Wednesday, November 7, 2012

Prós e Contras: Manifestações e Forças da Ordem - marxismos

Terça-feira, 16 de Outubro de 2012

Democracia porca - a portuguesa!

Membros das elites portuguesas do poder

O problema estrutural português está identificado: A Porca com as tetas é o Estado; os Leitões são os membros das classes dirigentes. Portugal é uma pocilga. Oralidade: eis a palavra que ajuda a compreender a história de Portugal! Ontem, no debate Prós e Contras, um luso-brasileiro disse que ia contactar a polícia federal brasileira para pressionar os leitões portugueses. Eu prefiro o exército americano... para desempenhar essa missão: liquidar os leitões portugueses e vender os seus corpos mortos na China!

Terça-feira, 2 de Outubro de 2012

Prós e Contras: Manifestações e Forças da Ordem

Panóptico do PORTO
Eis o texto reaccionário de apresentação do debate Prós e Contras de ontem (1 de Outubro):

"Grécia, Espanha, Itália e Portugal: A crise agudiza-se e explodem os protestos na rua. O que distingue as manifestações no sul da Europa. A efervescência das sociedades angustiadas e a necessidade de defender o Estado de Direito e a ordem pública. A importância das manifestações e o delicado desempenho das forças da ordem. Como é que as forças de segurança estão a lidar com a tensão crescente?"

Cada um dos quatro convidados de Fátima Campos Ferreira desenvolveu o seu discurso reaccionário em nome do Estado de Direito e da ordem pública. O elogio da fotografia da rapariga e do polícia que circulou pelo Facebook é um elogio reaccionário: os revoltosos dotados de consciência política radical não podem tratar as forças policiais de repressão como forças amigas. A violência das forças policiais é usada para garantir a perpetuação da ordem social estabelecida, precisamente aquela que gera o empobrecimento dos povos do sul da Europa. Em Portugal, não há verdadeiramente Estado de Direito ou mesmo democracia: o Estado foi capturado pela máfia lusitana que usa os aparelhos repressivos de Estado para garantir os seus privilégios. A fotografia só mereceria um elogio se o polícia tivesse despido a farda e passado para o lado dos manifestantes: o caso amoroso desejado pelo General - outro representante do poder repressivo do Estado - implica a capitulação dos manifestantes perante o poder estabelecido. Os polícias não podem ser vistos como aliados porque a sua missão é usar a violência para restabelecer a ordem social que priva os manifestantes da sua humanidade. Como tenho defendido em diversos lugares, os manifestantes devem adquirir consciência política radical: a política praticada pelos governantes portugueses deve ser combatida com novas políticas radicais. Alguém afirmou que o discurso do século XIX - entenda-se o pensamento de Marx - está ultrapassado: os privilegiados temem a luta de classes e dizem condenar a violência, não a sua própria violência retrógrada mas a violência revolucionária que visa a realização plena do humanismo integral. Ora, como demonstrou Merleau-Ponty, não há escolha entre a violência e a não-violência, entre o humanismo e o terror, mas apenas entre dois modos de violência - a capitalista e a socialista. A renúncia à violência revolucionária fortalece o reino da exploração capitalista, mas o seu uso tem a oportunidade de romper o círculo infernal do terror e contra-terror na medida em que é veiculada pela solidariedade do povo em sofrimento que, enquanto força política, é capaz de traduzir o humanismo de ideologia em realidade. Numa sociedade profundamente corrupta e desigual como a sociedade portuguesa, não há diálogo possível entre os carrascos e as vítimas, até porque o diálogo não muda nada. A crítica marxista da democracia liberal não perdeu actualidade e a teoria leninista do Estado continua a ser pertinente, embora deva ser reavaliada. O marxismo é verdadeiro ontem e hoje. Aconselho a leitura de Humanismo e Terror de Merleau-Ponty. (Fátima Campos Ferreira tem uma ideia errada da ordem pública: os verdadeiros representantes da ordem pública são os manifestantes, não os seus convidados privilegiados e opressores! O sociólogo convidado fez uma triste figura!)

J Francisco Saraiva de Sousa

Quarta-feira, 19 de Setembro de 2012

É possível (re)começar a dialéctica marxista?

Porto: Ribeira
A Queda do Muro de Berlim gerou um retrocesso civilizacional. Os ideólogos neoliberais entoaram cânticos de triunfo: o marxismo podia ser finalmente enterrado. Porém, a crise de 2008 converteu o triunfo em derrota do neoliberalismo. O marxismo volta a estar na ordem do dia num mundo em que o Ocidente já não está sozinho. A globalização promovida pelo neoliberalismo virou-se contra ele e, o que é mais preocupante, contra o Ocidente. O neoliberalismo ameaça os próprios fundamentos da civilização ocidental: a sua expansão implica um retrocesso intolerável da cultura. A natureza e a cultura revoltam-se contra o capitalismo em todos os cantos do mundo, o qual gera os seus próprios coveiros à medida que se globaliza, como o demonstra o ódio que o mundo global nutre pelos Estados Unidos. Marx tinha razão quando previa que o capitalismo só entraria em colapso depois de se ter globalizado; no entanto, a globalização do capitalismo tem gerado contradições sociais não previstas pela teoria marxista. A dialéctica é obrigada a globalizar-se e, ao se globalizar, defronta-se com uma realidade-outra que lhe é estranha: o conceito filosófico de história da humanidade deve ser completamente revisto ou mesmo abandonado. A globalização do capitalismo já não é a globalização do domínio ocidental.

Surgiram diversos modelos dialécticos sem que nenhum deles tenha sido sistematizado de forma formal-abstracta. Geralmente, alega-se que a dialéctica está inscrita na própria realidade sem a qual não pode ser exposta. Sem conteúdos não há dialéctica. O marxismo ocidental produziu algumas figuras dialécticas notáveis. Georg Lukács praticou a dialéctica da auto-consciência histórica ou dialéctica sujeito-objecto; António Gramsci destacou as contradições teoria-praxis; Herbert Marcuse exerceu a dialéctica essência-existência e Colletti a dialéctica aparência-realidade. Todas estas figuras dialécticas derivam de Hegel. Walter Benjamin viu na dialéctica a descontinuidade e o aspecto catastrófico da História. Ernst Bloch concebeu a dialéctica como fantasia objectiva. Para Sartre, a dialéctica está enraizada na inteligibilidade da actividade ou praxis totalizante do próprio indivíduo. Em Henri Lefèbvre, a dialéctica aponta para o objectivo da humanidade desalienada. A dialéctica de Della Volpe consiste num pensamento não-rígido, não-hipostasiado, enquanto a dialéctica de Althusser representa a complexidade, a pré-formação ou a sobredeterminação das totalidades. As dialécticas de Della Volpe e de Althusser são claramente anti-hegelianas, sendo a de Althusser marcada pelas distinções de Mao Tsé-Tung e pelo desenvolvimento desigual de Lenine. Theodor W. Adorno destaca a crítica imanente e o pensamento de não-identidade: a sua dialéctica negativa ainda não foi bem-compreendida. Às figuras dialécticas do marxismo ocidental devemos acrescentar as figuras dialécticas elaboradas pelo marxismo soviético ou mesmo por outros dirigentes comunistas, tais como Mao Tsé-Tung e Che Guevara. A dialéctica de Lenine é extremamente complexa e, pela sua abertura a Hegel, merece um estudo mais detalhado. Cada uma destas figuras dialécticas tentou articular a dialéctica e o materialismo. Alguns autores pensam que essa articulação é impossível: o materialismo dialéctico é, para eles, impensável. É estranho como consideram ser impossível aquilo que foi realizado por todas estas figuras dialécticas. Tanto a dialéctica essência-aparência de Marcuse como a dialéctica negativa de Adorno realizaram essa articulação entre materialismo e dialéctica. Infelizmente, as obras destes filósofos deixaram de estar disponíveis em boas traduções. Hoje as livrarias estão repletas de merda: qualquer tolinho político escreve o seu livro e as manadas tendem a comprá-lo, não para o ler mas só por comprar. O ofuscamento está de tal modo generalizado que já não tenho vontade de partilhar nada com ninguém. Só o pensamento da aniquilação total da sociedade estabelecida conforta o meu espírito. A dialéctica é aniquilação: lá onde morre um homem ou centenas de milhares de homens há dialéctica.

J Francisco Saraiva de Sousa

Terça-feira, 18 de Setembro de 2012

Podemos ser marxistas sem ser comunistas?

Porto e Douro River
A questão é puramente retórica: Eu sou marxista e, no entanto, nunca acreditei na possibilidade de realização real de uma sociedade comunista, e o próprio Marx já era comunista antes de ser marxista. O comunismo não é uma invenção marxista: ele tem, portanto, uma arqueologia atrás de si. A Filosofia tem elaborado ao longo da sua história diversas utopias que lhe permitiram criticar a ordem estabelecida, de modo a operar transformações significativas do mundo: o comunismo foi uma dessas utopias sociais. Não nego o papel histórico desempenhado pelo comunismo: ele serviu de bandeira à luta de classes dos trabalhadores contra a exploração económica e a opressão política. No entanto, qualquer tentativa séria de realizar o comunismo esbarra contra determinadas estruturas da natureza humana. Considero que tentar moldar a própria natureza humana é uma tarefa perigosa, porque ela produz um acréscimo de dominação em vez de um acréscimo de liberdade. A actualização do marxismo que preconizo implica o abandono do projecto comunista e a sua substituição por um novo projecto político. Já cheguei a defender uma utopia mínima: uma sociedade não-regulamentada. Porém, o meu realismo político leva-me a desconfiar da possibilidade efectiva de uma sociedade de indivíduos autónomos: a dialéctica confronta-se em cada conjuntura política com os limites que a natureza humana impõe à sua imaginação. A história é um processo aberto: qualquer tentativa para o concluir produz mais dominação do que libertação. E a dialéctica está condenada a oscilar entre a dominação e a libertação se quiser ser a figura da própria abertura. A ideia de uma sociedade desalienada não é dialéctica.

Ando muito preocupado com a ausência de estudos económicos marxistas: a teoria filosófica só pode criticar a sociedade estabelecida em função de alternativas económicas propostas por economistas marxistas. Com a emergência do estruturalismo, pelo menos no espaço francófono, a Filosofia não só recusou a História como também abandonou a crítica da economia política. O estruturalismo entregou o destino do mundo nas mãos dos tecnocratas e dos seus modelos neoliberais. O estruturalismo foi provavelmente a filosofia mais nociva produzida nas últimas décadas do século XX: todas as outras filosofias que dele emergiram mais não são do que capitulações da Filosofia perante a economia neoliberal. Ora, como demonstra a crise de 2008, os economistas não são as figuras mais adequadas para gerir os destinos do mundo. A economia tal como a conhecemos mais não é do que a tentativa de moldar o mundo em função dos interesses de determinadas camadas da classe capitalista. Os manuais de texto da economia devem ser queimados na praça pública, porque não queremos ser governados por homens que odeiam a cultura superior. Ser economista é sinónimo de malvado. António Sérgio lamentava a aversão dos portugueses pelos estudos económicos, sem no entanto ter explicado essa aversão: as escolas de economia que entretanto surgiram em Portugal são escolas de ladrões: os seus membros sonham desde cedo com o seu próprio enriquecimento pessoal à custa dos empobrecimento dos portugueses. Os economistas e os gestores não geram riqueza; pelo contrário, eles geram pobreza planeada. O mundo regrediu desde que os economistas e os gestores capturaram o poder económico e o poder político. A crise em que vivemos é também a crise desta ideologia económica.

J Francisco Saraiva de Sousa

Uma comunidade marxista virtual?

Porto: Ribeira
A actualização do marxismo exige a formação de uma comunidade marxista virtual. Apelo, portanto, a todos os marxistas que adiram a este projecto de formar um grupo de trabalho, dotado de uma agenda teórica e política, para debater a situação do marxismo num mundo cada vez mais global. Há muitos blogues marxistas, cujos autores podem unir esforços para revitalizar o marxismo. Tenho trabalhado sozinho nesse projecto, mas reconheço ser necessário aliar-me a todos aqueles que consideram que a solução para os problemas sociais se encontra esboçada na obra de Karl Marx: o cibermarxismo preconiza a luta de classes em todos os nichos da Internet. Aguardo a vossa adesão e as vossas sugestões.

Portugal é a "pátria" da indigência cognitiva e cultural. Já tentei criar um grupo real de trabalho com o objectivo de formar a Escola do Porto, dotada de um centro de pesquisa social e filosófica e de uma revista. Porém, as pessoas que aderiram ao projecto careciam de real formação científica e filosófica, encarando-o mais como uma oportunidade de emprego do que como um grupo activo de intelectuais comprometidos na luta pela construção de um mundo melhor. Além disso, os banqueiros e os empresários portugueses são muito conservadores e reaccionários para financiar um projecto que visa a transformação qualitativa do mundo. Aquilo que não consegui realizar no mundo real pode talvez ser realizado no mundo virtual que ultrapassa as barreiras físicas e psicológicas de Portugal; pelo menos, esta é a minha derradeira esperança.

J Francisco Saraiva de Sousa

Segunda-feira, 17 de Setembro de 2012

O meu regresso à blogosfera

Porto at night
A irracionalidade das sociedades ocidentais - em especial da sociedade portuguesa - espanta-me. Os gregos diziam que o espanto estava na origem do conhecimento, mas o espanto que se apodera do meu núcleo existencial confronta-me com a escassez de palavras adequadas para nomear todos os aspectos irracionais das sociedades contemporâneas. Encontrar as palavras adequadas para nomear as irracionalidades das nossas sociedades constitui a primeira tarefa a ser cumprida por uma nova Filosofia: os vocabulários de que dispomos estão esgotados. Dizer a verdade da irracionalidade de um mundo cada vez mais global exige um novo vocabulário. Não é fácil operar uma mudança de vocabulários. Tenho ensaiado alguns novos vocabulários, mas ainda não descobri o vocabulário mais adequado para dizer a verdade. Estou demasiado familiarizado com a tradição do pensamento ocidental para introduzir uma brecha nela, a partir da qual posso renovar o próprio pensamento filosófico. Em Filosofia, nada é radicalmente novo: o novo vocabulário que procuro encontra-se já presente nas entrelinhas da obra de Karl Marx. Actualizar o pensamento de Marx é emprestar-lhe um novo vocabulário que implica a reformulação do projecto político do marxismo. A filosofia contemporânea perdeu-se em jogos de linguagem alienados do mundo. Há mundo: este facto deixou de espantar os filósofos contemporâneos que se refugiam em palavras mágicas para encontrar "soluções" para problemas que não são reais. A filosofia-masturbação mental causa-nos perplexidade: Há mundo, há seres humanos completamente alienados do mundo. Eis a causa da nossa perplexidade: elaborar uma filosofia-mundo para quem? Olhamos em nosso redor e não encontramos audiência: os humanos desapareceram da face da Terra. Hoje a Filosofia não tem audiência: o capitalismo destruiu a humanidade dos homens, reduzindo-os à sua animalidade. O capitalismo é inimigo da cultura: lá onde ele se instala a cultura morre. A teoria filosófica permanece fiel a Marx: a crítica pressupõe a crítica da economia política; as categorias filosóficas fundamentam-se em categorias económicas. Guerrilha filosófica: eis como designo este meu regresso à blogosfera.

J Francisco Saraiva de Sousa

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