E depois de Dhlakama?
Ossufo Momade já começou a dar mostras de que se quer cimentar na liderança da Renamo. Não direi que não é a pessoa indicada. Não conheço a sua capacidade de liderança. Ele, assim como os restantes filiados à Renamo, sempre viveram à sombra de Afonso Dhlakama. Este moldou o partido à sua imagem. Era o mesmo que dizer Dhlakama quando se quisesse referir à Renamo. Talvez isso não haja sido, de todo, bom para a construção da Renamo.
Sei que não existem pessoas insubstituíveis. As pessoas passam e as instituições ficam. Contudo, haverá alguém, a breve trecho, na Renamo com capacidades para substituir Dhlakama? Falo da situação complicada que o país atravessa.
Dhlakama não concluiu a sua obra!
Dhlakama, mesmo usando métodos pouco recomendáveis, conseguia fazer com que o partido no poder respeitasse as diferenças- ou pelo menos fingia que respeitava. Dhlakama galvanizava as massas. Enchia campos de futebol só para ouvirem a sua voz ampliada em colunas gigantescas, quando falava a partir de um lugar distante. Quer dizer, só a sua voz era suficiente para arrastar multidões. Dhlakama tinha um carisma invulgar. Sabia ordenar para que o seu braço armado pegasse em armas e cessasse a guerra.
Parecendo que não, este é um momento muito delicado não só para a Renamo, mas para todo o país. A morte de Dhlakama, pelo menos neste momento, em nada nos abona. Não há quem ganha com isso. Se os que conduzem o país não tiverem inteligência e serenidade suficientes, isto ainda pode descambar numa guerra jamais vista.
Agora, mais do que nunca, é preciso aprimorar-se o diálogo, o respeito mútuo, a reconciliação. Não digo que a Frelimo deve acomodar todas as exigências da Renamo. Mas deve, isso sim, acomodar aquelas que são realmente necessárias para a construção deste país. Moçambique não é de uns. É de todos os moçambicanos. Se há alguma riqueza, deve ser distribuída equitativamente. Em nada nos vai ajudar uma guerra.
E não espero que o próximo dirigente da Renamo seja igual ao Dhlakama, mas que tenha inteligência suficiente para conduzir o partido a bom porto. Não gostava de ver a Renamo esfarelada a exemplo da UNITA. Morreu Jonas Savimbi e o MPLA ficou em farra. Um país sem oposição forte está condenado ao fracasso, em todos os níveis. Nenhum investidor sério coloca lá o seu dinheiro. Ninguém honesto gosta de apoiar ditaduras. Não estou a ver o FMI, o Banco Mundial e os doadores internacionais a injectarem dinheiro numa ditadura.
Nini Satar
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