Ndambi, Bruno e Teófilo dividiram entre si “50 milhões de galinhas”
O filho mais velho do ex-Presidente Armando Guebuza, Ndambi, de 43 anos de idade, detido na tarde de sábado (15) em Maputo, é considerado um “tipo fixe”, “de coração bacana”, que em 2013, quando encaixou (com Teófilo Nhangumele e Bruno Tandane) 50 milhões de USD de subornos da Privinvest, a primeira coisa que fez foi comprar 7 viaturas BMW X5 para amigos e amigas. Ele não se cansava de distribuir dinheiro. Tinha três amigos chegados a quem ofereceu 2 milhões de USD cada. Bruno Tandane, o amicíssimo, teve a fatia de leão dos abonos partilhados.
Ndambi, “simpático e porreiro”, fez diferente do seu irmão mais novo, Mussumbuluko (gémeo da falecida Valentina, assassinada pelo marido, Zófimo Muiuane, em Dezembro de 2016): ofereceu dinheiro e património aos amigos; o outro, que também encaixou milhões numa negociata de armas para o Estado, fez dos amigos seus empregados e, quando se zangou com eles, na sequência do vazamento de fotografias comprometedoras onde aparece apreciando armas num fornecedor israelita, acompanhado de Agy Alaué, um operativo do SISE, mandou-os embora.
O filho “mais fixe” de Guebuza, vivia a grande e à francesa, com viagens frequentes para a própria França, onde chegou a se hospedar na casa de Iskandar Safa, em Nice, nomeadamente quando foi acometido por um problema de saúde. Foi nessa França onde Ndambi deu a ordem final para que o fabricante dos barcos da Ematum, famigerada atuneira que raramente mergulhou seus palangres no mar alto, fosse o estaleiro de Iskandar Safa, a Constructions Mécaniques de Normandie (CMN), em Cherbourg. E neste vilarejo do norte de França, o pai Armando Guebuza, surgiria avalizando politicamente a escolha do filho, numa visita que teve a cumplicidade ainda não escrutinada do antigo presidente francês, François Holland.
Os dois (Guebuza e Holland) pousaram com o mestre do suborno, Iskandar Safa, “the master of the bribes”, conforme descrito no “indictment” americano. Guebuza “vendia” o argumento da urgência da segurança costeira. Holland dava o seu abraço a uma CMN quase em falência e, portanto, o investimento moçambicano seria uma salvação para a indústria naval francesa e para a manutenção de postos de trabalho em Chergourg (um dia a França deverá ser investigada pelo seu papel neste calote que empobreceu mais os moçambicanos; as responsabilidades morais de Holland deverão ser aferidas).
Alguns meses antes, Jean Boustani tinha montado toda a trama, através de Teófilo Nhangumele, a quem abordara pela primeira vez em 2011. Nhangumele deixara claro que, para se convencer o poder político local, Boustani tinha de persuadir a Privinvest a acautelar o pagamento de “comissões”. A acusação americana recupera esses contactos iniciais, onde a 11 de Novembro de 2011, Nhangumele escreve o seguinte, num email para o burlão libanês agora detido numa cadeia de Brooklyn: “Para garantir que o projecto tenha luz verde do Chefe do Estado, um pagamento tem de ser acordado antes de chegarmos lá”.
Abordado por Teófilo (que tentara antes envolver o SISE ainda sem a “vontade política comprada” do alto magistrado da nação), o filho de Guebuza levou o sinistro projecto de pesca de atum e segurança costeira ao gabinete mais reluzente da Ponta Vermelha, e recebeu a aprovação paternal que procurava. Com o selo do pai, Ndambi conseguiu a primeira grande façanha galinheira.
Estava desbloqueado o principal entrave, com o “go ahead” de Guebuza.
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Leia o texto integral da Carta de Moçambique.
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