, a avaliar pelos que se mostraram interessados, não têm nem a menor credibilidade no mundo da comunicação social, nem cumprem os requisitos legais que impõem o conhecimento dos seus proprietários (ao contrário do que um comunicado dos próprios, a Newshold, pretendia).

Para avaliar a isenção da Newshold, faça-se o seguinte exercício: tente-se encontrar a notícia da abertura do inquérito a dirigentes angolanos pelo DCIAP no semanário 'Sol', propriedade daquele grupo. Pois bem, o mais que encontram - no mesmo jornal tão lesto a destacar uma investigação a Medina Carreira - é um comunicado oficial, três dias depois de a notícia ser conhecida. Pormenor interessante - enquanto todos os outros órgãos de comunicação leram esse comunicado como a confirmação de que tinha sido aberto um inquérito a altos dirigentes angolanos (o vice-Presidente e um ministro, entre eles), o cuidadoso 'Sol' vislumbrou apenas que os mesmos dirigentes não são arguidos.

Em resumo, e como já afirmei na SIC - podemos estar a caminho de retirar o controlo da RTP ao Estado português para o entregar ao Estado angolano... mas como 51% da propriedade ainda fica na posse de Portugal, adivinhem quem vai pagar a taxa?

É inacreditável, não é? Até a mim me custa a crer. Veremos...

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