Monday, February 4, 2019

Venezuela, Guaidó e companheiros de cama

OPINIÃO

Venezuela, Guaidó e companheiros de cama

Como dizia Shakespeare em A Tempestade, "a miséria habitua o homem a estranhos companheiros de cama".
A maioria dos países da União Europeia reconhece hoje Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela mandatado para convocar eleições presidenciais. Isolado internacionalmente, Nicolás Maduro esbraceja. Na entrevista que ontem à noite deu à cadeia espanhola La Sexta já mostrava, por palavras, a sua crescente fragilidade, embora continue a afirmar que se vai bater até ao fim. O seu argumento principal é a ameaça dos Estados Unidos - através de John Bolton - invadirem a Venezuela e fazerem, como diz Maduro, "um novo Vietname". A história da América Latina é muito pesada para que este argumento seja subvalorizado. 
Mas há dados que podem mostrar que pode haver alguma esperança para que Nicolás Maduro aceite abandonar o poder sem um banho de sangue - ou pelo menos convocar presidenciais verdadeiramente livres. Na entrevista de ontem teve uma frase interessante: "A mal não aceitaremos nada. Que o saiba Pedro Sánchez, que o saiba o mundo". Maduro sabe que a China, que mantém o apoio ao regime venezuelano, está já a negociar com Juan Guaidó. A margem do presidente venezuelano, cuja eleição a União Europeia não reconheceu e nas quais a oposição não participou, está cada vez mais estreita e o isolamento é irreversível. 
É verdade que Guaidó combinou com Trump a sua autoproclamação como Presidente interino da Venezuela, como deixava perceber o imediato apoio dos Estados Unidos e está particularmente bem contado num texto da edição de ontem do El País. É verdade que a esquerda, só de ouvir o nome "Donald Trump" estremece e quer defender exactamente o oposto que Trump defende. Mas o facto de existir o apoio de Trump a alguma coisa não quer dizer automaticamente que ela seja má - embora seja verdade que quase sempre tem sido. Se, na Venezuela, estar do lado certo da História é, desta vez, estar ao lado de Trump, que seja. Como dizia Shakespeare em A Tempestade, "a miséria habitua o homem a estranhos companheiros de cama". Quando falamos de Venezuela falamos efectivamente de miséria económica e política. Se desta vez Trump for um estranho companheiro de cama, assim seja.
  1. FPS
      Vale de Santarém 
    "É verdade que a esquerda, só de ouvir o nome "Donald Trump" estremece e quer defender exactamente o oposto que Trump defende", tem a lata de escrever ASL. E a direita, não tem sido tão efusiva em, condenando, adjectivar Trump, ASL??? O que se passa de verdade, é que a direita sempre que Trump usa os métodos do seu antecessor [(que arrebentou com a Líbia sem ter pensado no day after... palavras dele, que não minhas)(é preciso lata e não ter ainda enfrentado um tribunal internacional)] rejubila e saliva de excitação.
  2. Só o facto de aparecer o nome de Trump na equação devia ser um aviso para qualquer democrata não se deitar com ele. Mas não é isso que vemos.
  3. Apoio os lúcidos comentários, mas urge sublinhar um detalhe essencial. Nada desta confusão existiria se não fosse o facto de a Venezuela possuir as maiores reservas de petróleo do mundo. Só a bacia do Orinoco poderia abastecer o planeta durante mais de 30 anos, ao consumo actual. É isso que faz correr o "amigo americano" e que é sempre silenciado em todos os media. Porque será???
  4. martins.ruijorge
      Quinta do Anjo 
    Referir que as eleições presidenciais de Maio do ano passado tiveram 200 observadores internacionais, entre eles o insuspeito José Luís Zapatero que afirmou em Novembro passado que a «obsessão com a Venezuela se deve a um gigantesco interesse económico e político». Também interessantes são as declarações de John Bolton: «Fará uma grande diferença [para os EUA] se levarmos as empresas petrolíferas americanas a investir e a produzir petróleo na Venezuela». Portanto, pelo que percebemos, o argumento das eleições é no mínimo forçado, a falta de democracia e a ditadura desmente-se a si própria com a facilidade com que a oposição se manifesta e produz declarações e estão à vista os interesses económicos por detrás do golpe. A ASL saberá com quem se deita não venha depois é dizer que é virgem.
  5. AndradeQB
      Porto 
    Imaginemos a miséria que tem que existir para ter que dormir com alguém tão estranho que critica os governantes dos países que, com mais ou menos entraves, acolhem emigrantes, e elogia os governantes dos países que os fazem fugir, No entanto, como se constata por algumas vozes, nos terríveis países democráticos ainda podem (e bem) dormir todos na mesma cama. Por aqui ainda ninguém se lembrou de criar milícias populares com acesso ao armamento das polícias e militares para correr da cama fosse quem fosse.
    1. Suspicious Minds
        Graceland 
      Estranho é como um pseudo-presidente não eleito por ninguém, peça a Trump e a Bolsonaro ajuda armada para "libertar e democratizar a Venezuela", exactamente os mesmos que põem o povo venezuelano a pão e água com sanções e boicotes.
  6. Suspicious Minds
      Graceland 
    Tal como no Iraque, na Líbia e na Síria, e em todas as guerras imperialistas de saque; não em meu nome! Cada um faz a sua cama e mete dentro quem quer, e há quem não tenha escrúpulos de a compartilhar com os maiores facínoras e escroques, sendo cúmplice da barbárie. Que siga a propaganda de guerra e a manipulação, que no final veremos quem está, e sempre esteve, do lado certo da história.
  7. Julio
      "Que época terrível esta, onde idiotas dirigem cegos" William Shakespeare 
    " Quem com o Diabo se deita, com o Diabo amanhece". Provérbio português.
  8. martins.ruijorge
      Quinta do Anjo 
    Cada um sabe de si. Já eu, que não sou uma "Maria vai com as outras", não me deito com qualquer. Esta ingenuidade com que nos brindam alguns comentadores e boa parte da comunicação social, se não tivesse consequências trágicas era hilariante.
    1. Joao
        Portugal 
      É o mesmo argumento que foi e é utilizado pelos mesmos para apoiarem os terroristas wahabitas da AlQaeda, Exército do Islão, etc para derrubarem o governo sírio, o mesmo argumento que os mesmos utilizam e utilizaram para apoiar os nazis a tomarem o poder em Kiev, o mesmo argumento que os mesmos utilizam e utilizaram para recusarem condenar o nazismo na ONU ou recusarem vender bombas ao regime wahabita para este lançar sobre a população do Iémen.
    2. Joao
        Portugal 
      Não é a miséria que leva estes sebentos para a cama com criminosos e terroristas que matam milhões pelo mundo, não é a miséria, é a ganância sôfrega e desmedida por domínio global de todos os recursos para seu proveito.

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