Friday, January 25, 2019

O poder político é qual orvalho

O poder político é qual orvalho

Armando Guebuza construiu Moçambique. Porém, a sua teimosia e ambição desmedida pela riqueza material ofuscaram a sua obra. As "dívidas ocultas" e ilegais foram, quiçá, o pior erro de toda a sua carreira política. Com efeito, hoje Armando Guebuza virou objecto de chacota por ter vendido vontade política para autorizar a contratação dessas dívidas de vergonha que não chegaram a beneficiar, e só prejudicaram, Moçambique. Um homem que alguma vez disse que gostaria de ser lembrado como amigo do povo é hoje tratado como o inimigo interno número um desse mesmo povo a quem ele serviu desde a sua juventude.
Como Presidente da FRELIMO Armando Guebuza também não deixou boas memórias para alguns dos seus camaradas. Ostracisou Eneas Comiche, Sérgio Vieira, Jorge Rebelo, Óscar Monteiro, Luísa Diógo, Graça Machel e outros tantos que ousaram se opor contra o seu estilo autoritário de liderança, melhor caracterizado pelo seu amor especial pela bajulação.
Estou muito sentido por ver meu ídolo político terminar a sua carreira política sem poder conviver com o povo a quem serviu. Aparentemente, já quase ninguém acredita que Armando Guebuza estava a ser honesto quando mobilizava o povo para se engajar no trabalho produtivo para combater a pobreza. Hoje parece que Armando Guebuza escolheu o combate contra a pobreza como ardil para legitimar a sua vontade de acumular riqueza material ilicitamente só para si, sua família, amigos e apaniguados.
Fica aqui uma lição de que o poder político deve ser exercido com abertura, humildade e transparência. O poder político não é para ser exercido com autoritarismo ou ser usado para ajuste de contas com adversários ou inimigos. O poder político é qual orvalho: quando o se Sol levanta, ele (orvalho) desaparece. Recomendo, pois, que a presente e futura gerações de líderes da FRELIMO e da República de Moçambique fixem Armando Guebuza como um exemplo típico do que não se deve ser ou fazer quando se está no exercício do poder político. Um só erro, detectado cedo ou tarde, pode fazer com que um povo se esqueça de toda uma carreira de benfeitorias de qualquer dos seus líderes. O dever dos líderes de um povo é servir a esse povo com isenção e excelência. Um líder que paga o mal pelo, execra a crítica, e persegue e ostracisa adversários ou inimigos, não é um verdadeiro líder; é um impostor. Um verdadeiro líder distingue-se por (i) fazer amizades com todo o mundo---incluindo adversários ou inimigos---; (ii) ouvir calmamente a toda a gente; e (iii) não se irritar com a crítica, mesmo quando áspera ou mal feita.
Joaquim Chissano soube viver como se indica em (i), (ii) e (iii) no final do parágrafo precedente. Esta é a razão que explica a popularidade que Chissano continua a ter no país e no estrangeiro, sendo considerado o "melhor" líder que a FRELIMO e Moçambique independente alguma vez tiveram. Isto não significa que Joaquim Chissano foi um líder imaculado. Longe disso. Ele até porque cometeu muitos mais erros que Eduardo Mondlane, Samora Machel e Armando Guebuza juntos, contato que esteve mais tempo na liderança em ambiente adverso que todos eles. Mas o povo já não se lembra dos erros de Chissano porque este homem cultivou boas relações com todo o mundo, incluindo adversários ou inimigos.
Armando Guebuza fez o contrário do que Chissano fez, em termos de relações públicas, e as consequências estão aí: literalmente ele já deixou de ser um cidadão livre por conta de um só erro: ter moralmente autorizado ilegalmente um endividamento secreto e fraudulento do povo moçambicano. Só este erro, exceptuando o estilo autoritário da sua liderança, está a fazer com que quase ninguém mais se lembre de que Guebuza é o líder que mais obras fez em toda a História de Moçambique independente até esta data em que (eu) registo esta reflexão (Janeiro/2019). Veja-se quão destrutivo para a carreira profissional e personalidade de uma pessoa pode ser um só erro cometido quando se está no poder!
Enfim, na modernidade, um líder político deve ter sempre ter presente que um dia o poder acaba, qual ocorre com o orvalho quando o Sol se levanta, e a vida continua normalmente depois disso. A um povo nunca se engana o tempo todo. E quando um povo descobre que foi enganado, as consequências pode ser iguais ou piores do que as que Armando Guebuza e seus colaboradores mais direitos, qual Manuel Chang, já começaram a experimentar, nomeadamente não dormir um sono tranquilo e não haver lugar para onde fugir; ou seja, ficar prisioneiro mesmo não se estando preso.
Eu disse.
Palavra de Honra!

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