terça-feira, 2 de outubro de 2012

Morreu Eric Hobsbawm, o historiador do "século curto"

 

Morreu Eric Hobsbawm, o historiador do século curto
legenda da imagemErich Hobsbawm, em fotografia de 2008
Roland Schlager, Epa

Faleceu hoje Eric Hobsbawm, aos 95 anos de idade. O historiador, para muitos o maior do século XX, foi durante toda a vida um marxista convicto, mas consideravelmente heterodoxo na sua visão dos processos económicos, sociais e políticos que marcaram a emergência da sociedade industrial, as revoluções e as guerras do mundo contemporâneo.

Hobsbawm deixa uma obra extensa, que confronta quaisquer breves notas cursivas por ocasião da sua morte com o embaraço da escolha. Mas à cabeça de uma bibliografia hobsbawmiana encontrar-se-á quase inevitavelmente a clássica triologia que dedicou ao século XIX: "A era do capital", "A era da revolução" e "A era do império".

Não releva do contasenso que um século só pudesse tornar-se objecto de três obras de fôlego e de três definições aparentemente contraditórias. Para Hobsbawm, o século XIX foi um "século longo", que começou com a Revolução Francesa e que terminou com a Primeira Grande Guerra. O tipo de processos que o marcaram vinha anunciado de antes e continuou presente depois da charneira meramente cronológica.

O século XX, pelo contrário, foi um "século curto", que começa para Hobsbawm com a Primeira Grande Guerra e que termina antes da data redonda, com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a desintegração da União Soviética a partir de 1991. Curto ou longo, foi um século cheio, de História fortemente acelerada, mas Hobsbawm já só lhe dedicou, em 1994, uma obra comparável às citadas anteriormente: "A era dos extremos".

Em 1983 publicou por fora desta série um trabalho fundamental, "A invenção da tradição", que oferece um olhar original sobre a fábrica de mitos geralmente associada à construção dos Estados-nação.

Nascido em Alexandria, Egipto, numa família de judeus britânicos, Hobsbawm vivera em Viena e depois em Berlim, que trocou pela Inglaterra em 1933, na sequência da tomada do poder pelos nazis.

Manteve-se filiado no Partido Comunista Britânico (BCP) até muito tarde, e a essa filiação se atribuem algumas posições políticas que tomou e foram objecto de controvérsia: preocupado em conservar para o BCP um espaço político com verdadeiro potencial de crescimento, Hobsbawm foi um aguerrido detractor da esquerda trabalhista de Tonny Benn, expondo-se por isso às críticas que lhe atribuem responsabilidade na vitória da direita trabalhista de Blair.

Para além de discussões políticas do momento, em que interveio com o horizonte limitado e grupuscular do BCP, Hobsbawm foi sem dúvida o mais marcante historiador da sua geração e continuou a publicar incansavelmente, até ao ano passado, obras de incontornável referência. A última foi "How to Change de World: Tales of Marx and Marxism" ["Como mudar o mundo: histórias de Marx e do marxismo"].

Oito anos antes publicara ainda um importante volume autobiográfico: "Interesting Times" - retrato de uma vida longa num século curto.

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