Alguns analistas moçambicanos consideram que se a ala que pretende a clarificação da questão das dívidas ocultas no seio da Frelimo se achar com mais força e se o poder judicial saber gerir este processo, as investigações actualmente em curso podem levar à incriminação do antigo Presidente Armando Guebuza.
O antigo ministro das finanças, Manuel Chang, deixou de estar sozinho na prisão, tendo começado a juntar-se um outro rol de actores neste processo, facto que observadores dizem decorrer de um certo “clamor popular”.
Um dos detidos no fim de semana foi o filho mais velho do antigo estadista moçambicano, Ndambi Guebuza, que esta segunda-feira, 18, esteve no Tribunal Judicial de Maputo, para a legalização da sua detenção preventiva.
O analista Fernando Lima diz que o timing destas detenções e a sua própria permanência em prisão decorrerá de acordo com aquilo que acontecer na África do Sul, sobretudo se Manuel Chang for extraditado para os Estados Unidos, uma vez que a justiça moçambicana parece estar a reboque da americana e sul-africana.
Lima sublinha haver dinâmicas que se criam em torno deste processo que o poder judicial deve saber gerir porque, na sua opinião, no seio da Frelimo existem muitas pessoas que querem ver resolvido este assunto das dívidas ocultas.
O analista destaca que "se a facção que quer a clarificação das dívidas ocultas no seio do partido Frelimo se achar com mais força, como se tem achado até aqui, este assunto pode chegar ao fim, e pode, inclusivamente, passar pela incriminação do autor moral de toda esta operação".
Outros analistas consideram que se antes da prisão de Manuel Chang na África do Sul muitas pessoas se opunham à detenção do filho do antigo Chefe de Estado moçambicano, actualmente, o número pode ser bem menor.
Para Fernando Lima, há uma asfixia em redor de Armando Guebuza, "e à medida que se aproxima mais essa asfixia, cresce um mal-estar não da população moçambicana, mas de uma determinada elite", que gostaria que os implicados na questão das dívidas ocultas continuassem a passear livremente.
Entretanto, apesar das detenções, ainda reina um grande cepticismo relativamente a todas estas iniciativas, sobretudo porque passaram muitos anos desde a divulgação do relatório da Kroll, sem que a Procuradoria Geral da República tomasse uma acção no sentido da responsabilização.
O analista Marcelo Mosse destaca que em Moçambique a investigação às dívidas ocultas teve muitos bloqueios de ordem política, mas também bloqueios dos próprios implicados, sobretudo porque são investigações a pessoas ligadas aos Serviços de Informação do Estado (SISE).
"Eu penso que nós estivemos, durante alguns anos, e ainda estamos numa espécie de captura de Estado por parte de uma entourage muito restrita ao Presidente Guebuza", sublinha Mosse.
O jornalista afirma que "olhando para quem está sendo detido e de todos os envolvidos nestas dívidas, nota-se que estamos em presença de um Estado capturado", acrescentando que " a origem do processo de contratação destas dívidas teve em Armando Guebuza uma pessoa central; tudo partiu do círculo restrito do Presidente Guebuza".
Na opinião do analista, "a característica dos detidos mostra duas coisas: uma são pessoas que estão na origem do pensamento original desta roubalheira e a outra são pessoas que beneficiaram do dinheiro. Portanto, estamos aqui em presença de um Estado capturado. Agora, até que ponto estas investigações e detenções vão levar a uma descaptura do Estado é uma questão por responder, apesar de haver muita gente que quer ver este assunto resolvido".
Entretanto, o analista Sande Carmona diz não acreditar num bom desfecho deste processo, "porque isto não passa de encenação do regime, para limpar a péssima imagem que tem a nível internacional".
VOA – 18.02.2019
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