sábado, 6 de outubro de 2012

SOBRE A ENTREVISTA DO MANO EGÍDIO VAZ

 

by Americo Matavele on Wednesday, 8 February 2012 at 10:41 ·

“A constituição de um paradigma instaura a comunidade dos sábios, e não de génios isolados, e define não só o meio de solucionar os problemas como também os problemas que convém resolver.” Thomas Kunh

Lembro-me que o entrevistado lançou um tema sobre esta diferença entre a Frente e o Partido, no seu post do dia 24 de Janeiro, onde houve um acérrimo e cerrado debate. Aqui no Facebook, na página do jornal Canal de Moçambique, onde se tirou a capa, eu disse que não existe nada de polémico na entrevista do Egídio; pelo contrário, o que li no jornal impresso, é mais uma opinião de mais um historiador moçambicano, e o próprio Egídio veio concordar comigo.
Só que, vejo que há muitos que usam esta entrevista para sararem feridas da sua auto flagelação, e deslumbram pela primeira vez uma verdade irrefutável. O que é a Verdade? Pergunta tabu esta. Para mim a verdade é a reunião de factos, sua interligação e transformação até se encaixar no estado do espírito de quem lê, escuta ou pensa. A verdade é condicionada pelo estado do espírito do receptor. O Egídio fez uma boa reunião de factos, pistas, provas que desaguaram nesta entrevista.

Não nego o ponto de vista egidiano, mas discordo sinceramente com ela, pois notei uma voluntariedade determinista de olhar os factos. Vamos por fases:
  1. 1. O CENTRO DO DEBATE É A DIFERENÇA ENTRE A FRELIMO E O PARTIDO FRELIMO.
A diferença que o Egídio encontrou, parte do pressuposto que leva em conta os significados de Frente e de Partido. Destes significados, o historiador extraí os pontos de divergência, e estas é que são o núcleo que veio cimentar a certeza de que a FRELIMO não pode ser a Frelimo, e consequentemente da negação da velhice da Frelimo como Partido.
  1. 2. A LÓGICA DA DIFERENÇA
Não entendo a lógica dessa ruptura que o Egídio apregoa, já que não estou a apanhar a teleleogia usada para esgrimir essa diferença. Pois assim aceite a diferença, teremos a FRELIMO morta em 1977 aos 15 anos, os seus feitos selados e embalsamados para a posterioridade; e daí ressurgia a Frelimo, qual Fénix, das cinzas da FRELIMO, e esta começa a gatinhar até fazer 10 anos em 1986. Os actores transitam da FRELIMO e vão para a Frelimo. Bem, o que não soa nesta situação é o facto de a linha temporal e ideológica continuar, os actores continuarem, e a História também estar seguindo no tempo. Digo isto porque todo o acto histórico e jurídico parte da vontade dos indivíduos. E essa vontade não é tomada em conta pelo mano Egídio na sua grande entrevista. A vontade é exactamente e deliberadamente pisada .
  1. 3. O USO DO DETERMINISMO
Acho que, o que o mano Egídio usou na sua entrevista, é o determinismo situacional, que se arrasta para uma interpretação também determinista. Usa também a teoria de ruptura. Assim nega-se a vontade dos indivíduos que os impele a fazer os factos (por exemplo a vontade de TRANSFORMAR uma Frente em Partido), e determina-se que a FRENTE morre automaticamente com o surgimento do Partido. Acho que os actores que fundaram a FRENTE e que fundaram o Partido (graças a Alah, ainda são vivos), poderiam nos elucidar melhor a sua VONTADE ao fazer a TRANSFORMAÇÃO em 1977, e não sairmos aos quatro ventos e gritarmos nossas verdades, ofuscando a vontade dos actores, jurídica e historicamente. O determinismo é estático e não aceita a transformação, o que em si é um erro crasso de metodologia, pois cheio de subjectivismo e deslumbramento.

  1. 4. REFUTAÇÃO DA TEORIA DE PARADIGMA
Sem querer, o mano Egídio refuta totalmente a teoria kunhiana (Thomas Kunh). Segundo esta teoria, numa determinada época do desenvolvimento, as investigações científicas são orientadas e estruturadas por um paradigma, isto é, por uma visão do mundo (Weltanschaung), que, sendo geral, inclui não só a teoria científica dominante como também princípios filosóficos, uma determinada concepção metodológica, leis e procedimentos técnicos padronizados para resolver problemas.

Isto é, cada tempo exige certo tipo de intervenção de acordo com os seus problemas, e é daí que desenha-se certo tipo de soluções (que viram Paradigma), para estes problemas, até entrarem em desuso, ou virarem normais e de normal convivência (estilo míni-saia e calções para as mulheres). Quando aparecem novos problemas, estes claramente exigem uma forma de encará-los, e as soluções passadas não seriam mais úteis, nascendo assim um novo paradigma de resolução de problemas.

É exactamente isso que o mano Egídio não está a querer ver. Para ele não existe transformação, mas somente a ruptura. Eu não concordo com ele. A FRELIMO já não tinha necessidade de continuar, pois os problemas que queria resolver já estavam resolvidos! Daí que ela TRANSFORMOU-SE em Frelimo, para enfrentar problemas novos! Não houve nenhuma ruptura, estagnação, mas sim houve transformação, e esta não é estática. Só falta dizer-me que o Maxaquene, teve um tempo de ruptura, e não se pode contar o tempo em que chamava-se Sporting Clube de Lourenço Marques, para a comemoração dos seus 100 anos em 2020! Yeah, porque teve estes nomes todos: 1920–1976: Sporting Clube de Lourenço Marques; 1976–1978: Sporting Clube de Maputo; 1978 até hoje: Clube de Desportos Maxaquene. E ainda tentou ser Asas de Moçambique, só que levava tchaia que nunca acabava, até com Metal Box, que decidiu voltar a ser Maxaquene. Tsc...

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