de JP Sousa - Citado por 285 - Artigos relacionadosNa primeira parte do livro, abordo a teoria e a história do jornalismo, consagrando ... Na segunda parte, atento nos efeitos da comunicação social jornalística, .... quer mesmo em certos sectores domeio profissional dos jornalistas, onde ..... onde os órgãos jornalísticos geralmente são privados e onde a censura formal está ...
Livro : Teorias do Jornalismo ... Neste livro, ao responder à questão “o que é jornalismo? ... científicos, competindo com disciplinas tradicionais das ciências sociais. ... do Grupo de Pesquisa deJornalismo On Line (GJOL) da UFBA e está dividida em ... de crise do Ofício de Jornalista, o que este livro nos oferece são idéias.
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Pesquisas relacionadas com P arece estar alojada nas mentes de certos meios oficiais ligados ao partido Frelimo, a ideia de que há órgãos de comunicação social e jornalistas do sector privado que são pagos por potências estrangeiras para desestabilizar o governo. Esta teoria conspirativa defende que os doadores estrangeiros que financiavam a oposição chegaram à conclusão de que esta era ineficaz para implementar a sua agenda, e encontraram, por isso, na imprensa independente a sua alternativa. Nada poderia ser melhor produto da fertilidade da imaginação de algumas mentes oucas. Sem apresentar qualquer tipo de provas, essas acusações estão a ser repetidas de forma sistemática, a tal ponto que já não nos podem deixar convencidos de que se trate de meros equívocos. São declarações que parecem fazer parte de uma campanha concertada nos laboratórios do trabalho ideológico do partido no poder e que visam desacreditar a imprensa independente, tornando esta culpada dos lapsos de governação que têm sido alvo de um amplo movimento de contestação popular. Não é que não estejamos habituados a este fenómeno. Não é a primeira vez, e certamente que não será a última, que um governo tenta desculpar-se dos seus insucessos procurando desenterrar imaginárias conspirações supostamente orquestradas do exterior. E neste acto de desepero, a imprensa é sempre o alvo de preferência. E não é difícil de perceber porque é que a imprensa, e sobretudo a imprensa livre, tem que ser um alvo a abater. A natureza do seu trabalho é manter a população informada do que se passa à sua volta, pondo à sua disposição instrumentos de análise que possam influenciar a sociedade e ajudá-la a compreender melhor as circunstâncias políticas, económicas e sociais em que se encontre num determinado momento. Por isso, para os estrategas da propaganda do partido, o primeiro passo para a consolidação do seu poder hegemónico é desactivar a imprensa independente, intimidando-a com acusações de traição. O objectivo é conseguir que a imprensa livre se remeta à defensiva e comece a pôr limites nas suas próprias palavras, recorrendo à auto-censura. Atingido esse objectivo, tudo o que resta para a sociedade consumir são enlatados de propaganda difundida por meios públicos que são subvertidos e desviados da sua missão original, para servir os interesses de uma elite predadora que usa o seu controlo do Estado para fins que são alheios aos do povo. É um insulto grave tentar insinuar que profissionais testados, alguns com mais de metade de século de vida e dezenas de anos nas trincheiras do jornalismo, sejam tão ingénuos e baratos para se deixarem comprar por umas moedas de prata somente com o único objectivo de desestabilizar o governo do seu próprio país. É elevar o intriguismo ao seu expoente máximo tentar sugerir que há jornalistas patriotas e não patriotas. Todos somos moçambicanos e devemos lealdade a esta Pátria. Haverá, obviamente, jornalistas que por qualquer razão gostariam de ver um outro governo no lugar do actual. Do mesmo modo que há jornalistas que acreditam que este é o melhor governo que alguma vez existiu em Moçambique. Mas a ambos estes grupos, assiste-lhes a lei que lhes dá o direito à livre escolha. E escolher estar do lado oposto ao do governo do dia não pode ser interpretado como significado de que alguém esteja ao serviço de interesses estrangeiros. Na verdade, se uma parte considerável do Orçamento Geral do Estado (OGE) é financiada por recursos provenientes dos doadores, e tendo em conta que os órgãos de comunicação social do sector público sobrevivem das subvenções que recebem deste mesmo orçamento, não será difícil perceber qual é a parte da nossa imprensa que vive à custa do dinheiro que vem do estrangeiro. Os que propalam a ideia de que a imprensa privada recebe subsídios do exterior para desestabilizar o governo esquecem-se, por uma questão de conveniência, que a imprensa não tem o poder de inventar factos, e que muitas vezes os pontos de vista veiculados pela imprensa são apenas a manifestação escrita, falada ou de imagem daquilo que é o sentimento geral da sociedade sobre o seu dia-a-dia. Ao apontar a imprensa privada como o culpado da actual situação que se vive no país, a máquina de propaganda do regime pretende desresponsabilizar os governantes, apresentando-os como meras vítimas de campanhas orquestradas do exterior e veiculadas internamente por elementos anti-patriotas alojados no seio da imprensa privada. Esta é uma falha de análise que não só serve para desinformar o público, como também não contribui para que os mesmos dirigentes a quem se tenta proteger, reflictam honestamente sobre a sua própria governação. A imprensa independente peca muitas vezes por todos os dias nos trazer verdades amargas. Mas o pior é sermos entretidos na boca com um rebuçado revestido de uma camada grossa de chocolate, mas que no seu miolo contém uma carga altamente explosiva de veneno.
As incertezas e os méritos deixados por Afonso Dhlakama
O desaparecimento do Presidente da Renamo abre um processo de luta pela sucessão. Dhlakama preparou alguém? Quem vai avançar? O partido quer um civil ou um militar?
O político e ex-guerrilheiro moçambicano Afonso Dhlakama, líder da Renamo há quase 40 anos, morreu esta quinta-feira à tarde na sequência de uma crise diabética, confirmaram ao PÚBLICO duas fontes que acompanham de perto o processo de paz e a política de Moçambique. Dhlakama terá morrido a bordo de um helicóptero que o transportava para tratamento médico urgente.
O líder do maior partido da oposição de Moçambique tinha 65 anos e vivia na região da Gorongosa, no centro do país, para onde se mudou após o regresso da guerra civil, em 2014. Desde o último cessar-fogo entre a Renamo e a Frelimo, no poder, em Março de 2017, que se esperava que Dhlakama regressasse a Maputo e liderasse a oposição a partir da capital.
"Há 40 anos que a Renamo é Dhlakama, Dhlakama, Dhlakama, Dhlakama. Vai ser um processo interno difícil e complicado", disse ao PÚBLICO um observador da política moçambicana que pediu para não ser identificado. Não é claro quem vai ser o seu sucessor no partido.
"Que se saiba, Dhlakama não tinha um sucessor indicado e não há um homem ou mulher forte evidentes para o substituir", diz Fernando Jorge Cardoso, especialista em assuntos africanos e professor de Economia no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.
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O encontro com o Presidente Filipe Nyusi, na Gorongosa, em Agosto de 2017 GABINETE DE IMPRENSA DO PRESIDENTE DE MOÇAMBIQUE / LUSA
Novo líder: civil ou militar?
Ivone Soares, sobrinha de Dhlakama e líder da bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República, em Maputo, tem apoiantes. Mas o que alguns vêem como vantagens, outros vêem como desvantagens. "É uma mulher jovem, urbana, cosmopolita e com um discurso que faz sentido, e a Renamo é um partido que precisa de se rejuvenescer e renovar" mas onde domina ainda a ideia dos "companheiros de armas" ao lado de quem se lutou na guerra civil, diz Fernando Jorge Cardoso, que é também investigador do Instituto Marquês de Valle Flôr. Outro possível candidato à sucessão é Manuel Bissopo, secretário-geral do partido.
"Moçambique não é uma monarquia e a Renamo tem estatutos muitos claros", alerta numa conversa por telefone um político moçambicano. "Depois do luto, haverá um congresso e as bases é que vão eleger o novo líder."
São muitas as questões em aberto. Será que Dhlakama, estando doente há muito tempo, preparou discretamente um sucessor durante os últimos três anos na Gorongosa? "Será que preparou um general no mato?", pergunta o mesmo político moçambicano. É improvável que, pelo menos junto do seu círculo mais íntimo e de confiança extrema, o Presidente da Renamo não tenha discutido o assunto.
Independentemente de o futuro líder da Renamo vir a ser civil ou militar, homem ou mulher, é seguro dizer que "começa hoje uma nova era", diz outro observador da política africana.
Este será um processo praticamente inédito na história da Renamo, uma vez que, para além de Dhlakama, o partido só teve um outro líder: André Matsangaíssa foi comandante da Renamo entre 1975 e 1979. Após a sua morte, durante a guerra civil, Matsangaíssa foi sucedido por Dhlakama, então com 26 anos.
Os "dois méritos" de Dhlakama
Fernando Jorge Cardoso, que nos anos 1970, a seguir à independência de Moçambique, esteve ao lado da Frelimo e com a qual trabalhou, identifica dois méritos em Dhlakama, que correspondem às duas vidas da Renamo: "Foi capaz de transformar um movimento militar — que começou por ser formado pelos serviços secretos da Rodésia do Sul com um perfil de força de contenção e controlo de fronteiras — num movimento nacional de resistência e luta contra a Frelimo. No início, a Renamo juntava os 'flechas', os comandos e os homens controlados por Jorge Jardim [o famoso operacional que, durante a ditadura portuguesa, despachava directamente com António de Oliveira Salazar], mais os moçambicanos negros que tinham lutado com as Forças Armadas do Estado Novo. Os serviços secretos rodesianos acolheram-nos e treinaram-nos. A Renamo era comandada a partir da Rodésia do Sul e, mais tarde, a partir de Pretória. Dhlakama faz essa transformação. Conseguiu apoio na população para lutar ao seu lado e, mais tarde, logo nas primeiras eleições, em 1994, conseguiu um forte apoio popular, uma margem muito maior do que a Frelimo esperava."
"O segundo mérito", continua o professor Fernando Jorge Cardoso, "foi conseguir chegar a um acordo de paz resolvendo os problemas que tinham ficado por resolver" no acordo de pazde Roma,ou seja, incluindo a polícia e os outros órgãos de segurança no processo de integração dos ex-guerrilheiros da Renamo na sociedade moçambicana. O Acordo Geral de Paz, assinado em 1992 entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, abrangeu apenas o Exército.
Neste primeiro dia de Moçambique sem Dhlakama, o professor tem uma certeza e duas interrogações. A primeira é que, "felizmente, a estrada foi aberta e a preparação para o machado de guerra ser enterrado foi feita". Nesse aspecto, está optimista. "Ninguém está interessado em voltar à guerra, nem num lado, nem no outro."
As dúvidas têm a ver com o impacto que o processo de sucessão poderá a vir a ter nas próximas eleições. Moçambique vai ter eleições autárquicas em Outubro e legislativas e presidenciais em Outubro de 2019. A Renamo contestou as últimas eleições legislativas, em 2014 (57% para a Frelimo, 36,6% para a Renamo e 6,3% para o MDM)e recusou participar nas últimas municipais. Estava, de certo modo, afastada do processo político. "Agora havia acordo. A Renamo tinha decidido participar nas eleições. Nesse sentido, a morte de Dhlakama poderá perturbar o processo" — mesmo que seja apenas ao nível da logística e do tempo, pois os órgãos do partido vão ter de reunir e organizar um congresso para a sua sucessão, a atenção do aparelho partidário vai ser redireccionada. "Nesse sentido, vai haver um retrocesso", diz o professor.
A outra dúvida refere-se à Frelimo: será que o partido no poder vai tentar fazer algum aproveitamento político da situação, encarando a Renamo como um partido enfraquecido? O Presidente Filipe Nyusi, acredita o especialista, "dará o máximo para tentar que a Renamo entre nas eleições: ele sabe que isso é do interesse da própria Frelimo".
Não é por acaso que, na nota oficial a lamentar a morte de Dhlakama, o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, elogia o "empenhamento" do líder da Renamo no processo que levou ao acordo de paz de 1992 e às tréguas de 2016-17, mas "faz votos para que este desígnio seja plenamente realizado, em prol da estabilidade e desenvolvimento de Moçambique".
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