Elevação do estatuto da Palestina na ONU não resolve os problemas
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A Assembleia Geral da ONU aprovou, por esmagadora maioria de votos, o estatuto da Palestina como estado observador. Na opinião de Moscou, que votou a favor, a elevação do estatuto palestiniano irá favorecer o diálogo entre os palestinos e os israelenses.
Entretanto, a comunidade de analistas se dividiu, a esse respeito, em otimistas e pessimistas.
Hoje, os palestinos rejubilam. Na sua perceção, para a obtenção da soberania só falta mais um passo. Se bem que, na realidade, o principal obstáculo para se obter um Estado palestino de pleno direito sejam os próprios palestinos. De fato, a Autoridade Palestina é a Cisjordânia, onde no poder está a Fatah. Essa organização foi fundada em 1957 pelo então futuro líder da OLP, Yasser Arafat. Desde então, o movimento percorreu um longo caminho desde os métodos estritamente terroristas de combate ao reconhecimento da existência de Israel e à escolha de uma via pacífica para a regularização do conflito.
A Fatah sofre a concorrência do Hamas da Faixa de Gaza. Este escolheu como seu objetivo último a criação de um califado muçulmano e a libertação da Palestina das mãos dos sionistas. Esses dois movimentos perseguem objetivos diferentes. Os primeiros são sobretudo nacionalistas laicos. Os segundos são internacionalistas islamitas, para quem um Estado palestino não representa um interesse especial. São divergências ao nível ideológico que são extremamente difíceis de superar.
Outro aspeto importante é a Palestina depender financeiramente de Israel e dos EUA. Tudo indica que, para os palestinos, não é viável economicamente irritar o Ocidente. No entanto, eles se decidiram a dar esse passo. O chefe de redação da revista Rússia na Política Global, Fiodor Lukianov, partilhou a sua opinião sobre esse assunto:
"Paradoxalmente, a Palestina se encontra, por um lado, no centro de todos os acontecimentos, e por outro, não interessa, falando francamente, a ninguém nos outros países árabes. O destino do povo palestino é a última coisa a preocupar alguém. A triste ironia de tudo isto é que o estatuto da Palestina é promovido quando o projeto de um estado palestino se pode dizer que praticamente morreu. Algo me diz que o problema palestino, se se vier a resolver, será de uma forma diferente e em ligação com um outro Estado que se chama Jordânia. O que é a Jordânia? É um estado em que 70% da população são palestinos. Existe aqui um amargo paradoxo. Por um lado, nós iremos avançar para o reconhecimento da Palestina que foi inventada no gramado da Casa Branca. Por outro lado, a verdadeira Palestina irá se formar, pelos vistos com grandes conflitos e consequências imprevisíveis, noutro lugar".
Com tudo isto, a comunidade internacional não pode virar as costas ao processo de paz do Oriente Médio, pois a região é crucial para o sistema de estabilidade global. Apesar das críticas, o quarteto de mediadores internacionais, que inclui a Rússia, os EUA, a ONU e a União Europeia, deve continuar a elaborar o um plano de ações de paz, simplesmente porque não existe qualquer outro mecanismo comprovado.
Por outro lado, os países principais terão de pensar numa modernização radical da abordagem da regulação da situação no Oriente Médio. Esperamos que a elevação do estatuto palestino na ONU (com as respetivas consequências bastante sérias, mas ainda mal previstas) estimule reflexões a esse respeito.
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