Há um milénio que o Islão chegou à nossa terra, quinhentos anos antes do cristianismo.
Aqui cada um possui familiares e amigos com as mais diversas confissões, sobretudo cristãos e islamitas. As festas de uns fazem parte de todos e no Natal ou no Ide estão juntos alegrando-se. Assim procuramos viver, moçambicanos com diferenças na cor, etnias, confissões, filosofias, línguas. Aprendemos e forjamos esta realidade ensinada por Mondlane, Samora, pela FRELIMO e os seus homens.
O Islão sempre se manifestou com uma face humana. O seu fundador levantou-se e orou quando passou um funeral judeu, respeitou a diferença e honrou o morto com a sua prece. Ele identificou o assassinato de um inocente com o sacrificar a humanidade. Nos países islâmicos respeitavam-se e protegiam-se os povos do livro, cristãos e judeus, quando a dita Santa Inquisição matava nas fogueiras os que consideravam heréticos e travam-se guerras de religião no Ocidente.
Hoje em nome do Islão aparecem uns bárbaros que cometem crimes que mancham o Islão, quando afirmam fazer as matanças em nome de Deus e do Profeta.
Quando na quarta-feira dia sete me preparava para embarcar de Paris para casa ocorreu umcrime hediondo. O crime encheu de revolta e horror toda a Europa e o mundo. De Putin a Merkel, de Obama a Cameron e ao Papa, do Conselho de Segurança das Nações Unidas à UE, condenou-se a barbaridade. Nesse mesmo dia mais de cem mil pessoas manifestaram em França o seu repúdio. Todos os dirigentes islâmicos e religiosos manifestaram o seu asco contra a infâmia.
Uns tresloucados fanáticos atacaram um pequeno jornal satírico, Charlie Hebdo, assassinaram a sangue frio doze pessoas e feriram outras tantas, das quais quatro se encontram nos cuidados intensivos. Queriam assim vingar a honra do Islão ofendida por umas caricaturas ridicularizando através do Profeta os fanáticos e publicadas faz uns dois ou três anos pelo semanário. Não limparam qualquer honra, não homenagearam Deus nem o Profeta, cometeram sim um crime contra o Islão. Assassinaram homens de talento como desenhadores, Wolinski, Cabu, Charb, Tignous e inocentes. Todos somos franceses hoje, disse o PM italiano Renzi, Eu sou Charlie gritaram manifestantes. Eu sou humorista escrevo eu. Não vi as caricaturas, entre os que as viram muitos disseram que o nível se mostrava baixo. As caricaturas feriram o imo dos sentimentos de muitos, violaram a sua fé. A boa educação e o respeito pela dignidade dos outros devem inspirar o bom humor. Um Cristo nu abraçado a uma mulher nua encheria de revolta a consciência de todos cristãos. Charlie Hebdo fez isso com o Profeta. A Humanidade precisa do Humor, as instituições, as confissões religiosas, as personalidades de qualquer sector, os homens de Estado, os dirigentes religiosos devem submeter-se ao Humor. Mas este deve respeitar a dignidade das pessoas. Mas não se combate a opinião, a crítica, o humor com balas e bombas, mas sim com ideias, com opiniões. De Gaulle, Chefe de Estado, não aceitou que se processasse um semanário satírico, que pretendia ridiculariza-lo. Mostrou grandeza.
Este massacre tão estúpido como bárbaro alegra todos os racistas anti-árabes e anti-africanos, todos os inimigos da emigração, todos os que odeiam o Islão. A extrema-direita em França e na Europa regozija-se pelas munições recebidas.
Há também que saber reconhecer as causas recentes dos fanatismos. O Ocidente e os Estados Unidos à cabeça vão buscar feijão macaco para se coçarem e depois queixam-se de comichão.
Desde os finais da II Guerra Mundial a política ocidental e americana está dominada por dois parâmetros ou obsessões maiores:
1. Opor-se à URSS e hoje à Rússia;
2. Defender os interesses das transnacionais do petróleo.
Na Europa e nos Estados Unidos discriminou-se tradicionalmente contra os judeus, claro que também contra árabes, negros, ciganos, mas dos últimos não se fala. O Holocausto nazi fez-se no silêncio das consciências dos Ocidentais e da América. O Holocausto não atingiu apenas judeus, ignoram-se os negros, ciganos, eslavos, socialistas, comunistas, sindicalistas, democratas que desapareceram nos fornos crematórios. Porque havia necessidade de se controlar o petróleo do Médio Oriente em 1947 criou-se como cão de guarda o Estado de Israel, com os sobreviventes do Holocausto. Quando Mossadegh na Pérsia pôs termo ao regime corrupto do Xá e nacionalizou o petróleo, houve necessidade de derrubar esse péssimo exemplo. Assim também em 1956 a França, a Inglaterra e Israel atacaram o Egipto porque Nasser ousara tomar conta do Canal do Suez.
Vieram os tempos mais recentes.
Incitou-se a Somália para a loucura de uma guerra contra a Etiópia, culpada de boas relações com a URSS. A Somália desapareceu como Estado e tornou-se uma estufa de fundamentalistas assassinos.
No Afeganistão após a revolução que libertou o país de um regime monárquico feudal e tribal, o regime progressista perigava os interesses americanos e ocidentais porque estabelecera boas relações com a URSS. Criou-se a Al Queda e Bin Laden como seu chefe. O feitiço voltou-se contra o feiticeiro, quando Bin Laden atacou os Estados Unidos em 2001.
Sadaam Hussein ousou pretender que o Iraque devia produzir e utilizar todas as tecnologias para a prospecção, exploração e transformação do petróleo. Inventaram-se as ditas armas de destruição massiva, até hoje por encontrar, mas já com um país destruído. Apenas a França com Chirac recusou participar. Sampaio em Portugal opôs-se à participação do seu país. O antigo esquerdista Durão Barroso, na época Primeiro-Ministro, à falta de melhor, mandou a polícia.Todos sabem como está o Iraque.
Mais recentemente a França, a Inglaterra, os Estados Unidos, pelas boas ou más razões porque não gostavam dos lunatismos de Khadafi, e a vontade de mandar no petróleo do país, entenderam bom derrubá-lo, aceitaram o seu assassinato a sangue-frio, quando preso e ferido.Os arsenais da Líbia e o território da Líbia alimentam os fanáticos no Mali e na Nigéria Boko Haram apenas um produto das visões curtas.
Na Síria, para combater Assad, regime laico, armaram-se grupos que criaram o Estado Islâmico, que hoje americanos, franceses, ingleses combatem. O novo aprendiz voltou-se contra o feiticeiro. Entretanto bombardeamentos, aviões sem piloto os drones, vão matando inocentes,vítimas colaterais, vítimas que deixam filhos, irmãos, pais, amigos que buscam vingança! Há que saber que o Ocidente não está inocente.
A possível adesão da Ucrânia à OTAN pode tornar-se uma nova acha na fogueira dos conflitos que se tornam mundiais, que se queira ou não.
E nós nisto? Como vai gerir o Presidente Nyusi o que herda da África, do mundo e de Moçambique? Que estabilidade nas nossas vizinhanças?
Não existe controlo nas nossas fronteiras, a troco de uns dinheiros qualquer bicho careta adquire um BI e passaporte. De repente apareceram umas mesquitas de barbudos, financiadas por fora,recrutam miúdos para irem para as zonas fundamentalistas do Paquistão e Afeganistão. Os bárbaros somalianos mataram em Dar-es-Salam, matam no Quénia. Já aparecem exigências para meninas entrarem com a cara tapada nas escolas, senhoras guiarem e passarem nos aeroportos, entrarem em bancos e locais públicos com rostos velados. Isto viola a Lei e mina a nossa segurança. Nunca fez parte do Islão em Moçambique. Quantos atentados ocorreram em Moçambique?
Pela dignidade do Islão e de todas as confissões com rosto humano, o meu abraço,
Sérgio Vieira
P.S. Acho estúpido transformar em Herói e mártir da nossa polícia um valdevinos qualquer. Havendo matéria incrimine-se e julgue-se, e não se liga à idiotice e ao vedetismo. Pergunto aos deputados que não tomaram posse se podem assim abster-se durante 30 dias. Um deputado deve-se esforçar por conhecer a lei que o regula, pelo menos isso. Beneficiará o suplente. Vale? Vale o juízo!
SV
1 comentário:
Agora já há o super-islão
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