Monday, January 28, 2019

O QUE DISSE SALAZAR QUANDO OS EUA DESCOBRIRAM PETRÓLEO EM ANGOLA? UMA ANÁLISE COMPARATIVA COM O CASO DE MOÇAMBIQUE


Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
Odiar os Estados Unidos não faz de ninguém um terrorista, mas é evidente que aumentámos a quantidade de pessoas que gostariam de nos prejudicar. Daniel Dayan – O Terror Espectáculo: Terrorismo e Televisão, 2009, p. 31.
  1. Estava eu em Lisboa quando o meu saudoso amigo Professor José Hermano Saraiva contou a seguinte história: estando Salazar em Vimieiro no concelho de Santa Comba Dão, sua terra natal, recobrando a saúde, chegou-lhe a notícia menos esperada – que o regime escondera durante décadas – os americanos haviam “descoberto” petróleo em Angola. Combalido, Salazar saltou da sua poltrona e com a mão direita na testa afirmou o seguinte “agora estamos lixados”.
E tinha razão, porque com o fim da importância estratégica da Base Aérea das Lajes, nos Açores, a qual os EUA usaram para dissuadir a propagação da démarche socialista na Europa, o petróleo angolano tornava-se assim no mais eficaz instrumento para estabelecer a dominação económica de África. Como sacar o petróleo angolano sem derrubar o regime salazarista? Salazar tinha perfeito conhecimento de que com a “descoberta” de recursos naturais nas colónias portuguesas seriam alvos de cobiça por parte dos países mais poderosos do mundo. Daí que, sob pretexto de incapacidade económica e financeira, preferiu congelar a existência do património mineral nas colónias. Sim, Salazar empobreceu os povos das colónias portuguesas e atrasou o desenvolvimento de Portugal mas impediu o assalto às suas riquezas.
O meu amigo José Soares tem uma opinião contrária. Diz ele, o seguinte: Salazar sabia perfeitamente que havia nações que queriam ficar com as colónias portuguesas. Isso acontecia pelo menos desde 1580. Não, Salazar não empobreceu os povos das colónias portuguesas. E, inteligente, sabia que só se impede o assalto às suas riquezas se se mostrar força, ânimo e coragem. Nunca com empobrecimento. Salazar sabia que tinha um país pequeno, em população e riqueza, sabia que (brancos e negros) éramos menos que as grandes potências e que uma das formas de empobrecer um país é fazer com que ele se endivide desmesuradamenteUma das formas de empobrecer rapidamente e por muito tempo um país é promover os corruptos. Olhe para África, olhe para a América Latina e vê o quê? Gente rica muito bem instalada, com fortunas na Europa e na América, rodeados de gente famélica e quase analfabeta.”
O regime salazarista durou mas acabou sucumbido pelos americanos e a “fauna de países acompanhantes”. É claro, antes que algum nacionalista me acuse de falta de memória e de amor à pátria, convém referir que os movimentos de libertação nacionais tiveram um papel determinante na conquista das independências dos países dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Angola navega hoje entre a independência política e a independência económica. E enquanto depender da importação de modelos de governação e de desenvolvimento económico, jamais será um país próspero para todos os angolanos. Como bem disse o meu amigo Nkulu “a dependência retira a originalidade, ficando os Estados a tocar música em play-back.”     
O mesmo aconteceu quando os nossos dirigentes anunciaram, numa efusiva alegria, a “descoberta” de gás na Bacia do Rovuma, notícia que acalentou esperanças do fim da pobreza em Moçambique e ao mesmo tempo pedia-se, no seio da Sociedade Civil, a transformação de armas em enxadas. Como se o gás ou qualquer outro recurso – à excepção da inteligência – fosse realmente panaceia dos problemas de Moçambique. A quantidade de gás natural e de outros recursos de vida que garantem a manutenção do nosso lugar – cimeiro – entre os países de recursos, reanimou as velhas cobiças e uma loucura sem precedente na luta pela livre exploração dessas riquezas. Enquanto uns viam essas disputas como uma oportunidade contra o cativeiro da miséria que afecta a maioria da população moçambicana, eu tinha uma opinião contrária que é a mesma: o perigo de entregarmos os recursos sem conhecer os processos da sua exploração. E ainda, sem fortificar as forças de defesa e segurança. 
Eu que tenho por hábito analisar o motor do pêndulo e não os ponteiros, desconfio que os americanos estejam mais preocupados em prender Chang não propriamente para restituir os dólares roubados, mas para uma delação premiada que acabará condenando todo o partido Frelimo. Com a cavalaria chamada Sociedade Civil em acção fica fácil de tornar ilegítimo o governo da Frelimo, o que justificaria uma evasão. Estamos a assistir o espectáculo na Venezuela, país com uma das reservas mais ricas de petróleo do mundo, prestes a transformar-se em Iraque, Síria ou Somália. E eu pergunto: (1) é pela falta de democracia que querem invadir a Venezuela?; (2) então o que é democracia? (3) é lançar bombas contra povos inocentes de outros países; (4) é financiar golpes de Estado?; (5) é bisbilhotar a privacidade alheia (lembro que a acusação contra Chang é feita com base em escutas telefónicas e invasão do seu e-mail)?; (6) quem restringe a liberdade de pessoas em prisões que não lembra o diabo? (7) que tipo de activismo é esse que só se preocupa com Chang e ignora as violações que os EUA cometem contra imigrantes? Eu não sei se terei alguma resposta, mas desafio que haja um contraditório.        
Eu não digo que tudo esteja bem no país. Não concordo, por exemplo, com a corrupção. Se há uma coisa que me repugna é a corrupção. Temos uma montanha de leis contra a corrupção, mas a doença parece ter atingido aqueles que deviam administrar a vacina. A franja é maior e tem, de alguma forma, protecção do partido Frelimo. Portanto, estaria no pelotão da frente se a luta fosse contra a corrupção em Moçambique, mas recuso-me a aceitar que o comando venha de fora. Que sejamos nós, moçambicanos, sem camisetas e gastos em publicidades cujas verbas serviriam para remediar os golpes da pobreza, a combater a corrupção. Sem instrumentalização e banalização da inteligência. Estamos a ganhar uma guerra a favor da neocolonização em detrimento da guerra contra a corrupção. O meu receio é de que, dentro de poucos anos, estejamos a conjugar o verbo “se eu pudesse”. Será tarde demais quando formos engolidos pelas forças do mal. Estejamos atentos, se quisermos manter a nossa soberania. Truman Capote tinha razão quando escreveu “Inútil colocar trancas nas janelas quando o medo já invadiu os corações”.
Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue ao João Fenhane, leitor destas minhas centelhas.
WAMPHULA FAX – 28.01.2019

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